As palavras de Juliano eram uma armadilha, sua exibição pública um movimento calculado. Ele sabia que eu não deixaria uma pessoa inocente sofrer por causa de sua farsa. Ele sabia que eu não poderia ficar parada enquanto Dona Elza era pega no fogo cruzado.
"Eu cuido disso, Dona Elza", consegui sussurrar, minha voz rouca. Eu odiava o som dela agora, tão fraca, tão quebrada. Não era nada como a voz que Juliano havia roubado de mim.
Ela agarrou meu braço.
"Ana, não. Eles estão loucos lá fora. Deixe-me dizer a eles que você não está aqui."
Sua bondade, seu medo por mim, revirou meu estômago. Era exatamente por isso que eu tinha que sair. Eu não podia deixar que a machucassem. Ela tinha oitenta anos, sua saúde era frágil.
Abri a porta e saí, para os flashes ofuscantes das câmeras, para a tempestade uivante de acusações. O ar engrossou com hostilidade. Parecia que eu estava caminhando para um bloco de execução.
"Lá está ela!", alguém gritou. "A plagiadora!"
"Olha a cara dela!", outra voz zombou, cruel e próxima. "Essa cicatriz a deixa ainda mais feia!"
Minha mão voou para minha bochecha, uma tentativa fútil de esconder a prova visível do meu passado. A cicatriz, uma companheira constante, queimava sob o olhar coletivo deles.
"Você merece tudo o que aconteceu com você!", uma mulher gritou, cuspindo suas palavras como veneno. "Você tentou destruir a carreira da Karina!"
O coro de acusações aumentou. Minha cabeça girou. Era o mesmo roteiro, as mesmas falas cansadas, apenas cinco anos depois.
Então, a voz de um homem, afiada e cortante, atravessou o barulho.
"E o seu pobre avô? Morreu de coração partido por sua causa! Você o matou!"
Isso me quebrou. Uma onda de náusea me invadiu. Vovô. Sempre o vovô. Era a única ferida que nunca cicatrizava, a única culpa que eu carregava como um manto de chumbo. Minha visão embaçou. Os rostos na multidão se transformaram em máscaras grotescas. Suas vozes se tornaram um zumbido distante, um zunido sem sentido em meus ouvidos. Eu senti como se estivesse me afogando.
Juliano estava a poucos metros de distância, observando. Uma figura escultural de calma em meio ao caos. Sua expressão era indecifrável, uma máscara de preocupação ensaiada que não alcançava seus olhos. Ele orquestrou isso. Cada grito, cada flash.
Dona Elza, abençoada seja, tentou abrir caminho pela multidão para me alcançar.
"Deixem-na em paz! Ela é uma boa menina!"
Mas eles eram muitos, muito raivosos. Alguém a empurrou. Ela tropeçou, quase caindo para trás no pavimento molhado. Meu coração saltou para a garganta.
"Ei!", a voz de Juliano, de repente afiada e comandante, cortou o barulho. Ele se moveu, avançando, sua mão segurando Dona Elza antes que ela atingisse o chão. Sua presença foi suficiente. A multidão, momentaneamente atordoada por sua intervenção, se aquietou. Ele segurou Dona Elza gentilmente, depois se virou para a turba, seu rosto um retrato de indignação justa.
"Não é assim que tratamos as pessoas. Esta não é a resposta."
Suas palavras, destinadas a soar nobres, me enojaram. Ele estava bancando o herói, acalmando a mesma besta que ele soltou. A ironia era um gosto amargo na minha boca. Ele olhou para mim, seus olhos carregando uma mensagem silenciosa: *Viu? Eu ainda estou aqui para te salvar.*
Ajoelhei-me ao lado de Dona Elza, verificando se ela estava ferida.
"A senhora está bem?", sussurrei, minha voz quase inaudível. Seu corpo frágil tremia contra o meu.
Juliano dispensou sua equipe de segurança, que rapidamente começou a empurrar a multidão para trás, criando uma pequena bolha de espaço ao nosso redor. Então ele voltou toda a sua atenção para mim.
"Ana", ele disse, sua voz mais suave agora, quase terna. "Precisamos conversar."
Meu estômago se contraiu. Meu coração batia um ritmo frenético contra minhas costelas.
"Juliano", eu disse, o nome parecendo estranho, como uma pedra na minha boca. Fazia anos que eu não o pronunciava.
Ele vacilou. Apenas um pequeno tremor ao redor de seus olhos.
"Ana", ele repetiu, uma pitada de acusação em seu tom. "Por que você ainda está fugindo? Por que está se escondendo de mim?"