Ela era realmente muito bonita e muito segura de si. Isso a deixava esnobe e inacessível.
Nina era muito diferente da irmã. Era bonita também, mas tinha uma beleza distinta. Ela era muito simples e se vestia com modéstia. Na verdade, tentava ao máximo não ser comparada à Catarina. Queria evitar aborrecimentos. Sobretudo com seu pai. Nunca se deslumbrou com a fortuna dele. Nem tinha grandes ambições. Tornou-se professora. Tinha talento para lidar com crianças. Seu maior sonho era casar e constituir família. Queria ter três filhos. Já tinha até os nomes. Nina era muito espontânea e sorridente. Sua alegria era contagiante.
Fazia amizade com todos, sem distinção. Principalmente com as pessoas simples da cidade e da fazenda também. Gostava de dar atenção às elas e se envolver em suas pequenas questões. De vez em quando pegava carona na carroça de Seu Osvaldo, o senhorzinho que entregava o leite na cidade. Adorava ouvir as histórias dele. Ele tinha quase setenta anos, mas ainda era muito saudável e forte.
- Oi Nina!
- Oi Seu Osvaldo!
- Indo a pé de novo pra escola?
- É, resolvi fazer uma caminhada!
Seu Osvaldo deu uma gargalhada.
- Sobe aí! Você tem que trocar aquele carro, menina! Ele vive te deixando na mão!
- Ah, não! E qual desculpa eu vou arrumar pra pegar uma carona com o senhor?
- Ra-ra-ra! Sobe aí, então!
Agora temos um Otoniel um pouco mais velho e também mais carrancudo que antes. Laura ainda mantinha uma beleza jovial, mas também tinha sofrido a passagem do tempo. Rosa permanecia trabalhando no casarão, porém agora, por estar mais velha, sua patroa colocara uma moça chamada Tereza para ajudá-la na cozinha e nos serviços. Rosa também passou a ter um quarto melhor e se sentava para fazer as refeições junto com a família.
Otoniel criava várias raças de touro em sua fazenda. Dentre eles estavam os famosos touros de rodeio. Existia em sua fazenda um touro muito valente da raça australiana Charbray. Ele era muito bravo e nenhum peão tinha conseguido montar nele ainda. O Fazendeiro resolveu lançar um desafio oferecendo quinhentos mil reais para o corajoso que conseguisse ficar três segundos montado no bicho. A apresentação seria uma das atrações da próxima festa. A notícia se espalhou causando o maior alvoroço na cidade.
Chegara na cidade um jovem veterinário chamado Murilo Freitas. Ele e seu amigo e sócio José Roberto Viana montaram uma loja de produtos veterinários e coisas da roça. Os dois tinham feito faculdade juntos na capital. Roberto era filho da cidade, mas Murilo tinha vindo do interior de Minas Gerais. Era um rapaz bonito, branco bronzeado, corpulento, olhos claros, cabelo ondulado castanho claro, quase loiro e barba por fazer. Tinha 28 anos. Sua forma de se vestir era simples como a de qualquer comerciante, mas arriscava a vestir roupas de cowboy de vez em quando, ao prestar serviços nas fazendas, o que lhe caía muito bem. Murilo era um rapaz muito alegre e extrovertido e estava muito empolgado com sua nova fase de vida e cheio de planos para o novo empreendimento.
A festas de rodeio e vaquejada estavam se aproximando. Eram as mais esperadas do ano. Vinha gente de todos os lugares daquela região. Peões de todo país e até do exterior. Movimentava e aquecia o comércio da pequena cidade e todos já estavam se preparando para o evento, principalmente os fazendeiros. A história do touro estava causando burburinho.
Roberto chegou na loja anunciando a novidade e correu até ao computador para abrir o site da cidade para confirmar realmente se era verdade.
- Esse velho inventa moda! - exclamou ele.
Murilo que estava organizando uma das prateleiras, se mostrou curioso:
- Está falando de quem?
- O Sr. Otoniel!
A resposta lhe soou indiferente. Ele perguntou:
- E quem é Otoniel?
Roberto o olhou admirado por ele não saber de quem se tratava:
- Sr. Otoniel Montenegro! O maior fazendeiro da região! - falou ele com empolgação.
- O pai da moça mais linda da cidade! - Completou Júnior, com um sorriso abobalhado.
Júnior era o único funcionário contratado até o momento e estava meio perdido ainda, por isso trazia consigo uma flanela em mãos para sempre limpar alguma coisa. Murilo sorriu de lado, e disse:
- Moça mais linda da cidade, é? Isso muito me interessou! – Revelou ele.
Júnior, percebendo seu interesse, puxou o celular e acessou uma foto de Catarina em uma rede social e lhe mostrou. Murilo ao se deparar com a imagem, arregalou os olhos admirado.
- Ai, papai! – Exclamou ele fazendo um gesto como se tivesse recebido um golpe no coração.
Júnior sorriu e deslizou o dedo sobre a tela. Apareceu outra foto da moça ainda mais sensual.
- Ui! – Falaram os dois em coro.
- Como é mesmo o nome dela? - Perguntou ele impressionado.
- Catarina. Catarina Montenegro!
- Catarina! – Repetiu ele deslumbrado – Nome de rainha!
- Melhor não se animar! - Advertiu Roberto.
- E por que não? – Perguntou ele tranquilamente ainda sondando as fotos da moça.
- Você não conhece o pai dela! - disse Roberto.
- O velho é muito brabo! - Acrescentou Junior recolhendo o celular.
Murilo fez uma careta que mostrou que ele não se importou muito com a informação.
- E o que você estava dizendo mesmo, Beto? O que o velho aprontou? – Perguntou ele curioso.
Roberto, então revelou:
– Ele está oferecendo 500 mil reais pra quem conseguir montar por três segundos no Tsunami!
- Montar no que?
- Tsunami é o touro! - Informou Junior. - O Zeca tentou montar nele ano passado, não saiu nem do brete!
Murilo fez uma expressão de admiração, enquanto Beto lhe lançava um olhar de desafio.
- Não quer se arriscar, Murilo? – Perguntou ele animado.
- Até que não seria nada mal ganhar 500 mil!
- Deus me livre! Eu não me arriscaria nem por um milhão! - Comentou Junior
- Eu também não tenho tanta coragem! – Revelou Roberto.
Murilo cruzou os braços, analisou a imagem do touro na tela do computador e falou:
- Hum é algo a se pensar bem! É...Vamos ver quem são os homens corajosos dessa cidade, então!