A Última Palavra: Seu Sofrimento
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Capítulo 4

Alina POV:

Por semanas, tentei contatar Gabriel. As ligações não eram atendidas. Os e-mails voltavam. Ele estava me evitando, enfiando a cabeça na areia, esperando que eu simplesmente desaparecesse ou voltasse ao meu papel prescrito de esposa histérica. Mas a antiga Alina se fora, substituída por uma versão mais fria e afiada. Aquela que entendia que o silêncio não era fraqueza, mas estratégia.

Eu o encontrei na Gala Anual dos Empreendedores, um evento brilhante realizado no salão de festas mais grandioso da cidade. Ele estava lá com Caia, é claro, ambos irradiando um brilho artificial, cercados por seus bajuladores. Caia, surpreendentemente, conseguira se reerguer a alguma aparência de status social, graças aos esforços incansáveis de relações públicas de Gabriel.

Eu entrei, um fantasma na minha própria vida, mas uma força na deles. Meu simples vestido preto era discreto, elegante. Eu carregava uma pasta de couro elegante. Meus olhos estavam fixos em Gabriel, do outro lado do salão lotado.

Ele me viu. Seu sorriso vacilou. Caia, seguindo seu olhar, enrijeceu. Um silêncio caiu sobre a mesa deles.

Caminhei diretamente em direção a eles, meus saltos estalando no chão de mármore, cada passo um golpe de martelo em sua ilusão cuidadosamente construída.

"Gabriel", eu disse, minha voz calma, educada, quando cheguei à mesa deles. "Tenho tentado falar com você."

Ele se recuperou rapidamente, um charme praticado tomando seu lugar. "Alina, que surpresa. Você está... bem." Seus olhos se voltaram para a pasta em minha mão. Ele sabia.

"Obrigada", eu disse, estendendo a pasta. "Acredito que você achará isto útil."

Ele hesitou, depois a pegou, seus dedos roçando os meus. Um arrepio, não de reconhecimento, mas de repulsa, percorreu-me. Ele a abriu, seus olhos percorrendo os documentos. A cor lentamente drenou de seu rosto enquanto ele lia. Era o acordo de divisão de bens, meticulosamente detalhado, não deixando nada ao acaso.

Ele zombou, um som áspero e sem humor. "Isso é algum tipo de piada, Alina? Você acha que pode simplesmente... ir embora e levar metade de tudo? Depois de tudo que eu construí?"

Caia se inclinou, sua voz um sussurro, mas alta o suficiente para eu ouvir. "Gabriel, o que é?"

Ele fechou a pasta, seus olhos em chamas para mim. "Ela acha que tem direito a uma fortuna, Caia. A nossa fortuna." Ele se virou para mim, sua voz pingando desdém. "Sabe, Alina, a Caia nunca será uma ameaça à sua posição como minha esposa. Este casamento é puramente... um acordo de negócios agora. Um mal necessário, na verdade."

Encontrei seu olhar, uma estranha sensação de paz se instalando sobre mim. "Você está certo, Gabriel", eu disse, surpreendendo-o. "Ela não é uma ameaça. Porque estou te devolvendo sua posição. E seu 'mal necessário'. Você pode ficar com tudo."

Seus olhos se estreitaram em suspeita. "Do que você está falando?"

"Este casamento", respondi, gesticulando entre nós, "tornou-se uma gaiola. Um fardo que não desejo mais carregar. Estou cansada de ser a esposa histérica, a verdade inconveniente. Eu quero sair."

Alguns olhares curiosos foram lançados em nossa direção das mesas próximas. O rosto de Gabriel endureceu. "Você quer sair? Depois de todos esses anos? E acha que pode simplesmente exigir metade de tudo por causa de algum sofrimento emocional fabricado?"

"Oh, está longe de ser fabricado, Gabriel", eu disse, minha voz fria. "E não é apenas sofrimento emocional. É infidelidade. Infidelidade repetida e descarada. Com uma funcionária. E no nosso estado, isso acarreta uma penalidade significativa na divisão de bens. Sem mencionar o valor decrescente da empresa desde que você começou a se concentrar mais em... outras prioridades." Meu olhar se voltou para Caia, que visivelmente se encolheu.

O rosto de Gabriel passou de pálido para um tom perigoso de vermelho. Ele agarrou a pasta com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos. "Você acha que pode me extorquir?"

"Extorquir?" Eu sorri, um sorriso arrepiante e sem humor. "Não. Estou apenas pegando o que é legalmente, eticamente e moralmente meu. E um pouco mais, por danos morais. Pelo aborto que você causou. Pelo abuso que você infligiu. Pela humilhação pública."

Ele abriu a boca, depois a fechou. Olhou ao redor, de repente ciente dos olhos sobre ele. Sua imagem perfeita estava desmoronando. Ele conhecia as leis. Ele conhecia o custo do escândalo. Ele sabia que eu o tinha encurralado.

Ele soltou uma risada curta e aguda, uma tentativa desesperada de recuperar o controle. "Isso é uma performance, Alina. Uma tentativa patética de chamar minha atenção."

Ele ainda acha que eu quero a atenção dele. O pensamento era um gosto amargo e metálico na minha boca. Ele era um covarde. Um narcisista. Um homem tão completamente desprovido de empatia que não conseguia compreender uma saída silenciosa e digna.

Ele pegou uma caneta da mesa, sua mão tremendo. "Tudo bem!", ele cuspiu, sua voz mal controlada. "Você quer seu dinheiro? Pegue! Mas você vai se arrepender disso, Alina. Você vai voltar rastejando. Eu te dou exatamente uma semana para reconsiderar. Depois disso, este acordo é final." Ele rabiscou sua assinatura na parte inferior.

"Não há reconsideração, Gabriel", eu disse, pegando os papéis assinados. "Isto é final."

Ele me encarou, seus olhos cheios de ódio. Ele ainda achava que eu estava blefando, jogando um jogo. Ele ainda achava que detinha todo o poder.

Virei-me e fui embora, sem olhar para trás. O salão de festas, antes um símbolo de nossa ambição compartilhada, agora parecia um túmulo. Saí para o ar fresco da noite e não olhei para trás, para a vida que estava deixando para trás.

Mudei-me para a casa pequena, mas aconchegante, do meu irmão Arnaldo, perto da praia. Era um contraste gritante com a mansão que eu compartilhara com Gabriel, mas o ar salgado e o som das ondas eram um bálsamo para minha alma ferida. Arnaldo, meu irmão mais velho ferozmente leal, e sua filha brilhante de dez anos, Bia, me receberam de braços abertos.

No dia em que Bia voltou da escola, ela estava vibrando de excitação. "Tia Alina! Você não vai acreditar em quem eu vi!"

"Quem, meu bem?", perguntei, sorrindo, aproveitando sua energia infantil.

"A Caia!", ela chilreou. "Ela estava na escola, conversando com a diretora. Ela disse que vai entrar na associação de pais e mestres!"

Meu sangue gelou. Caia? Aqui? Eu tinha me mudado para a casa de Arnaldo, um bairro tranquilo e despretensioso, longe do mundo de Gabriel. Isso não podia ser uma coincidência.

Então, o pior aconteceu. Alguns dias depois, eu estava na cozinha, preparando o jantar, enquanto Bia brincava na sala de estar. Ouvi um grito súbito e agudo, seguido por um baque nauseante. Meu sangue gelou.

Corri para a sala de estar. Caia estava de pé sobre Bia, seu rosto contorcido em um escárnio que eu nunca tinha visto antes, um contraste gritante com sua persona pública. Bia estava no chão, agarrando a cabeça, lágrimas escorrendo pelo rosto. Um vaso de porcelana jazia estilhaçado ao lado dela, restos do que parecia ter sido uma luta.

"O que você fez?!", gritei, minha calma se estilhaçando instantaneamente. Minha sobrinha, minha pequena Bia, estava ferida. Todo o controle gélido que eu cultivara desapareceu em uma onda primal de fúria.

Avancei em direção a Caia, empurrando-a para trás, minhas mãos já tremendo com uma raiva tão potente que me assustou. "Saia! Saia da minha casa, sua psicopata!"

Caia tropeçou para trás, seu rosto se transformando em um beicinho inocente. "Sra. Almeida! Eu... eu só tropecei! E a Bia... ela me empurrou! Ela sempre foi tão rude comigo!"

Bia, ainda soluçando, olhou para cima, seu rostinho manchado de lágrimas e medo. "Não, tia Alina! Ela... ela te xingou! Ela disse que você merecia tudo o que aconteceu! E quando eu disse para ela parar, ela... ela jogou o vaso em mim! E depois me empurrou no chão!"

Meu sangue gelou. A pura malícia. A mentira descarada.

Nesse momento, a porta da frente se abriu com um estrondo. Gabriel estava lá, olhando de Caia para Bia no chão, para mim, tremendo de raiva.

"Que porra está acontecendo aqui?!", ele rugiu, seus olhos se fixando instantaneamente em Bia.

Caia correu para ele, agarrando-se ao seu braço. "Gabriel! Ela... ela me atacou! E a Bia é sempre tão agressiva! Ela começou!"

Gabriel nem hesitou. Ele olhou para Bia, que ainda chorava, agarrando a orelha. Sem uma palavra, ele caminhou até ela, sua mão erguida. Ele a abaixou com um estalo nauseante na lateral da cabeça dela.

Um suspiro coletivo escapou da minha garganta. Os choros de Bia pararam abruptamente, substituídos por um gemido sufocado. Seus olhos, arregalados de terror, encararam Gabriel, depois lentamente rolaram para trás. Ela desabou, inconsciente.

"Gabriel!", gritei, um som cru e animal rasgando minha garganta. "O que você fez?!"

Ele ficou parado sobre Bia, seu peito arfando, seus olhos ainda queimando de raiva. "Ela mereceu! Por machucar a Caia! Por causar problemas!"

Meu coração parou. Meu próprio filho, nosso filho, ele deixou morrer. E agora, minha sobrinha. Minha preciosa Bia.

Caí de joelhos, embalando o corpo mole de Bia. Sua pequena orelha já estava inchando, vermelha e machucada. Um fino fio de sangue escorria de seu canal auditivo. Ela não estava respondendo. Meu mundo girou.

Olhei para Gabriel, um som profundo e gutural rasgando minha garganta. "Seu monstro! Seu monstro absoluto!"

Peguei Bia nos braços, sem me importar com a dor em meu próprio corpo. Corri em direção à porta, passando por Gabriel, que ficou lá, estupefato.

"Alina! Onde você vai?!", ele gritou, tentando me alcançar.

"Não se atreva a me tocar!", gritei, chutando-o, meu calcanhar acertando sua canela. Ele tropeçou para trás, agarrando a perna. "Se acontecer alguma coisa com ela, Gabriel, eu juro por Deus, eu vou fazer você pagar! Eu vou te destruir! Eu vou te matar!"

Corri para fora de casa, Bia agarrada firmemente contra meu peito, sua imobilidade um peso arrepiante. Eu não estava apenas o deixando desta vez. Eu estava deixando a velha eu para trás. E a nova eu... a nova eu estava vindo atrás dele.

            
            

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