-Bom, teve aquele professor de educação física no ano passado. Você lembra que ele só ficava sentado mexendo no celular enquanto mandava a gente ficar correndo em volta do campo?
Sorri mais uma vez.
-Relaxa, acho que ele deve ser bom. Vou indo, não quero me atrasar na primeira aula. -Mandei um beijo para ele e saí andando.
Ao chegar na porta da sala, pude ver que todos já estão em seus devidos lugares. Inclusive o professor.
Ai merda.
Bati duas vezes e o mesmo olhou pra mim. Abri a porta e ele consentiu, liberando minha entrada.
-Bom dia. -Disse a ele. -Me desculpe por chegar atrasada.
-Não se preocupe, não comecei a passar o conteúdo ainda. Pode ir lá se sentar.
Agradeci e assim que estava indo em direção à única cadeira vazia, vi Zack sentado na fileira perto da janela.
Espera, ele está sentado na frente?
Me sentei duas fileiras depois da dele e retirei meu caderno da mochila.
Vi algumas meninas cochichando e isso já estava me incomodando muito.
-Jane. -Chamei a garota que está sentada à minha frente. Ela se virou. -O que tanto comentam aqui na sala?
-Você não reparou? -Neguei. -Estão falando o quanto o novo professor é bonito.
Olhei para ele e o vi pegando conteúdo no caderno para passar no quadro. É, realmente ele é bem bonito.
-Ele ainda vai dar o que falar. -Ela sorriu. -O melhor de tudo, é que ele tem vinte e dois.
Vinte e dois? Ele entrou na faculdade com quantos anos então?
-Bom, eu irei começar me apresentando, já que imagino que ninguém deve saber meu nome. -Todas as meninas riram. -Eu me chamo Julian, Julian Evans. Tenho vinte e dois anos, e esse é o primeiro ano que dou aula. Espero conseguir prender a atenção de vocês.
-Ah isso sem dúvidas. -Disse Jane. Todos riram novamente, inclusive o professor, que riu meio envergonhado.
-Alguém gostaria de compartilhar uma leve retrospectiva sobre o que aprenderam no ano anterior?
Quase metade da sala levantou a mão. Permaneci com a minha abaixada.
-Ótimo, muito bom mesmo que vocês estejam tão empolgadas quanto eu. -Ele sorriu. -Acho que já escolhi.
As meninas começaram a cochichar novamente.
-Você. Atrás da menina de cabelo roxo.
Ah não.
Todos olharam para mim.
-Gostaria de fazer isso? -Com seus olhos verdes, ele permaneceu olhando para mim.
-Eu? -Perguntei só para ter certeza.
-Sim. Venha aqui a frente por favor.
Passei a língua sobre a boca e me levantei. Fui até lá e fiquei parada ao seu lado.
-É... nós aprendemos sobre álgebra, geometria, probabilidade e estatística.
-Você consegue aprofundar um pouco mais sobre o assunto?
Concordei.
-Em álgebra foram vistas coisas como Definição e tipo de matrizes, sistemas lineares e regra de Cramer. Em geometria, transformações trigonométricas, função arco seno e entre outros. Já em probabilidade e estatística o principal foi termo geral do binômio.
Vi que ele levantou uma sobrancelha.
-Muito bem. Obrigado...
-Alexia.
Ele sorriu. Fui para minha cadeira. No caminho, olhei em direção a Zack, e ele estava me olhando. Não com aquela cara de desprezo que ele fazia, somente me olhando. Desviei o olhar e me sentei rapidamente.
-Abram seus livros na página 10, iremos dar início ao conteúdo.
(...)
-Alexia. -Assim que estava saindo da sala, escutei o professor me chamando.
-Sim? -Parei aonde estava e olhei para ele.
-Eu só queria te parabenizar. Fiquei realmente feliz ao ver que tenho alunos com tanto potencial.
Sorri e apertei o livro mais contra mim.
Olhei para as fileiras e vi que Zack ainda estava arrumando seu material.
Na verdade eu acho que ele estava só enrolando pra escutar a conversa.
-Espero poder contar contigo até o resto do ano. -Ele pegou seu copo de café e sua mochila.
-É claro que sim, senhor Evans. -Sorri.
-Me chame apenas de Julian. Não sou tão mais velho que você assim.
Escutei Zack sorrindo. Mas parece que o professor não percebeu.
-Desculpe. Eu preciso ir agora senhor... digo, Julian.
Ele sorriu e consentiu. Saí e fui em direção à próxima sala que seria minha aula.
-Quem diria que o professor novo iria dar em cima da quatro olhos.
Respirei fundo e me virei para Zack, que estava andando logo atrás de mim.
-Que? -O olhei nos olhos.
-Está bem óbvio que ele estava tentando te conquistar. -Ele passou as mãos no cabelo. -Mas como você é uma tonta, tenho certeza que nem se deu conta.
Coloquei a mão na cintura.
-Que é? Vai ficar me perseguindo agora? -Me virei novamente e saí caminhando.
-Você é uma tola mesmo não é Alexia? -Ele gritou em meio ao corredor completamente lotado pelos alunos.
Não me virei, apenas continuei a seguir meu caminho.
(...)
-Adivinha. -Disse Jake chegando ao local aonde combinamos.
Estamos na arquibancada em frente para o campo aonde os jogadores estão treinando.
-Eu vou ter aula toda terça e quinta com a Alyssa. -Ele sorriu olhando para mim como se fosse a melhor coisa do mundo.
-Óh, uau Jake, isso é... incrível.
Ele parou de sorrir.
-Ah qual é, Alexia.
-O que? -Sorri.
-Você não consegue nem fingir que está feliz por mim. -Ele apertou minha bochecha.
-Eu tô muito feliz, você não faz ideia do quanto.
Jake revirou os olhos e retirou sua mochila das costas.
-Trouxe algumas coisas para comermos.
-Ai que ótimo, estou faminta. -Tentei espiar.
-Bom, tem sanduíches, refrigerante, salgadinho, bolacha e... que rufem os tambores.
Sorri ao ver ele imitar uma pessoa tocando no tambor.
-Chá de camomila. Seu preferido.
-Muito obrigada meu amigo lindo, eu te amo muito sabia? -O abracei.
-Sim, eu sei disso. -Gargalhei e bati em suas costas. Me separei. -Mas me conta, tem acontecido algo novo com você? Não conversamos muito sobre isso.
Peguei o sanduíche e dei uma mordida.
-De que tipo? -Perguntei de boca cheia, o que o fez rir.
-Tipo o emprego que você conseguiu, lá é bom?
Eu esqueci de contar pra ele.
-Em tese é bom, é um salário agradável. Mas sempre tem a parte ruim não é?
Ele continuou me encarando.
-Eu estou trabalhando na casa dos Kendell's.
Jake se engasgou com o refrigerante que estava bebendo.
-Não pode estar falando sério.
Mordi os lábios.
-Acredite, eu tive a mesma reação.
-E por que aceitou?
-Eu não sabia né, Jake?
-E vai continuar indo lá?
-Claro que sim, preciso disso para o meu currículo. E além do mais, não é tão ruim quanto parece. Ele passa a maior parte do tempo no quarto.
-Eu não sei, não acho uma boa.
Mordi novamente o sanduíche.
-Ele não está como antes. Eu tenho até estranhado essa mudança.
-Você acha mesmo que ele mudaria assim de uma hora pra outra? Ainda mais se tratando de você? Impossível.
-Eu sei, Jake. Sei o quanto isso parece impossível. Mas está acontecendo.
-Se eu ver que ele está te tratando mal...
-Ei, relaxa. Eu não disse que estou gostando dele ou coisa parecida. -Sorri.
-Espera, você está gostando do Zack?
-Que? Eu acabei de negar isso.
-Não, não não não. A gente nem tocou nesse assunto. Nunca tocamos. Então significa que você estava pensando nisso. Ou seja, você pode estar gostando dele.
Levantei a sobrancelha.
-Para de viajar, Jake.
-Tem certeza?
-É óbvio que sim. O que te fez pensar isso?
-A gente não fala muito sobre relacionamento. Você nem gosta de tocar nesse assunto. E do nada você vem com isso de gostar.
-Eu não estou gostando dele. -Assegurei novamente.
Ele continuou me encarando.
-Obrigada pela preocupação, mas isso jamais irá acontecer.
Queria ter tanta certeza nessa frase quanto eu demonstro ter.