Capítulo 3 Tormenta e Borrasca

13h

Enfim, a pintura do último quadro para a exposição que aconteceria em alguns dias estava quase finalizada, mas decidi dar uma pausa, estava cansado e ainda não havia comido nada além do café da manhã.

- Que fome. - sussurrei.

Saí do ateliê e retornei ao quarto, caminhei diretamente ao banheiro, banhei-me e, de volta ao quarto, vesti-me, saí de casa e, de carro, fui à um restaurante próximo.

Já ali e com o cardápio à mesa, pronto para fazer o pedido, meu celular começara a tocar, novamente, o Pietro.

- Sim.

- Estou indo aí.

- Não estou em casa.

- Onde está?

- Num restaurante.

- Que bom, também estou com fome.

- Vou mandar o endereço por mensagem.

Encerrei a ligação e compartilhei a localização.

Pietro: Estou bem próximo, chego em um minuto. Espere por mim.

Estava com muita fome, porém, decidi esperá-lo. E, de fato, não demorara muito, e ali estava ele.

- Já pediu algo?

- Você disse para esperar.

- É verdade. - Falou soltando uma breve e silenciosa risada. - Vamos pedir, então.

Fizemos, então, os pedidos.

- Continuei pintando o último quadro hoje.

- Finalizou? - perguntou-me animado.

- Falta pouco.

- Estou ansioso para ver os novos quadros. - falou sorrindo. - Ah! Já está tudo certo quanto ao espaço para a exposição.

- Ótimo.

- Você realmente não quer ir conhecer?

Quando eu estava pronto para responder-lhe, chegaram nossas comidas.

- Humm... parece bom. O cheiro está ótimo.

- Tanto faz. - sussurrei.

- Bom... sobre o que eu pergun...

- Vamos comer. - interrompi-o.

- Ok. Vamos comer. - concordou já olhando para a comida. - Cheira muito bem.

O Pietro sempre provava todo tipo de culinária nova que surgisse, não importava o quão bom ou ruim fossem.

- Gosta mais de mim ou de comida? - perguntei-lhe.

- O quê?! - falou soltando uma risada. - Gosto dos dois, não posso viver sem alimento e nem sem você.

- Sei.

- Não acredita?

- Claro. - fiz uma breve pausa. - Se não comer, você morre.

- Está com ciúmes?

- Quer morrer?

Ele riu do que eu disse e em seguida provou a primeira colherada da sua comida.

- Nossa! - exclamou e logo bebeu um copo d'água. E comecei a encará-lo. - Muito apimentado. Eu devia ter ido devagar. Mas... - fez uma pausa. - Hmm... muito bom. Aprovado. - falou já pegando outra colherada.

- Eu não te entendo.

- Não precisa. - falou rindo.

De fato, não entendia o seu humor, mas gostava de como ele agia, era espontâneo e sincero.

- E você? Gostou da sua comida?

- Consigo engolir.

- Bem direto como sempre. - Disse com um leve sorriso silencioso.

- Isso é ruim?

- Bom... eu já me acostumei. Então, pode apenas ser você mesmo comigo.

O Pietro era sempre capaz de me entender, não importava sobre o que se tratava, ele apenas entendia e aceitava. Era também a única pessoa em quem eu confiava e aceitava ter por perto, mas era frio com ele porque não queria que criasse expectativas sobre mim e, por isso, acabasse magoado. Essa dor eu conhecia muito bem, então, era melhor assim.

Ao terminarmos a refeição, fiz o pagamento e saímos dali. Já fora do restaurante, enquanto caminhávamos até os nossos carros...

- Ainda não conhecia esse restaurante. Gostei. - disse o Pietro.

Enquanto ainda caminhávamos, um artista de rua começara a tocar o seu violino, o que me fizera paralisar ali olhando fixamente para aquele homem, era um som familiar.

- Por que parou de repente? - perguntou-me, logo notando o motivo. - Ah. Gostou da música, não é? - perguntou-me sorrindo.

Já não conseguia dizer uma única palavra.

- Jonghyun?

Era como se eu tivesse voltado no tempo e pudesse sentir o meu pai ali, obrigando-me a aprender a tocar as suas músicas, repreendendo-me e punindo-me a cada vez que eu não conseguia realizar a sua vontade.

Enquanto já chorava, cai ao chão de joelhos.

- Mande-o parar. - sussurrei tapando os ouvidos. Mas não me referia ao artista, eu já não estava mais ali, estava afogando nas minhas mais sombrias lembranças.

- Jonghyun?

A voz do Pietro para mim estava distante, e na minha mente, transformava-se nos gritos do meu pai. Naquele momento passara por nós um casal com um filho pequeno, o qual era repreendido pelos pais por algum motivo, do outro lado da rua, um vendedor de objetos de couro demonstrava a resistência de um chicote, agredindo o chão com o mesmo. Na minha mente, tudo aquilo tranaformava-se em más recordações do passado.

- Mande-o parar.

- Jonghyun. - falou o Pietro já levantando-me, abraçando-me e tirando-me dali. - Vamos.

Chegando à uma praça próxima dali, sentamo-nos em um banco e então...

- Jonghyun. - Falou segurando o meu rosto, fazendo-me assim, olhar-lhe nos olhos. - Você está bem? - Perguntou-me e a preocupação se expandia por cada palavra que saia de seus lábios.

Apenas fiz que não com a cabeça, lentamente, enquanto ainda chorava silenciosamente, não era capaz de falar uma palavra sequer naquele momento. Ele respirara fundo e não hesitara em abraçar-me com força.

- Está tudo bem. - sussurrou enquanto acariciava o meu cabelo para acalmar-me. - Vai ficar tudo bem.

Ficamos abraçados por alguns instantes, até que já estava mais calmo, estava com a minha cabeça deitada em seu ombro, então, ergui-a.

- Se sente melhor? - perguntou-me com um tom misto de preocupação e leve alivio, e fiz que sim com a cabeça. - Certo...

- Eu não quero que ele volte. - falei com tom de medo.

- Ele... quem?

Olhei-o profundamente nos olhos com um olhar penoso, mas logo desviei meu olhar para baixo.

- O que aconteceu?

Por um instante pensei em contar-lhe tudo, porém, decidi por não fazê-lo, ele não precisava saber.

- Obrigado por estar aqui. - agradeci-o e levantei-me em seguida.

- Aonde vai?

- Para casa.

Ele apenas suspirou, fez que sim com a cabeça e levantou-se em seguida. Caminhamos juntos até o meu carro.

- Quer que eu vá junto? Você não parece estar bem para dirigir. - falou enquanto eu entrava no carro.

- Pietro. - comecei, já no acento.

- Sim?

- Eu nunca estou bem. - disse-lhe encarando-o nos olhos, então, voltei o olhar para a estrada, fechando a porta do carro, ligando-o em seguida e, enfim, saindo dali.

Enquanto voltava para casa, pensava sobre o que acontecera.

- Até quando você vai continuar me assombrando? - Sussurrei, suspirando em seguida.

Já em casa, caminhei direto para o quarto, fui ao banheiro, encarei-me no espelho por alguns segundos e decidi por tomar um banho. Após banhar-me e vestir-me com roupas longas e folgadas, deitei-me na cama e fiquei ali até que, finalmente, cai no sono.

21h

Acordei-me com o meu celular tocando, era mais uma ligação do Pietro.

- Sim.

- Como você está?

- Com fome. - falei após tentar pensar por alguns segundos.

- Como sempre. - Pude ouvir um riso seu. - Não comeu mais nada o dia inteiro?

- Não. Estava dormindo até agora.

- Vá comer, então. Qualquer coisa pode me ligar.

Fiquei em silêncio, então ele continuou.

- Bem... só queria saber como estava. Vou desligar agora.

- Pietro. - falei logo que ele terminou de falar, antes que encerrasse a ligação. - Obrigado. - Pude ouvir o seu riso mais uma vez.

- Não tem que me agradecer. - Ficamos em silêncio por alguns segundos. - Agora vou desligar. Se cuide, por favor.

Ele encerrara a ligação, então, levantei-me, guardei o celular no bolso e desci para preparar algo que pudesse servir de janta. Chegando à cozinha, peguei um lámen, alguns temperos, preparei tudo e comi, em seguida, voltei ao meu quarto, li um pouco e voltei a dormir após alguns instantes.

            
            

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