Capítulo 4 Sexualidade Primordial

Em pouco tempo, Dhavantari voltou com os Primordiais: Brahma, Vishnu, Varuna e Indra.

Os quatro ajoelharam-se diante de Shiva, que se levantava de seu banho na fonte. Completamente nua, ela vestiu as poucas e pequenas peças de roupa que usava. Ela as usava, mesmo achando que não era necessário, mas num tamanho e em quantidade muito menor que os outros.

- Levantem-se meus queridos, mais de uma vez eu já disse que não é necessária essa formalidade.

A primeira vez que isso aconteceu foi na primeira e única vez que aconteceu um terremoto, ainda nos primórdios, tempos onde os primeiros seres ainda se conheciam, ainda eram unidos e buscavam aprender juntos sobre a vida. Naquele momento todos caíram de joelhos ou deitados diante dos pés de Shiva, a única que se manteve em pé. Ela ainda conseguiu proteger todos dos desabamentos de rochas e da queda de árvores. Desde então, sempre que chegavam diante dela, em sinal de respeito e agradecimento, todos que ali estiveram, se ajoelhavam para ela.

- Sempre continuaremos agradecidos e demonstraremos nosso respeito e fé em ti - Vishnu disse, enquanto se levantava e oferecia um sorriso que era encantador para Shiva. Nascida com um corpo masculino, mudou ao se desenvolver e acabou com um corpo feminino. Ela era o primeiro ser que teve essa mudança espontânea. Lindíssima, de uma pele quase transparente de tão branca, de cabelos negros, muito escuros e bem compridos, Vishnu desenvolveu o poder de controlar o ar.

- Eu não tenho conhecimento sobre algo que percebi com as relíquias no corpo de Shiva. Nunca percebi nada parecido e não consigo sequer deduzir possibilidades. - Dhavantari compartilhou o diagnóstico inexistente com eles.

Brahma olhou para Shiva como se pedisse autorização para se aproximar e ela assentiu. Esse por sua vez, era mais alto que Shiva, talvez fosse o ser de maior altura de todo planeta. De ombros largos, o único ali de peito aberto, fazia sua pele vermelha refletir a luz e praticamente brilhar. Ele esticou o braço e colocou a mão na testa dela. Fechou os olhos e era como se analisasse a alma de Shiva.

- Shiva, existe algo dentro de você... Nunca senti isso, está muito forte, muito pesado... Não consigo identificar, é como se houvesse uma neblina, uma barreira. Mas existem auras, mais de uma.

De repente, uma onda elétrica saiu da testa de Shiva e jogou Brahma longe. Shiva conseguiu atenuar a sua queda e correu em direção a ele. Todos foram atrás.

- Brahma, você está bem? - Shiva perguntou e ele respondeu que sim com a cabeça e um sorriso.

Varuna não pediu autorização como Brahma e já tocou Shiva pelas costas, de mão espalmada e grudou nela, sentindo toda a vibração do fluxo sanguíneo dela.

- Está muito mais rápido que o normal. Seu coração está bombeando sangue por seu corpo todo numa velocidade totalmente incomum.

- Minha senhora, já vimos isso antes, as primeiras mortes desse mundo se deram no aumento do fluxo sanguíneo de forma descontrolada. A melhor alternativa será congelar seu corpo. - Indra nem esperou a concordância e começou a criar uma esquife de gelo em torno de Shiva. Ele era quem mais se parecia com Shiva, com a pele em tons azul escuro e tons de roxo quase alaranjado, era quem tinha o corpo mais largo entre eles, sendo muito grande.

Shiva já estava quase totalmente congelada quando o gelo começou a derreter ela própria passou a parecer que pegava fogo. Um calor monumental era expelido dela e assim que ela saiu do gelo voou para o alto do céu, parecendo um pássaro em chamas. Quando parou as labaredas, desceu novamente, flutuando lentamente até eles.

- Não fui eu quem fiz isso... É como se meu corpo tivesse reagido sozinho.

Uma multidão começou a surgir atraídos pela bola de fogo no céu, querendo saber o que era aquilo.

Quando chegaram e viram Shiva, todos ficaram espantados.

- Acalmem-se! Peço desculpas a todos. Estamos tentando descobrir o que está acontecendo com meu corpo.

Ao terminar de se explicar, Shiva avistou Parvati no meio da multidão.

Ainda dominada por algo desconhecido, por reações que ela não estava controlando, ele pulou num salto incrível sobre o rapaz e começou a beijá-lo. Ele a agarrou e sentiram juntos algo que não era comum para ninguém ali. O que era aquilo? Qual era o significado.

Ela ficou nua novamente, começou a despí-lo, diante de todos, e revelou o que era aquele volume misterioso no corpo dele. Todos assistiam atentos completamente espantados, mas ficariam ainda mais ao verem ela abrir suas pernas e indicar que ele deveria colocar aquela parte de seu corpo dentro dela. Ele fez isso e na mesma hora gemeram como se tivessem sido possuídos. Ela levou ele para o alto, e ficaram girando no céu, lentamente, enquanto movimentavam seus corpos, como numa dança, num vai e vem.

Aquilo criou uma atmosfera que contagiou a todos. Como uma epidemia, cada um dos seres sentiu uma excitação que poucos haviam experimentado, até então, e apenas adormecidos, notando algo diferente ao acordar.

Em pouco tempo, todos eram de todos. Experiências sexuais passaram a ser compartilhadas, toques, beijos, penetrações, orgasmos. Não haviam mais limites. Parecia que toda população do planeta tinha sido atraída e todos experimentaram aquela situação nova e absolutamente prazerosa. Ao final, todos adormeceram agarrados uns aos outros, como se o êxtase os tivesse feito desmaiar.

Apenas Shiva manteve-se acordada depois daquilo tudo. Ela olhou em volta e não conseguia acreditar.

Saltou por cima de uma árvore e correu por cima das copas, como costumava fazer. O que tinha acabado de acontecer? Quem ela tinha se tornado, em quem ela transformou todos seu povo? O que era aquilo que estava dentro dela?

- Saia! Saia agora! O que está aí, dentro de mim?

Ela fez uma força tremenda, como se tentasse expulsar o que estava dentro de seu corpo e pequenos seres que pareciam folhas de árvores com vida própria foram expelidos de dentro dela e ficaram flutuando ao seu redor.

- O que são vocês? - Ela perguntou, sem esperar realmente uma resposta.