Capítulo 2 - O Caos Que Me Pertence

Após as palavras saírem com dificuldade da minha boca, vejo os meus pais soltarem a respiração que estavam segurando e, um sorriso maior crescer no rosto do rei na minha frente. Solto a sua mão e sentei novamente enquanto respiro fundo.

Se eu tivesse alguma outra escolha, eu o jogaria de cima dessa arquibancada e daria tudo para ver o poderoso rei lutando contra esses gladiadores.

- Que a luta comece! - Gritou, fazendo gritos ansiosos ecoarem por toda arena. Engulo um seco.

Volto a olhar para baixo observando o homem bonito e forte permanecer da mesma maneira enquanto os três se espalhavam pela arena na intenção de o cercar.

Isso era loucura!

O homem olhou para um deles que estava em sua frente numa posição curvada. Vejo um sorriso lateral nascer no rosto dele, que fez o homem em sua frente avançar erguendo a sua espada em direção a cabeça dele. O mesmo desviou com uma facilidade absurda.

- Rolfe! Rolfe! - Eles não paravam de gritar. Ele era o Rolfe. Com raiva por ter vacilado, o mesmo gladiador avançou novamente por cima de Rolfe, que desviou sem fazer um mínimo de esforço, era como se ele estivesse brincando com os outros, e isso os deixavam irados. Os outros dois ao lado de Rolfe avançaram erguendo a espada, mas ele novamente desvia fazendo a espada de um cortar o braço do companheiro.

Arregalo os olhos.

O rei berra.

O homem gritou de dor e se jogou no chão enquanto o sangue jorrava em seu braço arrancado, mas os outros não pararam, avançaram em Rolfe ao mesmo tempo em lados contrários mirando apenas no homem, então ele pegou a espada.

Coloco as minhas mãos na boca. Rolfe e os dois lutavam com as espadas. Com certeza era o homem mais ágil e forte que eu já tinha visto em toda a minha vida. Ele erguia a sua espada com tanta facilidade que a espada parecia ser uma parte de seu corpo, e a sua rapidez e agilidade para desviar dos ataques eram impressionantes.

Um dos gladiadores que lutava com ele se afastou, deixando apenas Rolfe e o outro na luta. Olho para o gladiador que se afastou, observando ele indo em direção ao homem que lutava com o seu parceiro, na expectativa de o pegar pelas costas silenciosamente. Rolfe não iria perceber.

O homem avançou em direção a Rolfe que no momento passou a sua espada no pescoço do outro homem, decapitando-o. Era uma imagem horrível, o sangue jorrando de sua cabeça, ele caindo de joelhos, eu iria vomitar a qualquer momento. Mas a adrenalina era tão forte que apenas consegui observar o homem que iria pega-lo por trás. Num impulso rápido, eu me levantei e um grito alto ecoou.

- Atrás de você! - Gritei, os seus olhos desviaram para os meus, ele me ouviu. Ele estava tão perto da arquibancada real, que agora eu pude o ver com nitidez.

Céus!

Assim que o homem pulou direcionando a sua espada na direção da cabeça dele, Rolfe foi mais rápido e inclinou a sua arma no rosto do homem que se partiu ao meio.

Droga, que cena horrível! Sinto o meu estômago revirar, e então coloco tudo o que eu comi mais cedo para fora nos pés do rei que soltou um grito horrorizado, com nojo.

- Desculpe-me - Murmuro, sentindo novamente a comida sair pela minha boca indo em direção aos pés do rei Geoffrey. Meus pais correram em minha direção, preocupados. A cena da cabeça do homem sendo partida ao meio não iria sair da minha mente tão cedo.

- Maldição! - Praguejou o rei. - Gorman, assuma por aqui. - Diz ao conselheiro que estava ao seu lado, e se levantou me puxando pelos braços para dentro da pequena cabine que tinha na arquibancada real. Meus pais nos seguiram. Ele me jogou com força numa cadeira, o seu aperto deixou uma grande marca roxa no meu braço.

- Geoffrey! - Papai exclamou, tendo a atenção do rei. - Você a obrigou a assistir aquele massacre, não culpe nossa filha por não aguentar ter presenciado aquilo! - Diz, autoritário.

- Então, meu rei - Ele diz, de forma sarcástica. - É melhor ela se acostumar, pois quando se tornar a minha esposa, será obrigada a comparecer a todos os eventos, assim como as decapitações em público. Meu estômago se revirou outra vez. - Irei me limpar, os jogos ainda não acabaram. - Murmurou nos dando as costas. Ficamos em completo silêncio assistindo-o desaparecer. Quando enfim some, olho para os meus pais.

- Não temos outro rei? Devo mesmo me casar com aquilo? - Pergunto, me levantando da cadeira enquanto olho para eles.

- Eu sinto muito, minha filha. - Mamãe caminhou até mim, tocando o meu braço marcado.

- Você não precisa fazer isso, podemos procurar outra solução - Foi a vez de papai. Suspirei balançando a cabeça, negando.

Se eu desistisse, a minha família e o meu reino cairia em miséria, e eu não posso fazer isso com eles. Esse era o meu dever, o meu destino, o meu caos. Eu sou uma princesa e seria uma rainha, então agiria como tal.

- Eu só preciso lavar a minha boca.

A arena ainda continuava em gritos quando retornamos para a arquibancada. O local onde fiz uma pequena bagunça já estava limpo e o rei estava de volta em sua cadeira enquanto observava o seu campo. Ele deu um rápida olhada para mim com uma expressão nada amigável e então voltou a encarar a arena em sua frente que ia a loucura, enquanto voltávamos a nossos assentos. Tinha outros homens lutando agora, não era mais o vencedor.

- Onde está o ganhador? Digo, o seu campeão - Pergunto ao rei, enquanto passo os olhos por todo o local.

- Atrás de você, docinho. - Respondeu sem mesmo me olhar, estremeço. Olho para trás esperando que ele estivesse brincando, mas então meus olhos pararam no grande homem bem escondido entre as sobras da tenda que havia na arquibancada, com os olhos fixos nos meus.

Engulo um seco. Ele era ainda mais bonito de perto.

Agora, suas roupas eram normais, feitas num couro preto. Sua postura era como as dos guardas em volta de nós, nos protegendo. Me viro rapidamente para frente, envergonhada. Podia sentir o rosado nascer em minhas bochechas.

- Você fez a minha noiva vomitar, Rolfe. - A voz de Geoffrey ecoou, me fazendo encolher os ombros.

- Perdão, princesa. - Sua voz me causou arrepios, era grave e rouca, o que o deixava ainda mais atraente. Céus, qual era o meu problema?

- Pensei que não gostava de luta, alteza. - Geoffrey se dirigiu a mim, me fazendo o olhar.

- Detesto.

- Bem, você me pareceu muito determinada tentando alertar o meu campeão que havia um por trás dele. - Sorriu - Ele sempre tem tudo no controle, não é mesmo, Matthew? - Olhou para trás, me fazendo acompanhar o seu olhar. Ele não disse nada.

- Eu não queria ver alguma barbaridade, até porque eu acho isso ridículo. - Começo, não conseguindo segurar a minha língua.

- Kalissa... - Sinto o aberto que minha mãe deu no meu braço, mas ignoro.

- São pessoas lutando com outras pessoas até a morte, isso é doentio! Por Deus, Geoffrey. Este é o seu povo! - Ele sorriu, debochando.

- Exatamente, eles são o meu povo e eu faço o que quiser com eles. - Diz, se sentido poderoso. Fico incrédula.

- Você é repugnante. - Não consigo segurar, e atraio a sua atenção. Vejo a sombra se formar em seu rosto, e a sua expressão debochada foi substituída por uma expressão de raiva.

Ele segurou o meu braço fortemente no mesmo lugar que deixou a marca roxa, e se inclinou para mim. Tento puxar o meu braço, e então o seu aperto fica mais forte.

Vejo a sua mão se levantar indo em direção ao meu rosto, fecho os olhos fortemente pronta para sentir o impacto, mas nada acontece. Abro os olhos procurando o que aconteceu, e então vejo as suas mãos sendo seguradas por punhos fortes, impedindo que a sua palma colidisse com o meu rosto.

- Isso não é necessário. - A voz grave e rouca do gladiador ecoou novamente, fazendo o rei loiro repugnante olhar para ele, que segurava o seu braço. O olhar de Geoffrey foi em direção aos meus pais. E então ele se ajeitou em sua cadeira, abaixando o seu punho. Olho para o homem que agora estava ao lado da minha cadeira.

Seus olhos eram como os oceanos, azuis brilhantes e grandes. Novamente nossos olhares se encontraram, mas desvio rapidamente.

- Perdões, majestades - Geoffrey começou. - Foi por impulso. - Olhou para mim com desprezo. - Creio que a princesa Kalissa queira sair desse ambiente hostil e bárbaro, então Rodrif a levará para o castelo, como um pedido de desculpas. - sua voz era amarga.

Que patife, falso!

O caos que me pertence era esse, me casar com um homem que me dava vontade de vomitar cada vez que ouvia ou o via.

O pesadelo estava apenas começando.

            
            

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