Capítulo 5 Madson

_Você fez o quê?! _ gritei, completamente chocada com o que meu pai acabou de me contar.

Levantei-me cedo pela manhã, preparei um café forte pois ambos precisaríamos. Mas nem mesmo a cafeína extra poderia ter me preparado para aquilo.

_Eu sinto muito querida! _ ele se desculpou, tentando me tocar, mas eu me esquivei de suas mãos.

Isso pareceu machucá-lo, mas eu não me importei.

Eu também estava machucada, droga!

Como se já não bastasse saber que ele tinha voltado a beber, agora eu descobria que também era viciado em jogos de azar!

Imaginei o que mamãe teria dito sobre isso.

Eu passava muito tempo imaginando o que mamãe pensaria sobre muitas coisas desde que ela morreu e isso me guiava em muitas das minhas decisões.

Mas esse mantra estava falhando miseravelmente gora.

_Eu tinha certeza de que a partida estava ganha. _ ele se explicou. _Eu deveria ter parado quando tive chance, então olhei para todas aquelas fichas na mesa... Era o que precisávamos para saldar a dívida do hospital e da casa.

_E agora não temos mais uma casa! _ disparei e ele desviou o olhar do meu.

Eu não sabia porque, mas algo me dizia que ele não estava me contando tudo.

Me deixei cair na cadeira da cozinha, completamente desnorteada.

O que eu faria para pagar aquela dívida de jogo e recuperar nossa casa?

_Eu vou dar um jeito... _ meu pai murmurou.

Jeito? Pensei, iônica.

A única opção que tínhamos no momento era procurar a pessoa para quem ele devia e tentar algum tipo de acordo.

Mas eu não poderia fazer isso hoje, me lembrei.

Eu tinha que dar aula de dança, pois o dia do torneio em que meus alunos participariam já estava chegando.

Estava ficando cada vez maior a lista de pessoas que eu não podia deixar na mão!

Levantei-me novamente da cadeira, suspirando.

_Eu vou pensar em alguma coisa. _ eu disse, me afastando para a entrada da cozinha.

_Podemos ir morar com sua tia... _ ele sugeriu e eu me voltei para ele, meu olhar lhe dizendo exatamente o que eu pensava sobre ir morar no Kansas.

_Essa será uma das minhas últimas opções, papai. _eu avisei. _Me dê o cartão que aquele idiota te deu. Vou ver se consigo pelo menos um prazo para levantar a grana.

Meu pai pareceu ficar pálido de repente, mas eu estendi a mão para ele, para que se apressasse.

Ele tirou do bolso um cartão preto e bonito e se aproximou para entregá-lo a mim.

Guardei-o no bolso da minha jaqueta e me virei para sair.

_Mad, por favor. _ ele me chamou de volta e parei. Eu não conseguia olhar para ele por muito mais tempo. Estava completamente decepcionada, mas eu não tinha a opção de correr para o meu quarto e chorar como uma garotinha mimada.

_A partir de hoje você vai procurar ajuda. _ eu avisei. _ Quero que jogue todas as bebidas dessa casa fora, papai.

Eu não esperei que ele me respondesse alguma coisa e sai, pegando minhas chaves, minha mochila e meu capacete no caminho.

Sentei-me em minha moto, que mamãe me deu de presente quando eu tinha feito dezoito anos e abaixei a cabeça, apoiando-me no guidom para relaxar um pouco a tensão em meus ombros.

Eu não fazia ainda a mínima ideia do que faria, mas eu precisava fazer alguma coisa!

Eu poderia permitir que alguém tomasse a casa da mamãe assim.

Era o lugar onde eu morava desde que tinha nascido.

Todas as lembranças dela estavam naquela casa.

Foi isso o que mais me doeu quando papai me contou sobre a dívida de jogo.

Coloquei o capacete, ajeitei a mochila em minhas costas e virei a chave na moto.

Ficar ali me lamentando não resolveria meus problemas.

_Cheguei, pessoal! _ eu avisei assim que entrei no salão.

Meus alunos estavam sentados no chão, conversando animadamente sobre o torneio que aconteceria em menos de um mês e se voltaram para mim com um sorriso de boas-vindas.

_ Tobby ainda não chegou. _ um deles me avisou e olhei em volta, só agora dando falta de Tobias.

Eu era a professora de dança, mas era ele o responsável por todos aqueles meninos e meninas, e ele precisava estar ali enquanto terminávamos os ensaios.

_Eu vou ligar para ele. _ eu disse, indo para a pequena salinha onde guardávamos nossos equipamentos de som. Tirei o telefone do bolso e disque seu número.

Eu não podia começar sem ele, e se ele se atrasasse muito acabaria me atrasando também para ir para o bar.

Ele atendeu no quinto toque, quando eu já estava imaginando que não o faria.

_Onde você está? _ eu disparei, sem me preocupar em falar bom dia primeiro.

Eu não estava tendo um bom dia e ele só estava piorando minha situação chegando atrasado.

Escutei risadas femininas ao fundo antes que ele me respondesse.

_Desculpe, sei que estou atrasado, mas eu tive um imprevisto... _ ele mentiu descaradamente, e isso me deixou ainda mais irritada.

_Quando terminar de exercitar o equipamento que tem no meio das pernas, venha imediatamente. Eu não posso me atrasar! _ avisei e antes que ele disse alguma coisa eu desliguei.

Então me lembrei de algo e disquei seu número novamente.

Ele atendeu no primeiro toque, desta vez.

_Mad...

_E tome um banho primeiro! _ ordenei antes de desligar novamente na sua cara.

Sai da sala com um sorriso satisfeito nos lábios.

Tobias odiava quando eu agia daquela maneira, dando ordens. Mas eu adorava fazer isso, porque eu sabia o quanto o incomodava.