Não foi a primeira vez que ele a escolheu. Ele jogou meu táxi para fora da estrada porque ela fingiu uma queda. Ele deu a ela o terço antigo do meu pai moribundo só porque ela achou que era um acessório bonito.
Mas o golpe final não foi físico.
Enquanto Dante estava em um hotel consolando Mia por causa de um "pesadelo", ele ignorou as ligações urgentes para autorizar o transplante de medula óssea do meu pai.
Meu pai morreu sozinho de infecção porque Dante estava ocupado demais bancando o herói para uma mentirosa.
Quando Dante finalmente voltou para a cobertura, esperando que eu estivesse lá implorando por seu perdão, encontrou a casa silenciosa.
Ele encontrou os papéis do divórcio assinados na lareira.
E então, ele encontrou a certidão de óbito datada de três dias atrás.
Eu não deixei um bilhete. Eu não deixei uma briga.
Eu apenas o deixei com o silêncio que ele merecia e desapareci na noite.
Capítulo 1
Elena Rossi POV
O mundo girou.
Minha cabeça latejava num ritmo brutal que combinava com a agonia aguda e cortante que irradiava do meu braço esquerdo.
Eu estava caída no chão de mármore frio do saguão da casa de leilões.
Acima de mim, no topo da grande escadaria, Mia gritava.
Suas mãos estavam vazias. Seu pescoço estava nu.
"Ela tentou pegar de volta!", Mia berrou, sua voz ecoando estridente no teto abobadado. "Ela me empurrou! Ela tentou me matar por causa de um colar!"
Mentiras.
Tentei me levantar, mas meu braço esquerdo cedeu sob meu próprio peso.
Um estalo doentio vibrou pelo meu ombro.
Eu arquejei, o som úmido e fraco contra a pedra.
As pesadas portas de carvalho se abriram com um estrondo.
Dante.
Ele parecia uma tempestade esculpida em granito. Seu smoking estava impecável, um contraste gritante e cruel com a bagunça quebrada que eu me tornara.
Ele parou.
Seus olhos varreram a cena.
Ele me viu.
Ele viu o sangue escorrendo da minha testa, manchando o mármore branco de carmesim. Ele viu o ângulo antinatural do meu braço.
Então, ele olhou para cima.
Ele viu Mia agarrada ao corrimão, soluçando, seu peito subindo e descendo em uma performance perfeita de terror.
Dante se moveu.
Mas ele não se moveu em minha direção.
Ele subiu as escadas de dois em dois degraus, passando correndo pelo meu corpo amassado sem lançar um único olhar para baixo.
A corrente de ar de seus passos urgentes gelou o suor na minha pele.
"Mia", ele sussurrou ao chegar ao topo.
Ele não perguntou o que tinha acontecido. Ele não parou para verificar o pulso de sua esposa.
Ele pegou a garota de dezenove anos em seus braços, protegendo-a de uma ameaça que não existia.
"Estou com tanto medo, Dante", Mia choramingou em seu peito. "Ela é louca. Ela me quer morta."
"Shh", Dante a acalmou, sua mão acariciando seus cabelos. "Eu te peguei. Você está segura."
Consegui levantar a cabeça.
"Dante", eu sussurrei.
Saiu como um coaxar quebrado.
Ele virou a cabeça. Seus olhos eram poços negros de nojo.
"Você machucaria a garota que está salvando seu pai por causa de uma joia?", ele cuspiu.
O veneno em sua voz me paralisou mais do que a queda.
"Ela me empurrou", eu murmurei.
"Mentirosa", Mia soluçou mais alto, aninhando-se mais fundo em seu paletó. "Não fique bravo com ela, Dante. Ela só está com ciúmes. Por favor, não a machuque."
Ela o estava tocando como um violino de mestre.
E ele estava ouvindo cada nota.
"Ela pode se levantar sozinha", disse Dante, sua voz fria o suficiente para congelar o sangue em meu rosto. "Se ela tem força para atacar uma doadora, ela tem força para andar."
Ele pegou Mia em seus braços, aninhando-a contra seu peito.
Ele começou a descer as escadas.
Eu observei seus sapatos polidos se aproximarem.
Passo. Passo. Passo.
Ele chegou ao patamar inferior.
Ele teve que passar por cima das minhas pernas para chegar à saída.
Ele não hesitou.
Ele passou por cima de mim como se eu não fosse nada mais do que lixo entulhando a calçada.
"Chame o carro", ele latiu para um segurança que estava olhando horrorizado. "Leve a Mia para o hospital. Ela está em choque."
"Senhor", o guarda gaguejou, apontando desamparadamente para mim. "A Sra. Vitiello... ela está sangrando."
"Ela vai sobreviver", disse Dante sem olhar para trás. "Ela sempre sobrevive."
As portas se fecharam atrás deles.
O silêncio voltou a invadir o saguão.
Eu encarei o teto. O lustre de cristal se transformou em um halo de luz.
Ele não se importava.
Não era apenas que ele a amava. Era que ele me desprezava.
Eu era o inconveniente. A velha obrigação. O galho seco.
Um garçom finalmente correu, ajoelhando-se ao meu lado.
"Senhora? Consegue me ouvir?"
Eu fechei meus olhos.
A dor no meu braço era cegante, mas o espaço vazio no meu peito era pior.
Meu marido tinha acabado de me deixar sangrando no chão para confortar a mulher que me colocou lá.
Os votos estavam mortos.
Eu não era mais sua esposa.
Eu era apenas um obstáculo que ele ainda não tinha descoberto como remover.