Sua saída foi abrupta demais, apressada demais. Ele não encontrou meu olhar, não ofereceu uma palavra de conforto, nem mesmo um olhar para trás. Era como se ele não pudesse fugir rápido o suficiente. O ar que ele deixou para trás parecia rarefeito, envenenado. Algo estava terrivelmente errado. Meu instinto gritava para mim. Caio, geralmente tão composto, estava visivelmente perturbado. Seus olhos haviam se desviado dos meus, suas mãos tremeram levemente quando ele alcançou a maçaneta da porta.
Um pavor frio se instalou sobre mim. Isso não era apenas estresse. Isso era culpa. Uma verdade amarga e azeda começou a se desenrolar em minha mente. Ele sabia de algo. Ele estava escondendo algo. A questão não era se, mas o quê. E com quem. A imagem do rosto presunçoso de Carla, sua mão possessiva em Heitor, suas palavras sobre Caio "cuidando dela", me atingiram em cheio.
Meu coração martelava contra minhas costelas, um pássaro frenético preso em uma gaiola. Minhas mãos começaram a tremer. Eu tinha que saber. Eu tinha que ver. Eu tinha que confirmar a suspeita horrível que agora gritava em minha cabeça. Respirei fundo e trêmula, tentando acalmar o pânico crescente. Pânico não ajudaria. Clareza sim.
Minha mente, geralmente tão precisa, parecia um relógio quebrado, com as engrenagens rangendo. Mas lentamente, um pensamento desesperado e aterrorizante se formou. Eu precisava segui-lo. Eu precisava ver para onde ele estava indo, com quem ele estava se encontrando. Minhas pernas pareciam de chumbo, mas eu as forcei a se mover.
Encontrei sua assistente, Sara, no balcão do concierge, parecendo apressada. "Sara, você viu o Caio? Ele acabou de sair", perguntei, tentando manter minha voz firme, sem trair a turbulência que se agitava dentro de mim.
Sara olhou para cima, seus olhos arregalados de surpresa. "Ah, Sra. Hoffmann! O Sr. Schroeder acabou de me dizer que tinha um assunto de negócios urgente para resolver. Disse que voltaria mais tarde esta noite. Ele pegou o elevador de serviço para o estacionamento subterrâneo, eu acho."
O elevador de serviço. Estacionamento subterrâneo. Um assunto de negócios urgente. Meu sangue gelou, um arrepio percorrendo minha espinha. Negócios urgentes? Quando o jantar de ensaio era em apenas algumas horas? Sua dispensa havia sido rápida demais, praticada demais. As peças estavam se encaixando, formando uma imagem que eu não queria ver. Uma imagem feia e grotesca.
Meu corpo começou a tremer incontrolavelmente, um tremor começando no fundo do meu ser e se espalhando pelos meus membros. Não era frio. Era choque. Uma premonição de desespero. O ar parecia denso, sufocante. Pressionei a mão na boca, tentando abafar a náusea crescente. Não. Não podia ser verdade. Não o Caio. Mas uma voz insistente em minha cabeça, crua e brutal, sussurrou: Sim. Podia.
Fechei os olhos, forçando-me a respirar, a afastar a escuridão que se aproximava. Eu precisava ser forte. Eu precisava ver por mim mesma. A dúvida me mataria mais lentamente. A certeza, por mais dolorosa que fosse, me libertaria.
Fui para o elevador de serviço, meus passos pesados e incertos. O cheiro metálico do poço do elevador, as luzes fracas e piscantes, o silêncio abafado do estacionamento subterrâneo - tudo contribuía para uma crescente sensação de pavor. Cada passo ecoava a batida frenética do meu coração. Quanto mais eu descia, mais pesado o ar se tornava, denso com segredos não ditos.
Quando as portas do elevador se abriram, um gemido baixo e gutural flutuou pelo ar viciado. Era um som que eu reconhecia, um som de paixão crua e desinibida. Minha respiração ficou presa na garganta. Era a voz de Caio. Eu sabia. O próprio ar ao meu redor parecia crepitar com uma energia ilícita.
Meus pés se moveram por conta própria, atraídos por um ímã invisível e horrível. Contornei um pilar de concreto, meus olhos examinando as fileiras de carros estacionados. E então eu vi. O SUV preto de Caio. As janelas eram escuras, mas o movimento revelador de balanço, os sons abafados, eram inconfundíveis.
Meu mundo se despedaçou.
Um soluço engasgado escapou dos meus lábios, um som doloroso e rasgado que mal reconheci como meu. Minhas mãos voaram para a minha boca, tentando conter o grito que ameaçava explodir. Mas era tarde demais. O dano estava feito. A imagem estava gravada em minha mente. Caio. E Carla.
Eu a vi pela janela ligeiramente entreaberta, seu rosto corado, seu cabelo desgrenhado, seus olhos semicerrados de prazer. E Caio, seu rosto contorcido em uma expressão de luxúria crua, suas mãos emaranhadas no cabelo dela. Era uma cena de traição total e brutal. Não apenas um beijo. Não apenas um momento roubado. Isso era íntimo. Isso era profundo. Isso eram três anos da minha vida, uma mentira.
A voz de Carla, rouca e ofegante, flutuou pelo ar. "Caio, querido, você tem certeza disso? Casar com o Heitor? E nós?" Suas palavras foram uma torção cruel da faca, me eviscerando.
Caio, sua voz grossa de desejo, respondeu: "Não seja boba, Carla. Você sabe que o Heitor é só um meio para um fim. Sempre fomos você e eu." Ele a puxou para mais perto, seus lábios encontrando os dela novamente.
A frase "meio para um fim" ecoou em meus ouvidos, me arrepiando até os ossos. Não apenas para Carla, mas para Heitor, para toda a sua família. E para mim. O que eu era então? Um mero inconveniente? Uma fachada estável para seu segredo sórdido?
Um soluço gutural me escapou, um som de dor pura e inalterada. Minhas pernas cederam, e eu desabei atrás do pilar, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Minha respiração vinha em arquejos irregulares. O ar estava denso com o fedor da traição deles, me sufocando.
Como eu pude ser tão cega? Tão tola? Todas as vezes que Caio esteve distante, todas as noites tardias, as viagens de negócios repentinas. Todas as desculpas. Nunca foram sobre trabalho. Foram sobre ela. E Carla, a doce e inocente Carla, bancando a vítima, manipulando todos ao seu redor.
Senti como se estivesse me afogando em um mar de mentiras. Cada memória, cada risada compartilhada, cada momento terno com Caio, agora manchado, envenenado por essa revelação horrível. Ele havia olhado nos meus olhos, me dito que me amava, enquanto secretamente construía uma vida com outra mulher. Com a noiva do meu irmão. A pura audácia, o desrespeito insensível pelos meus sentimentos, pelo nosso relacionamento, pela minha família.
Os sons de sua intimidade começaram a diminuir. Ouvi a voz de Caio, um pouco tensa, um pouco áspera. "Precisamos ter cuidado, Carla. Isso não pode vazar. Não agora. Não com o casamento amanhã."
Carla riu, um som que irritou meus nervos em carne viva. "Não se preocupe, querido. Ninguém vai suspeitar de nada. Especialmente a pobre e ingênua Alina. Ela está muito ocupada planejando seu próximo grande gesto para notar o que está bem debaixo do nariz dela."
Uma nova onda de náusea me invadiu. Ingênua Alina. Essa era eu. A tola. A idiota confiante.
Caio de repente se afastou de Carla, seu rosto endurecendo. "Não. Você precisa terminar com o Heitor depois do casamento. Isso não pode continuar assim." Sua voz era firme, fria.
Carla fez beicinho, seus olhos arregalados de dor fingida. "Mas Caio, como você pode dizer isso? Depois de todos esses anos? Eu te dei tudo. Eu esperei por você. Você vai simplesmente me jogar fora agora que eu servi ao meu propósito?" Sua voz falhou, uma performance perfeita de uma mulher injustiçada.
Eu assisti, entorpecida, enquanto a expressão de Caio suavizava. Ele estendeu a mão, acariciando suavemente a bochecha dela. A visão revirou meu estômago. Ele estava caindo nessa. De novo.
"Não é assim, Carla. Você sabe que eu me importo com você. Mas isso é muito arriscado. Precisamos de um rompimento limpo." Sua voz estava tingida de uma ternura que me fez querer vomitar. A mesma ternura que ele uma vez reservou para mim.
Minha mente girou. Três anos. Três anos de mentiras, enganos e intimidade oculta. Isso não era um caso. Era uma vida paralela que ele havia construído, um mundo secreto que ele havia compartilhado com ela, a noiva do meu irmão. Ele se importava com ela. Ele realmente se importava. E ele estava tentando protegê-la, mesmo agora.
Um pequeno objeto metálico escorregou dos meus dedos trêmulos, atingindo o chão de concreto com um clique agudo. Meu celular. Meu corpo congelou.
A cabeça de Caio se ergueu. Seus olhos, arregalados de pânico, dispararam em direção ao meu esconderijo. Carla ofegou, sua mão voando para a boca. Seus rostos, segundos antes corados de paixão, agora estavam pálidos de medo.
"Alina?" A voz de Caio era um sussurro rouco, uma mistura de incredulidade e terror.
Meu coração parou. Eles sabiam. Eles me viram. Não havia como negar agora. Sem esconderijos. A verdade crua e feia estava exposta. Mas eu não podia enfrentá-los. Não agora. Não assim.
Meus instintos assumiram o controle. Levantei-me de um salto, ignorando a dor lancinante em meus joelhos, e corri. Para fora do estacionamento, em direção à saída principal, longe de seus rostos horrorizados, longe da cena da minha humilhação total. Longe dos restos estilhaçados da minha vida.