Capítulo 10 É Meu dever Cuidar de Você

Domingo por volta das 05 p.m, Shaw chegava em sua casa, seu irmão Daniel o esperava no quarto, sentado em sua cama.

- Achei que você não fosse mais chegar!

- Eu não sabia que o senhor era tão curioso assim a respeito de com quem eu saio. - Shaw falou em tom de deboche para o irmão.

- Eu não estou curioso, apenas estava te esperando para nós irmos treinar um pouco, isto é, se você não estiver muito cansado. – Daniel tratou de falar rapidamente, fazendo com que o irmão abrisse um sorriso imenso diante da desculpa esfarrapada dele.

- Não estou, irmão, apenas me deixe trocar de roupa primeiro e depois nós vamos treinar.

- Tudo bem, vou te esperar lá fora, a gente vai ao parque para que possa me ajudar a fazer uma coisa.

Daniel sai do quarto, deixando um Shaw pensativo. Será que seu irmão está armando algum plano mirabolante para descobrir com quem ele passou o final de semana? Logo o menino trata de afastar esses pensamentos de sua mente trocando de roupa e se vestindo adequadamente para um treino.

Não demorou para que ele descesse e fosse de encontro ao irmão mais velho para assim os dois seguirem rumo ao Parque Nacional de New Orleans. Quando chegaram lá, Daniel surpreendeu o irmão mais novo ao tirar uma bola de Futebol Americano de dentro da mochila que estava carregando nas costas. Quando percebeu a cara de surpresa do irmão, Daniel foi logo tratando de se explicar.

- Bom maninho, está começando a temporada e eu gostaria muito que você me ajudasse com algumas jogadas.

- Nossa! Eu achei que nós iríamos treinar defesa pessoal, você me surpreendeu mesmo. – Gabriel Shaw exclamou sorridente.

- Qual é Shaw, desde pequeno você me ajuda com essas jogadas, por que está reclamando justo agora? - Daniel questionou o irmão, que o olhava ainda sorrindo.

- Não estou reclamando, Daniel, é só que eu gostaria que você tivesse me avisado antes, mas já que estamos aqui, vamos jogar.

Quando disse isso Gabriel Shaw pegou a bola de formato oval das mãos do irmão e começou a correr pelo grande espaço verde em que estavam. Durante todo o período do "treinamento" eles corriam, se chocavam um contra o outro, arremessavam a bola e, acreditem, os dois continuaram assim por cerca de uma hora, uma hora e meia quando caíram ofegantes na grama.

- Eu não entendo Gabriel.

- O que você não entende, maninho?

- Você vem treinando comigo desde pequeno, você é mais rápido que muita gente que eu conheço, você tem um lançamento quase perfeito. Por qual motivo você não joga?

- Eu simplesmente não gosto.

- Mas se você não gosta, porque treina comigo durante todos estes anos?

- Daniel, você é meu irmão, logo você é importante para mim e o Futebol é importante para você.

Ao falar isso Shaw levanta um pouco sua cabeça que antes estava sobre o gramado e a coloca sobre a barriga do seu irmão mais velho. Enquanto o menino trocava a posição seu irmão tentava pensar e digerir com cuidado aquilo que acabara de ouvir.

- Como você pode ser assim Shaw?

- Assim como?

- Eu sou seu irmão mais velho, portanto logicamente sou eu quem deveria cuidar de você e fazer seus gostos.

- Bem, Irmãozão, eu tenho você ao meu lado, me apoiando, me protegendo e me mimando e isso já é muito mais do que eu mereço.

- Mimando?

- Sim, ou você acha que eu não sei, por exemplo, que é você quem arruma minha cama bagunçada todas as manhãs? Acha que eu não sei que é você quem assopra minha comida até ela ficar na temperatura que eu gosto? Logo Daniel, treinar com você é o mínimo que eu posso fazer para agradecê-lo por ser esse irmão tão maravilhoso que você é.

- Oh! Então você sabe que sou eu quem faço tudo isso? Porque você nunca me disse?

- Não sei irmão, eu só quero que saiba o quão grato eu sou a você por tudo que você faz para mim. – Gabriel responde sorrindo.

- Isso que eu faço é tão pouco... – Falou pensativo o irmão mais velho.

- Mas ainda assim são coisas que a maioria dos irmãos não fazem.

- Shaw, você é meu irmão mais novo, mesmo que sejam somente dois anos de diferença, sendo assim eu tenho que cuidar de você e te mimar enquanto eu posso, afinal eventualmente a vida irá nos separar.

- Obrigado, Irmãozão.

- Mais eu ainda insisto, se nós dois jogássemos juntos, seríamos os "irmãos imbatíveis".

- Futebol é o seu sonho, irmão, e não o meu. Eu já me sinto imensamente feliz em poder, mesmo que de vez em quando, ajudá-lo a realizar.

- Tudo bem, não vou mais insistir. – Daniel fala agora se sentando também de frente para o irmão mais novo. – Já que estamos tendo esse momento tão afetuoso e tal, você bem que poderia me contar com quem passou o final de semana.

- Você não desiste mesmo, não é?

- Não mesmo.

- Na hora certa você saberá. – Shaw afirma sorrindo da cara de desapontamento que o irmão fez.

- Eu não entendo o motivo de você está tão relutante para me contar, afinal você sabe que eu sei desde muito tempo atrás que você gosta de garotos e não de garotas.

- Não é por isso que eu ainda não te disse quem é, eu só não disse ainda pois não sei se vai dar certo...

- Ok, fazer o quê! – Exclamou Daniel abrindo um sorriso e passando a mão por detrás da cabeça. – Mas me conte, você gosta dele?

- Sim, eu gosto muito, muito mesmo, gosto em uma proporção tão grande que deixou o Ian com medo.

- Com medo de quê? De você dar mais atenção ao namorado misterioso do que para ele?

- Não – Gabriel responde sorrindo – ele tem medo que ele me machuque.

- Calma, o Ian conhece ele?

- Sim conhece.

- Isso é injusto, o Ian conhece ele e eu não. – Reclamou Daniel fazendo biquinho o que fez com que Gabriel Shaw sorrisse do irmão mais uma vez.

- Você conhece, só não sabe ainda que é ele.

- Você sabe que mais cedo ou mais tarde eu irei descobrir não sabe?

- Sim eu sei, porém não é necessário dar uma de detetive, ok!

- Pode deixar.

- Bem, agora vamos embora e talvez ainda dê tempo de ajudar nossos pais a fazer alguma coisa. – Gabriel disse ao se levantar e estender a mão para que seu irmão pudesse se levantar também.

Quando eles chegaram na casa deles, Lilian estava andando de um lado para outro pelo grande salão que fazia parte do bar, o barulho que seu sapato de salto baixo fazia podia ser ouvido de longe.

- O que foi mãe? – Os meninos perguntaram.

- Bem... – Começou a mulher ainda aflita. – Como vocês não estavam em casa esse fim de semana, eu marquei com o pessoal da banda para eles virem ensaiar aqui comigo hoje, porém pelo andar da carruagem e pelo horário acredito que eles não venham mais.

- A senhora quer ajuda com o ensaio, mãe? – Perguntou Daniel olhando para a mulher que havia parado de andar feito louca pelo salão vazio.

- Meus filhos, vocês devem estar muito cansados, já que passaram todo o final de semana fora de casa e quando chegaram ainda foram treinar.

- Mãe, nós somos de New Orleans e aqui nós respiramos música, portanto nunca estaremos cansados demais para desfrutar de uma boa melodia, mesmo que sejamos nós a entoá-la.

- Sendo assim, eu quero a ajuda de vocês garotos.

Daniel se apressou em pegar uma guitarra, Gabriel sentou-se ao piano e Lilian assumiu seu posto como vocal principal. Os meninos em alguns momentos das músicas cantadas pela mãe faziam a segunda voz. Quando terminaram de cantar mais uma música eles começaram a rir de alguma palhaçada que Daniel fez, quando ouviram palmas.

- Eu tenho a família mais abençoada do mundo. – Alberth Shaw afirmou de pé já meio do salão.

- Oi amor. – Lilian cumprimentou o marido.

- Oi papai. – Disseram os meninos mais uma vez juntos, fato que fez com que os dois e também seus pais soltassem algumas risadas.

- Quando vocês dois cantam com a sua mãe é coisa mais maravilhosa de se assistir no mundo, pelo menos para mim.

- Que isso pai, só estamos ajudando a mamãe a ensaiar. – Daniel falou.

- Sim eu vi e foi fantástico.

- Pai, há quanto tempo o senhor e a mamãe não dançam juntos? – Perguntou Gabriel.

- Há muito tempo filho – Se prontificou Lilian a responder no lugar do marido. - Quase não temos mais tempo.

Daniel que já havia captado a intenção do irmão ao fazer essa pergunta, pegou na mão de sua mãe e a guiou até seu pai, então voltou para área de instrumentos e dessa vez trocou a guitarra por um violão Gabriel também saíra do piano ficando somente no vocal. Logo eles começaram a tocar uma linda melodia acústica enquanto Lilian e Alberth dançavam usando todo o espaço daquele enorme salão. Daniel tocava as notas suavemente enquanto a voz de Gabriel Shaw se encaixava perfeitamente com a melodia que saía das notas entoadas pelo instrumento que seu irmão tinha nas mãos.

- Atrapalho algo? – Perguntou uma mulher que estava a algum tempo parada na recepção.

- Senhora Franklin, o que faz aqui? – Perguntou Gabriel Shaw ao perceber a mulher.

- Você não me disse que sabia cantar Gabriel? – Respondeu a mulher.

- Filho, você a conhece? – Perguntou Lílian que ainda permanecia meio que abraçada com o marido.

- Que falta de educação a minha – A mulher falou sem jeito – Sou Brenda Franklin, seu filho é amigo do Benjamin, meu filho e inclusive eles passaram o fim de semana juntos.

Daniel então olhou para o irmão a ponto de soltar uma risada.

- Benjamin Franklin? – Daniel perguntou, mais para o irmão que para a mulher, mas parece que ela não percebeu isso.

- Sim, você conhece meu filho também?

- Conheço eu sou o capitão do time de Futebol americano do colégio. – Daniel respondeu.

- Bem, se a senhora é a mãe do amigo dos meus filhos, logo também é minha amiga, porém o que a senhora deseja? – perguntou Lílian.

- É que na próxima terça feira eu e meu marido vamos completar 25 anos de casados e há tempo eu estou tentando uma reserva aqui. Ontem seu filho me disse que o melhor dia para se conseguir reservar é domingo então eu resolvi vir pessoalmente. – Explicou Brenda.

- Tudo bem, vou olhar aqui na agenda – Dessa vez foi Alberth quem se pronunciou com um sorriso no rosto. – Quanto a vocês meninos, tomar banho e descansar.

Após se despedirem de todos ali eles então subiram para seus respectivos quartos.

- Bem, nós temos sim vaga para esta terça, o que é um milagre pois a noites de terça são as mais lotadas. Ah, tem outro detalhe, as terças feiras é meu filho Gabriel quem canta. – Alberth disse à mulher.

- É mesmo?! Ele não mencionou isso sequer para meu filho Ben.

- Típico dele, pois ele não gosta de ficar se gabando ele é muito reservado quanto a isso. – Lilian falou.

- Bem, neste caso será uma surpresa para todos, mesa para quatro por favor. – Falou Brenda antes de se despedir e ir embora.

Gabriel Shaw estava deitado em sua cama quando seu irmão surge na porta com o travesseiro dele na mão.

- Posso dormir com você hoje?

- Como nos velhos tempos? – Shaw Perguntou.

- Sim, como nos velhos tempos.

            
            

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