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- Ian Morales... - Holly repetiu o nome dele. - Não me parece familiar, Maddie. Tem certeza que ele te conhece?
Tal como eu, minha melhor amiga estava deitada no sofá da sala do pequeno apartamento que nós dividíamos. Holly e eu éramos amigas desde nossos 15 anos e viemos morar juntas quando completamos 18 anos, quatro anos atrás.
- Não tenho certeza de nada, pra ser sincera - bufei. - É só que... Não sei, Holly. Ele parecia estar falando a verdade.
- Eles sempre parecem sinceros quando estão tentando nos levar para a cama - Holly comentou e deu um gole em sua cerveja, despreocupada, antes de sua postura mudar. - Espera... Ele não pode ter te conhecido antes do acidente?
Franzi o cenho e ajeitei minha postura, repentinamente desconfortável. Não, Heather não podia estar certa. Se bem que...
Meu acidente foi aos 14 anos de idade e eu quase não tinha memória da minha vida anterior a ele. Se Ian diz que me conhece e eu não me lembro dele, essa é a alternativa mais plausível, mesmo que improvável. Minhas únicas lembranças antes do acidente eram a de uma sapatilha de balé surrada, uma mão forte segurando a minha e a sensação de lábios levemente ressecados tocando os meus.
- Mas eu era só uma criança. Como ele me reconheceria depois de todos esses anos, ainda mais com o rosto coberto?
- É, sei lá. - Holly deu de ombros. - Quando você vai vê-lo de novo?
- Amanhã à noite. Vai ser a abertura do ringue e a primeira luta dele.
- Tente conseguir mais respostas, então.
- É o que irei fazer.
[...]
Fazia um ano que eu trabalhava naquela boate e eu nunca a tinha visto tão movimentada, nem nas datas comemorativas.
Na parte de cima, um DJ famoso se apresentava como uma fachada, mascarando o real motivo pelo qual aquela multidão estava ali. Algumas delas realmente queriam ver o DJ, mas a grande maioria queria ver sangue, lutas, e receber a adrenalina e ação pela qual pagaram. No subsolo, dançarinas esquentavam o clima enquanto a primeira luta não começava.
Eu, por minha vez, estava seguindo Layla pelo corredor escuro que levava até onde Ian estava se preparando. Ela não me deu detalhes, mas disse que Ian especificou em seu contrato que queria me encontrar antes de todas as lutas e, se minha curiosidade não fosse motivação o suficiente, o dinheiro que os Rashid estavam me pagando para isso era.
- É aqui. - Layla bateu na porta antes de abri-la. - Vocês tem 20 minutos, Maddie.
Layla se afastou logo em seguida, me deixando sozinha no corredor, sem saber direito o que fazer.
- Bailarina? - a voz de Ian ecoou.
Tímida como nunca estive antes, com nervosismo correndo solto pelas minhas veias, passei pela porta e entrei no cômodo onde Ian estava parado em pé sobre o tapete, vestindo uma bermuda e mais nada. A visão do corpo dele assim, com o tronco à mostra, revelando músculos definidos e as várias tatuagens espalhadas pela pele bronzeada, era arrebatadora.
- Oi, Ian.
Ele sorriu.
- Feche a porta.
Fiz o que ele pediu e me encostei na mesma, sem saber direito como agir, mantendo as mãos no trinco atrás do meu corpo. Por mais que eu tentasse disfarçar, meu nervosismo era inegável.
- Qual o problema, bailarina? - Ian perguntou ao se aproximar lentamente, o sorriso se desfazendo. - Você parece nervosa. Tem alguma coisa errada?
Ian parecendo genuinamente preocupado me pegou desprevenida.
- Não, nada. - Balancei a cabeça.
- Bailarina, não minta para mim. - Ian enfiou os dedos por debaixo do meu véu e segurou meu queixo com uma delicadeza desproporcional a sua força, levantando meu rosto. O toque me fez ofegar por um instante, assim como o calor de seu corpo e seu perfume, mas eu não admitiria isso, mesmo que o Ian predador tivesse desaparecido e dado lugar a um Ian cauteloso. - Vamos combinar uma coisa?
- O quê?
- Quando estivermos a sós, sem mentiras. Apenas a verdade entre nós. Já passo tempo demais mentindo para seus patrões e para os outros patrocinadores, não quero ter que mentir para você também. Combinado?
- Combinado.
Ian assentiu e deslizou os dedos até segurar minha nuca, acariciando a área e espalhando arrepios por todo meu corpo. Tenho certeza que ele percebeu o efeito que causou em mim, pois deu um sorriso de canto que demonstrava boa parte do seu lado sedutor e confiante.
- Você me deixa nervosa - confessei em um sopro. - Nunca tivemos lutadores aqui antes e eu não sei como agir, ainda mais porque você age como se já me conhecesse...
- Eu te conheço, bailarina. Ou melhor, conheci. Posso não conhecer a mulher que você se tornou hoje, mas já te conheci um dia. Melhor do que ninguém.
Suspirei, sem saber o que dizer. Ian tirou as mãos de mim e deu passos para trás até estar sentado no sofá colocado no camarim.
- Seria tão mais fácil se você se lembrasse, bailarina...
- Então me ajuda! - implorei e me sentei ao seu lado. - Você disse que queria me ver antes das lutas para que eu tivesse a chance de me lembrar de você, mas como posso me lembrar de uma pessoa que eu não sei quem é, Ian? Eu não te conheço e você não facilita não me dando respostas.
- Eu não posso dizer nada a não ser que você me faça perguntas.
- Por que?
- Porque fiz uma promessa, bailarina, e sou um homem de palavra. Nunca odiei tanto ser um, porque queria poder sentar aqui e te dizer tudo, mas não posso. De onde eu venho, promessas importam. Só posso responder suas perguntas.
Suspirei mais uma vez e joguei as costas no sofá, derrotada.
- Seria tão mais fácil se você só me deixasse fazer o meu trabalho...
A risada sarcástica dele pareceu um rosnado.
- Seu trabalho? Você preferia estar dançando para mim nesse momento? - Me encarou e eu fiz que sim. - Você não entende como isso seria tortura, bailarina?
Ian avançou como um lince, rápido, e me pressionou ainda mais no sofá, com a mão direita apertando minha cintura. Quando ele me olhou nos olhos depois de analisar todo meu corpo, eu fiquei sem ar.
- Preciso me concentrar antes de uma luta, manter o foco, não gastar energia. Como eu faria isso se você dançasse para mim, bailarina? Me tentando com esse corpo, essas curvas, me fazendo imaginar como seria tocá-la... - Ergueu a mão esquerda e passou o polegar por meu lábio, por baixo do véu. - Como seria poder ver e sentir seus lábios de novo...
O clima estava tenso, pesado, perigosamente sensual. Ian estava deslizando os dedos até minha orelha, bem onde meu véu estava preso, me fazendo ansiar, mas uma batida na porta nos fez parar.
- Morales, sua luta começa em cinco minutos!