Neríssa engoliu a seco. Não sabia como reagir.
- Não... Não tem de que... - respondeu ela imóvel.
- Sem você, eu sou uma bagunça, você cuida de mim desde que éramos crianças. - sussurrou.
As amigas voltam a sorrir.
- É verdade, né?
- Simmm! Nê, você foi a pessoa que me apresentou ao Edgard e eu realmente sou grata por tudo o que fez por mim. - agradeceu Elizabeth.
Neríssa volta ao seu ar pensativo. Mesmo sem saber, Elizabeth acaba lhe chicoteando, repetidas vezes. Mas ainda assim, ela ficava um pouco feliz pelo casamento de sua amiga. Seu coração, mesmo triste, pulsava felicidade.
- Você é a minha mais importante amiga, Lizz.
A dupla de amigas volta se abraçar com todo o calor, o momento e a emoção que poderia existir. Era um verdadeiro abraça entre duas amigas que passaram uma vida inteira juntas, mas uma tem que se casar e seguir adiante.
- Nê, agora eu preciso ver outras coisas para a despedida, você vem? - questionou Elizabeth.
- Não posso Lizz, tenho trabalho hoje, preciso assistir a aula de Edgard. - brincou.
- Eu aqui, preocupada com a despedida de solteira e o meu marido trabalhando, vê se pode! - soltou uma gargalhada no final.
- Pode deixar comigo, tá?
- Com o que?
- Se eu souber que ele se encontrará com alguma mulherzinha em sua despedida, irei te contar! - brincou Neríssa.
- Não o deixe respirar!
- Sim Senhor Capitão Senhor!
- Dê um beijo nele pro mim. - brincou Elizabeth.
A mente de nossa protagonista viajou longe e voltou.
- Pode deixar! - respondeu.
As amigas se abraçaram pela última vez naquele dia se despedindo. Enquanto Elizabeth tomou o rumo para os preparativos finais da festa, Neríssa se voltava para o Instituto Imperial não tão feliz quanto sua amiga.
Ela perdeu um tempo considerável ao ficar batendo papo com sua amiga e em sua chuva de pensamentos aleatórios. Ao encarar o relógio e notar as horas corridas e os minutos voando, teve de caminhar cada vez mais rápido enquanto se aborrecia consigo mesma em palavras que nenhuma outra pessoa poderia ouvir.
"É lógico que eu jamais faria isso. Já coloquei na minha cabeça que o meu dever é entrar na Igreja, ficar de pé, assistir a pessoa que eu amo passar pela porta e se casar com a minha melhor amiga que jamais poderá sequer imaginar ou saber o que aconteceu entre nós". - pensou.
Ao mesmo tempo em que Elizabeth e Neríssa batiam perna em Londres, nos arredores da Tower Bridge, Edmundo e Enrique, aquele nosso não tão querido amante, conversavam na Biblioteca Café.
Edmundo obviamente, sabe de tudo, claro. Mas ele realmente achava que aquilo era fogo de palha e mostrou certa curiosidade à cerca de toda a história do "casal", mas verdadeiramente se surpreendeu com as palavras dele.
"Será que é amor?" - é a interrogação que ficou em sua cabeça.
Mas para que você possa entender melhor o que está acontecendo, preciso ir até a região central, o coração do Reino Unido. O centro de Londres é a parte mais interna de Londres, na Inglaterra, abrangendo vários bairros.
Caso não saiba, a chamada "cidade da rainha" vai do clássico ao descolado no roteiro, na gastronomia, na arquitetura e na acomodação também. Nós não iremos até o Covent Garden ou a South Kensington, mas para o Westminster, um bairro clássico e tradicional de Londres. É a região ideal para quem quer ter a vista dos cartões postais mais famosos da cidade, como o Palácio de Buckingham, a Abadia de Westminster e o Palácio de Westminster, onde fica a Torre do Relógio e também o Big Ben.
É aqui que a Biblioteca-Café mais movimentada da Europa está localizada, e é onde Enrique e Edmundo conversam sobre Elizabeth e o romance que não deveria ter acontecido.
- Vá direto ao ponto Enrique, o que você quer me contar? - murmurou Edmundo.
- Estou tentando te dizer que eu simplesmente fiquei sem chão, sabe? Eu realmente não esperava que minha amiga de balada fosse se casar, principalmente com o meu melhor amigo. Isso é um cúmulo! - reclamou.
- Realmente, trata-se de um cúmulo! - debochou Edmundo.
Enrique toma um gole do seu chá.
- Enrique, posso ser sincero?
- Claro que sim!
- Sei que prometi não me intrometer na vida bagunçada de vocês, não irei contar nada para o Edgard, mas se você aprontar algo, eu mesmo te prendo aqui, viu? - brincou sorrindo.
- E o que um velho idoso como Senhor pode fazer comigo? - ironizou Enrique.
Edmundo tomou outra golada de seu café.
Enrique é um jovem membro da alta classe londrina, um devoto torcedor do Chelsea e um ex-campeão de boxe da Universidade. Sua fonte de renda provém de investimentos em pequenos empreendimentos, como lojas de flores, quiosques de cerveja e casas noturnas. Aos vinte e oito anos, ele possui tudo o que alguém desejaria: além de sua beleza, seus olhos claros, cabelo loiro e barba bem-cuidada, Enrique é extremamente cobiçado entre as solteiras de Londres, sendo alvo constante de pensamentos e desejos de mulheres casadas. Ele aparenta ter tudo, mas, é claro, falta-lhe apenas uma coisa: seu grande amor.
Quando a dupla iria reatar no assunto, Flávia, a filha mais nova de Edmundo, interrompe a conversa aproximando-se da mesa com um telefone celular na mão.
- Pai, me desculpa, é do Jornal, eles querem saber se você vai escrever a Crônica de amanhã!
- É ÓBVIO QUE NÃO! - reclamou.
Flávia revirou os olhos enquanto Enrique gargalhava com a interação entre os dois.
- Ele vai sim, no mesmo horário de antes, tá? - respondeu Flávia para o Editor-Chefe do Jornal ao telefone.
Até os outros clientes de mesas próximas riam com o caso. Flávia se retirou sorridente.
- Se vai escrever, porque reclama?
- Já estou velho, reclamar é o que faço de melhor. - pontuou Edmundo.
- E como é que você vai me ajudar? - questionou Enrique.
- Olha, eu irei... - o despertador do relógio de Edmundo o interrompeu.
Edmundo encarou o relógio, estava na hora marcada de ajudar dois de seus melhores alunos particulares com o TCC.
- Desculpa, eu tô agoniado mesmo Ed... - expôs Enrique.
- Relaxa, serei breve, tá? O negócio é o seguinte, você demorou demais para declarar o seu amor, tratou com sacanagem quem queria amor e ainda entregou o seu grande amor de bandeja para o melhor amigo. Tem tantos erros juntos que eu nem sei calcular. E olha que eu já errei muito nessa vida, viu? - argumentou.
- Mas se não vai me ajudar ou se não tem uma solução para isso, porque me chamou?
- Porque estou realmente preocupado contigo cara, você tem bebido exageradamente!
- Boatos! - Enrique entornou outro gole de seu chá.
- Você sabe que isso tem vodka, certo? E ainda não chegamos no meio-dia! - Edmundo se irritou.
Enrique está bebendo uma iguaria menos pedida, mas que ainda é muito tomada pelos britânicos, falo da "Balaca Putz".
Trata-se de um chá deixado em infusão por 3 minutos e ainda com o sachê, levado à geladeira até que fique gelado. Em seguida ele é misturado com uma vodka de cor vermelha ou mais gritante, e misturado em uma coqueteleira após adicionar uma ou duas rodelas de limão.
- Pra mim, é como um chá gelado normal.
- Só você toma isso aqui na Biblioteca-Café. - expôs Edmundo.
- Ontem eu me machuquei de novo, só pra ver se ainda sinto dor, a ferida ainda estava aberta, fui beber e piorou. Já tentei de tudo para tirá-la de vez da minha vida. Mas não dá. Toda vez que me lembro de nós, dou outro gole na bebida. Sem notar, embriagado e desiludido. Quando bate a saudade, revejo as mensagens e a foto dela na minha proteção de tela. E tome cerveja na minha goela.
- Enrique, assim você vai acabar se matando, não vê isso?
- Eu espero sinceramente de coração que a bebida me mate antes do casamento dela. - respondeu se retirando da mesa.
Edmundo rapidamente o segurou pelo braço.
- Você precisa de terapia.
- Eu não estou maluco! - rebateu.
- Às vezes, sair para tomar um açaí com uma amiga é a única terapia que você precisa. - confrontou Edmundo.
- Perdão Senhor, mas já me encontro numa posição que se a Dona Morte viesse até a mim, eu a abraçava e pedia para me levar. - replicou.
- Tome cuidado, quando chamamos a atenção dela, ela costuma nos rodear. - expôs Edmundo.
Enrique, ainda assim, se retirou aborrecido. Pegou o seu capacete preto na mão esquerda e jogou sua jaqueta de couro na direita. Um homem que tinha tudo bebia como se não tivesse nada. O que pessoas assim são capazes de fazer?