Ele a salvou, eu perdi nosso filho
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Capítulo 5

Ponto de Vista de Carolina

Eles me colocaram na ala VIP, mas a esterilidade do quarto parecia um necrotério.

Minha perna estava envolta em gesso. Tíbia fraturada. Meu ombro era um mapa de suturas - catorze pontos onde o latão havia esfolado a pele. Eu estava machucada, espancada e flutuando em uma névoa de analgésicos.

Mas minha mente estava afiada como uma navalha.

Fazia seis horas.

A porta se abriu.

Bernardo entrou. Ele parecia destruído. A poeira cinzenta do gesso desabado ainda se agarrava ao seu cabelo.

"Carolina", disse ele, exalando um fôlego que parecia estar segurando desde a explosão. Ele caminhou até a cama e estendeu a mão para a minha.

Eu a puxei de volta.

Ele parou, a mão pairando no ar vazio como uma oferenda rejeitada. "Falei com os médicos. Você vai ficar bem. É uma fratura limpa. Você teve sorte."

"Sorte", repeti. A palavra tinha gosto de cinzas na minha língua. "É assim que estamos chamando?"

"Eu tive que tirá-la de lá", disse ele, a voz se tornando defensiva antes mesmo de eu o acusar. "Ela tem um histórico de problemas respiratórios. Você sabe disso. Você estava consciente. Estava estável."

"Eu estava enterrada sob um teto, Bernardo."

"Os guardas estavam com você. Eu me certifiquei disso." Ele passou a mão pelo cabelo, desalojando um grão de poeira. "Olha, sinto muito. Foi uma situação caótica. Eu reagi."

"Sim", eu disse suavemente. "Você reagiu. O instinto é uma coisa poderosa. Ele te diz o que mais importa."

"Não comece com isso", ele avisou, os olhos se estreitando. "Eu salvei uma vida. Eu não a escolhi *em vez* de você. Eu escolhi a triagem."

"Triagem", zombei. "É por isso que você está seis horas atrasado para visitar sua esposa? Estava fazendo a triagem da crise de pânico dela?"

Ele desviou o olhar, incapaz de sustentar o meu. "Eu estava garantindo um esconderijo. O apartamento dela não é seguro depois do incêndio na galeria. Ela está apavorada, Carolina. Ela tem TEPT."

"E eu tenho uma perna quebrada."

"Você é forte", disse ele. Era para ser um elogio, mas soou como uma maldição. "Você sempre foi a forte. Ariane... ela se quebra."

"Talvez eu esteja cansada de ser forte para que você possa ser o herói dela."

O celular dele vibrou.

Ele verificou imediatamente. Seus polegares voaram pela tela com uma urgência que me feriu.

"Preciso ir", disse ele.

"Você acabou de chegar."

"Ela está na ala psiquiátrica. Está se recusando a ser sedada até me ver. Ela acha que a gangue rival está vindo atrás dela."

Ele se virou para a porta.

"Se você sair por essa porta", eu disse, minha voz tremendo apesar da minha resolução, "não se preocupe em voltar para a cobertura esta noite."

Ele parou. Olhou para mim e, por um segundo, a máscara caiu. Vi conflito. Vi culpa.

Mas então o telefone vibrou novamente.

"Estou fazendo isso pela Família", ele mentiu. "Não podemos ter uma vítima civil nas notícias."

Ele saiu.

Esperei dez segundos. Então joguei os lençóis para o lado.

A dor na minha perna era ofuscante, uma pontada branca e quente, mas os analgésicos amenizaram a intensidade o suficiente. Peguei as muletas encostadas na parede.

Mancando, fui até a porta. Eu tinha que ver. Tinha que ter certeza.

Segui-o pelo corredor, movendo-me lentamente, mantendo-me nas sombras projetadas pelas luzes de emergência fluorescentes.

Ele foi para a sala de observação psiquiátrica. As persianas estavam parcialmente abertas.

Fiquei ali, encostada na parede fria, e observei.

Ariane estava sentada em um catre, enrolada em um cobertor. Ela não estava frenética. Não estava gritando. Estava chorando baixinho.

Bernardo sentou-se ao lado dela. Ele não parecia o Subchefe frio. Não parecia o cirurgião arrogante.

Ele a puxou para seus braços. Apoiou o queixo no topo da cabeça dela. Ele a balançava, gentilmente, para frente e para trás.

E então eu vi.

Ele beijou a testa dela. Não foi sexual. Foi pior. Foi reverente. Foi o beijo de um homem que incendiaria o mundo apenas para mantê-la aquecida.

Ele olhou para ela com uma ternura crua que nunca, nem uma vez em três anos, havia demonstrado a mim.

Ele não era incapaz de amar. Ele não estava quebrado.

Ele simplesmente não me amava.

Eu era a estrutura; ela era a moradora. Eu era a casa; ela era o lar.

Virei-me e voltei mancando para o meu quarto, o *tum-tum* rítmico das muletas ecoando como um coração moribundo.

Voltei para a cama. Não chorei. As lágrimas haviam sumido.

Peguei meu celular.

*Menos cinco pontos. Ele deixou meu leito para segurá-la.*

*Pontuação Total: 5.*

Estávamos à beira do penhasco. Mais um empurrão, e eu cairia.

Ou talvez... talvez eu voasse.

Meu polegar pairou sobre o contato de Emerson Maxwell, o arquiteto em São Francisco que me ofereceu uma parceria meses atrás.

*Ainda não*, disse a mim mesma. *Espere pelo zero.*

Porque quando eu fosse embora, precisava ir sem arrependimentos. Precisava ter certeza de que não havia mais nada a ser salvo.

Fechei o registro.

*Faltam cinco pontos, Bernardo. Faça-os valer a pena.*

            
            

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