Capítulo 4 O Espelho da Alma

Certa vez, alguém falou em um programa de "TV" que os olhos são o espelho da alma. De fato, talvez sejam, pois quando conhecemos alguém muito bem conseguimos dizer o que a pessoa está sentindo, somente olhando nos olhos dela. Talvez quem disse isso esteja certo e os olhos são realmente o espelho da alma, ou talvez só saibamos decifrar os sentimentos das pessoas que realmente conhecemos bem.

-Aquela era só mais uma terça feira comum, e como todas as outras terças-feiras, Ian e Shaw estavam tendo o terceiro período de aula juntos.

- O que você vai fazer depois da última aula? – Questionou Ian ao amigo que estava sentado na carteira ao seu lado.

- Acho que hoje eu irei esperar por você lá na pista de treino de corrida. Já que eles não têm treino hoje deve estar vazio e eu preciso correr um pouco, ou daqui a pouco eu vou estar parecendo um Hipopótamo, imenso. – Respondeu Shaw, fazendo com que Ian risse um pouco alto e o professor viesse a chamar a atenção deles.

Mais uma aula se passou... Chegando a hora do intervalo, Shaw e Ian sentaram-se em uma mesa no meio do refeitório, quando eles iam começar a comer Anny e mais algumas líderes de torcida sentaram-se na mesa deles.

- Como vai o casal mais comentado do colégio? – Perguntou a ruiva em tom de brincadeira.

Shaw olha para as meninas sentadas em sua mesa, mostra o colar com o anel pendurado e responde sorrindo – Estamos noivos.

Anny e as demais meninas pareceram ficar confusas por um tempo até que a moça ruiva quebra o gelo:

- Mas no dia dos testes você me disse que vocês dois eram somente amigos.

Gabriel Shaw olha para o amigo que parecia estar paralisado com a beleza da moça sentada com eles.

- É só uma brincadeira, Anny, nós somos amigos. E a propósito meu amigo aqui está solteirismo em busca de uma namorada, não é Ian? – Gabriel chama a atenção do amigo fazendo com que ele saia do transe.

- Com certeza... Ah, eu sou Ian. É um prazer conhecê-la, senhorita ...

- Anny, e o prazer é meu Ian, mas podemos deixar as formalidades de lado.

Shaw parecia se divertir com a situação, porém eles são interrompidos pelo sino que anunciava o fim do intervalo. Após se despedirem, cada um segue para a sua sala.

O restante das aulas daquela terça, passaram em um piscar de olhos, e como Shaw já havia avisado ao amigo que iria correr, ele seguiu direto para a pista de corrida. A pista do colégio tinha formato circular e possuía arquibancadas de ferro ao redor.

Shaw já havia dado umas cinco ou seis voltas ao redor da pista ele estava um pouco cansado e bastante suado, então ele resolveu tirar a camisa que vestia e sentar-se um pouco para descansar. Quando ele finalmente se senta, sente uma garrafa de água caindo sobre seu colo, com o reflexo do susto ele se levanta ficando de pé com o tronco desnudo bem na frente do menino que arremessou a garrafa para ele. Gabriel Shaw, não era do tipo malhado ele tinha um corpo normal, porém duas coisas se destacavam ali. Primeiro uma tatuagem do símbolo do infinito que ele tinha tatuado na cor preta do lado esquerdo do tronco, já na altura do umbigo dele havia uma cicatriz como se ele tivesse levado pontos ali. Essa última não era tão visível assim, porém o rapaz parado na frente de Shaw, parecia estar reparando em cada detalhe do corpo dele.

– Ben, Benjamin... – Ele continuava parado ali como se estivesse observando cada detalhe do corpo alheio. Depois de chamá-lo mais duas vezes Shaw finalmente conseguiu tirá-lo do transe.

- Ahm... Oi Gabriel – Disse meio desnorteado.

- Oi Benjamin, obrigado pela água!

- Por nada, eu passei por aqui mais cedo e vi você correndo e pensei que talvez você poderia ficar com sede.

- Não pensei que você fosse tão atencioso assim, Benjamim. –Benjamin ficou sem graça.

- Existem muitas coisas que você não sabe sobre mim. E pode me chamar de Ben.

- Você está certo Ben, mas você não deveria estar no treino de Futebol?

- Sim, eu deveria, porém o tio do James se estressou e terminou o treino mais cedo.

- Então quer dizer que o tio do James é o treinador do time, hum... Agora eu sei porque você e seus amigos entraram. – Shaw provocou Ben em tom brincalhão.

- Ei, não é bem assim, não – Protestou - além do treinador o capitão do time também gostou muito de mim, afinal eu sou muito bom.

- Vou ter que bater um papo reto com o capitão desse time, mas antes disso eu vou lá conferir se você joga bem mesmo. – Disse Shaw.

- E se eu ganhar você vai comemorar comigo igual comemorou com seu amigo no dia do teste de basquete? - perguntou Benjamin sem se tocar que Gabriel não sabia que ele estava presente na quadra naquele momento.

- Como você sabe o que aconteceu naquele dia? – Indagou Shaw – você não deveria estar no teste de Futebol neste momento?

- É que aquele dia foram poucos alunos para o teste, então terminamos mais cedo que o teste para o time de basquete.

- Você anda me observando bastante, não é mesmo Benjamin?! – Gabriel questiona com certa malícia no olhar.

- Nossa, agora eu nem posso mais ir assistir o teste de basquete? – Perguntou Ben, com um tom de brincadeira na voz – mas não mude de assunto Shaw, você não respondeu a minha pergunta. Então, você vai ou não vai torcer para mim qualquer dia desses?

- Se você não ficar com vergonha quando eu te levantar do chão e rodar, caso ganhe?!

- Para mim, será uma honra comemorar com você, principalmente dessa maneira. – Falou Bem no impulso do momento.

Por alguns segundos Gabriel se pega admirando Benjamin, até que ele se toca que está encarando o menino na sua frente e fala:

- Sendo assim, então qualquer dia desses eu vou torcer por você, mas agora eu preciso fazer uma série aqui nessas arquibancadas.

Benjamin olhou para Gabriel meio confuso sem saber o que ele quis dizer com " séries na arquibancada", quando Shaw viu a confusão no rosto de Ben, explicou:

- "Séries" quer dizer que eu vou até lá – aponta - em cima e volto correndo.

- Posso te acompanhar?

Após receber um aceno positivo de Shaw, Benjamin também tira a camisa e começa juntamente com Gabriel a subir e descer as arquibancadas correndo. Pelo menos ao que parece nessa atividade Shaw era mais habilidoso que Ben, pois ele já estava parado no ponto de partida enquanto Ben, ainda estava subindo para completar sua última rodada. Quando estava prestes a chegar no ultimo banco, Benjamin fala:

- Percebi que você está de colar novo.

- É, ganhei do meu noivo!

Nesse momento Benjamin se desequilibra e começa a cair. Gabriel ao tentar segurar ele, também perde o equilíbrio e vai de encontro ao chão, fazendo com que Ben caia por cima dele. Os dois rapazes suados e sem camisa ficam se encarando por algum tempo até que escutam alguém tossindo e assustado Benjamin sai de cima de Gabriel.

- Atrapalho alguma coisa? – Perguntou Ian, segurando o riso.

- Não, não... – Começou Benjamin atrapalhado – eu desequilibrei um pouco acabei tropeçando e ao tentar me ajudar Shaw também caiu. Agora se me derem licença, eu preciso ir. – Quando ele já estava saindo apressado Gabriel Shaw segurou ele pelo braço e disse:

- Eu não vou esquecer da minha promessa e você trate de ganhar. – Deixando o menino ainda mais nervoso e envergonhado.

- Olha ele esqueceu a camisa. – Comentou Ian.

- Mas também você deixou o menino constrangido chegando aqui de mansinho assim. – Disse Shaw Sorrindo.

- " Eu vou cumprir minha promessa, vê se ganha" – disse Ian em uma tentativa de imitar a voz de Shaw – Depois sou eu que constranjo o menino não é, senhor Gabriel?!

- Deixa isso para lá, eu vou levar a camisa dele e depois eu devolvo.

- Você gosta dele, não gosta? – Perguntou Ian do nada.

- O quê? Do que você está falando?

- Ah, para Shaw. Eu te conheço há muito tempo e eu vi desde aquele dia no corredor o jeito que você olhou para ele. Não adianta Gabriel, eu sou seu melhor amigo e sei dizer o que você sente só de olhar para você. Só tome cuidado, caras como ele costumam partir o coração de caras como você.

- Desde quando você virou perito em corações partidos? – Perguntou Shaw.

- Eu não sou perito, só não quero ver meu melhor amigo sofrendo por alguém que talvez não mereça ele, eu só me preocupo com você. –Gabriel apenas jogou a camisa dele e de Ben, em seus próprios ombros, abraçou o amigo pelo pescoço e assim os dois saíram dali.