O Jogo de Amor Perigoso do Meu Chefe
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Capítulo 4

Ponto de Vista: Alice Evangelista

A pergunta de Kátia pairou no ar, zombeteira e afiada. A mesa inteira pareceu parar, garfos suspensos, conversas morrendo. Todos os olhos estavam em mim. A atmosfera, já tensa, crepitava de expectativa.

Meus colegas, os poucos que eram genuinamente gentis, se mexeram desconfortavelmente, seus olhares dardejando entre mim e Heitor. Uma delas, Sara, uma gerente júnior que eu havia orientado, me deu um olhar simpático e preocupado.

Era isso. Meu ato final de libertação.

Encarei o olhar de Kátia, minha expressão fria, indecifrável. "Na verdade, Kátia," eu disse, minha voz clara e firme, cortando o silêncio como uma faca. "Não estou esperando por nada. Heitor e eu terminamos. Já faz um tempo."

Um suspiro coletivo percorreu a mesa. O tilintar festivo de taças, o murmúrio da conversa, tudo cessou. O ar parecia espesso, pesado com um choque não dito. Os olhos de Sara se arregalaram, um pedido de desculpas silencioso em suas profundezas.

"Oh, Alice, sinto muito!" Sara sussurrou, estendendo a mão sobre a mesa para apertar a minha. "Que notícia terrível. Mas sabe de uma coisa? Você é incrível. Você merece alguém que realmente te aprecie. Talvez eu possa te apresentar ao meu primo? Ele é um cara muito legal, um arquiteto em Curitiba, na verdade."

Um sorriso genuíno tocou meus lábios. "Eu gostaria disso, Sara," eu disse, as palavras parecendo surpreendentemente leves, libertadoras. "Eu realmente gostaria."

O som de vidro se quebrando rasgou a sala.

Todos se encolheram. Heitor, com o rosto pálido, estava congelado ao lado da mesa, um caco de vidro brilhando sinistramente em sua mão. Sangue, escuro e nítido, brotou em sua palma, pingando na toalha de mesa branca e imaculada. Ele nem havia registrado seu ferimento. Seus olhos, arregalados e selvagens, estavam fixos em mim.

Observei o sangue florescer no tecido, estranhamente desapegada. Não havia um pingo de preocupação em meu coração, nenhuma onda familiar de preocupação. Apenas um vazio silencioso e entorpecido. Ele estava quebrado, e eu não sentia nada.

O clima de celebração evaporou, substituído por um silêncio constrangedor. O jantar terminou abruptamente, as pessoas dando suas desculpas, querendo escapar da tensão palpável.

"Alice," a voz de Heitor era áspera, mal um sussurro, enquanto eu pegava meu casaco. "Deixa eu te dar uma carona para casa."

"Não, obrigada, Heitor," respondi, minha voz calma, inabalável. "Vou pegar um táxi."

Chamei um táxi, deixando-o parado ali no ar frio da noite, sua mão ainda sangrando, seu rosto uma máscara de choque e incredulidade. A viagem para casa foi silenciosa, preenchida apenas pelo zumbido do motor e pelo clique silencioso da minha própria independência.

Entrei no meu apartamento, o silêncio lá dentro ainda mais pesado que o silêncio lá fora. Tirei os saltos, minhas costas doendo da reverência forçada mais cedo, e entrei na sala de estar. Antes que eu pudesse acender uma luz, a porta se abriu com um estrondo.

Heitor estava lá, cheirando a álcool, seus olhos injetados de sangue, sua mão ainda enrolada em um curativo improvisado de guardanapo. "O que foi aquilo, Alice?" ele arrastou as palavras, fechando a porta com uma batida que sacudiu todo o apartamento. "Que porra foi aquela?"

Ele se lançou sobre mim, sua boca esmagando a minha, um beijo desesperado e raivoso. Eu o empurrei para trás, minhas mãos espalmadas contra seu peito, mas ele era muito forte. Ele me pressionou contra a parede, seu peso pesado, sufocante. O impacto sacudiu minha lombar. Uma dor aguda e lancinante me atravessou, me fazendo ofegar.

"Sai de cima de mim, Heitor!" rosnei, a fúria finalmente borbulhando à superfície. Eu o empurrei com toda a minha força, a dor nas minhas costas me dando uma onda de adrenalina. "Você me dá nojo! Você acha que pode simplesmente entrar aqui, depois de tudo que fez, e fingir que nada aconteceu? Como se eu ainda fosse sua para brincar?"

Ele tropeçou para trás, seus olhos arregalados com uma mistura de confusão e mágoa. "Brincar? Alice, eu te amo!"

"Não, você não ama!" cuspi, minha voz tremendo de raiva. "Você ama o controle. Você ama ter alguém para manipular, alguém para fazer suas vontades, alguém para sacrificar por sua ambição patética! Eu ouvi você, Heitor! Eu ouvi você dizer ao Gustavo que nosso relacionamento era apenas uma 'estratégia de baixo custo' para manter uma funcionária de ponta!"

Seu rosto perdeu a cor. Ele ficou ali, sem palavras, sua boca abrindo e fechando como um peixe fora d'água.

"Fora!" gritei, apontando para a porta. "Fora do meu apartamento, fora da minha vida, e nunca mais chegue perto de mim!"

Ele me encarou por um momento longo e agonizante, depois se virou e tropeçou para fora, batendo a porta atrás de si com um estrondo final e ecoante.

Caí no chão, agarrando minhas costas, a dor uma pulsação surda. Estava acabado. Realmente acabado. Todo o nosso relacionamento tinha sido uma guerra silenciosa, um constante empurra e puxa de sua manipulação e minha esperança desesperada.

Na manhã seguinte, Gustavo me ligou. Sua voz era sombria. "Alice, Heitor acabou de te designar para o projeto de desativação do centro de dados remoto em Vale Sombrio. Efeito imediato."

Minha respiração ficou presa. Vale Sombrio. Até o nome soava desolador. Era um local notoriamente perigoso, a quilômetros de qualquer lugar, conhecido por seus moradores hostis e infraestrutura instável. Nós o chamávamos de "o cemitério de carreiras". Colegas quebraram ossos, sofreram concussões, até tiveram colapsos nervosos trabalhando lá. Era a punição máxima.

Lembrei-me de uma piada que fiz a Heitor meses atrás, depois de um trimestre particularmente exaustivo. "Pelo menos não estou presa desativando o centro de dados de Vale Sombrio," eu disse, rindo. "É lá que as carreiras vão para morrer." Ele sorriu, seus olhos quentes. "Nunca você, Alice. Eu nunca vou deixar nada de ruim acontecer com você."

Outra mentira. Apenas mais uma mentira.

Eu não discuti. Eu não implorei. Apenas desliguei, uma resolução fria e dura se instalando em meu peito. Abri a gaveta da minha mesa, peguei as poucas fotos pessoais e uma planta, e comecei a empacotar. Minha mesa ficou vazia em minutos. Não havia mais nada para mim aqui.

Minha partida foi silenciosa, definitiva.

            
            

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