No quarto do hospital, Isabelle estava sentada na cama enquanto médicos e enfermeiras se reuniam em volta dela, verificando seu estado de saúde.
Ela havia apertado a campainha para avisar as enfermeiras que havia acordado.
Cinco anos presa em coma era mais do que suficiente para ela.
Agora que podia se mover, ela sabia exatamente o que queria: o divórcio.
Seus anos de juventude haviam sido foi desperdiçados, mas ela estava determinada a recuperar o que era dela: sua riqueza, sua carreira e, acima de tudo, seus filhos. Ela se recusava a deixar que Kolton, aquele monstro de duas caras, ficasse com eles.
Seu objetivo final era tirar a guarda dele e garantir que ele ficasse sem nada.
No entanto, depois de ficar ausente por tanto tempo, ela precisava esperar o momento certo e se preparar cuidadosamente.
De canto de olho, Isabelle avistou a silhueta de Kolton do lado de fora da porta.
Era hora de colocar seu plano em ação.
"Doutor Ward, e meus olhos? Por que não consigo ver nada?", ela perguntou, com a voz trêmula.
Kolton entrou bem a tempo de ouvi-la. Ele congelou, com uma carranca no rosto, e depois correu para a cama, visivelmente abalado.
"Belle", ele sussurrou baixinho.
Só de ouvir a voz dele, o estômago dela se revirou.
"Finalmente você chegou, Kolton", ela disse, reprimindo sua repulsa. Estendendo a mão às cegas, seus olhos desfocados procurando enquanto ela cambaleava e caía nos braços de Kolton.
Imediatamente, seu olfato captou o aroma sutil, mas inconfundível, de um perfume de outra mulher nele.
"Estou com medo, Kolton. Não consigo te ver", ela choramingou.
Kolton a abraçou, a acalentando com palavras gentis: "Não se preocupe. Estou aqui. Pagarei o que for preciso para que você melhore."
Roderick disse num tom tranquilizador: "Senhor Reed, não há necessidade de entrar em pânico. Os olhos da sua esposa não estão lesionados. Depois de um coma tão longo, os nervos ópticos dela só precisam de tempo para se recuperar."
Kolton perguntou com curiosidade: "Então quanto tempo levará para ela se recuperar totalmente?"
Roderick hesitou antes de admitir: "Isso depende de como o corpo dela se recuperará. Pode levar dois ou três meses, ou muito mais. Mas não podemos dizer com certeza."
Isabelle se recostou levemente em Kolton, com a determinação ardendo nos seus olhos sem que ele percebesse.
Ela podia sentir a rigidez do corpo dele se relaxando lentamente.
Parecia que sua cegueira o fez baixar a guarda.
Aproveitando o momento, Isabelle implorou: "Kolton, não quero mais ficar aqui. Quero ir para casa. Quando minha visão voltar, quero que os primeiros rostos que eu veja sejam o seu e o dos nossos filhos."
Roderick concordou, acrescentando: "Senhor Reed, voltar para um ambiente familiar pode até ajudar na recuperação dela."
Kolton pensou sobre isso e acenou com a cabeça. Ele a levaria para casa.
Como as pernas dela ainda estavam muito fracas para se sustentarem, Kolton pegou uma cadeira de rodas no hospital e a levou até o andar de baixo.
Ao se lembrar de como ele havia corrido para segurar Joelle mais cedo, Isabelle não pôde deixar de achar isso extremamente irônico.
Ele estava disposto a segurar outra mulher, mas não sua esposa.
Dentro do elevador, um espelho refletia a imagem deles. Escondida atrás dos óculos de sol, Isabelle observava Kolton atentamente.
Cinco anos não haviam o diminuído em nada. Pelo contrário, ele estava mais bonito do que antes, com seu rosto marcante agora realçado pela maturidade.
Já ela, era uma sombra do que fora: magra, exausta e sem vida.
Kolton a havia sugado até o fim, tirando tudo o que ela tinha e a deixando vazia.
Quando chegaram ao saguão, Isabelle olhou em volta discretamente. Não havia sinal de Joelle ou das crianças - eles já deviam ter ido embora.
Kolton levou Isabelle até o carro e abriu a porta do passageiro. Imediatamente, os olhos dela se fixaram num batom caro que estava no banco.
Kolton lhe lançou um olhar rápido, depois pegou o batom e o guardou no bolso, ajudando a esposa a se sentar no banco do passageiro como se nada tivesse acontecido.
"Kolton, nos cinco anos em que estive em coma, alguma outra mulher já se sentou nesse banco?", Isabelle perguntou baixinho após se sentar.
"Claro que não", Kolton disparou. Em seguida, com uma risada forçada, ele acrescentou: "Todos sabem que não devem te contrariar. Afinal, você já enfrentou um grupo de sequestradores com uma arma."
A lembrança veio à tona.
Pouco depois do casamento, Kolton foi sequestrado. A polícia estava agindo num ritmo frustrantemente lento, e Isabelle estava quase enlouquecendo de preocupação. Desesperada, ela moveu todos os pauzinhos que pôde, usando todos os seus contatos até finalmente descobrir onde ele estava sendo mantido.
No fim, ela apareceu lá, armada com dinheiro e uma arma, disposta a arriscar sua vida para trazê-lo de volta.
E depois que ela o resgatou, ele jurou nunca decepcioná-la.
O semáforo à frente ficou vermelho e o carro parou.
De repente, Kolton se virou, a observando. "Belle, como foi quando você estava em coma?"
Atrás dos óculos de sol, os olhos de Isabelle ficaram frios, mas ela mantinha a voz baixa e trêmula. "Foi como estar presa num sonho sem fim. Nada além de escuridão, sem visão, sem som. Só terror."
Satisfeito com a resposta dela, Kolton apertou sua mão. "Tudo isso acabou agora, Belle. Estamos indo para casa."
Isabelle abriu um sorriso forçado. "Sim, acabou."
Acabou entre ela e Kolton. Agora, era hora da vingança.
Quando o sinal ficou verde, Kolton pisou no acelerador e o carro avançou. Um elegante Maybach preto passou, raspando perigosamente.
Lá dentro, um homem com um rosto esculpido estava envolto nas sombras, com um semblante frio e intimidador. Seus olhos se estreitaram instantaneamente quando o rosto de Isabelle apareceu na sua visão.
Ele abaixou a janela, a observando enquanto o carro se afastava.
Oliver Singh, sentado no banco do passageiro, se virou para perguntar: "Senhor Gill, há algum problema?" Ele nunca havia visto seu chefe tão abalado.
"Nada", respondeu Nathaniel Gill calmamente enquanto o Bentley desaparecia ao longe.
Ele desviou o olhar, e seus olhos pousaram no imponente edifício do Grupo Sky que brilhava contra a noite.
Ele estreitou os olhos, com um sorriso leve e zombeteiro repuxando seus lábios marcantes.
"Isabelle", ele murmurou, o nome escapando da sua boca friamente, mas o enchendo de uma nostalgia inexplicável. "Valeu a pena?"