A filha do magnata
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Capítulo 4 4

Embora eu tivesse a plena noção de que Collin Greenford era o patriarca da mansão em que eu me encontrava, a mim ainda soara como uma grande novidade vê-lo adentrando pela porta principal. Ele mantinha o telefone em uma mão e na outra segurava a valise preta.

O seu cabelo castanho escuro estava bagunçado, e no momento vestia um terno preto de três peças que o deixara bastante elegante, embora o nó da gravata estivesse desfeito e o colarinho desabotoado.

__ Senhorita Tessa.

Ele pronunciou o meu nome num tom surpreso. Guardou o telefone no bolso da sua calça e fitou-me com atenção.

__ Boa-noite, senhor Greenford. É um prazer revê-lo.

Afirmo com um sorriso polido.

__ Senhorita Drumong?

A voz de lady Armstrong soou bem atrás de mim. Eu virei-me para o lado, vendo-a caminhar até nós.

__ Oh! Senhor Greenford, eu não sabia que já se encontrava em casa.

Ela aproximou-se dele às pressas e recebeu à sua valise.

__ Eu acabo de chegar. Como têm corrido as coisas?

Lady Armstrong solta um pigarro e olha para mim como se ordenasse que os deixasse a sós.

__ Com licença, senhores. Eu vou ver se Génesis está pronta.

Aceno de leve antes de subir os degraus até ao andar superior.

Quando entrei no quarto da senhorita Génesis vi-a sentada de frente à penteadeira, penteando o cabelo castanho desleixadamente, os olhos pareciam perdidos na imagem que o espelho refletia.

__ Vim ver se a senhorita precisa de ajuda.

Ela deixa a escova de lado e vira-se para mim.

__ Eu já terminei de arrumar-me. O meu pai já chegou?

Eu assinto com um sorriso.

__ Acaba de chegar, poderão dividir a ceia, não acha formidável?

Ela levanta-se do banquinho e sem emoção murmura um:

__ Hm-hum. Podemos descer para a sala de jantar agora.

Aceno afirmativamente e estalo a língua no céu da boca antes de seguir para fora.

__ Senhorita Tessa, espere!

Viro-me para trás e olho para a menina confusa.

__ À sua meia-calça está desfiada, não pode descer para a sala de jantar assim.

Ela alerta-me com um ar risonho.

__ Que droga! Eu vou trocar rápido, espere por mim aqui.

Despacho-me até ao quarto irritada. Abro uma gaveta e tiro outro par de meias da mesma tonalidade, eu nunca gostei de usá-las, sempre as achei desconfortável, mas lady Armstrong dissera que é necessário por questões de moralidade, assim sendo tenho de fazer esse sacrifício.

Tão logo abro à porta, depois de trocar as meias, dou de caras com a dita-cuja.

__ Posso saber por que ainda não desceram até à sala de jantar?

Perguntou olhando de forma indiscreta para o meu quarto.

__ A ceia está prestes a ser servida, o senhor Greenford deve encontrar a filha e todos os subordinados presentes na sala.

Continuou com o rosto vermelho e o queixo projetado para frente.

__ É minha função manter a ordem e a harmonia dentro dessa casa, Senhorita Drumong. Se como babá acha que pode chegar à mesa quando bem lhe apetece e adotar os seus próprios horários, o que passará para sua educanda? Não se esqueça que também é sua função orientar, auxiliar na educação e nos bons modos da menina Génesis. De modo algum tolerarei tais insolências.

Olho para ela impotente.

__ Tem toda razão, lady Armstrong. Prometo que deslizes como esse não voltarão a acontecer.

Ela parece satisfeita e jubilosa por eu ter sido tão condescendente.

Quando eu saio do quarto vejo Génesis encolhida num canto, retraída e com a cabeça abaixada.

__ Vamos?__ eu pergunto.

Ela olha para mim colérica e anda depressa, pisando duro.

Quando chegamos à sala de jantar, eu fiquei surpresa ao ver os empregados todos enfileirados de uniformes com vincos impecáveis.

Acomodei a Senhorita Génesis em seu lugar e fiquei de pé, ao lado de uma copeira, adotando a mesma expressão séria e enfastiosa.

Lady Armstrong entrou com os braços cruzados atrás das costas. Passou por cada empregado, avaliando um por um em busca de imperfeições até chegar a mim.

__ Ajeite a gola da sua camisa.

Ajeitei-a rapidamente e desculpei-me pela falha.

__ Ótimo.

Após avaliar-nos ela foi até à mesa e começou a observar tudo com atenção. Quando satisfeita, ficou a alguns passos de distáncia da cadeira do patriarca.

Quando o senhor Greenford adentrou, a sala estava envolvida num sublíme silêncio. Ele cumprimentou a todos e ocupou à sua cadeira.

As copeiras começaram a servir o jantar, só pelo aroma agradável presumi que estivesse delicioso.

Durante todo o tempo em que o senhor permaneceu à mesa, não houve sequer uma troca de palavras. O seu semblante sisudo e o ambiente pesado em que nos encotrávamos parecia deixar a todos inibidos.

No final, o jantar se resumira a um silêncio absoluto cortado apenas pelo retinir dos talheres nos pratos e o borborejo do vinho na taça.

__ Senhorita Tessa, acompanhe-me.

O senhor Greenford disse jogando o guardanapo sobre à mesa.

__ Sim, senhor.

Vi lady Armstrong fitando-me com um grande descontentamento antes de eu seguir o senhor Greenford.

Quando adentrei ao escritório a primeira coisa que me chamara a atenção foi o tapete de urso pardo estendido no centro e uma parede inteira decorada com cabeças de animais embalsamados.

Eu revirei os olhos assustada.

__ O senhor gosta de caçar?

Eu perguntei com os dentes cerrados.

__ Não, são apenas presentes de um amigo. Faça o favor de sentar-se.

Eu cumpri o seu pedido e olhei com mais atenção o cómodo. Era esplendoroso, todo em madeira de castanho com uma grande estante cobrindo toda a parede do fundo, repleta de livros encadernados e uma secretária de mogno, mais clara com uma cadeira e dois cadeirões engenhosamente dispostos .

__ O que achara de Génesis?

Senhor Greenford pergunta, chamando à minha atenção.

__ Ela é uma boa garota, apesar de ter um gênio muito difícil, como dissera na entrevista.

Ele assente.

__ Ela não atentou contra à sua vida?

Por instantes achei que fosse uma piada, mas seu semblante sério, deixava bem claro que não era homem de fazer gracejos.

__ Sapo e pó de mico. Nada tão extremista como um atentado.

Respondo com um sorriso amarelo.

__ E lady Armstrong, o que achara dela?

Eu queria tanto desabafar sobre o quão sufocante aquela mulher era, mas não podia. Eu estava trabalhando apenas a míseros dois dias, enquanto ela provavelmente trabalhava para o Senhor Greenford há décadas.

__ Ela é uma Senhora bastante hábil. Vem ajudando-me muito desde que cheguei.

Eu respondo com asteímo, mas ele não parece perceber.

__ Eu fico feliz por ouvir isso. Lady Armstrong tem trabalhado para mim há anos. De facto, é uma pessoa bastante proficiente e que nunca me deixou a desejar tratando-se da sua excelência. Ela ajudou-me a cuidar da Génesis quando a mãe dela partiu, é uma senhora de grande coração.

Eu apenas assenti, perguntando-me se falávamos da mesma lady Armstrong.

__ Com certeza ela tem um grande coração.

Balbucio com um meio sorriso.

__ Caso tenha alguma dúvida ou precise de algo pode dirigir-se a ela. Muito bem, pode retirar-se.

Eu assinto e retiro-me rapidamente.

Depois da minha ceia eu fui até ao quarto de Génesis ver se precisava de alguma coisa.

__ Senhorita eu já vou deitar-me. Precisa que eu faça algo por si?

Aconcheguei-me da sua cama e sentei-me no banquinho estofado que ficava à beirada.

__ Eu estou bem, pode ir deitar-se.

Disse folheando o livro de fantasia que lia.

__ O seu pai ainda está no escritório, você não vai dar a ele um beijo de boa-noite?

Ela sorriu com escárnio e olhou para mim por sob o livro.

__ Nós não costumamos fazer dessas coisas, Senhorita Tessa. Ainda não caiu a ficha de que o meu pai não é um senhor atensioso? Pelo menos não atrás dos amigos dele.

            
            

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