Capítulo 3 "Você terá que seduzi-lo."

Três semanas haviam se passado desde que os investidores visitaram a boate para conversarem sobre a reabertura do ringue no subsolo. Desde então, os Rashid estavam tendo reuniões diárias com clientes importantes, o que refletia diretamente no movimento da boate, mais agitada do que nunca.

Entretanto, apesar de várias pessoas terem voltado para a boate desde aquele dia, o lutador irritante não foi uma delas. Não que eu esperasse que ele realmente aparecesse para me ver dançar como disse que faria, mas confesso que esperava ao menos vê-lo por aqui para "negociar o seu futuro", como vários outros lutadores fizeram.

De qualquer jeito, não podia e nem queria perder tempo pensando nele.

- Vocês já conheceram o Brett? - Mary, uma loira de cabelos encaracolados, cantarolou o nome dele ao se jogar em um dos sofás do camarim. - Ele é um gostoso!

- Quem é Brett? - Jennifer perguntou. Assim como Mary e eu, ela também era dançarina, mas era negra e tinha longos cabelos trançados.

- O lutador patrocinado pelos White - respondi distraída, focando em finalizar minha maquiagem. As meninas podiam não saber o nome dos lutadores de cabeça mas, assim como eu, elas conheciam os sobrenomes de clientes influentes, por assim dizer.

Nos últimos dias, a boate havia se transformado em um desfile constante de lutadores musculosos e atraentes, o que se tornou um assunto recorrente nos camarins. Muitos deles trabalhavam como modelos antes de acabarem nas lutas ilegais, mas a verdade é que o ramo do entretenimento em Los Angeles era disputado demais e que, se você fosse bom o bastante, ganhar dinheiro no submundo da cidade dos anjos era muito mais fácil e rentável.

- Ah, eu sei quem é! - Sarah comentou enquanto penteava os cabelos ruivos. - Ele não é tão bonito mas, nossa, aquele corpo...

- Sabe quem é bonito? Aquele tal de Morales, o todo tatuado.

Engoli o seco ao ouvir o sobrenome de Ian.

- Bonito, mas insuportável - murmurei sem me dar conta. De repente, senti o peso de três pares de olhos em cima de mim.

Todas as meninas me fitaram chocadas, ansiosas por mais detalhes.

- Como você sabe?

- Vocês se conhecem?

- Ai, meu Deus, eles se conhecem!

Antes que eu conseguisse pensar em uma saída daquela conversa, Layla bateu na porta e a abriu logo em seguida.

- Todas prontas?

- Sim! - respondi de supetão e, antes que as meninas pudessem me parar e me bombardear com mais perguntas, prendi o véu branco que cobria meu rosto e caminhei pelo corredor. Temi que Layla, que caminhava ao meu lado, notasse algo sobre meu comportamento, mas ela estava distraída demais com seu celular, provavelmente resolvendo algo sobre os negócios.

- Meninas, podem ir na frente - Layla anunciou, quebrando o silêncio. - Preciso conversar com a Maddie.

Ela sustentava um sorriso profissional no rosto, mas o tom de voz denunciava que aquela conversa não era tão amigável quanto Layla estava tentando fazer parecer. Obedientes, Mary, Sarah e Jennifer seguiram seus caminhos, me deixando a sós com a filha dos meus patrões.

- Maddie, meus pais gostariam de ter uma palavrinha com você. Venha comigo.

Assenti e segui Layla em silêncio pelos corredores que levavam até o escritório dos Rashid. Por mais calma que eu parecesse por fora, por dentro eu estava uma pilha de nervos, apreensiva, ansiosa, sem saber o que esperar. Eu era uma funcionária exemplar, sempre cumpria com meus horários e me desdobrava para agradar os clientes, o que me rendia elogios e excelentes gorjetas. Não havia motivo algum para aquela reunião.

A não ser que...

"Você não deveria estar aqui."

A voz de Ian ressoou em minhas lembranças e eu engoli o seco. Seria esse o motivo pelo qual fui chamada? Os Rashid descobriram que pisei onde não deveria e iam me demitir por isso?

- Mamãe, papai? - Layla bateu na porta antes do escritório, abrindo-a em seguida. - Trouxe Madeline para vê-los.

- Obrigada, preciosa! Pode ir agora. - A Sra. Rashid gesticulou para que eu entrasse. - Madeline, querida, sente-se. O Sr. Rashid e eu queremos ter uma conversa com você.

Entrei no escritório repleto de móveis pretos com detalhes dourados e me sentei em uma poltrona. O Sr. Rashid estava atrás de uma grande mesa, sentado em sua cadeira de escritório, e sua esposa estava sobre o sofá.

- Madeline - O Sr. Rashid começou. - Sejamos diretos, porque temos trabalho a fazer. Nos últimos dois meses, a Sra. Rashid e eu temos tentado negociar com um lutador para que ele nos represente nas lutas, mas esse lutador tem se mostrado resistente em aceitar nossas propostas. Nenhuma oferta parecia boa o bastante para ele.

- Entretanto, algo mudou há algumas semanas quando ele visitou a boate - Sra. Rashid disse. - De uma hora para a outra, ele disse que pensaria em aceitar nosso acordo se, em troca, pudesse ter um encontro a sós com uma bailarina, como ele mesmo disse.

Aquela única palavra entregou a identidade do lutador. Era sobre Ian que eles estavam falando.

- Não queríamos ter que colocar uma de nossas funcionárias no meio disso, mas essa é a única condição dele para aceitar e nossa família realmente precisa de um representante no nosso ringue, Madeline.

- O encontro seria aqui na boate, em um dos camarotes, e um segurança permaneceria do lado de fora pronto para intervir caso o lutador faça algo sem o seu consentimento.

- E o encontro também seria vantajoso para você, Madeline. Layla comentou conosco que você tem tido dificuldade para pagar as contas do hospital, então temos uma proposta para você.

- Se você conseguir fazer o lutador assinar o contrato, nós iremos pagar a você uma porcentagem de todo o lucro que ele nos trouxer.

- O que terei que fazer nesse encontro? - perguntei, receosa de que "encontro" fosse uma palavra bonita para "sexo". Eu era uma dançarina em uma boate, mas não uma prostituta.

Os Rashid sorriram em conjunto antes da Sra. Rashid cantarolar:

- Não é óbvio, Madeline? Você terá que seduzi-lo.

            
            

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