Capítulo 4 Onde a pele reconhece

O corredor estava silencioso demais para a quantidade de coisas não ditas entre eles.

Lys caminhava com passos firmes, mas por dentro ainda sentia o impacto do encontro inesperado. Aos 24 anos, aprendera a esconder bem quando algo a abalava. A estatura de 1,59 nunca a impedira de sustentar limites - e ela os sustentava agora, com a respiração controlada.

Erick seguia ao lado, mantendo o ritmo.

O leve enrijecer dos ombros dela, o silêncio mais longo que o normal.

- Você não precisa explicar - ele disse, baixo, quebrando o silêncio.

- Eu sei - Lys respondeu. - Mas não gosto de ser vista como alguém frágil.

Ele parou. Não de forma abrupta - o suficiente para que ela também parasse.

- Eu não vi fragilidade - Erick disse. - Vi alguém que escolheu não voltar.

Ela o encarou. Os olhos azuis estavam mais expostos agora. Não vulneráveis - abertos.

- Às vezes, não voltar exige mais coragem do que ficar - ela respondeu.

O silêncio se instalou de novo. Desta vez, diferente. Mais próximo.

Lys deu um passo para seguir adiante. O salto fino escorregou levemente no piso polido.

Foi instinto.

Erick estendeu a mão.

Não para puxar.

Não para segurar.

Apenas para evitar a queda.

Os dedos dele tocaram o pulso dela.

O contato durou um segundo a mais do que o necessário.

E foi o suficiente.

O calor da pele atravessou a cautela dos dois. Não havia urgência, nem posse - apenas o reconhecimento silencioso de algo que não podia mais ser ignorado.

Lys puxou a mão de volta primeiro. O gesto não foi brusco - foi assustado.

- Isso... - ela começou, depois parou.

- Eu sei - Erick disse, soltando o ar devagar. - Não foi planejado.

- É isso que me assusta - ela admitiu, a voz mais baixa. - Coisas que acontecem sem planejamento.

Ele assentiu.

- A mim também.

Ela observou a mão dele por um instante. Grande, firme, agora imóvel ao lado do corpo - respeitando.

- Obrigada - Lys disse, finalmente.

- Sempre - ele respondeu. - Mas só quando você permitir.

Ela respirou fundo. O coração ainda acelerado. Não pelo toque em si - mas pelo que ele não exigiu depois.

- Hoje foi suficiente - Lys disse.

- Concordo - Erick respondeu. - Demais, até.

Ela sorriu de leve. Um sorriso breve, real.

- Bom Dia, Erick Montreal.

- Bom Dia, Lys Cavalcante.

Ela entrou no elevador sozinha. As portas se fecharam devagar.

Erick permaneceu ali, sentindo algo raro e incômodo se instalar no peito:

não era desejo imediato.

Era cuidado.

E isso o assustava mais do que qualquer risco que já assumira.