O Bentley preto estacionou diante da mansão.
Kolton tirou Isabelle do carro e a colocou na cadeira de rodas antes de empurrá-la para dentro da casa.
Através dos seus óculos escuros, Isabelle contemplava silenciosamente a casa à sua frente.
Essa era a casa onde morava com Kolton depois que se casaram, onde viviam antes do coma dela. Ela não a via há cinco anos, o que fazia parecer que uma vida inteira tinha se passado.
"Belle, chegamos em casa", Kolton sussurrou carinhosamente no seu ouvido. "Consegue sentir o cheiro? As tulipas que você plantou para mim continuam aqui. Tenho cuidado bem delas."
Os olhos de Isabelle se fixaram nas fileiras de tulipas que floresciam no jardim da entrada. Elas estavam altas e radiantes sob o luar, tão lindas como quando ela as havia plantado pela primeira vez.
Na época, ela plantou cada bulbo, só porque Kolton havia dito que tulipas eram suas flores favoritas.
Naquele tempo, ela se agarrava a cada palavra dele, sem nunca questionar o motivo pelo qual ele gostava de tulipas, mesmo tendo enchido o jardim com milhares delas.
Quando ela entrou em estado vegetativo, Joelle a visitou com um buquê de tulipas e sussurrou com um sorriso cruel: "Isabelle, você não sabe, não é? As tulipas são minhas flores favoritas. Obrigada por ter plantado tantas delas no jardim. Elas me deixam tão feliz toda vez que visito sua casa com Kolton."
...
Sentindo uma pontada de ódio, Isabelle se abaixou e quebrou o caule de uma tulipa ao meio com um movimento violento.
Ela não se arrependia dos anos que passou amando-o, mas ele não tinha o direito de pisar nesse amor.
Kolton a levou até a porta da frente.
A mansão havia sido projetada por ela, que escolheu tudo, até a fechadura biométrica da porta.
Quando a cadeira de rodas parou, a mão dela se estendeu instintivamente para acionar a fechadura, mas a mão firme de Kolton a segurou.
A dele estava úmida de suor. Ele estava nervoso.
"Belle, deixe que eu faça isso", ele disse suavemente.
Isabelle abriu um sorriso leve e amargo ao perceber que ele havia chegado ao ponto de excluir a impressão digital dela da fechadura.
Ela continha a risada amarga que queimava na sua garganta, pois a dor era pesada demais para ser liberada.
Retirando sua mão lentamente, ela observou atentamente enquanto Kolton se inclinava para destrancar a porta. Pouco antes de a fechadura ser destrancada, uma mão fina e bem cuidada a abriu por dentro.
Joelle estava parada na entrada da porta, com um ar elegante e confiante, como se fizesse parte da família.
Isabelle cerrou os punhos sobre o colo, enquanto a raiva queimava dentro de si.
Será que Joelle morou nessa casa o tempo todo? Dormiu na cama dela? Tomou seu marido? Roubou seus filhos durante esses cinco anos?
Joelle abriu a porta por completo com um sorriso, mas no instante em que seus olhos se depararam com Isabelle sentada na cadeira de rodas ao lado de Kolton, ela congelou no lugar.
"Kolton, por que não me leva para dentro?", perguntou Isabelle de repente.
Pelo canto do olho, refletido sutilmente no espelho na parede, ela viu Kolton fazer um gesto discreto para Joelle ficar em silêncio.
Ao perceber que Isabelle não conseguia vê-la, Joelle se afastou discretamente, permitindo que Kolton a levasse para dentro.
Atrás dos seus óculos escuros, os olhos de Isabelle se tornaram gélidos ao avistarem a mão de Joelle apoiada no batente da porta.
"Kolton, estou com um pouco de frio. Poderia pegar algo quente e confortável para mim?", ela perguntou docemente.
"Claro. Tem um cobertor no sofá. Espere aqui um pouco", respondeu Kolton, indo até a sala de estar.
Os olhos de Joelle o seguiram sem querer, dando a Isabelle a chance que ela precisava. Com toda a sua força, ela empurrou a porta para fechar.
A mão de Joelle, que foi lenta demais para ser retirada, foi dolorosamente esmagada no batente. Mordendo o lábio, ela abafou o grito que estava preso na sua garganta.
"Kolton!", exclamou Isabelle, fingindo pânico, enquanto seus braços se agitavam como se tentasse agarrar algo às cegas. "Fui fechar a porta e algo acabou ficando preso! Estou com muito medo!"
Kolton se dirigiu a Joelle para ver como ela estava, mas foi impedido pelo aperto frenético de Isabelle. Ele teve que acalmá-la primeiro.
"Não foi nada. É só um dos brinquedos das crianças. Não se preocupe. Como você não consegue enxergar agora, Belle, deixe que eu cuide das portas de agora em diante."
Apesar do seu tom calmo, Isabelle percebeu um brilho de irritação nos olhos dele.
"Kolton, onde estão Jim e Emmy? Onde estão meus bebês?", perguntou Isabelle com urgência.
Ela já havia escolhido os nomes dos seus gêmeos muito antes de eles nascerem. Nesse momento, ela mal podia esperar para vê-los e abraçá-los. Quanto àquela amante descarada, ela não se importava nem um pouco com ela.
O amor pelos seus filhos havia sido sua única âncora durante esses cinco anos árduos.
"Eles têm aula amanhã de manhã e já estão dormindo. Não se preocupe, Belle. Você os verá em breve, quando sua visão melhorar", disse Kolton num tom suave.
Atrás dos óculos, os olhos de Isabelle se obscureceram.
Ela não podia parecer ansiosa demais, senão, Kolton ficaria desconfiado.
No entanto, quando ela estava prestes a falar novamente, pequenos passos ecoaram pela escada. Virando a cabeça instintivamente, ela viu Emily e James descendo de mãos dadas.
Eles usavam pijamas iguais, e seus chinelos se arrastavam suavemente pelo chão. Emily estava de rosa, e James de azul.
Isabelle quase chorou de emoção.
"Pai", James chamou quando avistou Isabelle na cadeira de rodas. Ele parecia ter pressentido quem ela poderia ser. Sua mãozinha apertou a própria camisa com força enquanto hesitava, nervoso.
Já Emily, olhou para Joelle, com seus olhos brilhando de carinho.
Ela abriu os lábios como se fosse chamá-la, mas obedeceu e fechou a boca sem questionar quando Joelle balançou a cabeça com firmeza.
"São Emmy e Jim?", perguntou Isabelle, com a voz trêmula enquanto abria os braços para eles. "Sou a mãe de vocês. Venham aqui, me deixem abraçar vocês."
Emily recuou, se afastando com medo. Já James, ficou hesitante por um momento antes de finalmente se aproximar de Isabelle.
Estendendo sua mãozinha, ele tocou o rosto dela, como se quisesse confirmar que ela era real. "Você é mesmo nossa mãe?"
"Sim, meu amor. Sou sua mãe e da Emmy também", sussurrou Isabelle suavemente.
Seu corpo inteiro ansiava por pegá-lo nos braços, mas ela se conteve, com medo de assustá-lo.
Para eles, ela não passava de uma estranha que havia dormido durante toda a vida deles.
"Tudo bem, já está tarde", disse Kolton, intervindo. "Jim, leve sua irmã de volta para o quarto. Amanhã, depois da escola, explicarei tudo sobre sua mãe para vocês dois."
James hesitou, olhando para Isabelle várias vezes enquanto começava a levar Emily para cima.
"Meu amor, posso te abraçar?", perguntou Isabelle desesperadamente. Sua voz falhou, e uma lágrima escorreu por baixo dos seus óculos escuros.
James parou, dividido, prestes a voltar quando Kolton disse num tom firme: "Jim, para seu quarto."
Em seguida, ele colocou a mão no ombro de Isabelle, com uma expressão gentil. "As crianças ficaram sem você por anos, Belle. Elas precisam de tempo para se adaptar."
O coração de Isabelle se apertou em agonia. Kolton estava fazendo isso de propósito, não querendo que ela se aproximasse deles.
James puxou Emily, subindo as escadas obedientemente. Emily olhou para trás, mas não para Isabelle, e sim para Joelle, lançando um beijinho para ela.
Esse gesto atingiu o peito de Isabelle como uma lâmina. Ela fechou os olhos, arrasada pelo peso da traição e da tristeza.
Ela poderia descartar Kolton, mas jamais deixaria alguém roubar seus filhos.
Quando os gêmeos se foram, Kolton levou Isabelle para o quarto e a colocou na cama.
Seus olhos se desviaram para a parede. A foto do casamento que antes estava pendurada com orgulho havia desaparecido, jogada num canto e parcialmente coberta por um pano que escondia o rosto dela.
Uma risada amarga surgiu dentro dela.
Kolton a odiava tanto que nem a foto dela podia ser tolerada.
"Belle, descanse. Preciso terminar um trabalho no escritório", disse Kolton suavemente.
"Tudo bem", ela respondeu com um sorriso calmo.
No momento em que ele saiu e a porta se fechou, o sorriso dela desapareceu.
Ela não acreditava nem por um segundo que ele estava indo para o escritório.
Com esforço, Isabelle colocou suas pernas fracas no chão. Apoiando-se na parede, ela forçou seu corpo frágil a se levantar e começou a caminhar lentamente até a janela.
Cada passo parecia uma tortura.
O que deveria ter levado segundos se transformou em cinco minutos agonizantes, seu corpo encharcado de suor quando ela chegou ao vidro.
E lá, sob a luz pálida da lua, ela viu Kolton e Joelle se abraçando.