"Shh, shh, está tudo bem, querida," Heitor acalmava, sua voz um murmúrio baixo e reconfortante. "Não dê ouvidos a eles. Você conquistou isso. Você sabe disso. E eu sei disso."
Meu estômago se contraiu. Imaginei-o acariciando o cabelo dela, o braço em volta dela. As mesmas palavras calmantes, o mesmo toque gentil que ele usara em mim inúmeras vezes depois de uma reunião de diretoria particularmente brutal, ou quando eu estava estressada com um projeto. "Você é incrível, Alice. Não deixe ninguém te dizer o contrário."
Quantas vezes eu chorei para ele, exausta e desmoralizada depois de ser minada por um colega homem ou dispensada por um cliente? E quantas vezes ele apenas ouviu, assentiu e ofereceu platitudes vazias? Nenhuma vez ele realmente me defendeu. Nenhuma vez ele se levantou por mim. Ele apenas me deixou carregar o peso, depois ofereceu uma mentira açucarada para me manter na linha.
A percepção me atingiu com a força de um maremoto. Ele nunca se importou de verdade. Nunca. Nem com meus sentimentos, nem com minhas lutas, nem com minha dor. Eu era apenas um recurso a ser gerenciado, um problema a ser resolvido com o mínimo de esforço.
Um vazio oco e ecoante floresceu em meu peito. Empurrei a porta, o som ecoando anormalmente alto na sala subitamente silenciosa. O braço de Heitor, que claramente estava em volta dos ombros de Kátia, caiu instantaneamente. Kátia, com o rosto manchado, mas os olhos instantaneamente calculistas, fungou dramaticamente.
O olhar de Heitor endureceu, um lampejo de irritação cruzando suas belas feições. "Alice. O que você quer?" Seu tom era frio, acusador.
Ele estava irritado por eu ter interrompido sua pequena performance.
"Eu... eu só estava passando para ver como estavam," gaguejei, minha voz mal um sussurro, a luta subitamente desaparecida de mim.
"Passando para ver? Ou você está aqui para reclamar da promoção bem merecida da Kátia?" ele retrucou, seus olhos faiscando. "Porque, francamente, Alice, seu ciúme está se tornando antiprofissional. Kátia trabalhou duro – mais duro do que você imagina – e ela merece isso."
Meu queixo caiu. Mais duro do que eu imagino? Ele estava ativamente me manipulando, me acusando de algo que eu nem sentia mais, não depois de ouvir sua verdadeira avaliação do nosso "relacionamento".
"Eu não estava-" comecei, mas ele me cortou.
"Não, quer saber? Esquece. Kátia está chateada. E, francamente, sua atitude não está ajudando. Acho que você deve a ela um pedido de desculpas." Seus olhos me desafiaram a desafiá-lo.
Minha mente repassou todas as vezes que defendi suas decisões questionáveis, todas as vezes que racionalizei seu comportamento, convencendo-me de que ele era apenas "ambicioso" ou "sob pressão". Que patético. Como eu fui completamente cega.
O gosto ácido de autoaversão encheu minha boca. Eu não tinha mais luta. Nem palavras. Apenas um cansaço profundo e doloroso.
Respirei fundo, pressionando a sensação quente e amarga na minha garganta. Era isso. A humilhação final. A última lasca da minha dignidade seria arrancada aqui, neste escritório, na frente do homem que me amou – ou fingiu amar – e da mulher que agora colhia os frutos de seu engano.
Virei-me para Kátia, sentindo um estranho distanciamento, como se me observasse de longe. "Kátia," comecei, minha voz plana, desprovida de toda emoção. "Eu peço desculpas. Eu... peço desculpas se minha presença lhe causou algum desconforto."
Então eu me curvei, um movimento brusco, quase robótico. Parecia que minha espinha era feita de vidro, ameaçando se estilhaçar. Mantive a reverência, esperando por algum reconhecimento, algum sinal de alívio de Kátia. O silêncio se estendeu, espesso e sufocante.
Então, uma dor súbita e lancinante atravessou minha lombar. A mão de Heitor, firme e inflexível, pressionou a base das minhas costas, empurrando-me para baixo, forçando-me a uma reverência mais profunda e subserviente.
"Mais respeito, Alice," ele murmurou em meu ouvido, seu hálito quente contra minha pele. "Mostre a ela que você está falando sério. Ela é sua diretora agora."
A dor explodiu. Não era apenas a pressão aguda; era a memória chocante. Anos atrás, durante um evento de cliente, um ex-funcionário descontente invadiu, brandindo uma garrafa quebrada. Heitor estava bem na minha frente. Eu instintivamente o empurrei para fora do caminho, recebendo o impacto contra uma pesada mesa de mármore. Minha lombar gritou. Ele se desculpou profusamente, cuidou de mim até eu me recuperar e prometeu sempre me proteger. "Você salvou minha vida, Alice. Eu nunca vou esquecer."
Ele havia esquecido. Ou talvez, ele nunca se importou de verdade.
Agora, aquela velha lesão ardia com vingança, fogo se espalhando pelos meus músculos. Minhas pernas ameaçaram ceder.
"Oh, Alice, querida, você está bem?" A voz de Kátia, enjoativamente doce, me puxou de volta. Ela deu um passo mais perto, seus olhos brilhando com satisfação maliciosa. "Você parece um pouco... tensa."
A mão de Heitor permaneceu colada nas minhas costas por mais um segundo agonizante, então ele me soltou abruptamente. Eu balancei, agarrando meu lado, minha visão nadando. Seus olhos encontraram os meus, uma estranha mistura de algo parecido com preocupação, mas principalmente, um vazio arrepiante.
Engoli um grito de dor, endireitei-me lentamente e, sem outra palavra, virei-me e saí do escritório. Cada passo era uma agonia, física e emocional. Eu podia sentir o olhar de Heitor nas minhas costas, mas não me virei.
Consegui chegar à minha baia, desabando na minha cadeira. As lágrimas vieram então, quentes e ardentes, mas silenciosas. Não eram por Heitor. Eram pela mulher ingênua e esperançosa que eu tinha sido, a mulher que acreditava no amor e na lealdade, a mulher que sacrificou tudo por nada.
Estava realmente acabado.
Meus dedos, ainda trêmulos, digitaram duas palavras: "Gustavo Almeida." Imprimi o documento, caminhei até sua baia e, sem palavras, entreguei-lhe minha carta de demissão.