Traída Pelo Don: Sua Fuga Definitiva
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Capítulo 2

Juliana Andrade P.O.V.

O bolo estava na mesa de cabeceira, brilhando como um rubi na luz fraca do abajur.

Red velvet.

Coberto por espirais grossas de glacê de cream cheese.

A olho nu, era uma obra-prima.

Alex sentou na beira da cama, afrouxando a gravata com movimentos lentos e deliberados.

Ele me observava, seus olhos brilhando com uma diversão sombria e predatória que fez os pelos dos meus braços se arrepiarem.

"Come, Juliana", ele murmurou, a suavidade de seu tom traindo a crueldade por baixo.

"A Carla recomendou essa confeitaria. Disse que é simplesmente... de morrer."

Meu estômago se revirou violentamente.

A imagem da mensagem de texto queimava por trás das minhas pálpebras.

Uma lembrancinha do meu Rottweiler.

Fezes.

Ele estava me dando lixo de verdade para comer.

Ele sabia.

Estava me testando, esperando para ver se eu faria o papel da esposinha obediente.

Se eu hesitasse, se eu recusasse, a farsa se despedaçaria.

Ele saberia que eu vi a conversa.

Meu plano de fuga viraria cinzas antes mesmo de começar.

Peguei o garfo.

Minha mão tremia tanto que a prata bateu contra o prato.

"Você está tremendo", observou Alex, sua voz desprovida de simpatia.

Ele estendeu a mão, envolvendo a minha com a sua mão grande para firmá-la.

Sua pele era quente, mas seu toque parecia um ferro em brasa na minha carne.

"Deixa que eu te ajudo", ele sussurrou.

Ele pegou o talher dos meus dedos inertes.

Cortou um pedaço generoso do bolo carmesim, arrastando-o pelo glacê.

Levou-o aos meus lábios.

"Abra", ele ordenou.

Encarei seus olhos, vendo o monstro à espreita por trás das íris azuis e frias.

Eu abri a boca.

O gosto estava mascarado por uma overdose de açúcar e cacau, mas minha mente sabia o que havia sob a doçura.

Meu corpo inteiro gritava em revolta.

Eu forcei para baixo. Eu engoli.

Ele sorriu.

"Boa menina", ele elogiou. "De novo."

Ele me deu mais três garfadas.

Cada uma era uma violação.

Cada vez que eu engolia, sentia como se um pedaço da minha alma estivesse se quebrando e morrendo.

Dez minutos depois, as cólicas começaram.

Não era uma dor sutil; parecia uma faca serrilhada se contorcendo nas minhas entranhas.

Corri para o banheiro, mal conseguindo chegar ao vaso sanitário.

Vomitei até minha garganta queimar e meus olhos lacrimejarem.

Caí no chão de mármore frio, agarrando minha barriga enquanto a dor me cegava.

Alex estava parado na porta.

Ele não estava em pânico.

Não estava correndo para ajudar.

Ele estava digitando no celular.

"Alex", eu ofeguei, a palavra rasgando minha garganta. "Me ajuda."

Ele terminou de digitar sua mensagem antes de finalmente olhar para mim.

"Você deve ter pego uma virose", ele disse, em tom displicente. "Você sempre teve o estômago fraco, Juliana."

Ele ligou para o Dr. Ricci.

O médico particular da família - o Médico da Máfia.

Ricci chegou vinte minutos depois, cheirando a antisséptico e colônia cara.

Ele me deu uma injeção para a náusea e deu um tapinha condescendente na minha mão.

"Gastrite aguda", Ricci disse a Alex, seu rosto uma máscara de neutralidade profissional. "Ela precisa de repouso."

Não envenenamento.

Gastrite.

Eles se acobertavam, uma irmandade silenciosa de pecadores.

Alex acompanhou Ricci até a porta.

Eu fiquei na cama, tremendo de suor frio, o gosto de bile e traição cobrindo minha língua.

Meu celular vibrou na mesa de cabeceira.

Uma notificação do Instagram piscou na tela.

Carla tinha postado um story.

Eu abri. Uma foto de duas taças de champanhe de cristal brindando contra o horizonte desfocado da cidade.

A legenda dizia: Comemorando uma pegadinha de sucesso. A cara dela deve ter sido impagável.

Alex voltou para o quarto, vestindo o paletó do terno.

"Tenho uma reunião de emergência com os gerentes", ele mentiu suavemente. "Vou chegar tarde."

Ele não ia para uma reunião.

Ele ia para o encontro dela.

Ele ia rir de como tinha alimentado a esposa com lixo.

"Tudo bem", sussurrei, fechando os olhos.

Ele se inclinou, pressionando um beijo na minha testa úmida e fria.

"Descanse", ele disse. "Temos o Leilão de Caridade na próxima semana. Preciso de você perfeita."

Ele se virou e saiu.

O apartamento mergulhou num silêncio pesado.

Encolhi-me numa bola apertada, tentando me manter inteira.

A dor no meu estômago não era nada comparada ao fogo que se acendia em minhas veias.

Eu não dormi.

Eu contei.

Setenta e um dias.

            
            

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