O Jogo de Amor Perigoso do Meu Chefe
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Capítulo 5

Ponto de Vista: Alice Evangelista

A viagem para Vale Sombrio foi longa, silenciosa e pontuada apenas pelo zumbido rítmico dos pneus no asfalto. Gustavo dirigia, suas mãos cerradas no volante, sua mandíbula travada. Ele insistiu em me levar, um ato final de solidariedade silenciosa.

"Alice," ele começou, sua voz áspera, "você não precisa fazer isso. Você pode simplesmente... ir embora. Pedir demissão. Você não deve nada a eles."

Eu apenas balancei a cabeça, olhando para o trecho infinito da rodovia. "Está tudo bem, Gustavo. Eu só preciso resolver as pontas soltas. Três dias. É tudo que eu preciso."

Ele olhou para mim, seus olhos cheios de uma mistura complicada de simpatia e frustração. Ele sabia que eu estava sofrendo, mas também conhecia a teimosia que corria fundo em mim. Ele me viu enfrentar tempestades piores, embora nunca uma como esta.

"Heitor é um tolo," ele murmurou, mais para si mesmo do que para mim. "Um tolo cego e arrogante."

Ele suspirou, depois olhou para mim novamente, um olhar profundo e perscrutador. "Você está realmente bem?"

Consegui um sorriso fraco. "Eu vou ficar. Eventualmente. Agora, eu só preciso passar por isso." Havia um nó de medo no meu estômago, uma pedra fria e dura de pavor. Vale Sombrio era um deserto, notório por seu isolamento e pelos moradores voláteis que ressentiam a presença da empresa de tecnologia. Mas que escolha eu tinha? Eu precisava sair de forma limpa.

"Apenas três dias," repeti, mais para mim mesma do que para ele. "Então eu vou embora para sempre."

O sol de inverno já estava se pondo no horizonte quando nos aproximamos da cidade remota, lançando sombras longas e sinistras sobre a paisagem desolada. O centro de dados era uma estrutura imponente e brutalista, nítida contra a luz que se desvanecia. Parecia uma jaula.

Gustavo me deixou no pequeno e decadente motel que a empresa havia reservado. "Me ligue se precisar de alguma coisa, Alice. Qualquer coisa."

"Eu ligo," prometi, embora soubesse que não o faria. Esta era a minha batalha para lutar, minha última tarefa amarga para completar.

Na primeira noite, após um dia inteiro de inventário e papelada, senti uma inquietação roedora. A instalação desolada, os olhares hostis dos poucos funcionários locais, o silêncio opressivo quebrado apenas pelo zumbido de servidores antigos – tudo isso irritava meus nervos. Decidi escapar do complexo por um tempo, apenas para respirar um pouco de ar fresco.

O motel ficava a um quilômetro e meio por uma estrada mal iluminada. Eu caminhei, abraçando meu casaco com mais força enquanto o vento frio me açoitava. A estrada logo se transformou em um caminho estreito e não pavimentado, ladeado por arbustos densos e crescidos. Não havia postes de luz aqui, apenas o brilho fraco da cidade distante.

De repente, uma sombra se desprendeu da escuridão. Um homem. Alto, largo, cheirando vagamente a uísque barato. Meu coração martelava contra minhas costelas.

"Ora, ora, o que temos aqui?" Sua voz era arrastada, ameaçadora. "Perdida, mocinha?"

O medo, cru e primitivo, arranhou minha garganta. Tropecei para trás, minha mente acelerada. Ninguém sabia que eu estava aqui fora. Ninguém me ouviria.

Minha mão roçou em algo duro e áspero. Um galho de árvore caído, grosso e pesado. A adrenalina percorreu meu corpo. Eu o agarrei, meus nós dos dedos brancos.

"Fique longe de mim!" gritei, minha voz falhando, mas meu aperto firme.

Ele riu, um som gutural e arrepiante. Ele se lançou. Eu balancei o galho, acertando seu ombro. Ele rugiu, mais surpreso do que ferido, mas isso me comprou um segundo precioso. Virei-me e corri, minhas pernas bombeando, o chão áspero sacudindo minha coluna.

Ele estava logo atrás de mim, seus passos pesados batendo, xingamentos saindo de sua boca. Tentei pegar meu celular no bolso, minha mão ferida desajeitada, incapaz de destravar a tela. Disquei desesperadamente o número de Heitor, meu contato de emergência. Chamou. E chamou. E chamou. Nenhuma resposta.

Meu coração afundou, uma pedra fria e amarga no meu peito. Claro. Ele provavelmente estava com Kátia, comemorando, alheio.

Uma raiz prendeu meu pé. Gritei, torcendo o tornozelo, e caí com força. Meu celular voou da minha mão, deslizando para a vegetação escura. Ouvi seus passos se aproximando, sua respiração pesada. Levantei-me com dificuldade, ignorando a dor lancinante no meu tornozelo, ignorando o impulso de recuperar meu celular. Sobrevivência. Apenas a sobrevivência importava.

Corri cegamente, em direção a um ponto de luz distante, qualquer luz. Saí em uma estrada principal, ofegante, minha visão embaçada. Um táxi, milagrosamente, estava passando. Acenei freneticamente, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. A motorista, uma senhora de rosto gentil, parou.

"Delegacia," engasguei, desabando no banco de trás. "Por favor. A delegacia."

Enquanto o táxi se afastava, meu celular vibrou na escuridão onde eu o deixei cair. O nome de Heitor brilhou na tela. Ele estava retornando a ligação. Eu ignorei.

Minutos depois, uma mensagem de texto chegou. "Alice? Tudo bem? Você ligou. Eu estava com a Kátia no jantar de comemoração dela. O que foi?" Suas palavras eram casuais, irritadas.

Então, um ping. Uma notificação da rede social interna da empresa. Um vídeo ao vivo. Heitor, radiante, com o braço em volta de Kátia. Eles estavam no palco, cantando um dueto, uma canção de amor brega, enquanto todo o departamento aplaudia. Ele parecia completamente apaixonado, completamente feliz.

A tela em minha mão de repente pareceu fria, pesada. Um silêncio profundo desceu dentro de mim. Não era apenas o choque de sua traição, ou a insensibilidade de sua mensagem, ou a exibição pública de afeto com Kátia. Era a percepção de que eu estava verdadeiramente sozinha. Meu contato de emergência designado, o homem que eu amei e protegi, estava cantando canções de amor com outra mulher enquanto eu era agredida em um beco escuro.

Naquele momento, tudo a que eu me apegava – minha carreira, minha ambição, meu amor por ele – se dissolveu em nada. Comparado ao terror cru e visceral de lutar pela minha vida, tudo era insignificante. Sobrevivência. Era isso que importava. Nada mais.

A gentil dona do motel, vendo meu estado quando voltei da delegacia, enfaixou minha mão, preparou um chá quente para mim e sentou-se comigo durante a longa e silenciosa noite. Ela não fez perguntas. Apenas ofereceu uma presença silenciosa e reconfortante.

                         

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