Nada Menos que "Clichê"
img img Nada Menos que "Clichê" img Capítulo 2 Two
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Capítulo 6 Six img
Capítulo 7 Seven img
Capítulo 8 Eight img
Capítulo 9 Nine img
Capítulo 10 Ten img
Capítulo 11 Eleven img
Capítulo 12 Twelve img
Capítulo 13 Threeteen img
Capítulo 14 Fourteen img
Capítulo 15 Fiveteen img
Capítulo 16 Sixteen img
Capítulo 17 Seventeen img
Capítulo 18 Eighteen img
Capítulo 19 Nineteen img
Capítulo 20 Twenty img
Capítulo 21 Twenty One img
Capítulo 22 Twenty Two img
Capítulo 23 Twenty Three img
Capítulo 24 Twenty Four img
Capítulo 25 Twenty Five img
Capítulo 26 Twenty Six img
Capítulo 27 Twenty Seven img
Capítulo 28 Twenty Eight img
Capítulo 29 Twenty Nine img
Capítulo 30 Thirty img
Capítulo 31 Thirty One img
Capítulo 32 Thirty Two img
Capítulo 33 Thirty Three img
Capítulo 34 Thirty Four img
Capítulo 35 Thirty Five img
Capítulo 36 Thirty Six img
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Capítulo 2 Two

Olhei para o número salvo no meu aparelho, uma parte de mim queria muito lhe mandar ao menos uma mensagem, já outra tinha medo. Dizem que o medo vem de inseguranças passadas guardadas em seu subconsciente e sim, essas pessoas estavam certas.

Apesar de uma mente turbinada de ideias maliciosas e safadezas, eu não tinha a mesma atitude na prática, eu me envolvi com poucas pessoas durante minha vida no Brasil, homens e mulheres, mas me apaixonei por uma delas em específico, que me fez repensar na minha autoconfiança em alguém do tipo dela me querer, eu tinha disposição, mas essa péssima experiência me fez criar minhocas da quais não consigo tirar.

- Eu estou um bagaço, deveria ter te ouvido.. - Noah entrou em minha micro sala.

Ele se despojou na cadeira da frente e colocou as pernas na mesa como sempre.

- Deveria ter ficado na cama.

- Estou com uma ressaca do diabo.

- Quero café!

- Traz pra mim?

- Está de ressaca, tem certeza que cafeína vai ajudar a sua cabeça a melhorar?

- Eu praticamente estou vegetando, preciso de algo para devolver meu pique.

- Você precisa dormir Noah, volta pra casa, está legal?

- Não posso te deixar aqui...Temos que selecionar mais um funcionário...

- O Pett veio trabalhar hoje, ele me ajuda com o que eu precisar.

- Por que você estava estranha ontem?

- Eu? Estranha?

- Sim, você não se divertiu como sempre faz.

- É claro que sim Noh, que negócio é esse?

- Olha, eu podia estar chapado mas não sou bobo, você só curtiu de início, depois ficou pior que essa ressaca na minha cabeça.

- E o que eu queria que fizesse? Deixasse você se matar de tanto beber, fala sério, até você concorda.

- Por que você demorou tanto pra ir no banheiro? Quem eram aquelas pessoas?

- Um doente derramou bebida em mim só isso, e alguém tentou me ajudar.

- Senhorita Rachel? - Peter entra na minha sala.

- O que eu disse sobre isso Pett?

- Desculpe Rachel, sobre a seleção...tem alguns candidatos aqui.

- Ah eles são com o Noah, diga que ele ficou doente e que vai atender amanhã.

- NÃO! EU ESTOU BEM!

- Faça o que eu estou mandando Peter.

- Sim senhora. - Peter fechou a porta

- Eu podia fazer isso.

- Com essa cara De que um boi pisou em Você? Vai pra casa Noah.

- Me deixa em paz Rachel.

- Argh Droga você é teimoso ein?

Me levantei da cadeira e então o puxei para que ficasse em pé.

- Vamos pra casa, vou cuidar de você.

- E o escritório?

- O Pett resolve!

- Ele acabou de ser contratado.

- É só ele marcar quem quiser falar comigo e editar o que ele souber. Agora vamos.

Sai com o Noah pendurado nos meus braços e então avisei ao Peter.

- Hey Pett, vou cuidar da ressaca do Noh, volto quanto puder. Consegue cuidar de tudo?

- O que devo fazer?

- Diga que eu estou ocupada e fala que só dá para eu atender amanhã, e se não tiver fazendo nada, adianta aqueles vídeos pra mim. Meu número está numa agenda dentro da gaveta.

- Ok!

Arrastei o meu amigo pelos elevadores enquanto chamava um carro, passamos alguns minutos na calçada até ele chegar.

- Acho que precisamos de um carro.

- Estava esperando um pouco mais para comprarmos um. - Diz ele.

Quando o carro parou, nós entramos e então seguimos o caminho de casa, joguei Noah no sofá e fui para cozinha.

- Vou fazer uma coisa que eu amo comer todo dia pela manhã.

- O quê?

- É uma mistura de ovos, com recheio de pão, peito de peru, sheddar e cebola.

- Você come cebola crua?

- Eu adoro cebola, você não tem noção.

- Cebola dá gases e mal hálito.

- Cebola não me dá gases, só se for a sua bunda que está frouxa, e quanto ao hálito, eu não me importo.

- Isso não tem nada a ver mocinha! Você que têm manias esquisitas.

- Então está bom. - Dei de ombros.

- Você anda descalça o tempo inteiro.

- Em minha região natal, é muito normal as pessoas andarem descalças o tempo todo, somos conhecidos por ter o "Pé no chão" literalmente.

Comecei a preparar o que eu apelidei de torrada de ovos.

- É incrível como comida desse tipo pode ser barata, um requeijão sabor sheddar no Brasil custa um rim.

- É uma pena pra vocês.

- Nós não comemos só arroz e feijão, mas se depender do governo, nem isso os pobres comem, já que a comida que nós mesmos produzimos, apenas sobe.

Coloquei o prato na mesa

- Vem.

Ele veio, olhei para o pão e então me lembrei que faltava o molho de Ketchup.

- Aí...Agora assim.

Ele me olhou confuso

- Lambusou tudo com Ketchup, não gostei.

- Come logo isso. - Lhe dei o garfo e a faca.

Ele provou.

- Nossa, ficou bom mesmo.

- Eu adoro comer isso nas manhãs.

- Então eu quero também.

- Vou ganhar o quê fazendo café pra Você? - Perguntei debochada.

- Que tal um passe livre para dirigir no nosso futuro carro? - Disse ele com um sorriso.

- Ainda preciso de carteira de habilitação.

- Podemos providenciar isso.

Quando o Noah terminou de comer, coloquei ele na minha cama porque ele era manhoso demais para querer dormir sozinho, também tive que fazer cafuné na cabeça dele para ele pegar no sono, acabei cochilando com ele e acordei num salto, olhei o meu telefone e vi algumas chamadas do telefone da Raynoh para meu telefone, era o Peter com certeza.

- Alô Pett?

- Um cliente ligou para o Noah hoje mais cedo, ele disse que estava marcado para que os dois se encontrasse....É... Uma hora.

- Ele disse sobre o que era?

- Acho que ele é escritor.

- Então dá pra eu resolver, me passa o número dele.

- Anota aí 604- 332-5758 Júlio Cortéz

- Espera "Rúlio"? Ele é espanhol?

- Deve ser. Agora tenho impressão de ter visto um escritório dessa família por aqui na cidade e era algo de advocacia.

Olhei o relógio e vi que se eu chegasse nesse encontro, o coitado do Peter não iria almoçar.

- Pett e como você fica? O Noah apagou aqui e você está sozinho. Eu sei como é ficar de barriga vazia, porque o seu maldito patrão disse que iria voltar antes do meio dia e não volta, você tem que fingir para os clientes que está tudo normal enquanto quer matar alguém por dentro. - Ouvi pequenos risos de Peter

- Desculpe. A senhora é demais. Eu ficarei bem.

- Fecha isso e vai comer ok?

- Tem certeza?

- Tenho.

No Brasil, o almoço é uma das principais refeições de nosso dia, o famoso arroz e feijão de caldo diário com verdura, e carne se tiver, mas em países como Canadá esse hábito não existe, eles não comem da mesma forma, é Por isso que o meu prato nessas horas é sempre o estrogonofe de frango, que eu fazia no almoço para minha mãe, eu não precisava do feijão quando comia ele, apenas do arroz e de batata palha, mas sentia falta. Coloquei o celular no pescoço e enquanto cozinhava.

- Alô? Senhor Cortéz?

- Sim sou eu, quem É?

- Aqui é a Rachel do escritório Raynoh Edition, sou sócia dele.

Vocês podem estar se perguntando o porquê ninguém me conhece como senhora Levinson? Mas eu não quis mudar o meu nome, já não bastava a burocracia de ser imigrante, não queria acrescentar isso na minha lista, a única coisa que sinalizava isso era minha aliança de casamento. Eu tinha muito orgulho do meu sobrenome Fernandes pois era o sobrenome da minha mãe, e eu odiava minha família por parte de pai, eles nunca me tratavam bem por minha mãe não ser a pessoa que eles esperavam que meu pai fossem casar, então eu nunca fiz questão de ter o nome deles.

- Olá Rachel, tudo bem? Eu tinha um encontro com o seu sócio, senhor Levinson.

- Bom, sobre isso o meu sócio sofreu uma intoxicação alimentar e não vai poder ir, acho que eu poderia resolver?

- Intoxicação alimentar, isso é sério? - Me virei bruscamente ao ouvir a voz de Noah atrás de mim.

- AH CARALHO!

- Senhorita Rachel está tudo bem? - Pergunta Júlio

- Sim, sim Desculpe eu...acabei me queimando. - Olho Noah com irritação

- Eu escrevi um livro, ele disse que cuidaria de quem fosse produzir a capa.

- Sou eu mesma, aonde posso encontrá-lo?

- Mando o endereço por mensagem.

- Agradeço senhor Cortéz, vejo o senhor mais tarde. - Desligo o telefone

- Porra Noah! Por que você fez isso? - Digo irritada

- Uau...Você sai do Brasil, mas o Brasil não sai de você ein? Você adora xingar em português.

- Morei lá por mais de vinte anos, queria o quê? E cá entre nós, os brasileiros são mais criativos para inventar palavras de baixo calão.

- Está fazendo aquele frango com molho de novo? Já estou com fome. - Ele foi até aos frangos petiscar

- Para de beliscar comida! - Dei um tapa em sua mão.

- Você é chata ein?

- A chata que está cuidando de você.

- A chata que disse que eu estava com intoxicação alimentar ao invés de remarcar.

- Queria que eu dissesse a verdade?

- Poderia ter dito que eu precisava sair.

- Gosto de ser dramática. - Digo debochada

- Sabe que não precisa ir no meu lugar não É?

- É por que eu não iria? Ele vai tratar de algo que é do meu setor, aliás porque você não pediu para ele falar comigo? - Noah deu de ombros como tipicamente fazia, quando sabia que fazia loucuras.

- Não queria te incomodar.

- Uhum Sei Magrelo...

Voltei para as panelas e terminei de cozinhar, nós comemos juntos e o bom é que ele gostava da minha comida, eu me despedi dele e o deixei em casa, avisei que ele deveria descansar e me dar menos trabalho, mas eu não tinha certeza se ele me ouviria. Peguei o carro e dirigi até o endereço mandado, era um prédio que possuía andares interessantes, na verdade bem luxuosos, eu diria que o que eu e Noah vivíamos não era ruim, mas não se comprava a todo o luxo dali, fui até o último andar como ele havia indicado por mensagem e ao abrir o elevador vi a única porta do andar e então bati, quando abriram a porta vi um homem alto de cabelos escorridos pretos, olhos azuis e uma barba rala da mesma cor também me atendeu, ele era muito charmoso.

- Boa tarde, Eu estou a procura do Júlio Cortéz.

- Sou eu mesmo, prazer. - Ele estirou a mão em minha direção.

- Prazer sou a Rachel Fernandes.

- Nossa, seu sobrenome parece com o Fernández no espanhol, você também é mexicana?

- Não, eu sou brasileira.

- É que você disse alguma coisa por telefone quando estava se queimando...

- Nós não falamos espanhol, é português.

- Oh que cabeça minha! Entre. - Ele abre a porta.

- Bonito lugar.

Ele me conduz até o sofá

- Não é meu, é da minha irmã.- Ele andou até o segundo cômodo e eu percebi seu andar familiar que lembrava o Noah.

Ele volta com um notebook nas mãos e senta-se ao meu lado

- Se a conhecesse, veria que esse apartamento é a cara dela. Eu não sou fã de tanto luxo. - Ele abriu o notebook.

- Curioso, sua família não tem um escritório de advocacia aqui?

- Minha família, eu não. Cheguei faz pouco tempo da Cidade do México.

- Todos vocês são mexicanos?

- Não, eu e minha irmã nascemos aqui. Mas eu preferi conhecer o México, já a minha irmã ficou trabalhando com nossos pais. Você não sente falta do seu país?

- As vezes. Mas eu sempre tive sonho de conhecer esse local e acabei me apaixonando, só o que mata as vezes é a falta da família.

- Vancouver é um bom lugar pra viver mesmo, mas eu também me sinto bem lá. Não sinto muito a falta dos meus pais para falar a verdade, a minha irmã sempre foi a favorita deles.

- Falando assim até parece culpa da coitada. - Dei um sorriso.

- Não estou na casa dela a toa. - Ele me olhou nos olhos e deu um sorriso.

Quando eu olhava para ele tinha uma breve sensação de olhar para alguém que eu já conhecia.

- Você tem um olhar muito bonito.

- Obrigado. Faz parte do charme Cortéz, minha irmã e eu somos conhecidos por termos um olhar sedutor. - Ele deu um sorriso.

E ele era de fato, não sabia porque mas olhava demais para o olhar dele com a intenção de saber o porquê me instigava, olhá-lo.

- Quem é o mais velho?

- Eu. Por Dois anos.

Ele desviou o olhar para o seu notebook e eu apenas fiquei prestando atenção na decoração que era bem elegante.

- Meu livro trata de um suspense. Eu sempre fui muito instigado a escrever esse tipo de gênero, dessa vez acabei me arriscando.

- E o que você escrevia?

- Peças de teatro e livros de poesias.

- Um grande salto.

- A Editora aprovou o meu livro e agora querem uma capa, eles até me sugeriram algumas ideias mas não gostei de nenhuma, resolvi procurar um Designer por conta própria e aí me encontrei com o seu sócio através dos panfletos.

- Vocês já se encontraram pessoalmente?

- Estava visitando minha irmã na empresa e aí o vi distribuindo panfletos. Aliás eu sou curioso, porque Raynoh?

Olhei para os olhos de Júlio novamente

- Ray é o meu apelido e Noh é o apelido dele.

- Interessante. - Ele se voltou para o notebook.

Minha mente lá no fundo tentava encaixar as peças do porquê o Noah estava tentando remarcar, não havia me contado sobre esse cliente, e agora eu já tinha minhas suspeitas. Eu o olhava várias vezes, o andar dele era estranho, o modo de sentar, e ele vivia na casa da irmã, não que isso fosse estranho, porque não era, mas porque um homem solteiro não tinha seu próprio canto? Fora que ele era bem mais jovem do que eu havia pensado, e com olhos muito envolventes.

- Confesso que queria uma atriz na frente da capa com alguns efeitos de mesclagem, a história se passa sobre ela e sua vida no orfanato até ela ser adotada, mais o irmão dela some misteriosamente e a namorada dela.

- Namorada?

- Queria quebrar esse clichê de romance policial hétero.

- Quais são as características da sua personagem?

- Cabelos castanhos, olhos da mesma cor. Tipo os seus.

- Por que não se baseou na sua irmã?

- Ela tem cabelos pretos e olhos azuis, achei que ela ficaria bem como a namorada. - Acabei dando risada

- Ela é lésbica?

- Não, É, Gosta dos dois gêneros apesar de sair mais com homens.

- Péssima pessoa para basear seu "Romance Gay" - Brinco com ele, mas ele abaixa a cabeça sério.

- Na verdade eu acho que isso é mais por insegurança em ralação aos nossos pais, do que dela mesmo.

- Ah nossa, eles são religiosos?

- Apenas Soberbas ao meu ver. Eles sabem, mas não dizem nada porque não é "Sério",entende?

- Ela sabe que você baseou ela no livro também?

- Ela não lê o que escrevo, e eu não vou contar. - Ele riu e eu acabei rindo mais da situação dele.

- Coitado! Ela é sua irmã, acho que te deveria dar um pouco de prestígio não acha?

- Eu poderia ficar ofendido, mas ela é uma máquina de trabalho. E para completar, também nossos pais se aproveitam disso para usá-la como trunfo.

- Nossa que chato ser tão...

- Pau mandada?

- Eu ia dizer ocupada. - Falei rindo.

- Queria uma composição de cores sérias, de preferência preto, simboliza escuridão, o que cerca a vida da personagem.

- Suponho que você tenha que encontrar a modelo que vai pousar no livro ou vai fazer substituição?

- No momento faça uma substituição, até eu...- O telefone de Júlio toca e ele se levanta educadamente.

- Com licença.

- Toda.

- Oi Hermana, estou conversando com a Designer do meu livro... - Vejo ele falando enquanto sai.

Peguei meu telefone e então mandei uma mensagem para o Noah: "Você é um descarado, agora eu sabia o que você tanto escondia."

- Rachel eu sinto muito, minha irmã me chamou para almoçar logo agora e ela parece estar bem estressada. Vou te mandar tudo que precisa por Email, qualquer coisa você me liga e me cobra o que precisar, tudo bem?

- Coitada, como ela aguenta? Até uma hora dessas sem comer, eu já estaria subindo pelas as paredes.

- Eu te disse, ela é uma máquina de trabalho, mas pelo o que eu sei, acho que não é só fome o problema dela. - Ele voltou para o notebook, o meu telefone vibrou imediatamente e vi a mensagem de Noah.

"Você descobriu?"

- Claro que sim, Filho da Puta. - Falei baixinho, mas aparentemente o Júlio havia escutado e riu.

- Você sempre xinga na sua língua nativa? - Ele se voltou para mim, confesso que meu rosto ficou envergonhado e eu não sabia aonde me esconder.

- Pode me passar o seu email? - Ele pergunta

- É...rachel.rfernandes@gmail.com tudo minúsculo e o Fernandes é com S sem acento. - Ele me olhou e riu.

- Esperta você ein? Já ia escrever com Z por causa do espanhol.

- Imaginei.

- Prontinho Rachel, agradeço pela a sua vinda até aqui. - Ele pegou na minha mão e todas as dúvidas que eu tinha sobre ele haviam desaparecidos com aquele apertar de mãos.

- Boa Sorte com sua irmã!

- Ah sim, Se eu a conheço bem, ela está ansiosa, não tirava o telefone das mãos hoje de manhã, e ansiedade tira o apetite dela.

Eu também era assim, mas se eu ficasse por muito tempo presa dentro de casa, comia sem parar, a cada hora.

- Imagino.

- Mande melhoras ao Noah!

- Vou mandar.

E uns tapas também

(...)

Quando cheguei no escritório, vi adivinha? Noah sentado na minha cadeira com as pernas estiradas sobre a mesa, era mesmo do feito dele ser teimoso, nem me surpreendi tanto.

- Safado, Cachorro, Vagabundo!

- Olha, você xingou em inglês. - Diz ele dando de ombros

- Você é mesmo descarado ein? Não queria que eu dissesse que estava com intoxicação alimentar, não queria que eu fosse no seu lugar, nem ao menos me avisou que tínhamos esse cliente, agora agradeço a Deus por ter contratado o Pett.

- Falando nele, você iria deixar ele sozinho aqui?

- Senhorita Rachel, que bom que chegou, alguns clientes estão pedindo o desenho deles. - Fala Peter abrindo a brecha da porta

- É Senhora Levinson, Peter, ela é casada.

Olhei para Noah, ele estava de chacota com o meu assistente e o coitado fez um cara que deu até pena.

- Perdão senhora Levinson, não sabia que era casada.

- Ela É, e Comigo!

- Chega Noah! Peter, pode me chamar de Rachel pelo o amor de Deus. Eu sou casada com esse idiota, mas ele é gay e somos amigos.

- Tu..Tudo bem.

Noah se levantou e fez um rosto sério caminhando até o Peter.

- Eu estou de olho em você Peter Jaime Nowark.

- Você? Com esse corpo do esqueleto do He-man? - Dei risada com sua chacota

- Rachel! Não atrapalha!

- Deixa o meu funcionário trabalhar seu palhaço!

- Seu não! NOSSO!

- MEU Porque foi eu que entrevistei e contratei. Peter! - Olhei sério para o pobre que já estava tão confuso que ficou vesgo.

- Me obedeça! - Peter consertou os óculos e abaixou a cabeça.

- Sim senhora Levi..Rachel...- Peter saiu e Noah me encarou

- Como você consegue?

- Consigo o quê? Que me levem a sério?

- Vou reduzir o salário dele. - Ouvi ele grunhir.

- Essa raiva toda só porque o coitado fez a obrigação dele? Você é que é o culpado, não ele. E nem ouse a mexer no salário dele, o coitado precisa pagar as contas.

- Você é muito boazinha, não cansa não?

- Se trabalhasse em um lugar onde comer, se vestir, usar a luz e fazer tudo fosse caro, seu patrão é um escravista, seu salário não desse nem pra pagar as contas básicas, saberia porque sou assim.

- Pessoas como você é que deveriam estar na "igreja", não meus pais!

- Seus pais são assim porque estão em uma "igreja".

- Ou talvez porque eles sejam uns Soberbas. - Pairei no ar ao me lembrar do Júlio e os seus pais e refletir sobre a situação.

- O que foi? - Pergunta Noah

- O Júlio, ele disse que os pais deles são soberbas.

- Eles são religiosos?

- Não. O que me leva a crer que as pessoas usam a religião como desculpa para disfarçar o que são por dentro.

- Me fala como foi. Ele perguntou por mim?

- Nós conversamos sobre o livro dele de suspense, que a propósito eu vou ler porque quero fazer uma capa maravilhosa. Agora sai daqui!

- Eu te fiz uma pergunta! - Rebateu Noah

- Mandou melhoras, agora sai!

- Vou reduzir o salário do Pett ouviu? Aliás porque você chama ele assim? Não podia ser P.J?

- Prefiro Pett mesmo. Agora vai embora!

- Você me ouviu? Se aquele garoto não me obedecer com o ele te obedece...

- Você não é doido de fazer uma coisa dessas, ou quem vai se ferrar é você. Agora Por favor preciso de paz!

- Eu nem queria mesmo. - Ele deu de ombros e fechou a porta.

(...)

Dois Dias Depois eu fiquei focada entre entregar o que deveria aos clientes e ler o livro do Júlio que por acaso era maravilhoso, eu estava cada vez mais empolgada e não conseguia parar de ler. Já estava sendo negligente até mesmo com as ligações da minha mãe, se ela não me ligasse, eu nem iria lembrar.

- Oi Mãe, Desculpa é que eu estou trabalhando.

- Seu pai está perguntando quando vai voltar pra casa.

- Diga a ele que eu consegui visto permanente aqui no país, eu meio que não vou voltar...

- Vai abandonar sua mãe aqui? Você sabe que desde que o seu irmão se enrabichou por uma vagabunda, ele não nos visita mais. E também nem faço questão, ele faz tudo o que ela quer e não me respeita.

Minha mãe Vivian tinha dois filhos, eu e o meu irmão: Reinaldo Junior, eu também o odeio porque ele era um sacana, ele não ensinava respeito a mulher que ele chamava de esposa, e isso só gerava confusão.

- Eu sempre disse que queria morar em um país estrangeiro, agora eu consegui, não acha que deveriam estar felizes?

- Se você estiver segura e feliz, eu estarei em paz minha filha.

Quando minha mãe me falava daquele jeito com aquela voz eu sentia meu coração apertar, ela sempre conseguia o que queria de mim daquele jeito.

- Pelo menos uma visita não acha?

- Sobre isso...mamãe..

- Vai me dizer que não pode fazer isso também?

- Não posso sair do Canadá até todos os meus documentos se consolidarem.

- E quanto tempo demora isso?

- Dois anos.

- Ráchél, isso é sério?

- Sinto muito mamãe, mas vocês podem me visitar, eu pago as passagens.

- Ráchél, você sabe que não dá! Seu pai quase não tem folga, e eu não quero deixá-lo sozinho.

- É só por uns dias...Aproveita que estamos em...Que mês é esse mesmo? - Olhei no calendário

- Outubro, o tempo vai começar a ficar frio, em dezembro, você vai ver neve.

- Eu não sei falar inglês.

- Eu te ensino.

- Eu não tenho mais mente pra isso!

- É só dizer Hello pra quem te cumprimentar, Good Morning, Good Afternoon, ou Good Night. Sabe aquele meu ex-patrão que a filha morava na Austrália? Ele só sabia dizer Hello e se achava o máximo, ainda bem que quando eu xingava aquele escravista filho da mãe, ele não entendia.

- Ele tinha condições para isso eu não tenho. - Comecei a puxar o ar, eu iria me irritar e preferi me despedi.

- Mãe tenho que ir. Fica com Deus e fala para o papai que estou bem.

- Quando vou conhecer minha sogrinha? - Noah chegou de forma atrevida por trás da minha cadeira com um sorriso branco e perfeito de ponta a ponta.

- Não me lembro de você estar fluente em português.

- Eu não entendi noventa por cento da conversa, mas sei que quando você está falando português, é sua mãe no telefone. - Ele sentou no meu colo

- Ela vem no natal?

- Ela não vem dia nenhum. Minha mãe morre de medo de altura, só entra num avião dopada, e SE ENTRAR, porque ela não quer sair de casa.

- Oh merda. Já estava querendo usar o meu terno de bom moço para dar uma boa impressão.

- Você só usou Smoking no nosso casamento!

- Sua mãe tem que saber que você está bem cuidada e que eu sou o marido perfeito.

- Você fala tanta merda que vou agradecer a Jesus por ela não falar inglês.

- Nossa! Para quê ofender?

- Desculpa, estou estressada.

- Quer uma massagem minha linda esposa? - Disse brincalhão

- Espero que saiba dar massagem do mesmo jeito que sabe fazer sexo com homens.

- Cala Boca e relaxa! - Ele começou a massagear os meus ombros e o Noah tinha mãos leves e macias, não estava nem um pouco ruim, meu telefone começou a tocar.

- Alô?

- Oi Rachel aqui é o Júlio, tudo bem? - Foi então que olhei para o programa de edição e meu coração gelou, eu me distraí com a trama do livro e não tive nenhuma ideia para a capa.

- Oi Júlio...Tudo bem? - Digo forçando uma voz tranquila.

- JÚLIO? - Gritou Noah

Coloquei o telefone contra o peito.

- Fica Quieto, Caralho!

- Ihhh Baixou a BR de novo?

- Eu gosto de xingar em português está legal? O Brasil pode ser uma país decepcionante, mas eu nasci lá, eu amo minhas raízes, assim como amo aqui também - Voltei para o telefone

- Está ocupada?

- Não! O que deseja de mim?

- Minha irmã tem um grupinho de amigas chatas que vão se encontrar aqui na casa dela essa semana, queria discutir o livro com você, porque não consigo aturar elas conversarem.

- Pensei que Gays gostassem de fofoca - Pensei alto.

- O que disse?

- Nada! É para que dia?

- Hoje a noite, tudo bem?

Coloquei o celular contra o peito e sussurrei: Estou fodida.

- Não tem como ser outra noite? É que... - Noah toma o telefone da minha mão

- Ela vai! Qual é o horário?

Abri a boca com tamanha ousadia do Noah, sussurrei.

- Seu desgraçado, por que você está fazendo isso?

- Isso, sou eu mesmo Júlio, obrigado por perguntar, as sete é isso? - Tomei o telefone das mãos dele.

- Júlio, desculpa, mas eu nem comecei a sua capa ainda, será que dar para adiar? - Noah me deu um tapa no braço.

- Será que dá para acalmar o fogo na sua bunda? - Sussurrei para ele

- Não tem problema Rachel, eu só não quero ter que aturar aquele grupinho dela.

- Tudo bem? Poderei usar seu notebook?

- Pode sim, vai trazer algo no pendrive?

- O programa de edição.

- Pode ficar a vontade.

- Pergunta se eu posso ir! - Sussurrou Noah

- Não Noah, é um trabalho, o que você vai fazer lá?

- Deixar o encontro mais divertido? Aliás onde tem mulher, tem fofoca.

- Por que não fala que quer sair com o Júlio? Simples assim!

- Eu não sou Normal.

- Ou está inseguro?

- Está falando isso para mim ou para você?

- Do que você está falando?

- Eu vi o seu guardanapo com um número de telefone escrito: Laurel.

- Mexeu nas minhas coisas, seu atrevido?

- Atrevido não, seu marido. E você deixou o pano em cima da mesa de cabeceira antes de guardar.

- Rachel você ainda está aí? - Fala Júlio do outro lado

- Oi, estou sim.

- Então. Tudo certo? As sete?

- Pergunta se eu posso ir. - Insistiu Noah

Olhei para ele vitoriosa

- Tudo certo Júlio, até mais. - Desliguei o telefone.

- VADIA! - Noah gritou em um salto

- Vadia não bebê, sua esposa. - Disse sorrindo.

            
            

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