"Não, meu amor", engasguei, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. "Não, meu bem, a culpa não é sua. Nada disso é sua culpa." Acariciei suavemente sua testa, a memória do tapa brutal de Gabriel como uma ferida fresca. Levantei a mão e me dei um tapa, com força, na bochecha. Era um gesto familiar de autopunição, mas desta vez, era alimentado por uma culpa mais profunda e profunda. Eu deveria tê-la protegido. Eu deveria ter previsto isso.
O médico entrou, seu rosto sombrio. "A boa notícia é que Bia está fora de perigo imediato. A má notícia... o impacto causou uma ruptura no tímpano. Temos esperança de uma recuperação completa, mas será um processo longo. E há uma resposta ao trauma. Ela está retraída."
Tímpano rompido. Resposta ao trauma. Gabriel tinha feito isso. Ele a tinha silenciado. Minha Bia vibrante e falante era agora uma criança quieta e assustada.
Fiquei ao seu lado a noite toda, observando sua respiração superficial, minha mente repassando o ato hediondo de Gabriel. Na manhã seguinte, Arnaldo entrou correndo, seu rosto abatido, seus olhos vermelhos. Ele olhou para Bia, depois para mim, meu rosto manchado de lágrimas.
"Alina, meu Deus", ele sussurrou, sua voz embargada de emoção. Ele virou seu olhar furioso para a porta, como se Gabriel ainda estivesse lá. "Aquele desgraçado! Aquele filho da puta ingrato e desprezível! Depois de tudo que fizemos por ele, tudo que construímos juntos... ele põe a mão na minha filha? Na sua sobrinha?"
Os punhos de Arnaldo se cerraram. "Eu não vou deixar isso passar, Alina. Vou prestar queixa. Vou processá-lo até que ele não tenha mais nada."
Assenti lentamente, minha voz ainda rouca. "Faça isso, Arnaldo. Eu vou te apoiar. Em cada passo do caminho."
Enquanto discutíamos as opções legais, o advogado de Gabriel ligou. Ele ofereceu uma quantia generosa de dinheiro. "O Sr. Almeida lamenta profundamente o mal-entendido. Ele está preparado para oferecer um acordo substancial, desde que o Sr. Duncan retire todas as ações legais."
Arnaldo zombou. "Mal-entendido? Ele agrediu minha filha! Diga ao seu cliente que dinheiro não vai livrá-lo desta."
Outra ligação veio diretamente de Gabriel. Sua voz estava carregada de ameaça. "Arnaldo, não seja tolo. Você sabe do que sou capaz. A Caia significa tudo para mim. Se o nome dela for arrastado na lama por causa da história exagerada da sua filhinha, você vai se arrepender. Diga à Alina para controlar sua sobrinha."
"Controlar sua sobrinha?!", Arnaldo rugiu ao telefone. "Você acabou de bater em uma menina de dez anos, Gabriel! Não há como controlar esse tipo de maldade! Eu vou buscar justiça, e você não vai me impedir." Ele desligou com uma batida.
A retaliação de Gabriel foi rápida, brutal e totalmente abrangente. Em poucos dias, a construtora de Arnaldo, que dependia fortemente de contratos com a empresa de Gabriel, foi sistematicamente desmantelada. Gabriel congelou suas contas, cancelou todos os projetos em andamento e, com precisão cruel, instigou uma série de processos de ex-funcionários descontentes, acusando Arnaldo de tudo, desde mão de obra de má qualidade até má gestão financeira.
A empresa de Arnaldo desmoronou. Seus bens foram confiscados, suas propriedades hipotecadas, suas economias de uma vida inteira aniquiladas. Ele mergulhou em uma depressão profunda, sua saúde se deteriorando rapidamente. Ele tinha uma condição cardíaca rara, e seu medicamento vital tornou-se misteriosamente indisponível nas farmácias da cidade. Gabriel havia comprado todo o estoque.
Eu observei meu irmão, antes tão vibrante e forte, transformar-se em uma sombra de si mesmo. Seu cabelo, antes escuro, ficou branco como a neve da noite para o dia. O estresse, a humilhação, a batalha constante contra a crueldade implacável de Gabriel, o haviam quebrado.
Estávamos ambos marcados, Arnaldo e eu, machucados e feridos, mas em nosso sofrimento compartilhado, um novo e mais duro núcleo se formou dentro de mim. A antiga Alina, aquela que amava e sofria, se fora. Esta nova Alina era uma sobrevivente. Uma estrategista. E uma força a ser reconhecida.
Encontrei Arnaldo olhando fixamente pela janela do hospital uma tarde, seu rosto pálido, seus olhos vazios. "Gabriel... ele ligou", ele sussurrou. "Ele perguntou se eu estava pronto para desistir."
Meu sangue gelou. Caminhei até Gabriel, que estava sentado na sala de espera, tomando café, um olhar presunçoso no rosto enquanto falava ao telefone. Ele olhou para cima, um sorriso zombeteiro em seus lábios.
"Então, Alina", ele disse, sua voz suave, "Você está pronta para admitir a derrota? Pronta para voltar a si?"
Eu não disse uma palavra. Aproximei-me dele, minha mão erguida, e dei um tapa em seu rosto, com força. O som ecoou na sala de espera silenciosa. Sua cabeça virou para trás, uma marca vermelha florescendo em sua bochecha.
"Com a minha família ninguém mexe, Gabriel", eu disse, minha voz baixa e perigosa. "Você cruzou a linha. Você machucou a Bia. Você destruiu o Arnaldo. E por isso, eu juro, vou fazer você sofrer mil vezes pior do que você nos fez sofrer. Você e aquela sua putinha patética. Espero que vocês dois queimem no inferno."
Ele me encarou, seus olhos arregalados de choque. Ele nunca tinha visto esse meu lado. O ódio cru e sem filtros.
Ele se recuperou rapidamente, seus olhos endurecendo. "Alina, não seja ridícula. Você está chateada. Eu entendo. Mas você não pode falar assim. A Caia é uma boa pessoa. E você está apenas... se machucando com essa amargura." Ele fez uma pausa, depois acrescentou, sua voz assustadoramente calma: "E lembre-se, Alina, eu sempre protegerei a Caia. Ela é minha prioridade. Não pense que pode tocá-la. Você simplesmente não está em posição para isso."
Eu ri, um som áspero e sem humor. Lembrei-me de outra vez que ele disse isso. Anos atrás, quando descobri sobre Caia pela primeira vez, e ameacei expô-la à mídia. Ele me disse então, sua voz fria e ameaçadora, que se eu tentasse machucá-la, eu perderia tudo. E eu acreditei nele. Eu recuei.
Que idiota eu fui. Dezesseis anos de casamento, de construção de um império juntos, reduzidos a isso. Meu amor, minha confiança, minha lealdade, tudo sem sentido. Ele me via como um obstáculo, um incômodo. Caia, a jovem e manipuladora arquiteta, era sua musa, sua obsessão.
"Por que, Gabriel?", perguntei novamente, minha voz tremendo agora, não de medo, mas de uma sensação avassaladora de perda. "Por que você fez isso? Por que você nos jogou fora, destruiu nossa família, por ela?"
Ele suspirou, um som cansado e sobrecarregado. "Alina, você sempre foi tão exigente. Tão... sufocante. A Caia me faz sentir como um homem de novo. Ela me idolatra."
As palavras foram como um golpe físico. Idolatria. Meus anos de parceria, de igualdade intelectual e emocional, reduzidos a uma necessidade desesperada de adulação.
Meus olhos pousaram em uma pesada cadeira de metal na sala de espera. Uma onda de raiva pura e não adulterada, diferente de tudo que eu já senti, percorreu-me. Agarrei a cadeira, o metal frio um conforto em minhas mãos.
"Você está errado, Gabriel", rosnei, minha voz mal humana. "Você não é um homem. Você é um parasita. E é você quem merece morrer." Com toda a minha força, eu balancei a cadeira, mirando em sua cabeça.