A comunidade fervilhava de vida. As pessoas corriam, enfeitando as ruas e os jardins com luzes e flores. A festa de noivado de Lucas e Serena seria grandiosa, um espetáculo de opulência e alegria. A alegria deles, meu luto. A celebração da minha ruína.
Eu vaguei sem rumo, minhas botas de caminhada batendo ritmicamente no asfalto. A névoa da noite envolvia a cidade em um abraço frio, mas meu corpo estava inerte, insensível ao clima.
Meus passos me levaram, inevitavelmente, à praça central.
E ali, sob o brilho ofuscante dos postes de luz, um mar de flores vermelhas se estendia. Elas eram como chamas dançando no escuro, pétalas aveludadas se abrindo em uma coreografia silenciosa e ardente. Eram intensas, vibrantes, um tom de carmesim tão profundo que parecia quase sangrar.
Meu coração saltou, um choque doloroso.
Aquelas flores. Eu as conhecia.
Eram as minhas orquídeas raras, a "Orquídea do Fogo". Eu havia descoberto as sementes em uma expedição distante, em um solo árido e inóspito. Lucas havia prometido cultivar um jardim delas para nós, para o nosso casamento. Ele havia prometido que seriam as flores do nosso futuro.
A promessa de um dia.
A promessa de um amor eterno.
Agora, elas floresciam ali, um testemunho cruel de uma promessa quebrada. Para Serena.
Uma dor aguda perfurou meu peito, fazendo-me dobrar ao meio. Parecia que meu coração estava se despedaçando dentro de mim. O ar se tornou escasso em meus pulmões. Eu me agarrava ao peito, tentando controlar a dor, mas era inútil.
Eu me lembrava da dificuldade de plantar aquelas sementes. O solo precisava de uma composição específica, o clima precisava ser cuidadosamente controlado. Lucas e eu passamos noites em claro no laboratório, testando diferentes nutrientes, observando cada broto com a esperança de um pai.
Ele havia prometido.
"Um dia, Isadora," ele havia sussurrado em meu ouvido, "nossas orquídeas do fogo vão florescer em nosso jardim, e será a coisa mais linda que já vimos."
Ele realizou meu sonho. Mas não para mim.
Eu sacudi a cabeça, tentando afastar as lembranças, a dor, a raiva. Elas eram como fantasmas, assombrando cada um dos meus pensamentos.
"Isadora?" uma voz familiar me chamou, e eu me virei para ver Lucas e Serena se aproximando.
Ela estava pendurada no braço dele, como sempre, seus olhos brilhando com uma satisfação mal disfarçada.
"Não são lindas, meu amor?" Serena perguntou a Lucas, ignorando minha presença, seus olhos fixos nas orquídeas.
"Você realmente se superou. Elas são exatamente como eu sonhei."
Lucas sorriu para ela, um sorriso que eu já conhecia. Um sorriso que reservava para os momentos em que ele estava verdadeiramente feliz.
Meu estômago se revirou de nojo. Era uma mentira. Ela nunca sonhou com elas. Fui eu quem sonhei.
"Sim, meu amor," Lucas respondeu, sua voz suave.
"São perfeitas. Como você."
Perfeitas. A palavra ecoou em minha mente, cheia de zombaria. Ele, o homem que eu amei, estava ali, mentindo para a mulher que eu detestava. E eu era a única que sabia a verdade.
Lucas se virou para mim, sua expressão séria, quase preocupada.
"Isadora, o que você está fazendo aqui tão tarde? Você não deveria estar descansando?"
Seu tom era de repreensão, como se eu fosse uma criança desobediente.
"Eu estava apenas... dando uma última olhada," eu respondi, minha voz indiferente.
"Afinal, amanhã estarei partindo."
Ele estremeceu. Minha partida era um lembrete cruel do que ele havia feito.
"Não se preocupe, Lucas," eu continuei, um sorriso amargo em meus lábios.
"Você não precisa mais se preocupar comigo. Em breve, eu não serei um problema para você."
Seu rosto empalideceu. Ele sabia o que eu queria dizer. Eu seria apagada, e com isso, todos os meus problemas também seriam.
"Ela só está preocupada com você, Lucas," Serena interveio, sua voz cheia de falsa doçura.
"É natural. Você sempre foi tão bom para ela."
Ela então se virou para mim, um brilho de triunfo em seus olhos.
"Você não sabe o trabalho que ele teve para cultivar essas orquídeas, Isadora. Ele passou noites em claro, só para que eu pudesse ter meu jardim dos sonhos."
Eu a encarei, minha expressão impassível.
"Elas são realmente lindas," eu disse, a voz sem emoção.
"Um trabalho e tanto."
Lucas me observou, seus olhos cheios de uma culpa que ele tentava esconder.
"Eu... eu posso pegar uma para você, Isadora," ele se ofereceu, sua voz hesitante.
"Uma lembrança do... do nosso tempo."
Eu levantei a mão, um gesto de recusa.
"Não, obrigada, Lucas," eu disse, com um sorriso gelado.
"Não seria apropriado. Alguém poderia pensar que você ainda se importa."
Seu rosto ficou branco, seus lábios se apertaram em uma linha fina. Ele não esperava essa resposta. Não esperava que eu o confrontasse com sua própria hipocrisia.
"Eu preciso ir," eu disse, virando-me para partir.
"Tenho uma longa jornada pela frente."
Mas antes que eu pudesse dar um passo, um estrondo ensurdecedor ecoou pela praça.