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A Cova Que Cavaram Para Ela
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Capítulo 5

Ponto de Vista: Isabela

O Mercedes parou suavemente em frente ao Hotel Imperial Palace, sua fachada reluzente um testemunho de luxo discreto. O hotel da minha nova família. A ironia era um gosto amargo na minha língua. Diego saiu, abriu minha porta e ficou lá, esperando. Eu não me movi. Ele se esticou, agarrando meu braço novamente, seu aperto surpreendentemente forte.

"Vamos, Isabela. Não faça uma cena", ele murmurou, praticamente me arrastando para fora do carro. Minhas sacolas de compras ainda estavam espalhadas no chão do banco de trás, esquecidas.

Enquanto ele me puxava em direção à entrada, vislumbrei Donato. Meu pai. Ele estava no lobby do hotel, conversando com um casal de aparência distinta. Donato parecia mais magro, seu cabelo mais grisalho, seus ombros mais curvados. A vida não tinha sido gentil com ele, ao que parecia. Mas, por outro lado, ele também não tinha sido gentil comigo.

Flashback

"Você está de castigo, Isabela!", a voz de Donato ecoou pela casa, fazendo os copos no armário da cozinha tremerem. Eu tinha dez anos, fui pega falando ao telefone depois da hora de dormir. "Sem TV por uma semana! Sem sair! Você precisa aprender a ter disciplina!"

Aline, cinco anos depois, aos quinze, bateu o carro de Donato enquanto passeava com amigos. Perda total. Donato simplesmente suspirou, balançou a cabeça e comprou um novo para ela, ainda mais caro. "Ela só está passando por uma fase, Isabela. Ela precisa de compreensão, não de punição."

Fim do Flashback

Diego me empurrou para frente. "Lá está ele, pai! Eu a encontrei." Sua voz estava tingida de uma alegria forçada.

Donato se virou, e seus olhos, antes tão frios e desdenhosos, se arregalaram de choque ao pousarem em mim. Ele deu um passo hesitante para frente, seu olhar percorrendo-me, como se tentasse reconciliar a mulher à sua frente com a garota que ele havia abandonado. Ao lado dele, uma mulher que eu vagamente reconheci como uma tia distante ofegou, levando a mão à boca.

"Papai Donato, olhe! A Isabela está aqui!", anunciou Diego, um pouco alto demais, como se tentasse quebrar o feitiço. "Assim como eu disse que ela estaria. A Aline ainda está lá em cima se arrumando, mas ela vai ficar emocionada."

Aline. Sempre Aline. Mesmo no meu retorno fantasmagórico, ela era o primeiro pensamento. Suprimi uma risada amarga. Eles "sentiam minha falta"? Eles tinham me esquecido.

Donato ainda não tinha dito nada. Ele apenas olhava, sua boca ligeiramente aberta.

"Boa noite, Donato", eu disse, minha voz neutra e distante, como uma estranha educada. "Agora que cumpri a... convocação urgente de Diego, posso ir embora?"

Diego apertou meu braço, um aviso. Donato piscou. Ele olhou ao redor, de repente ciente dos olhares curiosos de outros hóspedes. Um murmúrio baixo se espalhou pela pequena multidão de familiares.

"Aquela é... a Isabela?"

"Ouvi dizer que ela morreu há cinco anos."

"Ela é idêntica! Meu Deus."

Então, os sussurros se tornaram ácidos. "Ainda causando problemas, mesmo depois de todos esses anos." "Sempre a dramática." "Igual à mãe dela. Nunca se encaixou."

Minha tia distante, a que estava ao lado de Donato, deu um passo à frente, seus olhos semicerrados. "Isabela Dantas! O que em nome de Deus você está fazendo aqui? Mostrando seu rosto depois de todo esse tempo? Você não tem nenhum respeito pela família? Pela sua pobre mãe, que Deus a tenha, que provavelmente está se revirando no túmulo por causa do seu comportamento!"

Minha mãe. O nome dela, arrastado para o drama mesquinho deles, foi a faísca. Senti um cansaço familiar me invadir. Este era o jeito Dantas. Culpa, vergonha e julgamento. Sempre.

Puxei meu braço do aperto de Diego, meus movimentos bruscos e decisivos. Virei-me para ir embora, para acabar com essa farsa.

"Isabela! Espere, querida! Você vai ficar para o jantar?", a voz de Donato era surpreendentemente suave, quase suplicante.

Flashback

"Isabela, se você não terminar seus legumes, vai para a cama com fome!", Donato ameaçou, quando eu tinha sete anos, empurrando um prato de brócolis em minha direção. Ele nunca ameaçou Aline. O prato dela estava sempre cheio de suas comidas favoritas, sem perguntas.

Fim do Flashback

Diego correu para o meu lado, agarrando meu braço novamente. "Isabela, por favor. Apenas ouça o papai. Ele sente sua falta. Todos nós sentimos."

Olhei para a mão dele em meu braço, depois para seu rosto suplicante. "Tire sua mão de mim, Diego", eu disse, minha voz baixa e perigosa.

Ele hesitou, então, quase imperceptivelmente, seu aperto se intensificou. Como se eu não estivesse falando sério. Como se ele ainda tivesse controle sobre mim.

Aquela foi a gota d'água. Eu já tinha aguentado o suficiente. Afastei a mão dele com uma força que surpreendeu até a mim. Antes que eu pudesse dar outro passo, Tia Célia, a que havia insultado minha mãe, se lançou sobre mim. Sua mão disparou, seus dedos se enrolando em um punhado do meu cabelo, puxando minha cabeça para trás.

Uma dor explodiu no meu couro cabeludo. Então, um golpe forte e ardente no meu rosto. A palma da mão dela conectou-se com meu rosto, um estalo alto ecoando pelo silêncio atordoado do lobby.

Minha cabeça virou para o lado. O gosto de cobre encheu minha boca. Toquei meu lábio, e meus dedos saíram manchados de sangue. A dor era real, imediata e doentia de tão familiar.

"Sua garota insolente!", Tia Célia gritou, seu rosto contorcido de fúria. "Como ousa falar com sua família assim! Depois de tudo que fizemos por você!"

Flashback

"Pobre Isabela", Tia Célia arrulhou no funeral da minha mãe, um lenço pressionado contra os olhos. "Uma menina tão boa. Sempre tão quieta. Todos nós a amávamos tanto."

Pouco antes disso, eu a ouvi sussurrando para outra tia: "Já foi tarde, eu digo. Aquela garota não era nada além de problema para o Donato. Sempre causando cenas. Ele está melhor com a Aline. Pelo menos ela sabe ser grata."

Fim do Flashback

A hipocrisia fez meu estômago revirar. Senti uma onda de náusea tão forte que pensei que ia vomitar. Isso não era real. Isso não podia estar acontecendo. Não de novo. Nunca mais.

Meus olhos varreram a sala. Donato estava lá, paralisado, sua boca aberta. Diego parecia chocado, mas não fez nenhum movimento para me ajudar. Os outros parentes olhavam boquiabertos, alguns com desaprovação, outros com uma doentia sensação de satisfação. Ninguém se moveu. Ninguém interveio.

Uma fúria primitiva, fria e limpa, surgiu dentro de mim. Minha mão disparou, pegando uma garrafa de champanhe pela metade da bandeja de um garçom que passava. Com um movimento rápido e poderoso, eu a espatifei no chão de mármore polido aos pés de Tia Célia. O vidro explodiu, espalhando cacos brilhantes, o estouro da rolha uma pontuação nítida.

Tia Célia gritou, pulando para trás. Todos ofegaram. O barulho cortou o silêncio atordoado como um tiro.

"Deixem-me ser clara", eu disse, minha voz perigosamente suave, cada palavra precisa e ressonante no silêncio repentino. Meu sangue escorria do meu lábio, mas eu o ignorei. "Meu nome é Isabela Ricci. A Isabela Dantas que vocês conheciam está morta. E você", apontei um dedo trêmulo para Tia Célia, "você acabou de agredir uma mulher que não está mais presa às regras distorcidas da sua família patética."

"Donato! Diego! Vocês vão deixá-la falar comigo assim? Olhem o que ela fez!", Tia Célia lamentou, apontando para o vidro quebrado. "Tirem-na daqui! Ela não pertence a este lugar!"

Donato finalmente descongelou. "Célia, pare! Ela ainda é da família, afinal!" Ele olhou para mim, uma estranha mistura de medo e desespero em seus olhos. "Isabela, por favor, você está causando uma cena. Apenas tente ser razoável."

"Ser razoável?", Diego ecoou, aproximando-se, seu rosto suplicante. "Isabela, por favor. Não piore as coisas. Apenas venha conosco, sente-se. Podemos conversar sobre isso. Não magoe o papai, por favor."

Meu olhar estava fixo em Donato, em seu rosto fraco e lamentável. "Você quer conversar, Donato? Sobre o quê?", perguntei, minha voz mal um sussurro, mas cortou o ar como uma faca. "Sobre como você me abandonou? Como deixou sua família me despedaçar? Como deixou sua filha ilegítima roubar minha vida?"

De repente, uma voz calma e imponente cortou o caos, uma voz que eu conhecia e amava. "O que exatamente está acontecendo aqui?"

Os Dantas reunidos se viraram, seus rostos uma mistura de confusão e apreensão. Parado na entrada do lobby, impecavelmente vestido e irradiando uma aura de poder inegável, estava Arthur Ricci. Meu pai adotivo. Atrás dele, Arnoldo, sua expressão indecifrável, mas seus olhos afiados e avaliadores. E ao lado deles, César, segurando Léo em seus braços, seu rosto uma máscara de fúria e preocupação.

Os olhos de Arthur varreram a cena, do vidro quebrado ao meu lábio sangrando, aos rostos boquiabertos da família Dantas. Seu olhar finalmente pousou em mim, e em seus olhos, vi fúria pura e absoluta.

"Isabela", ele disse, sua voz baixa e perigosa, "quem fez isso com você?"

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