Ele afundou na cadeira ao lado da cama dela, a cabeça entre as mãos. "O bebê...", ele sussurrou, a voz rouca de dor. "De quem... de quem era o bebê, Bárbara?" Sua cabeça se ergueu, seus olhos, escuros e assombrados, fixos nos dela.
Os soluços de Bárbara se intensificaram. Ela estendeu uma mão trêmula, agarrando seu braço, e enterrou o rosto em seu ombro. "Seu, Caio. Era seu. Nosso bebê." Sua voz estava abafada, grossa de uma tristeza fingida.
Os olhos de Caio se arregalaram, um lampejo de pânico, depois uma proteção desesperada, guerreando dentro dele. Ele apertou seu abraço, puxando-a para mais perto. "Não", ele murmurou, acariciando seu cabelo. "Não, Bárbara, não foi sua culpa. Foi... foi a Clara. Ela fez isso."
Os soluços de Bárbara suavizaram, substituídos por gemidos. "Eu não posso ser mãe agora, Caio", ela lamentou. "Ela tirou tudo de mim. Tudo!"
Eu estava parada perto da porta, uma prisioneira sob os olhos atentos de dois seguranças enormes. Meu olhar se desviou para o abdômen plano de Bárbara. Uma risada amarga e oca escapou dos meus lábios. Então, ela estava grávida. E este era o filho dele.
Uma memória súbita e aguda me atravessou. As evasivas de Caio, suas desculpas, sua constante rejeição ao meu toque, ao meu desejo. "Estou muito ocupado, Clara." "Preciso focar no trabalho." "Você não acha que deveríamos esperar?" Não era sobre estar ocupado. Era sobre mim. Ele simplesmente não me queria.
A percepção foi um soco no estômago. Todo esse tempo, eu me culpei, me perguntei o que eu tinha feito de errado. Mas não era eu. Era ele. Ele simplesmente não me amava. Nunca amou.
A ironia amarga de tudo isso. Ele sempre alegou me amar, me querer. Mas ele estava dormindo com Bárbara, construindo uma família com ela, enquanto eu estava trancada, sofrendo em silêncio.
Minha risada autodepreciativa chamou a atenção de Caio. Ele olhou para cima, os olhos injetados, o rosto contorcido de raiva. Ele avançou, um animal selvagem, seu punho conectando com minha mandíbula. A força do golpe me jogou contra a parede, minha cabeça batendo no gesso frio com um baque surdo. O gosto de sangue encheu minha boca.
"Ela mereceu", engasguei, um sorriso de escárnio desafiador no rosto. "Ela mereceu tudo o que aconteceu."
Os olhos de Caio, já ardendo de fúria, se arregalaram em descrença. "O que você disse?!"
"Eu disse", cuspi, minha voz rouca, "que talvez não fosse seu filho, não é, Caio?"
Seu rosto ficou flácido de choque, depois se contorceu em uma máscara monstruosa de raiva. Ele me deu um tapa de mão aberta no rosto, me fazendo voar pela sala. Minha cabeça bateu na quina da estrutura da cama, uma dor aguda e lancinante. Sangue quente escorreu pela minha testa, embaçando minha visão.
Ele me agarrou pelos cabelos, me arrastando em direção à janela aberta. O ar frio da noite entrou, gelando-me até os ossos. Ele me segurou a meio caminho para fora, meu corpo pendurado precariamente, o pavimento um borrão vertiginoso muito abaixo.
"Você está louca, Clara!", ele rugiu, a voz crua de fúria. "Você é uma psicopata! Uma assassina!"
"Passei três anos tentando te tirar daquele buraco infernal!", ele gritou, lágrimas escorrendo pelo seu rosto, embaçando sua visão. "Três anos agonizando sobre o que estavam fazendo com você, como você estava sofrendo! Por que você desapareceu? Por que não voltou para casa?!" Sua voz falhou, um apelo cru e desesperado. "Você tem alguma ideia do que fez comigo, te ver naquele ringue, lutando como um animal selvagem?! Arriscando sua vida por migalhas?!"
Ele me sacudiu, seu aperto machucando. "Você não sabe de nada, Clara! Você só sabe destruir! Só sabe machucar a Bárbara!"
Seus olhos estavam injetados, seu rosto manchado de lágrimas, uma paródia grotesca de luto. Mas eu vi através disso. Vi a autopiedade, a tentativa desesperada de justificar sua própria crueldade. Ele não estava chorando por mim. Estava chorando por si mesmo.
Meu coração, já um nó congelado no meu peito, ficou ainda mais frio. Suspensa a meio caminho da janela, o vento chicoteando meu cabelo, eu não senti nada além de um profundo vazio. Ele nunca entenderia. Ele nunca veria.
"Tudo bem", sussurrei, a palavra mal audível acima do vento. "Eu cansei. Nós acabamos. Me solta."
Ele me soltou, e eu caí no chão com um baque surdo. "Você acha que é tão fácil?!", ele rugiu, andando pela sala como uma fera enjaulada. "Você acha que pode simplesmente ir embora depois do que fez?! Você precisa ser punida, Clara. Você precisa pagar."
Lentamente, me levantei, meu corpo gritando em protesto. Minha cabeça latejava, e o sangue na minha testa começava a secar. "Que tipo de punição, Caio?" Minha voz estava calma, desprovida de emoção. "O que mais você pode tirar de mim?"
Ele parou, seus olhos brilhando com um cálculo assustadoramente familiar. "Eu te devolvo o casarão", ele disse, sua voz baixa e deliberada. "Com uma condição. Você admitirá publicamente sua culpa. Você confessará tudo. E renunciará formalmente a todas as reivindicações ao nome da família Guedes, ao seu legado, a tudo. Então, e somente então, o casarão será seu."
Meus ouvidos zumbiram. Uma onda de náusea me invadiu, e o gosto metálico de sangue encheu minha boca. Ele queria que eu me tornasse um fantasma, que me apagasse, que desaparecesse sem deixar vestígios. Ele queria me quebrar, total e completamente.
"Pense com cuidado, Clara", ele disse, sua voz um sussurro frio. "Esta é sua última chance. Sua única chance."
Minha mão instintivamente foi para o meu bolso, tocando a superfície fria e lisa do medalhão que meu pai me deu. Uma foto nossa, sorrindo, felizes. "Minha pequena lutadora", ele costumava dizer. "Sempre defenda o que é certo." Lembrei-me de seu abraço caloroso, suas palavras reconfortantes, seu amor inabalável. Um soluço me rasgou. Mordi meu braço com força, sentindo o gosto de sangue, tentando suprimir o luto, a raiva, a profunda sensação de perda.
"Eu aceito", finalmente grasnei, as palavras rasgando minha garganta. "Eu farei isso."
No dia seguinte, sob o brilho forte de mil flashes de câmeras, ajoelhei-me no pavimento frio em frente ao meu casarão. Minha voz, entorpecida e oca, leu a confissão pré-escrita. Admiti tudo: ter incriminado Bárbara, ter tentado assassiná-la, ter causado seu aborto, ser uma manipuladora, uma mentirosa, um monstro.
A multidão rugiu de indignação. Uma chuva de lixo - frutas podres, garrafas de plástico, jornais amassados - caiu sobre mim. Encolhi-me em uma bola, os braços em volta da cabeça, enquanto os golpes choviam.
Pelas brechas na multidão gritando, eu os vi. Caio e Bárbara. Juntos, triunfantes. Ela estava sorrindo, um sorriso radiante e vitorioso. Ele a segurava perto, seus olhos, antes cheios de raiva, agora brilhando com uma satisfação fria.
Então, sua voz, amplificada por um megafone, cortou o barulho. "E agora, tenho o prazer de anunciar que em três dias, Bárbara Ricci e eu nos casaremos. Um novo capítulo começa para a família Guedes."
As palavras ecoaram em meus ouvidos, zombeteiras e cruéis. Casado. Com Bárbara. Meu mundo, já estilhaçado, se desfez em pó.
Mãos rudes me agarraram, me levantando. Fui jogada na traseira de um caminhão de lixo, o fedor de lixo avassalador. As portas se fecharam com um estrondo, me mergulhando em uma escuridão sufocante. O caminhão roncou e se afastou, me levando, um pedaço de lixo descartado, para longe da minha casa, do meu passado, dos meus sonhos desfeitos.
Meu celular tocou. O som foi uma intrusão chocante na escuridão sufocante. Tateei em busca dele, meus dedos dormentes.
"Clara?" Uma voz familiar, firme e calma, encheu meu ouvido. "Você está bem? Eu vi as notícias. Estou indo te buscar. E não se preocupe, Clara. Eu prometo a você, eles vão pagar por isso."