Elena Rossi POV
O quarto do hospital cheirava a antisséptico e a um abandono antigo.
Dante me visitou exatamente uma vez.
Ele ficou por dez minutos.
Ele passou nove deles no celular, seus polegares voando pela tela, um sorriso suave e indulgente brincando em seus lábios.
Era o mesmo sorriso que ele costumava me dar quando eu queimava a torrada.
"Ela está bem?", perguntei, minha voz sem emoção.
Ele não se deu ao trabalho de olhar para cima. "Mia é frágil, Elena. O estresse não faz bem para o procedimento. Você precisa ter mais cuidado."
"Eu tenho um braço quebrado e uma concussão, Dante."
"E seu pai tem leucemia", ele rebateu, finalmente bloqueando o celular e guardando-o no bolso. "Prioridades."
Ele saiu antes que a enfermeira pudesse trocar meu soro.
Recebi alta três dias depois.
Era meu aniversário.
Eu não esperava que ele se lembrasse.
Mas quando entrei na cobertura, as luzes estavam baixas. Um jazz suave tocava nos alto-falantes escondidos.
Dante estava perto da lareira, segurando um copo de uísque.
"Feliz aniversário", ele disse.
Por um segundo, apenas uma fração de segundo, meu coração vacilou.
Então eu a vi.
Mia estava sentada no sofá de veludo.
Ela estava vestida de branco.
Era um vestido de renda branca que parecia perturbadoramente com o que eu usei no meu jantar de ensaio cinco anos atrás.
"Eu disse ao Dante que não podíamos deixar você comemorar sozinha", Mia disse animadamente, levantando-se. Ela girou lentamente, exibindo o tecido. "Você gosta? Dante comprou para mim. Ele disse que branco simboliza pureza."
A ironia tinha gosto de bile subindo pela minha garganta.
"É lindo", eu disse, passando por eles em direção à cozinha.
"Dante prometeu me ensinar a dançar", disse Mia, pegando a mão dele possessivamente. "Para o baile de gala na próxima semana. Já que sou a convidada de honra."
Dante olhou para mim, sua expressão indecifrável. "Só uma música, Elena. Depois cortamos o bolo."
Apoiei-me na ilha de mármore, segurando meu braço engessado para me firmar.
"Vão em frente."
Dante colocou a mão na cintura de Mia.
Ele a puxou para perto. Perto demais para uma aula de dança.
Eles se moveram ao ritmo da música. Mia apoiou a cabeça no ombro dele, seus olhos encontrando os meus por cima do tecido de seu terno.
Ela sorriu com desdém.
Não foi uma vitória sutil. Foi uma declaração de guerra.
O queixo de Dante repousava no topo da cabeça dela. Ele fechou os olhos, balançando.
Ele parecia em paz.
Ele parecia um homem apaixonado.
A equipe estava nas sombras do corredor. As empregadas, os seguranças. Eu os vi trocando olhares de pena.
Eles sabiam.
O subchefe tinha uma nova rainha. A antiga estava apenas esperando para ser descartada.
Olhei para o bolo no balcão.
*Feliz Aniversário Elena.*
A cobertura já estava derretendo sob as luzes quentes embutidas.
Eu não disse uma palavra.
Virei-me e caminhei até o elevador.
A música cresceu. Dante girou Mia, sua risada soando como vidro quebrando.
Nenhum deles percebeu que eu estava saindo.
Apertei o botão para o térreo.
Enquanto as portas de metal se fechavam, cortando a visão do meu marido abraçando outra mulher, eu sussurrei para o elevador vazio.
"Não haverá uma próxima vez."