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- Como foi seu primeiro dia de aula, Raquel? - A mãe perguntou.
Raquel jogou a mochila no sofá e caiu sobre ele, ela desejava tanto pelo final de semana, só de pensar em ter que ir para a escola no dia seguinte, ficava angustiada.
- Nada bom, mãe. Vou terminar o ensino médio como a garota que mora na roça
- E por que você deixa elas falarem assim de você? Reclame com seus professores, com os gestores da escola, isso não pode continuar desse jeito.
- E você acha que resolve? Fora que vou parecer ter cinco anos. O engraçado é que ninguém tira sarro do Gui. Para você ter ideia, as mesmas meninas que me desprezam, ficam babando por ele, hoje mesmo uma delas se aproximou de mim, toda simpática, queria saber o que ele era meu e até fez o favor de comprar meu salgado para que eu não precisasse esperar na fila.
A mãe ficou ouvindo atentamente, sem saber muito o que dizer. Gui era um garoto bonito e para dona Eva, era normal as meninas se interessarem por ele.
- Talvez seja esse o problema. - Ela pareceu pensar em voz alta.
- Que problema? - Raquel sentou para ouvir.
- Ele é homem e você mulher.
Ela voltou para cozinha como se tivesse dito algo que fizesse todo o sentido.
- Uai? E o que isso tem a ver? - Ela levantou e foi atrás da mãe. Dona Eva mexia a comida que estava no fogo, parecia não ter mais nada a dizer.
- Raquel - a mãe colocou a toalha de prato no ombro e olhou para a filha - As mulheres costumam ser mais competitivas do que os homens, o problema não é você morar na fazenda, mas ser mulher.
- Ah mãe! Isso deve ser o que toda mãe diz para as filhas. - Ela pegou uma maçã e saiu.
- Kel, devolva essa maçã aqui, o almoço já está pronto, depois você não almoça direito!
- Estou faminta, mãe. Vou almoçar com certeza. - Ela bateu a porta do quarto.
- Não bate essa porta! - Gritou a mãe da cozinha.
Raquel conectou seu celular na caixa de música e selecionou as canções que gostava de ouvir quando estava deprimida, nenhuma delas a ajudava em nada, mas ela não se sentia sozinha quando as ouvia e podia chorar e reclamar da vida. Que para ela parecia dura demais.
- Raquel, o Gui está aqui, quer falar com você. - A mãe disse atrás da porta.
- Fala que agora não estou afim de conversar.
- Está bem, vou dizer isso a ele.
Ela não conseguia entender mas sentia-se traída. Ele era como um irmão e doeu vê-lo ser simpático com a garota que a humilhava. Não parecia justo, ele tinha que ignorá-la, mostrar seu descontentamento pela forma que sua "irmã" era tratada. Com certeza ele percebeu que a deixou chateada. Ela mal falou com ele no trajeto para casa, fingiu um cochilo e quando chegaram, na fazenda, desceu do carro sem ao menos dizer tchau.
- Gui - disse a Eva ao chegar na porta - Ela está descansando e não quer falar com você agora, depois vocês se falam, pode ser?
- Dona Eva, será que fiz alguma coisa que a deixou chateada? Ela nem falou comigo na volta, eu sei que ela não estava dormindo.
Raquel colocou o ouvido na porta de seu quarto para ouvir o que eles falavam, ela teve vontade de abrir e dizer que ela estava dormindo sim e que ele não tinha o direito de questionar seu sono, mas percebeu que seria infantil.
- Gui, volte daqui uma hora, aí você pergunta para ela, mas se ela está chateada, deve ser pelo o interesse das meninas que não gostam dela em você.
- Mãe! - Ela tampou a boca com as mãos ao perceber que deixou claro para eles que estava ouvindo a conversa.
- Raquel, quero falar com você! - Ele gritou de fora da casa - Me deixe falar com ela, dona Eva?
- Pode entrar, Gui. Senta aqui no sofá, dessa vez ela vai ter que te receber, não é mesmo Raquel? Já que estava aí, ouvindo a conversa, é porque perdeu o sono!
Ela ficou andando de um lado para outro em seu quarto, sem saber o que dizer ao amigo, decidiu encará-lo.
- Gui, não estou chateada pelas meninas estarem interessadas em você, só não gostei de ver você tão a vontade na presença delas. Principalmente depois de saber o que elas fazem comigo. - Falou na defensiva.
- Kel, vamos dar uma volta pela fazenda? Deixo você cavalgar no Trovão.
Eles sempre brigavam pelo o Trovão. Um cavalo Mangalarga Machador. Ele é o cavalo mais bonito da fazenda e já tinha sido o mais bravo também.
- Nem pensar - interveio Eva. - Já está na hora do almoço e se saírem para cavalgar agora, você perderá o horário.
- Podemos dar só uma volta pela fazenda, então? - Gui olhou para as duas, esperava que Eva permitisse um passeio rápido antes do almoço, ele precisava entender o que passava na cabeça da amiga.
- Se a Kel concordar, tudo bem por mim, mas não demorem. Aproveitem e tentem ver onde foi parar a Verdinha, não vi ela hoje, ela não me chamou e nem assobiou para os cavalos.
Verdinha, era um papagaio que vivia na fazenda desde que a Kel se lembrava. Ela apareceu na fazenda a procura de alimento e fez do lugar sua nova moradia, às vezes ela sumia, mas sempre voltava, recebeu esse nome carinhosamente de Eva, ela se afeiçoou pela ave que tornou-se sua companheira.
Todas as manhãs e finais de tarde, quando estava por ali, a ave chamava por Eva, ela também assobiava para os animais e ajudava Paulo a recolher todos eles, quando não assobiava, ela repetia os mesmos comandos que Paulo dava aos bichos.
- Eu vou com você - respondeu Kel.
- Ficarei atento quanto a ave, dona Eva, ela deve ter saído para namorar, logo volta.
Os dois saíram pelo campo, andavam lado a lado, mas caminhavam em silêncio, o dia estava quente, era fevereiro, verão, e Kel, pensou que talvez mais tarde pudesse dar um pulo na piscina, poderia chamar a Silvia, sabia que o Gui não toparia o convite, ele provavelmente ia ajudar o pai no campo ou estudar.
- Kel... Eu não falei nada para se zangar. Aquelas meninas estavam animadas com o resultado do jogo. Nunca vou concordar com a maneira que elas tratam você.
- Eu sei, Gui, mas me incomoda saber que elas aceitam você, mas a mim não.
Eles sentaram-se no morro mais alto da fazenda, à vista dali era linda.
- Eu não sei o porquê disso. Quer que eu fale para elas que também moro na roça?
Ele encostou o corpo nela que se desequilibrou com o peso.
- Não, claro que não! E elas sabem que você mora na fazenda. Minha mãe me disse que por você ser homem, elas te aceitam - Ela deu um meio sorriso para o amigo.
- Vocês mulheres são muito competitivas - Ele puxou um fiapo de grama do chão.
- Foi o que ela disse. Mas não estou competindo, só queria ser aceita.
Ele a envolveu em seus braços.
- Eu te aceito, Kel! Te acho incrível e serei sempre seu "irmão mais velho". E sabe quem mais te aceita? - Ela olhou para ele curiosa.
- A Sílvia, seus pais, o João e a... como era mesmo o nome daquela garota que morou muito tempo aqui com a gente?
- Estela.
- Isso mesmo. A Estela gostava muito de você. Pena que eles se mudaram daqui. Lembra quando corríamos atrás de vaga-lumes?
- Sim, parece que foi ontem, né? Quando me lembro da nossa infância não acredito que fomos capazes de amarrar linha no corpinho da cigarra só para ver a bichinha se debatendo e controlar o voo dela como se fosse uma pipa - ela riu.
- Era ideia do João, nem acredito que fomos capazes disso. Mas o que sinto falta mesmo, são das noites de lua cheia...
- É mesmo - completou - Era o único dia que podíamos brincar a noite, já que não tínhamos energia elétrica, a não ser dentro de nossas casas e foi ela que iluminou nossas noites no campo e brincadeiras noturnas.
- O melhor mesmo era brincar de esconder naquela escuridão, mesmo com a lua iluminando, lembro da sua cara de medo toda vez que ia procurar um esconderijo.
- Claro, eu antecipava o susto de ser encontrada - falou sorrindo.
- Sabe, Kel, tivemos uma boa infância e essas boas lembranças são a prova disso.
- Você tem razão. Posso ser caipira, mas amo minhas lembranças no campo.
- Sei que você não gosta quando te digo essas coisas, mas a verdade é que Deus não nos abandona e quando aceitamos a pessoa que Ele nos criou para ser, não nos importamos mais com aquilo que os outros falam de nós, o que realmente importa, é o que Ele pensa. Sua palavra diz que os pensamentos Dele, ao nosso respeito, são pensamentos de paz e não de mal e ainda diz que Ele nos dará um futuro e uma esperança, Kel, já parou para pensar? Fico imaginando o quão perfeito será o futuro que Ele preparou para nós e a certeza disso é o nosso passado, Ele sempre cuidou muito bem de nós.
- Ai, Gui, lá vem você de novo com esse assunto de Deus, desde que passou a ir naquela igreja ficou chato!
- Tá vendo, é o que acabei de dizer, eu não me importo mais com esse tipo de comentário - Ele riu e seus olhos brilhavam.
Kel sabia que ele dizia aquilo com sinceridade e convicção, ela queria sentir isso também, mas não admitia.
- Ah, oras! Então minha opinião não importa?
- Não é que não me importo com o que você diz, mas é que isso não muda a convicção que tenho aqui dentro - ele bateu a mão no peito - e essa é a mesma confiança que gostaria que você sentisse. Mas tudo bem, não vou te falar sobre isso por hora, só quero que saiba que você é especial, Kel, mesmo que as meninas não enxerguem isso. É a garota que compartilho minhas lembranças - ele estendeu a mão para ela - Agora vamos, você não pode se atrasar para o almoço.
- Você almoça com a gente hoje?
Ela colocou o braço na cintura dele e ele apoiava o braço em seu ombro.
- Hoje, não, Kel, minha mãe está me esperando.
- Pensei em nadar mais tarde, mas com certeza você não aceitaria o convite, né?
- Não mesmo. Vou ajudar meu pai no campo. Não sou o filho do dono da fazenda como você, lembra? - Ele a fitou com as sobrancelhas arqueadas.
- Meu pai não se importa.
- Mas o meu sim! Ele precisa de ajuda.
Ele deu um beijo na testa dela em despedida, ela abanou a mão e entrou para almoçar.
- Que bom que chegou no horário, vai lavar as mãos antes de sentar para almoçar.
- O papai não vai vir almoçar?
Ela aproveitou e jogou uma água no rosto, se olhou no espelho e percebeu que o rosto estava vermelho por causa do sol. O almoço era servido sempre às 12h30m, ela conferiu o relógio, eram 13h, o que será que fez com que o pai se atrasasse? Ele era sempre o primeiro a comer.
- Ele precisou chamar um veterinário para ver a Badocha, seu pai acha que já está próximo o parto e pediu para ele conferir se está na hora de transferi-la para o piquete maternidade.
Raquel sabia como funcionava, viu isso a vida toda. Sempre que uma vaca estava para dar cria, o animal era transferido para essa área, que ficava dentro da fazenda, mas lá, só as vacas que estavam para dar cria podiam ficar, o pasto não podia ser alto, para que o pai do Gui conseguisse enxergar os animais de sua casa, de qualidade e disponibilidade adequada; livres de plantas tóxicas ou com espinhos.
- Então vamos comer só nós duas - ela puxou a cadeira e se sentou - Pensei em nadar mais tarde, mas acho que será só eu. Se a Silvia morasse por aqui ou se a gente não morasse tão longe da cidade...
- Quantos ses, ein Raquel? O Gui não vai entrar com você?
Eva colocou as panelas sobre a mesa para poderem se servirem.
- Não. - ela fez uma careta decepcionada - ele disse que vai ajudar o pai. Provavelmente vai ficar de olho na Badocha enquanto seu pai faz as outras tarefas.
- O Gui está certo de ajudar o pai, é o único filho dele. Você soube que ele pretende fazer veterinária?
Ela deu um gole em seu suco.
- Sim, ele é uma besta, vai ganhar mal e continuar trabalhando feito doido na fazenda dos outros.
- Não fale assim, Raquel, toda profissão tem seu valor e o Gui é muito esforçado, tenho certeza que vai se dar bem em qualquer profissão que escolher.
- Podia escolher uma que desse a ele mais dinheiro e qualidade de vida.
Ela levantou para colocar o prato na pia.
- A louça é sua hoje.
- Aff! - Ela voltou para a pia.
- Não sei porque reclama, na maioria das vezes você não faz nada.
Eva cobriu a comida com a toalha de prato para aguardar o marido e se retirou.
Pelo menos o Gui tem uma ideia do que estudar! Se as meninas vissem ele capinar, limpar o curral ou dirigindo aquele trator, talvez percebesse que ele é igual a mim. Ainda por cima quer ser veterinário, sinal que gosta dessa vida. Eu não, quero mais é ir para a cidade, viajar, conhecer o mundo. Chega desse rótulo!
- Olá, minha filha! - O pai deu um beijo em sua cabeça - Não sabia que a louça era sua hoje, deveria ter vindo mais cedo só para te ver lavar meu prato.
Falou com divertimento.
- Ainda bem que estou no último prato, ela sorriu para ele - Como está a Badocha? Foi transferida mesmo?
- Sim, o Gui está lá com ela, disse que vai ficar de olho. Esse rapaz puxou ao pai, muito cuidadoso com os animais.
- É, não é a toa que não quer largá-los.
Ela fechou a torneira e secou as mãos.
- Como assim? Pensei que ele fosse embora ano que vem para estudar...
O pai dela era um sujeito com uma aparência engraçada, ele comia de colher e segurava o cabo com todos os dedos das mãos, seu prato de comida parecia uma montanha, seu cabelo vivia desgrenhado, só tirava as botas para dormir, seu pé era tão branco que Kel acreditava que eles nunca receberam a luz solar; ele estava acima do peso e vivia fazendo promessas que iria emagrecer, mas não conseguia diminuir a quantidade de comida no prato e nem os ataques noturnos à geladeira. Certa vez, Kel escondeu as guloseimas prediletas dele, achando que estava o ajudando, no outro dia, ele apareceu com duas sacolas cheias de novas guloseimas, disse que era seu vício, não conseguia viver sem.
-Mas ele vai! Disse que seria veterinário. - Ela balançou a cabeça.
- E qual o problema nisso? - O pai falou com a boca cheia.
- O problema é que ele não quer sair dessa vida e nem crescer nela.
- Nossa, Raquel! Não sabia que nossa vida era tão ruim.
- Não, pai, não é isso que quero dizer, mas é que meu desejo é fazer algo diferente e não continuar no campo.
Ela colocou o queixo em seu ombro e ficou ali, abraçada nas costas do pai.
- Então você vai seguir o exemplo do seu tio! - Falou decepcionado.
- Não sabia que era tão importante para o senhor eu continuar por aqui.
- Você é minha única filha, Raquel, tinha esperança que quisesse tocar a fazenda quando eu partir.
- Eu ainda não decidi nada, papai. Só estou dizendo que não gostaria de ficar presa aqui. Mas só tenho 15 anos, tem muito chão pela frente, não é mesmo?
- Sim, tem razão!
Ela beijou a bochecha do pai e foi para o quarto.
Raquel conferiu as horas no relógio e notou que ainda tinha quatro horas de luz solar, pensou que talvez, a mãe de Sílvia, a deixassem passar o resto da tarde com ela, pelo menos, não nadaria sozinha. Ela pegou o celular para ligar para a amiga, mas estava fora de área, isso sempre acontece! Ela abriu a porta do quarto e foi para fora, achou que conseguiria sinal lá. Virou o celular de um lado para o outro, o levantou e fechou os olhos por causa da claridade.
- O que é isso, Raquel? Uma espécie de ritual?
João estava passando por ali e parou para acompanhar o drama da garota.
- Não, né! Só estou tentando sinal para ligar para a Silvia.
- Você já tentou tirar essa capinha bonita do seu celular? Às vezes ajuda.
- Por que minha case atrapalha no sinal?
- Ela é de metal, bem bonita, mas, li algo que esse tipo de material pode fazer desviar o sinal. Vale a pena tentar.
Kel retirou a capinha nova do celular e imediatamente o sinal voltou, ela ficou surpresa.
- Funcionou, João, funcionou! - Ela gritou empolgada.
O garoto que já estava longe, levantou o braço para o alto em comemoração.
Ela voltou para o quarto e teclou o número da amiga.
- Oi Silvia!
- Olá Kel!
- O que acha de passar a tarde aqui? Você podia trazer seu biquíni e aproveitar a piscina comigo, o que acha?
- Seria perfeito! Mas depende da minha mãe, né? Não sei se ela vai querer me levar aí a essa hora em plena segunda-feira.
- Pergunta! Quem sabe ela deixa.
- Mãeee! - Kel conseguiu ouvir a amiga gritar. -Me leva na casa da Kel?
Fez um silêncio, ela não conseguiu ouvir o que a mãe da amiga dizia.
- Ela não deixou, né?
- Não, Kel. Disse que se eu quiser ir aí no final de semana tudo bem, mas a essa hora não.
- Então você podia mesmo vir no final de semana e dormir, o que acha? E aí podemos combinar de você ir comigo na Feira de Máquinas que vai ter mês que vem em Capelinha e todo mundo aqui da fazenda vai, sempre vamos no sábado, você poderia ir com a gente, é longa a viagem, mas é gostoso.
- Não curto muito ficar o dia todo em exposições, Kel. Ainda mais exposição agrícola que não entendo nada.
- Eu também não, mas sou obrigada a ir, queria que me fizesse companhia.
- O Gui vai?
- Sim, é claro que ele vai, aquele lá ama esse tipo de feira. - Ela olhou pela janela do quarto e viu Gui conversando com seu pai agitado. Pelo jeito a Badocha deu cria.
- Então eu vou. - disse animada.
- Você vai? - perguntou incrédula.
- Sim, se o Gui vai, já tenho um bom motivo de suportar passar o dia todo nessa feira.
- E eu achei que era por mim...
- Eu ia para aí por você, mas como vai para essa feira, preciso de um motivo maior, entende?
- Uhum! - Resmungou.
- Kel, acho que o Gui já te contou sobre o fora que deu na Thais, né?
- Fora? Que fora?
Ela sentou na cama para ouvir.
- Não contou? Então ouça isso: Ela pediu para ele ir na sorveteria depois da aula e ele simplesmente negou!
- Era esse o fora? Isso não foi nenhum fora, ele simplesmente não aceita fazer nada depois da aula porque ajuda o pai aqui na fazenda. Hoje mesmo pedi para ele passar a tarde comigo na piscina, mas ele também negou por esse mesmo motivo.
- Mas não foi isso que ele disse, aliás, ele nem explicou, só disse que não podia. Ela ficou arrasada e teve que aguentar a Letícia. Acho que as duas estão disputando por ele.
- Coitadas! Que vença a melhor!
Respondeu irônica.
- Não fale isso nem brincando! O Gui não pode ficar com nenhuma delas.
- Mudando de assunto, pede para sua mãe deixar você vir para cá depois da aula na sexta-feira? É que nesta sexta, teremos a famosa roda de histórias aqui na comunidade e é sempre muito divertido ouvir. Eles contam lendas, histórias com príncipes, histórias de terror, bruxas, grutas misteriosas, animais mágicos, enfim, eles juram que é verdade. O legal mesmo é o jeito que eles contam. Verdade ou não, parecem reais e o povo daqui ama. Forma uma roda enorme de moradores em volta da fogueira. Já te falei diversas vezes sobre ela.
- Que legal! Já falou sim, sempre quis participar de uma. Vou falar com minha mãe, mas eu vou sim.
- Combinado! Agora vou desligar, quero ir ver a Badocha.
- Badocha?
- Sim, é umas das nossas vacas, ela está para dar cria e pelo jeito que vi a movimentação aqui pela janela, acredito que o bezerrinho deve ter nascido.
- Nossa! Que coisa interessante. Todas as vacas têm nome?
- Sim, eu e o Gui damos nomes para todos os animais, às vezes esquecemos alguns nomes e damos outro, teve uma época que anotei no caderno para não esquecermos. - Riu com a lembrança.
- Deve ser divertido ser o Adão e a Eva da fazenda.
- Adão e Eva?
- Sim! Eles ficaram responsáveis por nomear todos os animais.
- Ah, sim! É... acho que somos eles por aqui então. Até amanhã Sil!
- Te espero no portão. Beijo