Era o que comprei antes de engravidar, que na época estava folgado, mas agora esticava apertado ao redor do meu corpo.
Olhei para mim mesma no espelho. Minha barriga estava enorme, meus membros inchados, manchas suaves pelo rosto.
Mas ainda assim, coloquei uma maquiagem leve e batom, tentando encontrar um vestígio da antiga eu.
Assim que Santino chegou em casa e me viu toda arrumada, ele congelou por um momento.
Um vislumbre de surpresa, talvez até de admiração, cruzou seus olhos.
Ele se aproximou, sua voz incomumente suave, e até estendeu a mão para alisar meu cabelo.
"Meu amor, você está linda. Vou ficar com você para o resto da monha vida, prometo. Hoje à noite o telefone fica desligado. Ninguém vai atrapalhar."
Por um segundo, algo no meu peito reacendeu.
Talvez ele realmente me amasse.
Talvez Baylee Ford realmente fosse apenas um erro passageiro.
O garçom serviu os pratos, todos os meus favoritos.
Santino descascou camarões para mim, seus movimentos eram praticados e familiares, como nos últimos três anos.
A atmosfera estava perfeita.
Eu estava prestes a falar sobre nomes de bebês...
Então um toque estridente destruiu tudo.
Ele me olhou instintivamente, suas mãos congelaram no meio do movimento.
Eu não disse nada. Apenas o observei.
Ele hesitou, então atendeu.
"Alô?"
Do outro lado, a voz de Baylee tremia com lágrimas. "Senhor Douglas... eh, eh... Estou presa no elevador do meu apartamento... Todas as luzes se apagaram... Tenho medo do escuro... o elevador está tremendo... Estou realmente assustada... Liguei para a administração do prédio, mas ninguém atendeu... Não sabia para quem mais ligar... você é o único número que lembrei..."
A expressão de Santino mudou instantaneamente.
"Baylee, não tenha medo! Respire! Aperte o botão de emergência! Em que andar você está? Estou indo agora mesmo!"
Eu estava sentada ali segurando o camarão que ele estava descascando.
Olhei para ele e perguntei suavemente: "Você realmente precisa ir? Você pode chamar a emergência para ela. Santino... hoje à noite é nosso encontro. Você disse que estaria só comigo."
Sua mão parou no meio de colocar o casaco.
Ele me olhou- a culpa piscou em seus olhos, mas rapidamente endureceu em autojustificação.
"Charlie, como você pode ser tão fria?" Isso é uma questão de vida ou morte! É um prédio antigo-o elevador quebra o tempo todo. E se ele cair? Você é adulta. Pode se cuidar sozinha. Coma primeiro. Já paguei a conta. Seja boa, não faça uma cena. Eu volto depois de resolver isso."
E com isso, ele saiu.
Seus passos eram apressados. Ele não olhou para trás. Nem mesmo uma vez.
Nem mesmo quando começou a chover lá fora.
Nem mesmo embora eu estivesse grávida de forma evidente.
Nem mesmo embora eu tivesse acabado de lhe dar uma chance de ficar.
Eu observei a chuva ficar mais forte, observei o brilho das luzes traseiras do carro desaparecer na tempestade.
A luz no meu coração se apagou. Eu estava forte demais agora, muito independente-e o conhecia bem demais.
Não precisava ser salva.
Então ele escolheu salvar a versão falsificada da "antiga eu."
Eu saí do restaurante sozinha.
A chuva caía forte, o vento lançando gotas no meu rosto como agulhas.
Fiquei debaixo do toldo, olhando para as luzes neon da cidade.
Pensei, era hora de acordar.