– o que você vai fazer comigo? – ela perguntou ainda temerosa, ele suspirou, seu rosto tinha uma mistura de raiva e compreensão.
– eu não vou te machucar, já a sua familia, maldito Donato, me enganou... – ele esbravejou, Sara mais uma vez se encolheu.
– ele não sabia.
– isso é ainda pior, você foi abusada durante anos dentro de casa e ele não se deu conta, não tente minimizar as coisas.
– eu não queria esse casamento, mas não tive escolha e nem tive coragem de contar antes. - contou ela.
– aquele fedelho desgraçado acabou com sua vida, eu sinto muito. – disse ele, ela não tinha culpa, era uma vítima naquela situação e ele entendia perfeitamente, não seria desgraçado a ponto de atribuir parte da culpa a ela, então ele a acolheu em um abraço, mas sentiu o corpo dela ficar tenso, mas foi apenas isso que sentiu. – você está queimando de febre, como está se sentindo? – ele perguntou.
– doi. - disse ela quase que em um gemido.
– onde? – ele perguntou, então ela colocou a mão em seu ventre. – vou te examinar, deite por favor.
– você é médico? – ela perguntou ainda tensa.
– sou formado em medicina mas nunca trabalhei na area. – disse ele enquanto apalpava a barriga dela, quando chegou ao ventre, ela gemeu. – ontem percebi que estava usando absorvente, seu ciclo é regular, sente cólicas fortes? ele perguntou imaginando que seria apenas uma cólica um pouco mais intensa por causa do estresse.
– eu não estou menstruada, foi ele...
– maldito desgraçado, não te machucou apenas externamente, se troca, vou te levar no medico.
– onde estão minhas coisas?
– vou pegar suas malas.
Juntos eles seguiam em direção a uma clínica de confiança de Tyler, o silêncio era ensurdecedor, ela o olhava com certo medo, mas também com gratidão, havia lhe escutado, acreditado nela, por primeira vez alguém havia acreditado nela, a sensação era estranha e não sabia como reagir. Quando chegaram à clínica, Tyler pediu pra falar com urgência com Lorence, ela foi colega de Tyler durante a faculdade e se tornou sua amiga, ela havia se especializado em ginecologia e trabalhava naquela clínica por indicação de Tyler, ela sem demora surgiu ali, Tyler explicou por cima a situação, ela logo tratou de atender Sara, em uma consulta demorada, enquanto isso, Tyler aguardava na sala de espera, com cara de poucos amigos, já maquinando o que faria para se vingar e vingar aquela pobre garota. Ao fim da consulta Lorence foi até Tyler, ele assim que a viu, perguntou por Sara.
– e Sara?
– vou ter que deixá-la em observação, ela vai ter que fazer vários exames, também para medicá-la, ela está com muita febre, conversei com ela, que me contou um pouco do ocorrido, treze anos, ela sequer havia tido sua primeira menstruação, acabou com a vida dela, o próprio irmão.
– ela estava com dor no ventre, tem a ver com o que maldito fez na noite anterior, não tem? – ele perguntou.
– Infelizmente sim, fiz um exame ginecológico, ela está com várias lesões no canal vaginal, o ato foi muito agressivo.
– Tyler, não acho que essa garota seja a indicada pra colocar seu plano maluco em prática, tem ideia do trauma a mais que será para ela ter que transar com mais um homem sem vontade?
– sim, eu tenho ideia, mas não vou abrir mão disso, paguei muito dinheiro por ela, e mesmo que eu conseguisse reaver os quatro milhões de euros, eu não poderia devolvê-la a família, para que voltasse a passar pelo mesmo novamente, ela está saudável não é? – Lorence suspirou, conhecia o amigo, sabia que não iria mudar de ideia.
– veremos quando sair os exames, se é o risco de contaminação por hiv que te preocupa, ela me falou que ele passou a usar preservativos desde os quatorze, quando ela teve sua primeira menstruação, para não engravidá-la, mas solicitei o exame para tirar qualquer dúvida. – Lorence suspirou e deu um sorriso amargo. – vê o quanto ele era maligno, perverso, sabia bem o que estava fazendo, aos treze já era um ser asqueroso, enquanto ela, era só uma menina inocente, Tyler, não seja você a causar mais um trauma desses nela, então...já que não vai desistir disso, cogite fazer uma inseminação artificial.
– é a melhor opção. - disse ele.
– olha, ela foi levada para um quarto, deveria ir lá ficar com ela.
– eu? eu não tenho intimidade nenhuma com essa garota.
– Qual é Tyler, a garota não vai te morder, ela está assustada acabou de sair de uma situação absurda, confessar uma coisa dessas não é fácil.
– tudo bem, eu vou. – Tyler foi até o quarto que Sara estava, deitada ela olhava para o teto, enquanto o soro ligado a sua veia gotejava, assim que ele passou pela porta, ela o olhou.
– pensei que tivesse ido embora. – ela disse sem animo.
– estava na sala de espera...já fizeram a coleta de sangue? – ela apenas assentiu com a cabeça e o silêncio se instalou, depois de cerca de dez minutos, ela quebrou o silêncio.
– por que eu? – ela perguntou, ele franziu a testa e perguntou.
– você o que?
– por que me escolheu pra casar com você? Eu já ouvi falar tantas coisas de você e uma delas é que todas as garotas da mafia cobiçam você.
– menos você. – era verdade, Sara não costumava olhar homens desta forma, não conseguia sentir atração por conta do que sofreu e também não se sentia suficiente para desejar nenhum, sua autoestima era inexistente.
– bem eu...eu não, mas você não respondeu, eu não sou um bom negócio, minha família está falida, eu não sou inteligente, muito menos bonita. – ele mais uma vez franziu a testa, uma das coisas que havia o feito escolhê-la foi sua aparência, ainda que não se achasse bonita, ela era.
– o que está querendo, que por acaso eu diga que você é especial? te escolhi por sua aparência, você tem características parecidas com as minhas, cabelos castanhos, olhos verdes, até seu tom de pele parece com o meu, perfeita para gerar meus filhos, saíram todos com características parecidas com as minhas.
– filhos? – ela perguntou assustada, tudo que menos queria era ter filhos dentro da máfia, tinha medo de que passassem pelas mesmas coisas que ela.
– por favor né, você sabe muito bem.
– não...
– seu pai não te contou? – Tyler questionou confuso.
– não, ele só disse que eu teria que me casar com você e em troca você daria uma quantia de dinheiro a ele...– ela disse em lágrimas, mais uma vez ele desarmou.
– achei que soubesse, seu pai disse que você estava a par e que eu não teria problemas com você. – disse ele, ela permaneceu em silêncio, mal podia acreditar que seu corpo mais uma vez seria usado, e a ideia de gerar um filho e assisti-lo sofrer lhe causava um medo tão grande.