Capítulo 2 Um contrato de conveniência

Na manhã seguinte, Gracie e Ellie saíram com presentes cuidadosamente embrulhados para visitar a família Stanley.

O almoço transcorreu com perfeita harmonia, onde cada gesto era refinado, e cada palavra, cuidadosamente pensada.

Assim que os pratos foram retirados, Valeria Stanley, mãe de Theo e Brayden, ofereceu um sorriso caloroso. "Vocês são encantadoras. Não precisam ficar presas aqui conosco a tarde inteira. Já que todos estão presentes, por que não aproveitam para dar uma volta juntos?"

A sugestão foi bem recebida, e Gracie se levantou, alisando a saia antes de seguir os demais para o lado de fora.

Pouco depois, a sala de jantar estava vazia.

"Gracie, venha comigo." Brayden surgiu ao lado dela de repente, rompendo o silêncio com voz baixa e um rosto impossível de decifrar.

Antes que ela pudesse responder, ele já havia se virado e saído com passos decididos.

Sem escolha, ela o seguiu às pressas, os saltos ecoando suavemente enquanto entravam no escritório.

A porta se fechou com um clique, e o som abafado pareceu cortar a compostura de Gracie como uma lâmina.

Por um instante ela foi tragada de volta aos horrores do passado, onde a dor fantasma ainda a assombrava com tamanha intensidade que lhe roubava o ar. Sempre que Theo perdia a paciência com a teimosia dela, arrastava-a para um quarto, tirava a máscara de cavalheiro e, com o cinto na mão, desferia golpes sobre o corpo dela até sua pele arder e ficar marcada.

Gracie recuou um passo por instinto, um tremor percorrendo seu corpo enquanto o coração martelava nos ouvidos.

Brayden notou o medo dela e parou à uma distância segura. "Fique tranquila. Não encostarei em você. Algumas conversas são mais fáceis em particular."

Gracie inspirou fundo, tentando se recompor, os dedos cerrados em um punho firme.

"Entendo", ela murmurou.

Mesmo agora, ainda não havia se libertado da sombra que Theo deixara em sua alma.

Juntando os pensamentos, ela observou atentamente o rosto sereno de Brayden. Em sua vida anterior, eles só se encontraram duas vezes: uma no anúncio do noivado arranjado e outra após o trágico acidente que o deixou marcado e em uma cadeira de rodas. E naquela última vez, ela apenas o viu de longe.

Diferente do homem quebrado que ele se tornaria, o Brayden presente ainda exalava confiança, a de alguém que nunca conheceu a derrota.

Com seus imponentes um metro e noventa, o cabelo penteado para trás reluzia sob a luz, enquanto a camisa escura, ajustada ao corpo, acentuava seus ombros largos. As mangas arregaçadas revelavam antebraços definidos, reflexo de força e controle.

"O que você quer?", sussurrou Gracie, desviando o olhar.

Um arrepio percorreu sua pele ao perceber que se esse homem quisesse machucá-la, ela não teria como se defender.

Brayden caminhou até a mesa com passos firmes. Então pegou um documento, colocou sobre a mesa e declarou friamente: "Vamos deixar tudo bem claro - posso ter aceitado esse casamento, mas não existe sentimento entre nós."

Gracie já sabia que o coração dele pertencia a outra.

Com calma e indiferença, Brayden empurrou o documento para ela. "Imagino que você só tenha aceitado esse acordo porque não teve alternativa. Portanto, até que este casamento seja dissolvido, espero que cumpra as condições. Em público, pareceremos um casal apaixonado. Mas em privado, não tocarei em você nem interferirei na sua vida. E espero o mesmo em troca - você também não interferirá na minha."

Gracie ergueu o rosto, um traço de urgência aparecendo em sua face. "Está falando sério?"

Sua reação causou estranhamento - Brayden arqueou uma sobrancelha, um leve brilho de diversão nos olhos. "Você até parece satisfeita com isso."

"Não é isso." Mordendo o lábio inferior, Gracie apanhou o contrato e passou a examiná-lo com cuidado.

As cláusulas eram objetivas e razoáveis, deixando claras as condições do casamento arranjado.

Ela não protestou, mas, com a caneta em mãos, hesitou no último instante.

Brayden franziu o cenho. "O que foi? Algo não está claro?"

Olhando para ele, ela questionou: "Se eu continuar minha pesquisa após o casamento, você não vai se intrometer, vai?"

Um leve sorriso, quase sagaz, surgiu nos lábios dele. "Claro que não. Nossas vidas seguirão separadas."

Antes que ela pudesse responder, o celular dele vibrou.

Assim que atendeu, o tom de sua voz mudou por completo, ficando mais baixo, gentil e carregado de ternura. "Não se preocupe. Enviarei alguém imediatamente. Só estou finalizando algo aqui, mas já estou a caminho."

O calor em sua voz era bem diferente do tom reservado que usava com Gracie, revelando o quanto aquela pessoa significava para ele.

Sentindo uma estranha serenidade, Gracie assinou o acordo rapidamente.

Ao encerrar a ligação e se virar, Brayden viu a assinatura de Gracie no papel.

Com um leve aceno, ele agradeceu: "Obrigado."

Sobre a mesa, repousavam duas cópias do contrato, ela então pegou a sua e a colocou na bolsa sem dizer uma palavra.

Com tudo resolvido, Brayden não demonstrou intenção de continuar ali, então recolheu o contrato assinado com cuidado e abriu a porta para que ela saísse.

Ao sair do escritório, Gracie percebeu que o corredor estava completamente silencioso, e que nem Theo nem Ellie estavam em lugar algum.

"Parece que foram para outro lugar. Como pretende voltar? Quer que eu mande alguém levá-la?", disse Brayden em tom neutro.

Ele mantinha alguns passos de distância, com uma postura cortês, porém reservada. Essa distância educada parecia intencional, pois desde o início, ele havia sido claro quanto aos limites que não deveriam ser ultrapassados.

Curiosamente, essa reserva fez com que Gracie relaxasse os ombros. Pela primeira vez nesse dia, sentiu que podia respirar com um pouco mais de tranquilidade.

Depois de suportar os jogos mentais e o controle sufocante de Theo em sua vida anterior, ansiava por alguém estável como Brayden. Com ele, poderia se libertar da pressão familiar e se dedicar à pesquisa em paz. E, quando o casamento chegasse ao fim, finalmente teria a chance de viver como quisesse.

"Não precisa. Chamarei um táxi. Ainda assim, obrigada." O tom dela era tranquilo, porém distante.

Brayden apenas inclinou levemente a cabeça em sinal de cortesia, o rosto impassível, e se afastou sem mais palavras.

Gracie recusou a ajuda do mordomo para chamar um carro e decidiu sair por conta própria.

Enquanto atravessava o jardim, diminuiu o passo ao ouvir vozes vindo das cercas vivas bem cuidadas.

"Confie em mim, Ellie. Eu não sou nada como Brayden. Ele pode estar se casando por dever, mas o que sinto por você é verdadeiro." A voz de Theo cortou o ar silencioso, o que fez com que Gracie se enrijecesse de imediato, a respiração presa na garganta.

Um frio conhecido percorreu sua espinha, pois o medo que sentia dele nunca a havia abandonado.

Por entre as folhas, Gracie viu Theo sorrindo docemente enquanto colocava um colar delicado no pescoço de Ellie.

"Me deixe te ajudar com isso", disse ele com suavidade.

As bochechas de Ellie coraram, e sua resposta veio em um tom tímido e leve: "Tudo bem."

Mas, de costas, ela não viu o brilho cruel que cruzou os olhos de Theo como lâmina afiada.

O favoritismo de Alan já havia apontado Ellie como herdeira dos negócios da família, o que, para Theo, transformava-a na peça ideal do seu jogo de poder. Enquanto Gracie, seguiria alheia, uma pesquisadora introspectiva que passava os dias no laboratório.

Ellie passou os dedos sobre o colar recém-colocado, um sorriso leve surgindo em seus lábios.

Em sua vida anterior, ela se casara com Brayden cheia de esperança, acreditando que o afeto surgiria da obrigação, que um dia seriam felizes.

No entanto, seu casamento não passou de um contrato frio e distante: cada erro a afundou um pouco mais, até que, sozinha na sala de parto, perdeu a vida junto com o filho que nunca chegou a abraçar.

Mas desta vez, ela decidira escolher Theo, o homem que aparentava ser genuinamente gentil.

Quando o dia do casamento finalmente chegasse, ela prometeu a si mesma que superaria Gracie em todos os aspectos.

"Já está anoitecendo. Permita que eu te leve para casa", sussurrou Theo, com um olhar terno e um leve sorriso nos lábios.

"Tudo bem." Ellie segurou a mão dele sem hesitar, o coração cheio de satisfação.

Por fim, os dois seguiram juntos.

Oculta sob a sombra densa das árvores, as pernas de Gracie quase cederam, fazendo-a apoiar a mão trêmula na pedra áspera ao seu lado.

Quando seu coração finalmente desacelerou, ela se recompôs e caminhou até a saída, onde viu Theo segurando a porta do carro com sua elegância habitual, enquanto Ellie entrava com um sorriso radiante.

Através do vidro escuro, ao ver o rosto pálido de Gracie, Ellie lançou-lhe um olhar provocativo de triunfo e desprezo, presumindo que ela já tivesse em mãos o contrato assinado por Brayden, e pensou que, pelo menos nesta vida, a felicidade não era algo reservado para sua meia-irmã.

Observando o carro desaparecer ao longe, Gracie sentiu apenas um alívio profundo e silencioso. Desta vez, tudo o que ainda a ligava a Theo finalmente havia se encerrado.

            
            

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