Como nascem os anjos
img img Como nascem os anjos img Capítulo 4 pandemônio
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Capítulo 6 adeus vida normal img
Capítulo 7 acordo selado img
Capítulo 8 os nove mundos da mitologia img
Capítulo 9 a tenebrosa verdade img
Capítulo 10 desconfianças img
Capítulo 11 romance secreto img
Capítulo 12 ninguém mente na casa de lúcifer img
Capítulo 13 não podemos ficar juntos img
Capítulo 14 desejos do coração img
Capítulo 15 a festa de lúcifer img
Capítulo 16 vício em sangue img
Capítulo 17 armações de zarek img
Capítulo 18 escapada noturna img
Capítulo 19 a mudança de sky img
Capítulo 20 gabriel img
Capítulo 21 veneno enoquiano img
Capítulo 22 as amantes de lúcifer img
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Capítulo 4 pandemônio

Mesmo que Cassie vivesse 100 anos, ela nunca imaginaria que havia mesmo um lugar em que demônios viviam em paz em seus respectivos e organizados lugares. Tudo parecia um sonho de fantasia muito louco em que em certos momentos ela queria acordar, em outros não. Tudo bem, Cassie tinha que admitir que aquela era a aventura pela qual almejou a vida toda, ela só não desejaria estar correndo risco de vida. Mas a vida estava lhe pregando peças mais uma vez e prova disso era que estava na capital do inferno, na casa de Sky, observando com fascinação tudo ao seu redor.

Dizer a palavra demônios e inferno era estranho, parecia ser um pecado só de pensar nessas palavras. Era louco de pensar que ela estava entre demônios e que eles se pareciam tanto com humanos, eram diferentes apenas pelas enormes asas que ali ficavam expostas, de todas as cores e tamanhos, e chifres de diferentes tamanhos que a maioria exibia.

- Você me demitiu do meu trabalho - Cassie disse, colocando Plutão no sofá incrivelmente macio -, mas não vou sair da faculdade.

- Se desejar riqueza, não vai precisar fazer faculdade ou trabalhar - ele sugeriu, sentando ao lado de Plutão.

- É muito mais que dinheiro. Eu disse que quero salvar vidas.

- Por quê?

- Porque minha mãe morreu sem ajuda.

O assunto ficou estranho. Sky não ousou dizer mais nada, ao invés disso acariciou a cabeça de Plutão, ignorando completamente o assunto.

- Então, quando vamos oficializar o acordo? - Ela perguntou, mudando de assunto.

- Primeiro eu preciso te explicar os termos do acordo e depois o cerimonialista vai concluir o processo.

Ela concordou com a cabeça, imaginando quem seria o cerimonialista e porque precisavam de um. Quer dizer, ela imaginava isso tudo como em Supernatural, não com todas essas entrelinhas burocráticas e complicadas.

- Eu vou te mostrar o seu quarto e suas coisas. - Ele chamou com a cabeça, indo em direção a um corredor. - Foi o Livian que escolheu enquanto eu estava me recuperando, então qualquer reclamação estará na conta dele.

A casa era bonita, moderna e aconchegante. Tinha cheiro de bolo de laranja, que fazia lembrar de sua infância enquanto sua mãe estava viva. Elas sentavam juntas na bancada da cozinha e ela cortava a fatias de bolo quentinho, depois comiam com um copo de leite e naqueles momentos junto com ela, Cassie sentia que nada poderia a machucar nem a alcançar.

Sky a levou até o penúltimo quarto do corredor. Havia mais dois no enorme corredor e ela se questionou de quem seria o outro, talvez outro humano em acordo.

Quando ele abriu a porta e deu passagem para Cassie entrar, se deparou com um quarto rosa e bichos de pelúcia enfeitando a cama e a cômoda.

- Quantos anos você acha que eu tenho? - Soltou uma risada. - Quatro?

- Em minha defesa, foi o Livian que preparou o seu quarto - ele disse, erguendo as mãos em rendição.

- E eu acho que você tem dez - a voz de Livian invadiu o lugar, para logo em seguida ele adentrar o quarto com uma risada. - Olhe as roupas, veja se gosta.

Cassie abriu o armário no canto do quarto e passou as mãos pelas roupas em sua maioria preta ou de couro, aparentemente em um número menor que o seu. Livian só poderia estar querendo pregar alguma peça nela.

- Quarto rosa e roupas pretas - ela comentou, segurando um vestido de couro com as sobrancelhas erguidas. - Um ótimo equilíbrio.

- Estou ansioso para ver como vai ficar em você - ele disse com um sorriso. - Eu escolhi a dedo, é melhor dar valor e agradecer.

- Sinto muito, mas não vou usar essas roupas - ela respondeu, jogando o vestido na cama. - Elas são curtas, apertadas e tem couro demais.

- É a única coisa que tem para você vestir. - Livian ergueu as sobrancelhas, dando de ombros. - Mandei queimar todas as suas roupas. Aliás, você tem o estilo de uma velha de 90 anos. Agora já sei porque não tem namorado.

- A minha vida amorosa não diz respeito a você e por que você mandou queimar as minhas roupas? - Questionou, tentando não alterar a voz com ele. - Por acaso, vocês acham que mandam em mim?

- Basicamente.

- Livian! - Sky repreendeu. - Mandamos queimar porque os servos dos anjos sabem como você se veste, como cheira, aonde vai... agora você precisa ser uma nova pessoa.

Aquilo, definitivamente, destruiria sua vida por completo e o que restou dela.

- Á propósito - Livian disse com desinteresse -, eu me matriculei na sua faculdade. Sorte sua ter que ficar comigo 24h por dia.

- Eu estou no último ano.

- Eu usei minhas habilidades, manipulei algumas pessoas e estou na mesma turma que você, bem do seu ladinho.

- Eu quero o Sky. - Ela cruzou os braços.

- Eu não posso - Sky disse, com certo desapontamento no tom de voz.

- Por quê?

- É uma longa história - disse rapidamente, já saindo pela porta. - Eu tenho algumas coisas para resolver. Livian, mostre a ela as coisas por aqui, por favor.

- Virei babá. - Livian revirou os olhos. - Que divertido.

Quando a porta bateu, ela soube que Sky havia saído e soube também que ele saiu apenas para evitar a sua pergunta. Aquela foi a confirmação de que ele não queria contar tudo a ela.

- Olha, eu quero esse gato longe do meu sofá de veludo - Livian disse indo até a sala. - Vai ficar cheio de pelo.

- Eu estou morando aqui também, então eu acho que ele fica aonde quiser. Até porque o Plutão não é sujo.

- Você só está aqui porque o Sky é idiota o suficiente para fazer um acordo não planejado. - Ele parou e a encarou. - A casa é minha, não me provoque.

- Eu não tenho medo de você - ela respondeu.

- Mas deveria. Não sabe quem eu sou.

- Quem você é?

- Também sou conhecido como o demônio dos prazeres.

- O demônios da luxúria, que assustador.

- Símbolo da ira e violência.

Cassie encarou ele sem mover os olhos um segundo sequer e ele fez o mesmo, tentando intimidá-la. Ela não deixaria ninguém, muito menos um homem, lhe amedrontar.

- Você é corajosa. - Ele soltou uma risada. - Ou vamos nos dar bem, ou vamos nos matar.

"Nos matar, com certeza", era o que ela queria responder, porém ficou quieta para evitar mais discussão.

- Vem - Livian chamou, indo até até porta sem esperar. - Vou te mostrar um pouco do pessoal daqui e explicar algumas regras de sobrevivência.

Cassie depositou um beijo em Plutão antes de correr para alcançá-lo, então o seguiu pela enorme rua com casas grandes.

Tudo parecia realmente como um bairro humano, sua visão de inferno era com pessoas gritando de dor e fogo por todo lado, mas ali tinha algo que a deixava confortável, como ela nunca se sentiu em outros lugares que frequentou.

O canto das ruas era enfeitado por flores e tudo era limpo, com as pontas das torres incrivelmente reluzentes em contato com o brilho do pôr-do-sol. Ela concluiu que, mesmo sendo o inferno, parecia o paraíso.

- Os contratantes geralmente não moram conosco, mas quando estão sob ameaça, isso se torna necessário - ele começou, prestando atenção na rua pouco movimentada. - Por isso tivemos que apagar seus rastros. Claro que sabemos que para você terminar a faculdade é importante, por isso estarei com você. Os anjos são perigosos.

- É isso que eu não entendo - falou, balançando a cabeça negativamente -, os anjos deveriam nos proteger, não é?

- Eles protegem, mas quando julgam que uma pessoa é boa o suficiente para isso.

- Todos os demônios fazem acordos?

- A maioria, sim. Isso aumenta o nosso poder, podemos ter o que queremos do contratante em troca do desejo.

- Você sabe o que o Sky pedirá?

- Ele nunca falou. - Livian parou e a olhou, agora dessa vez com preocupação nos olhos. - Cassiopeia, você precisa saber que é a primeira contratante do Sky.

- É sério? - O queixo dela caiu em surpresa. - Por quê?

- Eu não deveria estar te contando isso, nem sei se ele vai gostar, mas o Sky antes de ser um demônio era um anjo. - Ele viu a confusão no rosto dela e se apressou: - É estranho, eu sei, mas ele foi um dos anjos que se uniram ao Lúcifer quando ele ainda era um dos querubins de Deus. Ele se arrependeu de ter traído Deus, mas não poderia mais voltar atrás, então ele jurou nunca corromper um humano ou cometer qualquer ato cruel contra vocês.

- Nossa - foi a única que ela conseguiu emitir, então virou a cabeça e viu Sky do outro lado da rua falando com um homem.

Ele não parecia mesmo um demônio, não como os outros. Havia um toque angelical no canto de seus olhos e ele era atencioso e gentil demais. Ela só não sabia se ser sua primeira contratante era algo bom ou ruim.

- O que tem lá? - Cassie ficou nas pontas dos pés e apontou para o que parecia uma cidade depois de um rio.

- Lá fica Arcane, lar dos demônios líderes daqui. - Ele apontou para o lado oposto. - E lá fica Darkling, onde moraram os demônios dos pecados capitais.

Cassie observou tudo com atenção. Era possível ver apenas Darkling e Arcane, a sua frente havia uma enorme floresta escura e depois dela era possível ver luzes.

- Todos aqui temos funções - ele continuou a explicação. - Nós moramos em Hellion. Depois da floresta a oeste fica Verendus, Lito e Krayr. A leste fica Karsia e Hiraeth.

- É como se fosse um país.

- De certa forma, é. Temos o nosso próprio povo, amigos, família, sem anjos e humanos.

- Eu estou aqui.

- É, tem você. - Livian mordeu o lábio inferior. - Como eu disse, humanos não são comuns aqui. Na verdade, é muito raro e faz anos que um humano não mora aqui, por isso você precisa andar na linha e não pode ir para Arcane, Darkling ou outra região. Esses demônios não se importam se você está em um contrato com um de nós. O seu sangue é puro, portanto muito poderoso.

- Vocês tem o dom de me assustar, obrigado.

- Não agradeça. Isso é um pedacinho do que você vai encontrar.

- Eu entendi, não vou ir para outros lugares. Eu nem tenho interesse.

- Saia apenas comigo ou com Sky. Eles não podem invadir nossa casa.

Cassie continuou observando Arcane. A noite estava chegando rapidamente e as torres espelhadas refletiam o brilho da lua e das estrelas.

- O que você pediria em troca? - Ela se voltou para Livian com curiosidade.

- Que não se apaixonassem por mim - respondeu como se fosse óbvio.

Ela soltou uma risada alta e empurrou seu ombro levemente.

- Não é uma coisa difícil - comentou, mais para si mesma.

- Como assim? Olhe para mim!

Cassie olhou para ele e cruzou os braços, bocejando em seguida, ainda sorrindo.

- Eu pediria o que a pessoa mais ama na vida - ele respondeu em tom sério.

Ela desfez o sorriso imediatamente franziu o cenho.

- Isso é cruel, até para você - falou.

- Meus contratantes sabem dos termos antes de selarem o acordo. - Deu de ombros, com indiferença. - Se eles aceitam, a crueldade é deles, não minha.

- Eu tenho medo do que o Sky vai pedir porque eu não escolhi fazer um acordo.

- O seu caso é raro, eu nunca ouvi falar disso. Eu só me pergunto como você nos viu. Quer dizer, humanos não podem ver anjos e demônios, a não ser quando demônios são invocados com um ritual.

- Se você não sabe, imagine eu. Eu cai sem paraquedas nesse mundo louco, estranho e perigoso.

- E o que você pedirá a ele?

- Um último momento com a minha mãe - ela respondeu após pensar por alguns segundos. - Ela morreu há anos e eu nunca consegui me despedir.

- É isso? - Ele revirou os olhos. - Você pode ter tudo e vai pedir isso? Todos os humanos são estúpidos assim ou é só você?

- Você não entende e nem poderia já que não tem coração, muito menos sentimentos!

Quando Livian não respondeu, ele saiu sem dizer mais nada de volta para "casa".

- Tem razão! - Ele gritou, a fazendo parar no lugar. - Eu não tenho um coração!

"Idiota", Cassie pensou evitando o ímpeto de dizer essa palavra em voz alta para que todos escutassem e soubessem quem Livian era.

O que parecia fútil para eles, era importante demais para ela e tocar nesse assunto era doloroso. Ver sua mãe uma última vez era a única que ela queria e não iria abrir mão disso por nada. Era só o que realmente importava.

            
            

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