O AMOR QUE VOCÊ NÃO QUIS
img img O AMOR QUE VOCÊ NÃO QUIS img Capítulo 4 EM FESTA DE RODEIO
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Capítulo 6 O ACERTO img
Capítulo 7 O CASAMENTO img
Capítulo 8 VIDA A DOIS img
Capítulo 9 CASA LIMPA img
Capítulo 10 UMA LINDA AMIZADE img
Capítulo 11 Nova Proposta img
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Capítulo 4 EM FESTA DE RODEIO

As festividades começaram e iriam durar três dias. A cidade estava animada. Pessoas vestidas a caráter, vindas de todos os lados. Moças e rapazes bonitos e sorridentes usando xadrez, chapéus e as famosas botas. Aos arredores da arena, as barraquinhas de lanches estavam a todo vapor. Pipocas, algodão doce, churrasquinho, comidas típicas. As músicas sertanejas embalavam toda movimentação.

A arena estava pronta. O palco recebia os artistas da temporada que cantavam as músicas do momento. Os peões estavam em aquecimento. Os touros esperavam seu momento de brilhar. Os palhaços já estavam dando suas cambalhotas e arrancando gargalhadas do público. O prefeito da cidade ocupava um dos camarotes acenando e sorrindo para o povo. Mais à frente estava o camarote do Sr. Otoniel. Ele estava recebendo um dos organizadores do evento para se inteirar de como seriam feitas as apostas. Alguns rapazes aceitaram o desafio de 500 mil.

- Muito bom! - Exclamou ele dobrando a manga da camisa. - O Tsunami vai ficar famoso com essa história!

Laura estava sentada ao seu lado, mas não estava prestando muita atenção no marido. Seus olhos procuravam Catarina que logo, logo iria se apresentar na prova dos três tambores.

- Eu sempre fico mais nervosa que ela! - comentou Laura.

- A Catarina tira de letra e com certeza vai ganhar! E onde está a Nina? Não chegou ainda por que?

- Ela deve estar por aí com os amigos!

Nina realmente tinha combinado de se encontrar com os amigos. Bia estava em uma barraquinha de cachorro-quente acenando.

- Nina! Nina! Aqui!

Nina e Lipe surgiram do meio das outras pessoas, vindo se encontrar com ela no lugar que tinham marcado. Ao avistá-la eles apressaram o passo. Nina estava de calça jeans, tênis e uma blusa branca com coisinhas bordadas. Os cabelos compridos amarrados em um rabo de cavalo. Eles se cumprimentaram com abraços e sorrisos. Lipe deu um beijo na boca de Bia, pois eram namorados. Segundo Nina, eles namoravam desde criança. Lipe era o típico cara bacana do interior. Moreno claro, supertranquilo, cabelo grosso, bem cacheado, que ele sempre cortava quase na máquina zero. Gostava de tocar violão nas rodinhas entre amigos e quase sempre era o contador de piadas oficial do grupo. Por influência da namorada arriscara colocar um brinquinho na orelha direita. A amiga de Nina era um pouco mais baixa que ela. Tinha olhos verdes marcantes, cabelos quase curtos. Loiros por um desses procedimentos feito em salão de beleza. Gostava de andar sempre muito maquiada e cheia de acessórios. Trabalhava como esteticista. Era muito simpática e extrovertida.

- Nina, você não veio vestida de cowgirl? - reclamou Bia.

- Minhas botas estavam apertadas! E você sabe que eu não curto muito essas coisas!

Bia fez um bico de reprovação e falou:

- Podia pelo menos ter passado um batonzinho e colocado uma roupa que valorizasse mais o seu corpo! Você tem um corpo tão bonito, Nina!

Lipe que estava atrás de Bia com a cabeça repousada em seu ombro, abraçando-a pela cintura, sacudiu a cabeça.

- Mas eu passei batom! É que saiu porque tomei um sorvete! Você vive me criticando, Bia!

- Porque sou sua amiga! Já imaginou se o amor de sua vida estiver andando por aí? Você tem que estar preparada!

- Se fosse o caso, ele teria que me aceitar do jeito que eu sou!

- Não custa nada colaborar, né?

Nina sorriu e falou fazendo caretas de desprezo:

- É, mas eu não vou encontrar o amor da minha vida numa festa de rodeio! - e fazendo uma carinha sonhadora, completou - Pra sua informação, o amor da minha vida está na África neste exato momento!

Lipe e Bia disseram em coro:

- Otávio!

Nina franziu o nariz e fez uma careta desprezando o deboche dos dois, se mostrando envergonhada ao mesmo tempo.

- Conseguiu falar com ele essa semana? –Perguntou Bia

- Só por e-mail. Onde ele está não pega celular, mas tem um computador.

Bia suspirou profundamente e comentou:

- Ai, eu acho lindo esse relacionamento de vocês, mas não sei se eu aguentaria esperar tanto!

- Olha quem fala! O Lipe tá te enrolando há um tempão! - Observou Nina.

- Eu não! Tudo está correndo no tempo certo! - protestou Lipe cheirando o pescoço de Bia.

Bia sorriu e lhe retribuiu o carinho com um estalado beijo na bochecha. Eles eram muito melosos um com o outro. Nina revirou os olhos. Bia virou-se para ela e perguntou:

- E como ele está? O que contou dessa vez?

Ela sorriu animada e tirou o celular da bolsa.

- Ele me mandou umas fotos!

Bia se mostrou curiosa. As duas juntaram as cabeças para olhar o celular. O aparelho tinha uma capa bem chamativa com o tema da Hello Kitty. Nina começou a deslizar o dedo sobre a tela e puderam ver estampada nela a foto de um lindo rapaz branco, de cabelo escuro liso, bem cortado, rodeado de crianças africanas. Os óculos escuros lhe cobriam os olhos, mas o sorriso bem alinhado estava a mostra. Era bem evidente que ele estava muito satisfeito com o que estava fazendo. Nina o olhava deslumbrada.

- Ele não é lindo? - perguntou ela.

A pergunta parecia mais uma afirmação. Nesse momento vinha um rapaz conversando com outro, rindo e gesticulando. Ele tentou se desviar de uma criança que apareceu do nada e acabou esbarrando em Nina que estava de costas para ele. O celular escapuliu de suas mãos, sendo arremessado para cima. Nina deu um grito e tentou agarrá-lo, mas não teve sucesso. O aparelho estatelou no chão e ela se desequilibrou. O rapaz a segurou para que ela não caísse. Foi tudo muito rápido. O outro rapaz que estava com ele seguiu na frente e logo foi engolido pela multidão.

- Opa! Desculpa, moça! - falou ele muito constrangido.

- Presta atenção, moço! - Reclamou ela envergonhada.

- É que o menino passou muito rápido, foi mal! - explicou ele abaixando-se para pegar o celular.

Ele analisou se o aparelho estava intacto e antes de entrega-la ainda riu da capinha.

- Aqui está! São e salvo!

Nina pegou o telefone e começou a girá-lo à procura de algum dano. O moço ajeitou o chapéu, se desculpou mais uma vez e com um gesto parecido com uma continência, olhou para Lipe e Bia e se despediu.

- Ei! - Gritou Nina ainda de olho no celular - Espera aí!

O moço se voltou. Bia cutucou Lipe com o cotovelo.

- Está quebrado! Trincou a tela! - reclamou ela lhe mostrando o aparelho.

Ele o analisou com desconfiança. O outro rapaz que estava com ele apareceu o chamando:

- Murilo! Vamos! O Beto achou lugar na frente! - era a voz do Júnior - Você não queria ver a Catarina? Vai começar!

- Já vou! - Disse ele fazendo sinal de espera. E virando-se para ela falou: - Eu acho que esse trincadinho já estava aí!

- Não estava não! - reclamou Nina.

- Dá pra ver que é um dano antigo, menina!

- Não é não! Ele... Ele nem está ligando!

- Espera aí, garota! Eu não vou cair nesse golpe, sua espertinha!

Nina fez uma cara como se tivesse tomado algo repugnante e caiu o queixo sem palavras. Ela preparou um xingamento que não conseguiu pronunciar.

- Golpe? Tá me chamando de golpista? - foi o que ela conseguiu dizer.

- É o que tá parecendo! Se quer um celular novo, peça pro papai!

- Escuta aqui, eu não preciso disso... Posso comprar um celular!

- Então o problema tá resolvido, garota! Compra outro celular e a internet vai ser eternamente grata por você conseguir postar aquelas fotos fazendo biquinho!

Ele fez uma pose tentando imitar as tais fotos, erguendo a mão em v e fazendo bico. Bia e Lipe começaram a rir. Nina o olhou mais indignada ainda.

- Como você é grosso!

Murilo a olhou debochado e falou:

- E você é bem fininha!

Nina tremeu os lábios de raiva

- Não vai chorar! - Adiantou-se ele.

- Ai, por que você foi esbarrar logo em mim no meio de tanta gente?

- Olha só...

Os fogos de artifícios começaram a explodir. Eles esqueceram a briga e se voltaram para vê-los. Os raios coloridos refletidos nos olhos lhes arrancaram um sorriso que pareceu acalmar os ânimos. Bia e Lipe também curtiam o momento ainda abraçados. Murilo e Nina se olharam novamente. Ele sorriu de forma amigável e falou:

- Curte a festa, Hello Kitty!

Nina o olhou surpresa e antes de dizer alguma coisa, foi surpreendida por outra explosão de fogos que chamou sua atenção, fazendo-a erguer os olhos para o céu. Ao girar a cabeça de volta para olhar o rapaz, ele já tinha desaparecido. Bia chegou por trás dela, rodeou o seu braço e puxou-a consigo, dizendo:

- Vamos Nina, vai começar!

O conhecido locutor Juarez Portela acabara de entrar na arena animando a torcida com sua voz marcante. Fez os agradecimentos aos patrocinadores, ao prefeito e a todos os envolvidos na festa. Os rapazes: Murilo, Beto e Júnior, tomaram seus lugares no momento em que estavam fazendo uma apresentação de dança dos cavalos ao som da Banda Calypso. Foi uma produção muito bem feita. A plateia aplaudiu. Juarez Portela encantava o público com suas trovas:

- Se mulher fosse dinheiro

Eu vivia pedindo esmola

E Se chovesse mulher

Arrancava o telhado fora

A loira me deixou e a morena foi embora

Só me restou nesta vida Rodeio, pinga e moda de viola

(Marco Brasil)

Nina ficou um pouco com seus amigos, mas teve que passar no camarote de seu pai.

- Ei, onde você estava, meu bem? - perguntou Laura.

- Oi, mãe! Estava por aí! – Respondeu ela abaixando-se para lhe dar um beijo no rosto.

Otoniel a olhou de lado e repreendeu:

- Você não devia ficar andando por aí assim! É uma irresponsabilidade!

- Oi pra você também, pai! E obrigada pela preocupação!

- Sua irmã já vai se apresentar! - informou Laura eufórica.

Nina sentou-se ao lado da mãe para assistir. Os tambores já estavam em posição. O locutor começou a narração:

- Aí vem ela Catarina Montenegro, uma das favoritas da noite! Bicampeã da prova dos tambores! Montada nele, Imperador! Animal arisco, muito esperto! Quem sabe vai soar a sirene?

Catarina entrou sorridente desfilando em seu cavalo, vestida com as roupas de amazona. Calça branca, botas de couro, camisa de seda com estampa de oncinha e chapéu preto. Murilo a olhou deslumbrado.

- Que mulher! - exclamou ele aplaudindo e assoviando.

O juiz anunciou o início da prova. Catarina empunhou o seu chicote e atiçou seu cavalo, que iniciou uma bela carreira até os tambores. Otoniel agitou-se em seu assento todo satisfeito. O locutor narrou cada movimento e por fim anunciou:

- 16.7! Tempo difícil de ser superado, minha gente!

- Isso! Isso!- vibrou Otoniel dando um soco no ar.

A plateia aplaudiu.

- Ainda não acabou, meu povo! Mais três belas damas ainda vão se apresentar esta noite! E também tem o tão esperado desafio do touro Tsunami! É, meus amigos, não tá moleza não! A noite promete!

As outras meninas também se apresentaram com maestria. A música subiu anunciando um pequeno intervalo e os palhaços invadiram a arena fazendo seus shows de acrobacias arrancando gargalhadas do público. Os rapazes estavam se divertindo.

- Vou pegar umas bebidas! - anunciou Júnior.

Júnior era magrela e desajeitado. Tinha um nariz grande que sustentava muito bem seus óculos de nerd. Era um bom rapaz. Enquanto ele se afastava, Beto virou-se para Murilo e comentou:

- Acho que todos nossos possíveis clientes estão reunidos aqui. - Ele elevou a voz para sobrepor a música alta que tocava.

- Com certeza! Mas não tô afim de falar de trabalho agora! Tô extasiado até agora com a minha Catarina!

- Sua Catarina? - Beto meneou a cabeça

- Ela vai ser minha, meu amigo!

- Segura tua onda!

Murilo sorriu para o amigo de um jeito que Beto já previa um desastre.

- iiiih! Eu já conheço essa cara! - exclamou ele.

- Que cara?

- Cara de que vai aprontar. Sossega e curte a festa!

Beto girou o pescoço se balançando no ritmo da música que tocava, até que seus olhos pararam numa linda morena. Murilo levantou-se ajeitando o chapéu sobre os cabelos e ajustou a camisa na calça. Olhou na direção em que ficavam os animais e em seguida para o camarote do Sr. Otoniel. Cuspiu no chão e virou-se para Beto.

- Vou aceitar o desafio! - anunciou ele.

Beto que estava flertando com a garota que lhe sorria, não lhe deu muita atenção, mas respondeu com um:

- Certo...

- Mas eu não vou querer os 500 mil, não! - revelou Murilo eufórico.

Beto apurou os ouvidos e como se despertasse de um transe, perguntou:

- Como é que é? Você tá falando do desafio do touro?

Murilo ergueu as sobrancelhas e balançou a cabeça dizendo sim. Beto se alvoroçou.

- Você tá maluco, Murilo? É o tsunami! Esse touro é o diabo! Isso é pra profissional!

- O anúncio dizia qualquer um que aceitar o desafio!

- Eu sabia que você ia aprontar! E que história é essa de não querer os 500 mil?

Murilo o encarou pretensioso.

- É porque eu tô pensando em fazer uma outra proposta pro velho! - Disse ele olhando novamente em direção ao camarote de Otoniel.

Beto se aproximou dele irritado e falando baixo, mas como se estivesse gritando.

- Escuta aqui, Murilo! Você não vai arredar o pé daqui! Seja lá o que tá pensando em fazer! Um conselho que eu te dou: Não se meta com o Sr. Otoniel!

- Eu só vou aceitar a aposta! E vou ganhar! - Falou ele com convicção, ajeitando o chapéu mais uma vez.

- Murilo! Murilo!

Murilo deixou Beto falando sozinho e precipitou-se pela multidão em direção ao local das apostas.

            
            

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