– Não podemos ariscar a sua segurança princesa, você sabe disso – diz meu pai a olhar-me cheio de pena e amor.
Meu pai é o melhor, sempre carinhoso, fazendo nossas vontades, nos mimando muito. Ele é o coração mole que nos defende sempre que aprontamos alguma besteira. No entanto a minha mãe é outra história. Ela é a que nos põe na linha, que nos faz pagar por cada trapaça que fazemos. Ela nos ensina a ser fortes para podermos enfrentar o nosso mundo.
– Eu não vou arriscar a sua segurança, você não vai e acabou o assunto. – Diz a senhora minha mãe me dirigindo um olhar decidido, o que significa que acabou o assunto. Mas hoje não, hoje não irei aceitar. Estou cansada disso tudo.
– Por que não mãe? Eu quero ver pela primeira vez na minha vida como é uma festa de adolescentes. Estou cansada de passar a vida trancada nesse lugar, de não poder ir aonde quero, de não poder fazer o que quero, por causa da minha segurança. Eu tenho vinte anos mãe, já sou maior de idade, posso cuidar de mim mesma sozinha. Estou cansada de ouvir dos meus irmãos mais novos como é uma festa, como é na cidade, como é tudo que não posso ver, por causa da minha segurança. Eu aceitei tudo que vocês mandaram por vinte anos e quando vos peço pela primeira vez para ir a uma festa, vocês negam? Deveria fugir como me disseram? Foi errado eu vos pedir permissão como me ensinaram? – Digo tudo de uma vez e vejo eles de olhos arregalados e arrependidos me encarando.
– O que foi isso?
Eu nunca falei desse jeito com ninguém e vou logo falar assim com os meus pais. Que tipo de filha estou a tornar-me?
O arrependimento chega e baixo a cabeça arrependida, olhando o meu All Star vermelho.
– Desculpem-me, eu não queria dizer isso tudo -digo baixo sentindo minhas bochechas corarem de vergonha. – Já não quero ir à festa – digo isso sem encará-los. A sentir-me mal por brigar com eles por causa de uma festa.
– Podes ir à festa. – Levanto a cabeça sem acreditar e encaro a minha mãe.
– Sério? – Questiono sem acreditar e minha mãe acena em concordância sorrindo, os meus lábios também abrem-se em um grande sorriso e abraço a minha mãe.
– Obrigada mãe. Amo-te! – Digo abraçando-a forte e ela devolve o abraço na igual intensidade.
– Eu também te amo querida – diz sorrindo, mas logo fica séria.
– Eu estou a deixar você ir porque disse tudo o que estava a sentir e eu quero que converse com a gente sobre o que se passa nessa cabecinha e nesse coração.
– Diz séria, mas sorri quando vê a cara de papai se fechar quando ouviu a palavra "Coração".
– Isso mesmo querida. Eu e sua mãe não sabíamos como te sentias em relação a isso. E lembre-se que somos os seus pais e não seus inimigos. – Diz papai se juntando ao nosso abraço. – Esquece a parte do Coração só daqui a 30 milénios – resmunga me fazendo rir baixo.
– Eu te amo papai. – Sinto o sorriso de papai próximo.
– Eu também te amo, agora vai se arrumar afinal a festa é daqui a três horas. – Assim que ele acaba de falar solto-me deles subindo escadas às pressas e ouvindo ainda os seus risos. Apesar da obsessão deles pela nossa segurança, eles são os melhores pais do mundo e os melhores Alfas que já existiram.
Assim que abro a porta do meu quarto me deparo com três pares de olhos me encarando. – O que fazem aqui? – Pergunto a Selena e meus irmãos David e Katrina.
– Eu não sei, só quero que isto acabe logo, estava a fazer algo importante - diz David jogado na minha cama entediado.
– Cala a boca David, desde quando pegar uma vadia é importante? – Pergunta Katrina irritada o fuzilando com seus grandes olhos verdes. Katrina é a que mais se parece com a mamãe, os cabelos castanhos pouco cacheados e os olhos verdes. Já eu e David temos os mesmos olhos castanhos de papai, como os cabelos morenos, mas os de David são pouco mais claros.
– Calem-se os dois - diz Selena e levanta da cama. – Estamos aqui para organizarmos tudo para a Cat. – Diz sorridente e a olhamos sem entender.
– Hoje a Cat irá para uma festa de verdade em vinte anos. – Assim que ela acaba de falar oiço o grito dos meus irmãos.
– Não brinca – grita Katrina pondo a mão no peito. – A mamãe deixou? – Aceno em concordância e eles começam a saltar de um lado para o outro falando coisas.
David pega minha cintura, me girando e a rir pelo quarto.
– Nos iremos divertir muito maninha – me dá um beijo na bochecha me fazendo rir.
– A gente tem que procurar uma roupa perfeita. – Diz Katrina eufórica e Selena concorda.
– Por favor, gente. Eu quero vestir-me do meu jeito. – Digo e elas olham-me desanimadas.
– Mas o seu jeito é delicado demais, Cat. – Diz Katrina e aceno negativamente com a cabeça.
– Não, Cat, eu quero ir do meu jeito. – Dou a minha palavra final e elas concordam mesmo relutantes.
– Eu gosto do seu jeito delicado mana – David diz sorrindo. – Aliás, todos homens gostam. – Pisca um olho para mim, fazendo-me corar e todos riem.
– Saiam daqui, eu quero me arrumar – digo isto empurrando-os até a porta.
– Fica bem gatinha mana, talvez você desencalhe hoje. – É David a falar-me essas palavras, a sorrir e piscando o seu olho direito para mim.
Fecho a porta na sua cara e oiço David reclamando da minha falta de educação. Sorrio pelo que ele disse e vou me preparar
***
Olho o meu reflexo no espelho e gosto do que vejo. Escolhi um vestido branco com estampas de Cataleyas, como o meu nome e minhas sapatilhas brancas com um laço dourado. Os meus cabelos estão lisos e pintei um gloss rosa clarinho. Saio do quarto e desço até à sala onde já todos me esperam.
David foi o primeiro a ver-me e fez o de sempre, deixar-me envergonhada.
– Oque é isso maninha, quer matar o papai do coração? – Exclama alto fazendo todos olharem para mim. Baixo a cabeça corada e ponho um pouco meu cabelo atrás da orelha.
– Está linda Cat! – Selena e Katrina dizem ao mesmo tempo e eu levanto a cabeça encarando meus pais.
– Está linda bebé, uma verdadeira princesa - diz a minha mãe beijando minha testa e sorrindo para mim.
– Está linda princesa, prometa-me que se vai controlar, e que não vai deixar nenhum adolescente chegar perto.
Me encara com os seus olhos castanhos idênticos aos meus com espectativa.
– Eu prometo pai, eu só quero me divertir. – Digo sorrindo e ele sorri também, beijando minha testa.
– Estamos atrasados – diz Selena e nossos pais se despedem beijando a testa de cada um e dizendo para os meus irmãos cuidarem de mim, como se eu precisasse de ajuda. Sim! Eu sou orgulhosa, mas não muito.
– Cuidado crianças, amamos vocês... – dizem parados na porta nos vendo entrar no carro.
– Nós também vos amamos – dizemos em coro e David dá partida, já que ele pode conduzir pois fará dezoito anos proximo mês, junto com a Katrina. Sim, eles são gêmeos, mas não idênticos. Isso deu pra notar.
– Hoje vamos arrasar Cat. – Grita Selena do banco da frente e sorrio para ela entusiasmada.
***
– Chegamos! – Anuncia David, parando o carro no meio de tantos outros.
Assim que saio do carro não gosto do que vejo. Pessoas vomitando no chão, outras fazendo coisas com homens que dá nojo.
– Vamos mana – diz David me guiando até a entrada.
– Mais eles estão bem? – Pergunto preocupada ao ver eles a vomitar.
– Estão Sim! Só não olha – responde Katrina piscando para mim sorrindo e abrindo a porta da casa.
Um som alto preenche a casa fazendo meus ouvidos doerem um pouco pelo volume alto. Vejo muita gente dançando colados, mulheres quase sem roupa, todos bebendo muito. Não foi assim que eu imaginei essa festa. Mas já que estou aqui só posso aproveitar.
– David vai buscar algo para bebermos que nós vamos dançar.
– Diz minha irmã a puxar-me até a pista. Eu gosto de dançar, por isso não reclamei.
***
Estávamos a dançar muito, e eu estava a gostar, não parava de rir com as maluquices de Katrina. David desapareceu depois de ter trazido nossas bebidas. Katrina disse que ele foi pegar vadias. Elas estão a beber muito, e estão um pouco alteradas, porém como elas têm uma grande resistência a álcool permanecem em pé.
– Onde fica a casa de banho? – Altero um pouco a voz por causa do barulho.
– Sobe as escadas e no fim do corredor vira à esquerda, e entra na segunda porta. – Diz katrina a encarar-me com uma careta engraçada. Agradeço e elas me desejam boa sorte rindo de alguma coisa. Empurro os adolescentes no meu caminho até as escadas. Encaro o corredor com alguns adolescentes, e penso em voltar, mas estou mesmo a precisar de ir à casa de banho.
Ponho o cabelo em frente do meu rosto e baixo a cabeça tentando passar despercebida, o que falhou completamente.
– Hey! Vais aonde? – Um dos homens do grupo pergunta num tom alto. Eu levanto o rosto devagar e os encaro. O homem que falou é muito bonito. Cabelos loiros, olhos escuros e lábios vermelhos.
– Ham...Hum... Eu vou ao banheiro. Digo sentido minhas minhas maças do rosto a ficarem vermelhas.
– Eu nunca vi-a por aqui, qual se chama. Vocês já a viram people? – Todos negam e ele me encara arqueando a sobrancelha.
– É a primeira vez que venho aqui. – Esclareço e eles riem. Todos são bonitos.
– Como soubeste desse lugar? Porque ele é para pessoas muito diferentes e de um nível um pouco alto. – Me olham de cima para baixo e eu corro.
Eu vou matar os meus irmãos e a Selena. Elas não me disseram que era uma festa com seres sobrenaturais. Eles não sabem quem eu sou. Eu os entendo, quase ninguém sabe de tanto que fico em casa.
– Qual é o teu nome? – Perguntam de novo.
– Cataleya. – Os encaro e eles sorriem a olhar para o meu vestido.
– O nome completo princesa.
Se eles souberem podem ter um treco. Mas talvez eles não conheçam meus pais, o que seria um milagre porque eles são conhecidos em todos os mundos. Porém eu não quero mentir, eles podem ser meus amigos e amigos não se mentem, – pensei eu.
– Cataleya Winchester McAll.
Fez-se um silêncio total entre eles que se encaram.
– Não se afastem por isso, eu sou muito legal e quero ter muitos amigos – digo e eles sorriem.
– Até que ela é um pouco parecida com o David. – Diz um outro de cabelos cacheados.
– Vocês conhecem meu irmão? – Pergunto e eles assentem.
– Somos brothers, ele é do nosso team.
– Meninos. Eu preciso mesmo ir ao banheiro. Podem procurar o meu irmão e esperarem-me aqui?
Eles concordam e vão procurar meu irmão. Corro para o banheiro sorrindo. Tenho mais cinco amigos. Faço a minha necessidade e encaro o meu reflexo no espelho. Baixo a cabeça e lavo as mãos. Assim que levanto o olhar no espelho vejo um outro reflexo ao meu lado. Uma mulher com um sorriso maldoso no rosto. Olho para o meu lado e não vejo ninguém. Olho para o espelho e vejo a mulher
– Ma...Mas co...como?
A presa finalmente saiu da jaula, vou poder deliciar-me com o seu sangue – diz sorrindo e vejo as suas mãos saindo do espelho.
Grito a afastar-me. Mas suas mãos me pegam pelos braços e lança-me contra o box, fazendo um barulho alto. Meu corpo cai violentamente no chão e lágrimas saem dos meus olhos pela dor e sinto sangue a escorrer pelo meu nariz.
– Quem é você? – Pergunto ao ver ela sair do espelho.
– Eu sou o seu pior pesadelo. – Bate a minha cabeça contra a parede expondo o meu pescoço.
– E eu sou o seu, sua vadia bruxa.
– Diz uma voz forte e grossa por detrás dela.
Tento olhar para ver o dono da voz, entratnto gemo de dor e a bruxa me encara. Vejo o seu olhar de medo e o seu corpo treme, mas ela não solta o meu pescoço das suas mãos.
– Quem é você? – Pergunta ela gaguejando. Oiço uma risada fria, potente e seca fazendo-me arrepiar de medo. Eu devia ter ouvido a minha mãe. Agora tem dois seres querendo matar-me.
– Você sabe muito bem quem sou. Agora solta na menina antes que te faça virar pó. – Sua voz grossa soa outra vez.
– Esse homem está a salvar me? – Sinto as mãos da bruxa a soltar o meu pescoço e a virar-se para encarar o tal homem.
– Então é verdade! Voltaste para levar a sua prometida.
Fico confusa com oque a bruxa disse. Como assim "prometida"? Isso ainda existe?
– Por isso não te vou matar. Leve o recado para todos. Estou de volta, ai de quem chegar perto dela, terá que enfrentar o Cavaleiro Negro. E diga a eles que piorei com os anos.
– Ela? – Será que estão falando de mim? – Me interroguei. E como que céptica disse: "Claro que não!". Deve ser uma outra mulher. E aquela mulher desaparece de repente.
Mas eu não estava preparada para o homem que veria atrás dela. Acho que nunca estaria. Cabelos negros, olhos azul-cobalto, com o rosto sério. O seu olhar era tão escuro, tão opaco, sem qualquer brilho. Mas, mesmo assim, a sua beleza é tanta que achei surreal. Ele é alto, muito alto e forte, está todo vestido de preto. Parece a própria morte. Dá passos em minha direção, mas mesmo com a dor insuportável nas costas tento fugir, encostando mais o meu corpo à parede. Lágrimas caem pela minha face, meus lábios tremem. Estou com medo assim que ele está a um passo de mim. Ele se abaixa ficando com o seu rosto perto do meu.
– Por que pareces uma humana frágil? – A sua voz potente e grossa estava carregada de nojo.
– Eeeu não uso a minha segunda forma. – Digo baixo e de cabeça baixa.
– Não baixe a merda da sua cabeça. – Grita-me rudemente. Levanto a cabeça, encarando os seus olhos azuis-cobalto – Porquê não sinto a sua forma lupina?
– Porque eu não sou Lobisomem
– digo e ele me encara sem demonstrar nada. Não sei como, mas eu sei que ele se surpreendeu.
– O que você é?
– Não te interessa. – Digo bruta e um sorriso frio se instala nos seus lábios.
– Ela tem garras. – Diz-me encarando e depois olha para a porta e finaliza – eu tenho que ir.
Abro a boca para dizer algo, mas nada sai.
– Tenho que nos ligar de alguma forma para saber onde estás, então fique quieta.
Sinto o seu rosto no meu pescoço inalando o meu cheiro. Os meus pelos se arrepiam. Sinto suas presas no meu pescoço. Porquê eu não consigo o parar? Porquê eu não quero o parar?
De olhos fechados sinto suas presas perfurando o meu pescoço e sugando o meu sangue. Depois de um tempo sinto os seus lábios molhados com o meu sangue a tocarem os meus. Ele dá-me um beijo, um beijo possessivo e com certeza viciante tirando todo meu ar. Um beijo de sangue. O meu primeiro beijo.
– Eu voltarei pytuca, agora dorme.
E depois disso. Não senti e não vi nada.