- Você deveria pedir desculpas ao Apolo, não acha, Thea?
- Não acho não. Ele que começou – ressaltei, meio emburrada.
- Olha, não me interessa quem começou o quê? Ou quando? Eu
quero que os dois se entendam. Apenas isso. Eu vou sair do carro e ambos
vão conversar. Civilizadamente, ouviu Theodora? – Jacob olhou para mim e
eu assenti respirando fundo – Só é para os dois saírem daqui quando tiver
tudo resolvido entre vocês.
- E se a gente não se entender?
- Então eu lamento, amor. Mas vocês vão morar dentro desse carro
pelo resto de suas vidas.
Dizendo aquilo, Jacob saiu nos deixando a sós. Teve um silêncio
muito chato por alguns segundos, então eu saí do carro e entrei novamente,
agora sentando-me no banco do motorista, meio de frente para Apolo.
- Me desculpe pelo chute, mas você mereceu – falei, todavia ele
nem sequer olhou para mim – Porque que desde ontem, que eu apareci na
porta de vocês, você não vai com a minha cara, às vezes, hein Apolo? –
indaguei e ele me encarou, porém não abriu a boca então continuei – Tá, em
parte é minha culpa porque sou respondona e explosiva, principalmente
agora que estou com os hormônios loucos, mas e você? Por que me odeia?
- Eu não te odeio.
- Mas também não gosta de mim – rebati.
- Eu tenho medo.
- De mim?
Vi Apolo respirar fundo e colocar a latinha de refrigerante, que antes
estava entre suas pernas, no que parecia ser um descanso de copo entre os
dois bancos.
- Não tenho medo de você. Tenho medo de que me roube o Jacob –
ele sussurrou cabisbaixo.
- E por que eu faria isso? Olha para mim, Apolo – pedi segurando
seu queixo, fazendo com que ele erguesse o rosto e me encarasse – Eu acabei
de sair de uma relação em que sofri muito. A última coisa que eu quero
agora é entrar em outro relacionamento. E outra, Jacob não me ama...
- Mas gosta muito de você. Ele não compraria aquele urso enorme
se não gostasse.
Aquilo me pegou de surpresa.
- Eu pensei que era um presente de vocês dois?
- Não. O presente é só dele.
- E você acha que Jacob me deu o urso porque é apaixonado por
mim?
- E seria por outra coisa? – ele questionou.
- Eu tenho outra palavra em mente do que "Paixão" ou "Amor". Eu
acho que Jacob está sendo legal comigo por pena, Apolo.
- Ele não sente pena de você, Thea.
- Então será que o urso não deve ser em agradecimento pela bebê?
Por eu estar dando ela para vocês?
- É, pode ser – Apolo disse dando de ombros.
- Ok. Só que eu ainda não entendi esse seu medo de perder o Jacob
para mim. O que é bem ridículo, não acha? Essas últimas vinte e quatro
horas que passei com vocês, eu notei como o Jacob te ama muito. Porque ele
largaria o marido e ficaria com uma mulher, já que o Jacob é gay, né?
- Porque fiz coisas horríveis com ele.
- Não entendi – falei, franzindo o cenho em seguida.
- Você já sabe que eu e ele nos apaixonamos no ménage que a minha
irmã me convidou para participar...
- Sim, eu lembro que você falou isso hoje de manhã cedo.
- Então... Passamos a sair, primeiramente, como amigos, mas eu era
quarterback do time de futebol americano do colégio e participava do
famoso grupinho dos populares, então quando surgiu os boatos de que Jacob
e eu tínhamos um lance, eu neguei totalmente e foi nessa época que ele se
assumiu homossexual, então o grupo que eu andava passaram a zoar com o
Jacob no corredor. Praticávamos bullying com o coitado todos os dias. No
fundo, eu me sentia mal por fazer aquilo com quem eu já era apaixonado
muito antes daquele ménage que mudou nossas vidas, mas eu tinha que fazer.
Naquela época, o amor não importava e sim a reputação que eu tinha.
- Nossa... Mas ele te perdoou, não foi? Porque vocês são casados
agora.
- Sim, Jacob me perdoou quando ele voltou, após fazer faculdade
de Medicina em Londres. Eu já tinha me assumido gay, tanto interiormente
quanto socialmente, então o nosso relacionamento pós-reencontro foi muito
mais fácil e tranquilo.
- Aí você tem medo de que Jacob te troque pelo que houve no
passado?
- Isso.
- Mas, criatura, as pessoas não se casam só por casar e se o Jacob
se casou com você é porque te ama de montão e quer você do lado dele para
sempre. Eu tenho tanta certeza de que Jacob não vai te largar que eu até boto
minha mão no fogo pelo casamento de vocês.
Ele não falou nada, apenas ficou pensativo.
- Eu sinto um pouco de inveja de vocês, sabia? – comentei
segundos depois, fazendo o mesmo me olhar surpreso.
- Inveja da gente por quê?
- Vocês são lindos juntos, fofos um com outro e divertidos, cada um
na sua proporção e, sei lá... Eu torço para encontrar alguém que me olhe
apaixonadamente do jeito que você olha para o Jacob, que cuide
atenciosamente de mim do jeito que ele cuida de você e que me ame assim
como vocês se amam – declarei, já sentindo meus olhos se encherem de
lágrimas.
Apolo se inclinou um pouco e secou meu rosto com a ponta do seu
polegar.
- Tenho certeza de que você vai encontrar.
- É, tomara – falei dando um meio sorriso – Então... Bandeira
branca? Prometo não roubar o Jacob de você e se quiser eu posso até dá um
chute nos ovos dele para ficarmos quites – comentei, fazendo ele rir e negar
com a cabeça.
- Por favor, não.
Apolo me chamou para sairmos do carro e deu a volta, se
aproximando de mim e me pedindo um abraço, que logo o dei.
- Me desculpe pelo lance do porta-malas – ele disse, se
desvencilhando.
- Eu te dei o chute então estamos quites. Consegue andar direito?
- Ainda tá doendo um pouco, mas consigo sim.
Assenti então saímos meio abraçados, já que o mesmo estava com um
dos braços sobre meu ombro.
Tinha acabado de contar para os meus sogros, sobre a Theodora e o
que ela estava fazendo por mim e pelo Apolo, quando eles apareceram na
cozinha. Tudo indicava que ambos tinham se acertado, pois até sorriam,
então fiquei mais aliviado e feliz. Maitê e Frances logo nos felicitaram e
agradeceram a Thea pelo gesto nobre dela.
- Cadê a Leila, mãe? – Apolo perguntou enquanto nos sentávamos
no sofá da sala de TV que ficava perto da ampla cozinha, separada apenas
pela copa.
- Sua irmã saiu ontem para a despedida de solteira que a Filipa
organizou e a ela acabou dormindo por lá mesmo, filho – informou meu
sogro.
- Parece que sua irmã vai se arrumar lá na casa dela – minha sogra
complementou.
- Então eu estou indo para lá, fotografar a noiva – anunciou Apolo
que logo virou o rosto para o meu lado e me deu um selinho – A gente se ver
no casamento, amor.
Assenti dando um selinho de volta então ele se levantou.
- Porque está andando meio estranho, meu filho?
- Não foi nada, mãe. Não se preocupe, eu estou bem, Dona Maitê –
ele falou beijando sua mãe no alto da cabeça – Tchau, gente! Tchau, amor!
Até daqui a pouco.
- Espera, Cherzito!
- Você vai comigo?
- Quem você acha que vai fazer o penteado mais fabuloso de todas
as noivas desse planeta? Meus irmãos é que não vão ser, né?
Rimos.
- Ok. Querido, eu vou ter que ir com o seu carro, porque meu
equipamento de fotografia está lá.
Tirei a chave do bolso e joguei para Apolo, já pedindo que ele
tirasse a minha roupa e a da Theodora do porta-malas. Minutos depois, ele
entrou novamente e deixou os dois sacos plásticos e as caixas de sapatos
sobre o balcão da ilha da cozinha, despedindo-se de novo e saindo.
O casamento da Leila era às seis e meia então tínhamos ainda uma
hora até meu sogro ir buscar a filha e levá-la até o salão onde aconteceria a
cerimônia e a recepção. Seria no mesmo salão onde eu e o Apolo nos
casamos e comemoramos com nossas famílias e amigos. Deixei a Thea com
a minha sogra, pois ambas começaram a conversar sobre coisas de gestantes
que só elas deveriam entender, e fui ver o que meu sogro estava fazendo no
ateliê dele.
Frances era um cirurgião plástico bem conceituado tanto na
Colúmbia Britânica quanto na província canadense vizinha, Alberta, que nas
horas vagas adorava pintar quadros e contar piadas para fazer as outras
pessoas rirem. Já Maitê era artista plástica. Apolo uma vez me contou que o
amor deles em comum pela arte fora o que tinha os aproximados.
Quando faltava meia hora para sairmos, eu subi com as coisas para o
antigo quarto do Apolo e fui tomar um banho.
- Meu Deus, você tá peladão!
Abaixei a toalha do meu rosto e encarei uma Thea de olhos
arregalados, parada perto da cama, minutos depois quando eu saí do banho
me enxugando.
- Sim. Eu estou pelado. Por que o espanto? – indaguei sorrindo,
vendo-a a cada segundo ficar mais vermelha.
- P-por n-nada – Theodora gaguejou e não tirava o olhar do meu
pau então comecei a me enrolar na toalha – Fica assim mais um pouco.
- Oi?
- Que foi? – ela disse, me encarando confusa.
- Eu que te pergunto o que foi? – perguntei rindo, terminando de me
enrolar – Você acabou de me mandar ficar pelado por mais um tempo.
- Eu não mandei não, mandei? – Thea inquiriu meio pensativa – Ai,
meu deus! Eu não queria ter falado aquilo. Me desculpe. É que me senti
excitada quando te vi nu, quer dizer, eu ainda estou excitada e não sei o
porquê disso.
Theodora se sentou na beirada da cama e olhou para o chão,
envergonhada, eu acho. Então me aproximei e me sentei ao seu lado.
- Se acalme, são apenas os hormônios, Thea. Assim como eles te
fazem chorar do nada, também fazer sua libido aumentar. Qualquer coisa
pode te deixar com tesão. Para mim é normal sair do banheiro pelado, mas
prometo não fazer isso quando você estiver por perto – declarei fazendo com
que ela me olhasse então lhe dei um sorriso amigável – Mas tenho uma
proposta para você.
- Proposta?
Sorri e peguei sua mão.
- Aceita dormir com a gente hoje à noite?
Ela puxou sua mão e se levantou, aparentemente incomodada.
- Obrigada pelo convite, mas não quero.
- Isso ajudaria você com sua libido – ressaltei, meio intrigado.
- Eu tô bem. Vou tomar um banho para depois ir me arrumar.
- Ok. Não molhe o cabelo e tem toalha no armário da pia.
Theodora assentiu e adentrou depressa o banheiro.