Traída Pelo Don: Sua Fuga Definitiva
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Capítulo 3

Juliana Andrade P.O.V.

O olhar de pena da funcionária do cartório foi o primeiro sinal.

Era um olhar reservado para tragédias, não para tarefas administrativas. Eu só tinha ido buscar uma cópia da nossa certidão de casamento para o pedido de visto da minha viagem "surpresa".

"Sra. Borges", disse a funcionária, sua voz baixando um tom enquanto deslizava uma única folha de papel pelo balcão. "Eu não sei como te dizer isso."

Olhei para o documento.

NULA.

A palavra parecia pulsar em tinta vermelha.

"O juiz de paz não tinha licença para atuar no estado de São Paulo", ela explicou, seu tom de desculpa, mas final. "E a assinatura... não é a assinatura legal do Sr. Borges."

O mundo girou.

Eu não era a esposa dele.

Eu era a amante.

Não.

Eu era menos que isso.

Eu era uma mulher sustentada sem nenhum direito legal a ele, à sua fortuna ou à sua proteção.

Se eu desaparecesse amanhã, ninguém procuraria por uma esposa desaparecida.

Procurariam por uma namorada que fugiu.

Era brilhante.

Era diabólico.

Saí do cartório para a luz ofuscante do sol, me sentindo menos como uma mulher e mais como um fantasma assombrando a própria vida.

No entanto, o show tinha que continuar.

Naquela noite era o Leilão da Fundação.

Alex me fez usar o vestido vermelho - o mesmo que Carla havia zombado semanas atrás. Parecia uma fantasia, uma marcação.

Entramos no salão de festas, e os flashes das câmeras nos assaltaram, ofuscantes e implacáveis.

A mão de Alex repousava na base das minhas costas, me guiando, me possuindo.

"Sorria", ele sussurrou contra minha orelha, seu hálito quente. "Você parece cara."

Então, eu a vi.

Carla.

Ela usava um vestido preto que se agarrava às suas curvas como óleo.

E em volta do pescoço dela, repousava a Estrela dos Borges.

O pingente de diamante que pertencera à avó de Alex.

A mesma herança de família que ele havia jurado para mim que estava trancada em um cofre por segurança.

Ela encontrou meu olhar do outro lado da sala lotada.

Lentamente, deliberadamente, ela tocou o colar, com um sorriso presunçoso.

Ela estava marcando seu território.

O leilão começou, transformando-se em um desfile de excessos. Alex sentou-se relaxado ao meu lado, bebendo seu uísque como se fosse o dono do mundo.

O leiloeiro apresentou o item final.

"O Coração do Oceano", ele anunciou, sua voz retumbando. "Um colar de safira de clareza inigualável. O lance inicial é de cinco milhões."

Alex não hesitou. Ele levantou sua placa.

"Vinte milhões de reais", ele disse, sua voz cortando os murmúrios.

A sala inteira ofegou em uníssono.

Ele se virou para mim, seu sorriso deslumbrante e predatório.

"Para você, meu amor", ele disse, alto o suficiente para a imprensa capturar cada sílaba.

A multidão explodiu em aplausos.

Senti a bile subir pela minha garganta.

Por quê?

Por que me comprar um colar de vinte milhões de reais quando ele nem sequer se casaria legalmente comigo?

"Preciso assinar a papelada", disse Alex, levantando-se e abotoando o paletó. "Espere aqui."

Ele foi para os bastidores, a imagem de um marido devotado.

Dez minutos se passaram.

Depois vinte. O silêncio na mesa tornou-se ensurdecedor.

O gerente do leilão se aproximou da nossa mesa. Ele não parecia mais deferente; parecia nervoso.

"Sra. Borges", ele disse.

Um título que eu agora sabia ser uma mentira.

"O Sr. Borges parece ter... precisado sair."

"Ele foi assinar", corrigi automaticamente.

"Não, senhora", disse o gerente, sua voz baixando. "Ele deixou o prédio. E o cartão de pagamento registrado foi recusado."

Água gelada inundou minhas veias, me congelando no lugar.

Ele havia dado um lance de vinte milhões de reais em meu nome.

E então ele tinha ido embora.

"Precisamos de um depósito", disse o gerente, sua voz endurecendo como aço. "Ou teremos que chamar as autoridades. Fraude é um crime sério."

As pessoas estavam olhando.

Sussurrando. Os aplausos haviam se transformado em julgamento.

Meus dedos trêmulos buscaram meu celular para verificar minha conta bancária.

Zerada.

Ele a tinha esvaziado.

Eu não tinha nada.

"Eu...", gaguejei, a sala girando novamente.

"Os brincos", disse o gerente, seu olhar fixando-se avidamente nos meus lóbulos. "Parecem uma garantia adequada até o Sr. Borges retornar."

Minha mão voou para minhas orelhas instintivamente.

Eram da minha avó.

A única coisa que me restava da minha vida antes de Alex.

Antes que a escuridão me levasse.

"Por favor", sussurrei, minha voz quebrando. "Estes não."

"A polícia está lá fora", avisou o gerente.

Eu desprendi os diamantes.

Minhas mãos tremiam tanto que quase os deixei cair.

Coloquei-os na palma estendida dele.

Fiquei sentada ali, despojada de minhas joias, minha dignidade e meu marido.

Do outro lado da sala, Carla ergueu uma taça para mim.

Eu não desviei o olhar.

Encarei-a de volta.

E adicionei os brincos à dívida que eles, um dia, pagariam com sangue.

            
            

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