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Na solidão entediante da minha casa, deitado no sofá e olhando fixamente para o teto, respirei fundo e...
- An? - sussurrei surpreso ao escutar alguém bater à porta. - Pode entrar, Pietro. Esqueceu algo?
A maçaneta da porta girou lentamente e a porta fora brevemente aberta, mas ninguém ainda havia surgido.
- Entra de uma vez, Pietro. - falei sentando-me.
A porta finalmente fora completamente aberta e ali estava ele, e não, não era o Pietro, como eu havia imaginado que seria.
- Você... - sussurrei levantando-me imediatamente.
- Então, finalmente te encontrei.
- Como descobriu onde moro?
- Como não descobriria? Já esqueceu quem eu sou?
- Para mim, você não é ninguém.
- Eu sou o seu pai! - exclamou com um grito grave. - Achou que iria escapar de mim para sempre? - perguntou-me com um sorriso sarcástico e, em seus olhos, estava dilatado a cor do ódio.
- Saia da minha casa. - disse-lhe controlando o ódio que surgira em mim.
- Ah, meu filhinho, não, não vou sair. - disse ao fechar a porta e dar alguns curtos passos mais perto de mim. - Não antes de cumprir o que vim fazer aqui.
- E o que você veio fazer aqui? - perguntei-lhe com um tom frio, seco e controladamente furioso.
- Vim acabar com você. - disse com uma risada assustadora.
Em seguida, aproximou-se velozmente de mim, e, antes que eu conseguisse ter qualquer reação, as suas mãos já estavam envoltas no meu pescoço, tirando-me o fôlego e o equilíbrio, logo, minha vista ficara cada vez mais escura, até que, por fim, já não sentia mais dor e tudo se tornara escuro.
- AHHH!
Acordei ofegante levantando-me apressadamente do sofá e, colocando as duas mãos no pescoço, logo cai ao chão em prantos. Eu havia dormido ali mesmo pouco tempo após o Pietro ter saído. Olhei para a porta, levantei-me, corri até ela e tranquei-a na chave, afastei-me lentamente dando alguns passos para trás, enquanto encarava-a.
- Meus quadros! - exclamei.
Corri ligeiramente até o ateliê, chegando lá, tudo estava exatamente igual.
- Foi tudo apenas um sonho? - sussurrei.
Respirei fundo e decidi por ir para o quarto. Saí dali e tranquei a porta. Já no quarto, joguei-me na cama e, olhando para o relógio na parede...
- 17:30h? Dormi tanto assim?
Estava confuso sobre o que acabara de acontecer, ver o Pietro sair e logo o meu pai entrar na minha casa, ter sido apenas um sonho ao mesmo tempo que parecera tão real. Parecia ter se passado apenas aquele instante entre estas duas cenas, no entanto, se passara bem mais que isso.
- E continuo exausto.
Levantei-me para tomar um banho, após o banho e já vestido, decidi por ligar para o Pietro.
- Jonghyun.
- Pietro... - comecei e dei uma breve pausa. - Vem jantar comigo hoje?
- Sério?
- Tudo bem se não pud...
- Eu vou.
- Certo.
- Vou tomar um banho e logo chego. É... quer que eu leve algo?
- Um vinho.
- Mas você já tem vários vinhos na sua casa.
- Então escolha um quando chegar.
- Certo. Até breve.
- Ah. Pietro.
- Sim?
- Me avisa quando chegar. É que... a porta está fechada.
- Tá... - fez uma breve pausa. - Ligo para te avisar.
Encerrei a ligação e desci. Na sala, sentei-me no sofá e fiquei ali até que o Pietro chegasse.
- Por favor, não bata à porta. - sussurrei. - Ah... por que estou assim? Foi apenas um sonho, Jonghyun. Apenas um sonho.
Respirei fundo e tentei acalmar-me para que, quando o Pietro chegasse, a minha tensão não o deixasse preocupado. Meu celular começara a tocar.
- Abra a porta, estou estacionando o carro. - disse o Pietro assim que atendi a sua ligação.
Encerrei a ligação e abri a porta, não demorara muito e ali estava ele.
- Cheguei. - disse sorrindo.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, em seguida, caminhei em sua direção e abracei-o.
- Jonghyun... - abraçou-me de volta com força, sem hesitação. Após alguns segundos, ele tomara a palavra novamente. - O que... - começou. - O que houve? - perguntou-me.
- Nada. - respondi-lhe e afastei-me quase que imediatamente.
- O que houve com o seu pescoço? - perguntou-me aproximando-se de mim. - Está vermelho. - falou tocando onde vira a marca.
Naquele momento passara pela minha mente todo o sonho que eu tivera mais cedo e, me questionava a partir de então, se houvera sido mesmo apenas um sonho ou se tudo, de fato, acontecera.
- É... - comecei. - Não foi nada. - engoli em seco. - Apenas dormi na sala e apoiei a minha cabeça no braço do sofá, então, pressionou o meu pescoço.
- Os dois lados?
- É... eu devo ter me virado para um lado e para o outro.
Ele não parecia convencido com a minha explicação, mas não questionara, pois conhecendo-me bem, sabia que não lhe contaria nada contrário do que já lhe havia contado.
- Está bem. - disse soltando um leve suspiro e sorrindo em seguida, enquanto tirava sua mão do meu pescoço.
- O que trouxe na sacola? - mudei o assunto.
- É... um vinho que ganhei em uma viagem à Itália, lembrei que não temos dele aqui, então, decidi trazê-lo.
- Ótimo.
- E pedi comida japonesa assim que sai de casa, deve chegar logo. - apenas disse isso e alguém bateu à porta.
Olhei para a porta assustado e paralisado.
- Jonghyun? Tudo bem? - perguntou-me notando a expressão de medo em minha face.
Que gatilho.
- Jonghyun? - insistiu.
- Oi? - respondi-lhe saindo daquele transe.
- Deve ser o entregador. Vou atender. - enquanto ele abria a porta, era como se tudo estivesse em câmera lenta, era como um filme de suspense, mas no final, era mesmo apenas o entregador.
O Pietro recebera a comida e fechara a porta. E eu? Suspirei aliviado.
- Você está estranho hoje. Realmente não aconteceu nada?
- Eu? Ah! Não. É... não é nada.
- Certo. - falou não convencido. - Vamos para a cozinha.
- Não. Vamos comer aqui.
- O quê? - perguntou-me surpreso. - Você não vai comer à mesa? - deu uma breve risada. - Você realmente está estranho hoje. Bem, vou ao menos pegar as taças. Já volto.
Apenas fiz que sim com a cabeça, e, enquanto o Pietro fora à cozinha, tranquei novamente a porta na chave e sentei-me no tapete entre os sofás.
- Prontinho. - disse ele ao voltar.
Liguei a TV...
- Escolhe um filme. - falei entregando-lhe o controle assim que se sentara ao meu lado no tapete.
Ele começara, então, a verificar o imenso catálogo de filmes.
- Esse. - disse já selecionando-o.
- Tudo bem.
Desempacotamos a comida, abrimos a garrafa de vinho, iniciamos o filme e, então, começamos a servir-nos.
- Vamos brindar. - disse o Pietro após já termos vinho em nossas taças.
- Brindar? Ao quê?
- Não sei... um brinde a nós dois comendo na sala e assistindo filme.
O Pietro tendo dito isto, soltei um breve sorriso.
- Você sorriu? - perguntou-me surpreso.
- Não. - respondi com uma expressão séria.
- Você sorriu, sim.
- Não. Eu não sorri. Vamos brindar logo, estou com fome.
- Um brinde ao primeiro sorriso que vejo do Jonghyun.
- Pie...
- Saúde. - falou e tocou a sua taça na minha.
- Uau! Que incrível. - exclamei ao tomar o primeiro gole do vinho.
- Eu sei que sou.
- Me referi ao vinho
- Vou fingir que foi.
- Mas, realmente foi. - ele soltou um breve riso.
- Só estou brincando. Sei que não sou incrível.
Fiquei em silêncio por alguns segundos...
- Mas você é.
- Jongh...
- Vamos focar no filme agora. - interrompi-o apontando um hashi para a TV.
- Certo. - soltou um sorriso silencioso e voltou o seu olhar para o filme.
Ao terminar o filme...
- Gostei do filme. Você escolheu bem. - falei já direcionando o meu olhar para ele o que o fez olhar para mim também. - Parece que sempre acerta em tudo o que escolhe. - completei já mudando o meu olhar para a garrafa de vinho e colocando um pouco mais na minha taça.
- Espero que esteja certo. - disse e respirou fundo. - Pode me servir mais um pouco também?
- Claro. - respondi já servindo-o.
- Obrigado.
Apenas fiz que sim com a cabeça, brindamos em silêncio e tomamos um gole.
- Falta pouco pra exposição. - comecei e suspirei.
- É...
- Nunca te agradeci. - continuei e fiz uma pausa para encará-lo. - Deve ser um fardo ter que cuidar de todos os detalhes, guardar tantos segredos e lidar com blogueitos irritantes em meu lugar. Acho que isso não é justo.
Ele suspirou leve e lentamente, ficamos em silêncio por alguns segundos, até que ele finalmente tomou a palavra.
- Não é um fardo. - deu um leve sorriso silencioso ao direcionar o seu olhar para mim. - Porque é por você. - encarei-o de volta.
- Poderia ter aproveitado esse momento para pedir um aumento no salário e vem me dizer isso?
- Mas você pode me dar um aumento se achar que mereço.
- Depois discutimos o valor. - Falei já olhando para a taça com vinho em minha mão.
- Certo. - concordou com aquele sorriso persistente.
- Já está tarde.
- Sim. É verdade. - disse verificando o horário no relógio em seu pulso. - É melhor eu ir.
- Não quer dormir aqui hoje? - falei assim que o vi tentando levantar-se, e então, ele permanecera sentado com uma expressão de surpresa. - Quero dizer... há três quartos aqui, pode dormir e voltar para a sua casa depois do café da manhã. Você bebeu bastante, não é uma boa ideia dirigir agora, eu também bebi, então, não posso ir deixá-lo.
- Você tem razão. - concordou convencido. - Bem, eu vou precisar tomar um banho, pode me emprestar uma roupa sua? Devolvo depois.
- Claro.
- Lembra de quando éramos mais novos e dividíamos o mesmo apartamento? - disse sorrindo. - A gente costumava emprestar as roupas um ao outro para não termos que usar sempre as mesmas.
- Lembro. Uma vizinha achava que éramos namorados.
- Ela era um amor, não era?
- Era. - suspirei levemente. - Ela era, sim. - lembrei-me da minha mãe.
Aquela vizinha sempre lembrava a minha mãe com aquele sorriso constante nos lábios, sua fala paciente, seu jeito carinhoso. Se a minha mãe ainda vivesse, certamente seria como aquela mulher. Pensava.
- Jonghyun?
- Oi. - falei surpreso com a mão do Pietro passendo próximo a minha face.
- Perdido em pensamentos outra vez?
- É... - comecei. - Vamos nos preparar para dormir. - falei já levantando-me cuidadosamente. - Me ajuda a levar tudo isso para a cozinha.
Levamos tudo o que viera com a comida para a cozinha e deixamos sobre a pia. Fomos ao meu quarto, o Pietro escolhera uma roupa e fora para o quarto no qual dormiria, eu fui tomar o meu banho, e, após isso, vesti-me, deitei-me na cama e dormi.