A Última Palavra: Seu Sofrimento
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Capítulo 3

Alina POV:

A água morna na banheira parecia uma mortalha, agarrando-se à minha pele como para me lembrar do vazio interior. Gabriel me deixara ali, assim como me deixara de todas as outras formas imagináveis. Minutos se transformaram em horas, o silêncio da casa grande me oprimindo. Meu corpo latejava com uma dor surda, um eco constante da vida que me fora arrancada.

Ele voltou brevemente, algum tempo depois. Trouxe-me um copo de água, seu rosto uma máscara de preocupação cansada. "Está se sentindo melhor, Alina?"

Eu apenas assenti, minha voz sumira. Ele ficou por um momento, então seu telefone vibrou. Ele olhou para o aparelho, e um lampejo de algo, urgência, cruzou seu rosto. "Preciso ir", disse ele, sua voz seca. "A Caia... ela precisa de mim."

E assim, ele se foi novamente. A porta se fechou com um clique, deixando-me no silêncio frio do banheiro grande e vazio. Fiquei ali, fraca demais para me mover, com o coração partido demais para me importar. A dor física era uma pontada surda, mas a agonia emocional era uma ferida aberta. Meu corpo enrijeceu, meus músculos se contraíram. Eu não conseguia nem levantar a mão para pedir ajuda.

Quando a enfermeira finalmente me encontrou, horas depois, eu estava tremendo incontrolavelmente, meus lábios azuis. Ela me ajudou a sair, seu rosto marcado pela preocupação. Deu-me analgésicos, envolveu-me em cobertores quentes e sentou-se ao meu lado.

"Seu marido disse que voltaria logo", ela ofereceu gentilmente.

Eu apenas fechei os olhos. Ele não voltaria. Ele não se dera ao trabalho de ficar nem um momento quando meu corpo ainda se recuperava do trauma que ele causara.

Na manhã seguinte, as enfermeiras decidiram que eu precisava de cuidados mais abrangentes. Elas me transferiram para uma ala diferente do hospital, uma com melhores instalações para recuperação pós-operatória.

Estávamos no elevador, a enfermeira empurrando minha cadeira de rodas, quando as portas se abriram no terceiro andar. E lá estava ele. Gabriel. Seu braço estava em volta da cintura de Caia, sua cabeça inclinada, murmurando algo para ela. Ela riu, um som brilhante e despreocupado que rasgou meu último nervo. Ela usava uma camisola de seda fina, uma delicada, azul-clara, que reconheci instantaneamente. Era a minha favorita, um presente de Gabriel em nossa lua de mel.

Meu estômago revirou. A dor, física e emocional, era uma onda avassaladora. Eles olharam para cima, me viram. O sorriso de Gabriel vacilou. Os olhos de Caia se arregalaram, depois se estreitaram rapidamente quando ela reconheceu a camisola em si mesma, e depois em meu rosto.

"Alina", disse Gabriel, sua voz monótona. Ele puxou Caia para mais perto, como se para protegê-la do meu olhar.

Caia se inclinou para ele, sua mão tocando seu peito. Era uma demonstração pública de posse, uma farpa deliberada. Meu coração, que eu pensava não ter mais nada para dar, se torceu em agonia. Uma dor aguda e lancinante me atravessou, como mil pequenas agulhas perfurando minha carne. Senti-me tonta, uma dor profunda e oca no peito. Senti como se minha própria essência estivesse sendo arrancada do meu corpo, deixando para trás um vazio imenso e sangrando.

A enfermeira, vendo meu rosto pálido, rapidamente empurrou a cadeira de rodas para passar por eles, murmurando: "Com licença."

"Sinto muito, Sra. Almeida", sussurrou a enfermeira, sua mão tocando brevemente meu ombro. "Eu não sabia..."

"Não é sua culpa", consegui dizer, minha voz rouca. Meus olhos estavam fixos no espelho retrovisor da minha alma. Eu o tinha visto, o homem que amei, escolhê-la, protegê-la, acarinhá-la, bem na minha frente, logo depois de ele ter assassinado nosso filho e me deixado sangrando. Ele tinha visto minha dor, minha humilhação, meu estado de destroços, e escolheu exibir sua infidelidade ainda mais descaradamente. O último resquício de confiança, de esperança, de qualquer conexão emocional, se foi. Foi uma ruptura limpa, brutal e final.

Mais tarde naquele dia, Gabriel me visitou. Ele ainda usava a fachada de um marido preocupado. "Alina, sinto muito por... tudo", disse ele, seus olhos evitando os meus. "Mas você precisa entender. A Caia... ela é muito sensível. E seu comportamento... tem sido errático. Você precisa se concentrar em melhorar."

Eu apenas o encarei. Ele ainda estava girando a narrativa. Ainda me culpando. Ainda a protegendo.

"A propósito", ele continuou, seu tom mudando, "aquela pessoa lá embaixo, o que você contratou... o Léo. O que foi aquilo? Eu o vi saindo do seu quarto na outra noite."

Eu quase sorri. "Ah, o Léo. Sim. Ele é um ator profissional. Eu precisava de alguém para... preencher um certo papel."

A mandíbula de Gabriel se apertou. "Um papel? Que tipo de papel, Alina?"

"O seu papel, Gabriel. Aquele que você abandonou." Eu disse isso com calma, de forma factual, observando seu rosto. Não havia ciúmes, nem raiva desta vez. Apenas um olhar vago. Ele não se importava. Nem com quem eu trazia para nossa casa, nem com o que eu fazia para lidar com a situação.

Ele assentiu lentamente. "Entendo." Ele fez uma pausa, depois se levantou. "Preciso ir. A Caia precisa de mim no escritório."

Ele saiu. Simples assim. A fachada de marido perfeito caiu no momento em que ele percebeu que eu não era mais uma ameaça, que não estava mais agarrada a ele.

Mais tarde, soube que ele levara Caia para um retiro extravagante, exibindo-a como sua parceira, apresentando-a a seus contatos da alta sociedade. Ele estava investindo pesado nela, preparando-a para ser o rosto do futuro deles, não apenas profissionalmente, mas pessoalmente. Ele estava despejando dinheiro em sua carreira, seu guarda-roupa, sua posição social. Ele a estava construindo, assim como me havia destruído.

Mas ele não sabia. Ele não sabia sobre as transferências silenciosas que eu fizera ao longo dos anos. As contas escondidas. Os ativos que eu meticulosamente assegurara, peça por peça, sem que ele percebesse. Minha mente, afiada e estratégica, estava trabalhando muito antes de meu coração finalmente se quebrar.

Caia, por um tempo, se deleitou em sua glória recém-descoberta. Ela estava em todos os lugares, vestida com roupas de grife, seu rosto estampado nas colunas sociais. Ela era a estrela em ascensão, a nova queridinha do cenário de desenvolvimento imobiliário. Até que os sussurros começaram. Sussurros sobre seus gastos extravagantes. Sussurros sobre os fundos da empresa misteriosamente diminuindo. Sussurros que se transformaram em gritos quando um grande evento de caridade que ela estava liderando desmoronou devido a um erro de cálculo financeiro colossal. Ela foi publicamente humilhada, exposta como uma alpinista social sem perspicácia para negócios, apenas um rosto bonito e o dinheiro de Gabriel.

Ela correu para Gabriel, soluçando, implorando. Ele ficou furioso, não com a incompetência dela, mas com o escândalo público. Ele me culpou, é claro. Por não estar lá para "guiá-lo". Por torná-lo vulnerável.

Sua retaliação foi rápida e brutal. Ele usou suas conexões para me internar à força em uma clínica psiquiátrica. "Para observação", disse ele, sua voz desprovida de emoção. "Para o seu próprio bem, Alina. Você está claramente instável."

Eles me drogaram. Eles me isolaram. Eles tentaram me quebrar. Mas no quarto silencioso e acolchoado, minha mente, afiada e clara, planejava.

Quando ele finalmente veio me "visitar", após semanas de isolamento forçado e um coquetel de sedativos, ele parecia triunfante. "Sentindo-se melhor, Alina?", perguntou ele, um sorriso cruel brincando em seus lábios. "Talvez agora você aprenda sua lição. A Caia precisava da minha proteção. Você tentou arruiná-la."

"Você jogou nosso filho fora", eu disse, minha voz rouca, mas firme. "Você tentou me destruir. Tudo por ela."

Ele deu de ombros. "Ela é jovem. Ela comete erros. Você... você é apenas amarga."

"Amarga?" Uma risada fria e dura escapou dos meus lábios. "Gabriel, ela tentou me substituir. Ela atacou a Bia. Ela é uma cobra manipuladora e venenosa."

Seus olhos se estreitaram. "Não se atreva, Alina. A Caia é uma boa pessoa. Ela é apenas... incompreendida. E você está apenas com ciúmes." Ele se inclinou, sua voz baixando para um sussurro perigoso. "Se você tentar machucá-la novamente, eu vou garantir que você desapareça. Permanentemente."

"Por que, Gabriel?", perguntei, minha voz monótona. "Por que ela? Por que você jogou fora tudo o que construímos? Tudo o que éramos?"

Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo. "Alina, você era... confortável. Previsível. A Caia... ela é excitante. Ela me faz sentir vivo."

Era o clichê mais antigo, dito com facilidade praticada. Meu coração, ou o que restava dele, não sentiu nada. Nenhuma dor, nenhuma raiva. Apenas um cansaço profundo. Suas palavras eram apenas ruído agora. Ruído vazio e sem sentido.

"Eu quero o divórcio", eu disse, as palavras cortando o ar estéril. "Quero separar nossos bens. Oficialmente."

Ele pareceu surpreso. "Divórcio? Alina, não seja tola. Temos muita coisa amarrada juntos. Nossa empresa. Nossa reputação."

"Eu não me importo mais com nada disso, Gabriel", eu disse, minha voz ganhando força. "Eu quero sair. E quero o que é meu."

O jogo havia acabado. As regras haviam mudado. E ele não tinha ideia do que estava por vir.

            
            

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