Quando Paul descobriu que os dois se separaram, não mediu esforços para tirá-la do outro escritório e trazê-la para o dele onde "seu potencial seria muito mais aproveitado". Um sorriso e duas lágrimas eram o suficiente para provocar o que Katherine gostava de chamar de "Síndrome do Herói Romântico". Tecnicamente, ela era uma mulher frágil emocionalmente, gostosa e sem um homem para defender sua honra. Dependia apenas do "grande Paul Shepherd" para "superar" o trauma da separação com novos ares no trabalho e uma boa distância do grande vilão do conto de fadas.
Apostou consigo mesma que em duas semanas ele tentaria comê-la.
Paul a recebeu no meio do corredor com aquele sorriso enorme estampado na cara, como se fosse Jimmy Kimmel recebendo um convidado em seu show. Tinha escolhido um de seus terninhos favoritos e teve o efeito desejado quando o olhar dele a esquadrinhou de cima a baixo desdobrando-se em boas-vindas.
Em seu íntimo, numa espécie de esperança cega, Katherine quis acreditar que realmente mudar de atmosfera fosse ajudá-la a resolver o "outro problema". Já havia chorado o suficiente, gritado o bastante por causa de Hutton e sua incompetência, precisava de outro plano de ação e esperava encontrar pelo menos um resquício disso naquela infinidade de cubículos insossos em tons pastéis frios. Se procurasse direito poderia ver um cacto em alguma das mesas, uma planta que sobrevive naturalmente em ambientes inóspitos e hostis. Um cacto numa mesa de escritório, na opinião de Katherine, era a mais perfeita definição de qualquer ambiente corporativo. Resista ou morra de exaustão.
Ao entrar naquela sala com meia dúzia de pessoas, não se impressionou à primeira vista. "Esta é Katherine Hamilton". Ao menos Paul fez a gentileza de dar seu nome de solteira.
Katherine "Ford" tinha ido embora com Hutton. Sentiu certa vergonha ao lembrar que a aliança ainda estava no mesmo lugar, então tratou de escondê-la sob a mão direita. Talvez por orgulho, por teimosia... Não sabia ao certo porque ainda não havia se livrado daquilo.
E então todos os olhares se viraram para ela e pôde finalmente estudá-los enquanto olhavam para seu corpo marcado pela roupa preta. Paul foi apontando um a um...
- Esse é Will, Denise, Daniel, Cormac... - Expressões de foco, alguma com determinação, receptividade e então...
Um par de olhos azuis fixos num semblante em repouso difícil de decifrar. Se olhasse por um tempo poderia dizer que ele estava desconfortável, mais um pouco e pareceria fascinado inerte daquele jeito, e um pouco mais... triste. Aquilo intrigou Katherine de imediato. Não por se tratar de um homem bonito, charmoso e esbelto com cabelos castanhos arruivados e uma barba por fazer cor de cobre, mas porque eram olhos sofridos e revoltos em essência. Conteve a reação estranha subindo por seu baixo-ventre ao constatar que o motivo era que, de alguma forma, estava se vendo na agonia dele. E havia agonia, muita.
Surpreendeu-se quando ele interrompeu o contato visual e se retirou dizendo o mais clichê que se tinha no arsenal de "educação básica". Paul nem teve tempo de chegar as apresentações ao homem.
- Quem é ele? - perguntou e o chefe balançou a cabeça com um sorriso custoso.
- Ele é problema - respondeu Will em seu lugar. Era bonito, alto e loiro. Tinha uma aliança no anelar esquerdo que poderia ser vista do outro lado do Hudson se ele acenasse na posição certa.
- Por que diz isso?
Will não teve tempo de responder, pois Paul ignorou o questionamento dela dizendo que queria mostrá-la o andar e por último a sala onde iria se instalar, então decidiu apenas deixar que seu novo chefe continuasse a matracar sobre o prédio e outras coisas que não importavam a ninguém.
Seu escritório era pequeno, a parede paralela às janelas panorâmicas dava vista para todos os outros cubículos do andar. Sem cortinas. Nenhuma privacidade. Um computador padrão estava pronto para uso na mesa vazia e poucas prateleiras esperavam por um toque de "Katherine" nas próximas semanas.
- Espero que goste da sua sala, você já sabe onde fica a cantina, o banheiro, a minha sala se precisar de alguma coisa, qualquer coisa... - Paul ia falando e dando tímidos passos para trás, protelando sua partida.
- Ainda não respondeu a minha pergunta - cortou ela, e sorriu em seguida para não passar por grossa. - Quem era o cara que saiu?
Paul apertou os lábios minimamente, uma micro expressão de incômodo que não passou despercebida a Katherine.
- Michael Brandt. É um cara legal, charmoso e boa pinta, não fique sozinha com ele ou vai acabar se apaixonando... - Ela quis revirar os olhos, mas se conteve. - Eu e ele somos bem próximos, é um bom funcionário e um bom amigo.
"E o maior impedimento de você transar no happy hour, não é?", pensou na discrepância de charme entre os dois, mas se limitou ao silêncio. Paul também era casado com uma mulher maravilhosa e tinha dois filhos lindos que ele amava endeusar. Katherine sorriu de novo, mordendo-se para perguntar diretamente se Michael Brandt ameaçava a masculinidade de Paul a ponto de dizer a ela para evitá-lo. Já sabia a resposta, ou pelo menos parte dela.
- Eu o deixaria em paz, ele gosta de silêncio - disse por fim, como se Michael fosse um espécime selvagem intocável e perigoso.
Paul se foi e pôde ficar a sós com os móveis e o movimento por trás do vidro. Sentou-se na ponta da mesa que estalou um pouco com seu peso. Deveria ter se passado apenas dois minutos, mas tudo o que conseguiu pensar foram os olhos do "Sr. Problema Solitário". Sua intuição lhe dizia que Brandt era do tipo que transava com força, que gozava tão desesperadamente que seu semblante era de quase dor.
Um leve formigamento emergiu entre as pernas, seguindo a fenda entre os lábios apertados pelas coxas juntas. Umedeceu os lábios quando vislumbrou em devaneios aqueles olhos azuis encarando-a de baixo, enquanto a boca de lábios finos fazia estalar a pele melada.
Estava excitada, seu corpo pedia por um orgasmo naquele exato momento e não podia desperdiçar a oportunidade. Precisava saber se aquele "bloqueio" havia terminado, se a maldição de Hutton a havia deixado e se Michael tinha algo a ver com aquilo.
Abandonou a sala, caminhando decididamente até os banheiros. Não conseguiu se safar de um arrepio gostoso quando a figura de Michael saiu de uma das portas paralelas. Os olhos dele prenderam-se aos dela por míseros segundos antes de se desviarem, passou tão rápido que o farfalhar de suas roupas agitou o cabelo de Katherine. O cheiro dele era gostoso e ela tentou guardá-lo para usar no que faria a seguir.
Entrou no banheiro feminino vazio, escolheu a segunda cabine mais perto da porta e fez o ritual básico de higiene limpando a tampa do vaso sanitário antes de sentar-se nele e abrir as pernas. Era incrível como as pessoas nunca notavam se estava ou não usando calcinha, apenas a cinta-liga prendia as meias grossas no alto das coxas. Começou a esfregar o clitóris à sua maneira, os formigamentos e as contrações gostosas por dentro começaram. Respirou fundo tentando fazer seu cérebro reproduzir o cheiro de Michael, ver os olhos dele, tentar ouvir como seria sua voz.
"Você gosta assim, sua vadiazinha?"
Mordeu os lábios para conter um gemido, friccionando mais rápido. Apoiou os pés nas laterais da porta, tirando-os do chão. Pensou nas formas esguias de Michael, em sua altura, em sua barba ruiva roçando macia enquanto devora sua boceta quente. Enfiou os dedos provocando o velho arrepio que precedia o orgasmo.
"Só mais um pouco... Só mais um pouco, Michael...".
Fantasiou aqueles olhos se fechando, seu cenho franzido num deleite sôfrego e devasso entre suas pernas. Os grunhidos e a vibração da voz dele contra seu clitóris... Já podia senti-lo contraindo-se. Só mais três segundos e conseguiria...
Michael e sua boca... sua voz...
Hutton e seu café sem açúcar. Hutton a acusando de ser covarde por não ter seguido o rumo profissional que queria...
"É isso? Vai ser gerente pelo resto da vida, escrevendo relatórios num escritório de merda em qualquer lugar quando poderia ser excepcional? Quando poderia estar sendo aplaudida e vista?"
O orgasmo estava sumindo, se distanciando rápido. Fugindo dela!
A porta do banheiro se abriu com um estrondo e vozes femininas soaram sorridentes enquanto se encaminhavam para as pias, viu as sombras dos pés andando. Conversavam sobre amenidades, seus barulhos irritantes levando embora a elevação de um orgasmo promissor.
"Não, não, não..."
- Droga! - xingou quase num sussurro espremido entre os dentes.
Os stilettos escorregaram e bateram no porcelanato fazendo barulho, denunciando sua presença.
"Eu não quero ser vista".
Foi a resposta dela a Hutton.