Capítulo 2 Quem disse que amigos não podem se amar

Quatro dias já haviam se passado desde que as aulas começaram, era sexta-feira, dia marcado para os testes de novos membros para os times de Futebol Americano e Basquete do colégio, que aconteceriam logo após o fim das aulas, por voltas das 4:30 pm. Muitos alunos estavam eufóricos, eles queriam tentar uma chance nos prestigiados times do colégio. Porém outro burburinho também estava tomando conta daquele lugar. Quem eram aqueles dois meninos que sempre estavam juntos, sempre sorrindo e se abraçando.

Será que eles eram namorados? Talvez eles fossem só amigos como costumavam dizer, afinal era 1990 e ninguém teria a coragem de ser tão explícito assim.

Gabriel estava sentado nas arquibancadas da quadra de basquete e já que não tinha a última aula, estava esperando para ver o teste de Ian, na verdade ele já tinha certeza que o amigo iria entrar para o time, afinal ele jogava muito bem. Shaw estava distraído e não viu Benjamin se aproximar e sentar ao seu lado.

- O que você faz aqui sozinho, chegou um pouco cedo para o teste, não? – Questionou Ben, fazendo com que Shaw prestasse atenção nele.

- Anh... Oi Benjamin, eu não vim para o teste. – Disse Gabriel Shaw olhando para o garoto ao seu lado.

- Como assim? – Perguntou Ben, meio confuso.

- Quer dizer – disse Shaw sorrindo – eu vim sim para o teste, mas não foi para fazê-lo, vim para torcer pelo Ian.

- Vocês dois não são mesmo namorados? – Indagou Benjamin meio sem jeito.

- Porque isso interessa tanto a vocês? – Perguntou Shaw.

- É que vocês estão sempre juntos, a todo tempo estão se abraçando e sorrindo e até quando têm aulas diferentes, vocês dão um jeito de se ver.

- Parece que você acompanha bem de perto no nosso dia a dia. – Disse Gabriel Shaw, fazendo com que Benjamin ficasse sem graça.

- Não se trata de observar vocês muito ou pouco a questão é que de fato é muito visível e o colégio todo comenta e tanto você quanto ele parecem não se importar. – Ben disse agora olhando para o lado tentando disfarçar seu interesse no assunto.

- Realmente nós não nos importamos, Benjamin. Eu e o Ian somos amigos há um bom tempo e sim, se você quer realmente saber, nós nos amamos muito. Dois amigos não podem se amar incondicionalmente? – Shaw agora possuía total atenção do menino ao seu lado.

- Eu não sei Gabriel, mas não é comum esse jeito de vocês. Veja eu, por exemplo, gosto muito dos meus amigos, mas não fico o tempo todo abraçando e falando que gosto deles. – Falou tentando entender como era a amizade dos dois.

- Me responda, Benjamin, quantas vezes você já disse aos seus amigos que ama eles?

- Com essas palavras, nunca.

- Essa é a diferença entre você e eu, Benjamin. Eu não tenho vergonha de dizer o quanto eu amo o Ian e o quanto ele é importante para mim, eu não me importo se as pessoas vão pensar se nós dois namoramos ou não. O Ian é o meu porto seguro é luz que ilumina minha vida, então por qual motivo eu deveria ter vergonha que todos saibam o quanto ele é importante para mim?

- Você deve estar certo Gabriel, mas é que... Sei lá, as pessoas não estão acostumadas a verem dois homens serem tão grudados.

- Então o problema está no fato de nós dois sermos homens? Bem, acho melhor as pessoas se acostumarem, eu não irei deixar de demonstrar carinho ao meu melhor amigo só porque as pessoas acham estranho. – Disse com uma tremenda calma na voz.

- Sendo assim, Gabriel, desejo boa sorte ao seu amigo. Agora eu tenho que ir para o meu teste de Futebol Americano. – Concluiu e saiu deixando Shaw sozinho novamente.

Benjamin caminhou até o campo onde seria o teste pensando em tudo que Shaw havia lhe dito e a verdade é que ele nunca havia conhecido alguém como ele, alguém que não tem medo de demonstrar o que sente, alguém que não se importa com o que as outras pessoas pensam, desde que quem esteja ao seu lado saiba o quanto é importante para ele. Ben não sabia ao certo o que estava acontecendo, porém, depois de ter tido essa conversa com Shaw a vontade de conhecê-lo e estar perto aumentou e passou a incomodar Ben, porque ele nunca se sentira assim antes.

Era a hora marcada para o teste e a quadra que antes estava vazia agora já se encontrava cheia de adolescentes. Shaw olhou ao redor e pôde ver Ian se aquecendo na quadra, ele então abriu um sorriso, já conhecia de cor até a forma que o amigo se aquecia antes do jogo. Uma menina ruiva de olhos verdes e cabelos encaracolados sentou-se ao lado de Gabriel e puxou assunto.

- Veio ver o teste do seu namorado? –Indagou a menina

Gabriel olha para a menina e por alguns instantes fica admirado por sua beleza.

- Eu vim ver o teste sim, mas o Ian, suponho que você esteja falando dele, não é?! Pois bem, ele não é meu namorado, mas sim meu melhor amigo.

- Mas todos no colégio comentam, vocês só vivem grudados se abraçando e tudo mais, então eu pensei que fossem namorados, eu não falei por mal, eu não me importaria se vocês fossem. – Disse a menina

- Tudo bem, sem problemas. Eu me chamo Gabriel Shaw.

- Eu sou Anny, estou nas líderes de torcida esse ano.

Após este pequeno diálogo os testes começaram e Shaw não tirava os olhos da quadra. Já no campo de Futebol Americano os testes passaram em um piscar de olhos, pois não haviam muitos participantes devido a fama de durão do treinador. Quando terminou o teste Benjamin saiu correndo para a quadra de basquete com a desculpa de querer ver o final do teste deles, mas ele estava mesmo era querendo reencontrar Shaw.

Ao chegar na quadra tanto ele quanto James e Dave que o tinham acompanhado ficaram surpresos com a cena. Gabriel Shaw estava abraçado a Ian suspenso do chão, sendo rodado pelo amigo, os dois riam e Shaw parabeniza o amigo de forma única, como se não houvesse mais ninguém ali, naquela quadra. Benjamin não conseguiu conter o riso, porém o riso dele não era um riso de deboche como o dos amigos que estavam ao seu lado, ele estava sorrindo por lembrar que Gabriel só se importava com quem era importante para ele, quanto às outras pessoas... Bem, era isso que elas eram, somente as outras pessoas.

- Você trouxe o seu namorado para torcer por você? – Perguntou o treinador Leroy

- Ele veio torcer por mim sim, treinador. Mas ele não é meu namorado é meu melhor amigo. – Respondeu Ian

- Mas o pessoal comenta que vocês dois são namorados.

- Dois amigos não podem se amar incondicionalmente? – Perguntou Ian ao treinador.

- Pode sim, Ian, e eu também não me importaria se ele fosse seu parceiro. Você está aqui para jogar e desde que você jogue bem eu não me importo com quem você deita no fim da noite.

- Nesse caso, treinador Leroy, até amanhã no treino. Agora eu e meu amigo temos que ir. – Ao dizer isso, Ian estendeu a mão para que o treinador apertasse e saiu.