Capítulo 5 Outra face

Existe uma conexão tenra entre a existência de vida além da terra. Nós, humanos, nos contentamos com a ilusão de segurança, nos agarramos a isso porque não podemos lidar com o desconhecido. Não podemos conviver com algo que não podemos controlar. Mas quando o véu da ignorância é finalmente rasgado e os raios de luz da verdade brilham, como se fazer de cego perante as evidências? Posso responder isso! À terra sabia, sempre soube, mesmo assim instaurou a dúvida ao invés de afirmar as suspeitas.

Não posso culpar o governo humano por me sequestrar, mas posso me ressentir pelas mentiras e alienação. Agora prestes a pisar em outro planeta percebo que à terra é só mais um dos milhares que existem no vasto e infinito universo. A menininha que segura minha mão e aquece meu coração com seu sorriso, me faz querer tentar um novo recomeço, mas os dois machos as nossas costas me fazem temer meu destino.

Amor ou ressentimento?

Companheira ou escrava?

Não sei muito sobre esse povo além das pesquisas que pude ler nesse curto período de viagem. Um povo forte, inteligente, evoluído e um tanto selvagem apesar da fachada polida de extrema beleza. Apesar de todas as pesquisas que li ainda tenho muitas dúvidas.

Zaff pega Catarina e põe sob seus ombros, dessa vez estou segura que nada acontecera a criança. Dom resmunga algo sobre um líder se portar de forma culta em ocasiões assim, mas o loiro continua andando não muito disposto a lhe dá atenção.

Zaff e Dom compartilharam a cama comigo algumas vezes para dormir, aparentemente a discórdia se estabeleceu entre o casal depois que me recusei a servir como amante de Zaff. Aparentemente ele pensa que humanas se apaixonam e se entregam somente ao seu escolhido. Dom discordou dizendo que Zaff pesquisou sobre a monogamia humana e deveria ir, além disso, para entender. No final da discussão Zaff chamou Dom de trapaceiro e depois disso eles nunca mais se tocaram ou dividiram o mesmo recinto.

Zaff não insistiu ou se forçou a mim, apenas se aproximou de Catarina a ponto de a pequena mencionar começar a chama-lo de ¨Pepis¨. Ela o apelidou assim devido ao desenho que assiste diariamente no 'tablet', pepos é um boneco amarelo seu formato se aproxima ao de uma banana. Dom não se aproximou de Catarina, depois da briga também não tocou em mim. Estou no meio dessa guerra fria e não faço a mínima ideia de como sair.

- Ele parece chateado. - Puxo conversa com Dom que caminha ao meu lado e direção ao portão de saída.

- Você é o motivo disso. - Ele para de andar e me encara, seus olhos continuam frio, nada dourado, nada quente.

- Não me culpe, eu sou a única que não queria está aqui. - Paro de caminhar e enfrento ele.

- Por que você o recusou? - Ele mantém o tom de voz comedido, mas a exigência está implícita em sua postura.

- Não estou acostumada a essa situação. - Rebato. Aproximo-me, ele é bem mais alto, mas não me intimido.

- Você pareceu bastante acostumada comigo. - Sua voz está carregada de luxúria, seus olhos acendendo em dourado. O calor se enredando e nos unindo de forma magnética. Dou um passo para trás tentando evitar que ele se aproxime demais.

- Vou falar com ele.-Sua voz se torna neutra novamente e Dom assume um semblante sério, continuamos a caminhar em silêncio.

Duas comitivas estão nos esperando, mulheres em seus vestidos e armaduras cheios de pompa, homens trajados com seu uniforme de honra, crianças bem vestidas e sorridentes de ambos os lados.

- Seja bem vindos de volta meus senhores. - Uma mulher jovem faz uma reverência um tanto exagerada. Catarina olha tudo com curiosidade e as crianças a encaram com mais curiosidade. Os homens e mulheres me encaram, uns com curiosidade e outros com um pouco de reprovação talvez. Todos eles são altos, até as crianças são um tanto evoluídas e desconfio que aparentam ser mais velhos que sua idade.

Dom e Zaff seguem e tento acompanha-los.

- Escrava fique um passo atrás de seus mestres ou será castigada. - A mesma mulher que a reverência me impedi de seguir.

- Deixe-a, ela não deve ser importunada. - Zaff ordena. A mulher se afasta após sussurrar um pedido de desculpas contra a vontade. Caminho até Zaff e seguro sua mão, alguns olham espantados e outros mantém o semblante neutro.

- Não precisa ter medo, logo se acostumará. - Zaff sussurra e beija minha testa. Catarina se aninha contra o peito dele. Dom nem mesmo olha em minha direção, totalmente distante novamente.

- Meu senhor deseja algo de especial além das instruções que nos enviou? - Um homem moreno alto caminha ao nosso lado.

- Os quartos estão prontos? - Zaff mantém sua expressão neutra enquanto conversa com o servo.

- Sim, às quatro suítes todas ligadas a uma área em comum. Deseja que acompanhe as damas? - O servo sorrir para nós de forma amigável.

- Estou cansado, diga a Dom que lide com as questões pendentes. - Zaff guia o caminho sem esperar por respostas. As grandes portas se abriram revelando o átrio mais bonito que já vi, a decoração rustica misturada com a tecnologia alienígena só transformavam a experiência em algo ainda mais excitante e curioso.

- E lindo, não é? - Zaff põe a pequena Catarina nos braços de uma serva que se aproximou silenciosamente.

- Sou sua escrava? - Não perco tempo e vou direto ao ponto.

- Sim, mas talvez você queira ouvir um pouco sobre isso antes de julgar. - Zaff se aproxima, seus olhos não deixam os meus e uma confusão de sentimentos começa a borbulhar dentro de mim.

- É tradição que lideres possam ter escravas, uma tradição que não aprovo. Mas é antiga demais para ser alterada ou banida, já está fincado no coração do nosso povo que qualquer mulher ou homem de outra espécie ligada aos líderes é escravo(a). - Zaff continua se aproximando até que não reste espaço entre nós.

- Quem são vocês? O que representam? - Brinco com o colar de metal em seu pescoço, a camisa dele está aberta revelando um pedaço tentador de pele.

- Um casamento arranjado, meus pais prometeram minha irmã a família de Dom. - Zaff põe o dedo sob meus lábios para que eu não interrompa.

- Minha irmã se apaixonou por outra pessoa e fugiu deixando a responsabilidade sob mim. Dom e eu nunca foi bem-visto já que não sou o primogênito de meus pais, mas a lei é a lei. Na ausência da primogênita, assumi suas responsabilidades, ficar com ele foi fácil apesar de todo problema de todas as brigas. Ele pode parecer frio como pedra, mas Dom é o que mantém minha mão pesada nos eixos. - Zaff retira os dedos dos meus lábios e faz uma leve carícia no meu rosto.

- Mas sexualmente falando como funciona? - Minha respiração ofegante não me deixa esconder todas as coisas lascivas passando em minha cabeça.

- Não a rótulos aqui, querida. Mas você quer saber se nós fodemos? - Zaff me puxa, unindo firmemente nossos corpos.

- Penso que você vai ter que descobrir. - Ele sussurra. Um arrepio percorre meu corpo e quando estou prestes a beija-lo...

- Desculpe interromper, meu senhor, mas como gostaria da água para banho? - A serva se mantém de costas de forma respeitosa.

- Cuidarei disso, obrigada. - Respondo, minha voz soa firme, apesar do meu nervosismo.

- Costumo ser exigente com meus banhos. - Zaff sorri, dessa vez é brilhante e lascivo. Admito estar com saudade dessa versão dele.

Sou levada nos braços até o que parecer ser um elevador, alguns minutos depois as portas do elevador se abrem revelando um cômodo amplo e vasto, algo parecido com um apartamento de luxo na terra uma sala ampla com vários dispositivos eletrônicos, uma cozinha aberta com balcão americano e uma grande área externa com uma vista de tirar o fôlego da paisagem verde, azul e vermelho da vegetação, lagos e montanhas do novo planeta, uma grande piscina natural de águas aquecidas faz parte desse cenário. A nascente faz caminho através da parede rochosa. Olho para Zaff extasiada e confusa, ele dá de ombros e fala "Graças à tecnologia e a natureza". Grandes espreguiçadeiras e uma mesa muito bonita complementam o visual.

Zaff me guia até o apartamento novamente. Ele toca na parede da cozinha e um compartimento se abre revelando outro cômodo ainda maior depois de um corredor, ao final uma sala circular e quatro portas.

- Nossos quartos. - Zaff me incentiva a ir em frente e olhar os quartos.

- Estamos cansados, talvez seja bom dormir um pouco. Qual seu quarto? - Tento parecer confiante, mas Zaff é um caminho desconhecido. Ele fica tenso, a suavidade entre nós se vai em um piscar de olhos.

- Não. - Zaff me encara por alguns segundos antes de soltar minha mão como se ela pegasse fogo.

- Por quê? - Me sinto rejeitada e confusa.

- Ele pressionou você? - Ele se encosta na parede enquanto parece analisar a situação.

- Ele não está me forçando. - Digo, mas Zaff parece desconfiado. Ele morde os lábios sem perceber e parece indeciso sobre o que fazer comigo. Antes que ele decida estupida seguro seu pescoço e o beijo, a princípio lentamente, mas o beijo evolui e uma luta por dominação começa. Minhas mãos são retiradas do seu pescoço e agora estão presas acima de mim, em algum momento fiquei contra a parede e corpo grande de Zaff paira sobre o meu.

- Não sou Dom querida. Você pode ter sido a primeira mulher dele, mas já estive com muitas. Eu comando, não você. - Zaff morde minha orelha, isso somado a suas palavras me causam um estremecimento.

- Você parece feito para obedecer. - Esboço um sorriso afiado ao perceber que atingir o alvo. Ele parece excitado e transtornado.

- Você é boa em fingir que me quer, mas não boa o suficiente. - Ele se afasta e me deixa sozinha.

As lágrimas de frustração enchem meus olhos, mas sou orgulhosa demais para deixá-las cair, talvez seja a hora de começar a me acostumar a esse novo planeta.

                         

COPYRIGHT(©) 2022