Capítulo 4 E ele tem namorada!

Haley

Depois que Adam se foi, o Richard veio até a minha sala com aqueles óculos redondos e sua careca brilhante. - Amadah...

- Oi. - tentei iniciar a leitura do próximo manuscrito.

- Agora que a tempestade passou. Me conta melhor qual a sua relação com o mili que comprou a editora sem pechinchar... - ele sentou na cadeira que antes o Adam havia sentado e eu levantei meu olhar para ele.

Seu sorrisinho de medo me fez adotar uma postura menos rígida. Às vezes eu sou muito durona, mas mesmo batendo de frente com o meu chefe, ele sabe que eu o tenho como um familiar. O carinho que tenho por ele eu posso comparar com o que tenho pelo meu pai.

- Podemos conversar sim. Mas pode ser em outro lugar? Eu não quero que nenhum fofoqueiro ouça a minha história.

- Tudo bem, querida. Vamos a cafeteria da esquina, o que acha? - ele levantou da cadeira.

- Sim. Acho uma ótima ideia. - eu fechei os documentos no computador e o segui.

Um café sempre é bom.

- Eu já te falei que um dia vou abrir uma livraria chamada "café e fofoca"? - peguei minha bolsa e fui logo atrás dele.

- Já sim. - ele ficou rindo.

- É que realmente são duas coisas que eu admiro. Uma que entra e outra que sempre saem da minha boca.

Ele riu mais ainda. - Você é demais, Haley.

- Aonde vão? - Camile perguntou com seus grandes olhos. Ela sempre está prestando atenção em tudo. Ela e seu parceiro, Josh, que não larga de ser fofoqueiro, por mais quieto que pareça.

- Vamos sair a negócios. - Richard respondeu e eu entrei no elevador junto com ele.

Carine é minha colega/amiga, mas não temos uma amizade a ponto de eu me abrir tanto com ela, igual ao faço com o Richard, que segurou a minha mão desde a época da faculdade. Ele quem me deu o estágio e depois da formatura ele me deu um emprego. Tenho ele no meu coração com muita gratidão.

Saímos do prédio e atravessamos a rua para ir no café da esquina. Ali serve o melhor café da cidade.

Sempre sentamos ali na frente. Eu e Richard. São raros os dias que não vamos a este café. Quando estamos ali, não somos mais chefe e funcionária. Mas amigos.

Pedimos o capuccino e esperamos.

- Tá. Agora conta tudo, menina. Quero saber de tudo. Não sei porque, mas o arco-íris que me rodeia me faz sentir que daí vai sair uma história bafônica.

- Não se empolgue tanto, Richard. - ri com o seu jeito. - É mais um clichê adolescente da vida real. A verdade é que eu e Adam fomos namorados.

Ele cobriu a boca que estava aberta.

- Sério, menina?! Mas foi a primeira coisa que eu imaginei quando vocês se reconheceram na sala de reuniões. Juro que eu vi um clima de primeiro amor logo de cara.

O Richard fala de um jeito muito engraçado. Ele é uma pessoa extravagante e consegue fazer um evento que qualquer simples coisa.

- Ficou tão na cara assim? - eu até fiquei sem jeito com isso. - Já faz muito tempo. Quando eu tinha 15 anos e lia muitos livros de romance. Nessa época eu idealizava viver um romance como nos livros. Aí eu o conheci e por 3 anos foi tudo perfeito, até ele tornar seu hobbie numa profissão. Ele adorava tirar fotos minhas e uma delas parou nesses sites de quem sabe fotografar. Ai o Animal Planet achou que ele seria um ótimo fotógrafo de animais. Mas não me pergunte se eles acharam que eu era uma vaca ou uma galinha. - eu ri e ele riu junto comigo. - E aí ele resolveu largar tudo e ir pra selva africana. Inclusive terminou o namoro comigo.

- Nossa! Mas não era um motivo muito forte, né?

- Não. Pior que não. Mas acho que ele pretendia ficar por lá e não queria que algo o prendesse aqui. Enfim, eu sofri pra caramba com isso. Ele foi o meu primeiro namorado e ele me tratava como eu sonhava. Do jeitinho que eu queria. E também tinha a grande capacidade de me aguentar com o meu deboche e você sabe... os meus surtos quando não gosto de algo. Eu estava me sentindo num romance, depois disso, eu até parei de ler romances fora da realidade.

- Então a culpa por você reprovar tantos livros é dele? - concluiu enrugando entre as sobrancelhas.

- Não. A culpa é dos autores mesmo. Eu só faço o meu trabalho e não misturo a vida real com trabalho. - tirei as mãos de cima da mesa para que o garçom deixasse a minha xícara de café ali.

- Ótimo. Eu espero que você continue assim, porque Adam já deixou bem claro que estará diariamente conosco, acompanhando tudo e buscando estratégias para melhorar o desempenho da empresa. - ele tomou um gole do café e eu quase derrubei o meu.

- Como assim?! Ele vai estar com a gente todo dia?! - me abalei com a notícia.

Eu esperava que ele só comprasse.

Como disse ele mais cedo, nem de ler ele gosta. Ele nem entende como funciona uma editora. Isso é loucura.

- Sim. É claro. E como ele é o dono, nós não podemos fazer nada.

- Você tá feliz, né? Milionário, pra que vai continuar trabalhando? - desta vez consegui tomar meu café.

- Essa empresa é a minha vida, Haley. Independente de quem seja o dono, desde que ele tente resgatar os dias de glória da nossa editora e me mantenha no meu cargo, eu estarei feliz. Eu quero que assim como uma fênix, a nossa editora ressurja das cinzas. - sua esperança me contagiou.

Tomara que o Adam consiga alcançar as expectativas de todos.

E falando nele, não é que o encosto acabava de atravessar a rua na direção da cafeteria?

- Merda. - escondi meu rosto. - Ele ainda tá por aqui e está vindo pra cafeteria.

Só pode ser perseguição.

Olhei novamente e ele havia se encontrado com uma mulher loira, com cara de boneca barbie, que o cumprimentou com um beijo na boca e depois segurou sua mão. Meu coração disparou vendo isso. Logo em seguida, Adam olhou pra onde estávamos e apontou para nós.

A garota abriu um grande sorriso e vieram os dois.

Sacanagem.

E ele ainda tem namorada?

E a história de "um recomeço"?