Capítulo 5 Entrevista na Turner

Às 8h45 estava na porta da Turner. Mega ansiosa estava com um terninho branco com salto agulha preto, respirei fundo e me benzi. Entrei, me identifiquei na recepção e a recepcionista era uma loirinha mignon muito simpática, me indicou a sala de espera.

Às 9h em ponto, aparece na sala uma morena de cabelos lisos, olhos castanhos, corpinho de modelo, sorridente com um terninho e sapatos pretos.

- Bom dia, Sara. - Me levantei e apertei a mão que me estendia. - Me chamo Estela.

- Bom dia, Estela.

- Você deu sorte, um dos sócios de nossa empresa veio até nossa filial, viu seu currículo e ele mesmo quer fazer a entrevista. Não acontece com todo mundo por aqui. - Diz animada.

- Sério??? Que seja meu dia de sorte então. - Me benzi mais uma vez e em oração pedi a Nossa Senhora que me abençoasse com essa oportunidade. Por dentro do meu terninho tinha a medalhinha de Nossa Senhora presa, presente da minha mãe.

- Sara, senhor Duran ele é muito sério, vai te perguntar tudo em inglês, procure ser bem objetiva nas respostas. Nem deveria estar te falando e ninguém pode saber, mas me simpatizei com você. - Deu um sorriso amigo.

- Obrigada Estela, vou fazer valer sua ajuda.

- Excuse me, Mr. Duran. Our candidate Sara Silva! (Com licença, senhor Duran. Nossa candidata Sara Silva!) - Saiu fechando a porta atrás de mim.

Era um homem maduro de 50 anos aproximadamente, de terno preto, bem apresentável, na verdade, um coroa elegante. Ele continuou do mesmo jeito escrevendo algo e nem agradeceu a Estela. Achei grosseiro da parte dele, e já esperava o mesmo tratamento a mim.

- Miss Sara, come and sit down. How are you ingoiado? (Senhorita Sara, aproxime-se e sente-se. Como vai você?) - Que voz hein, de molhar calcinha, Meu Deus eu não era assim, sempre fui muito centrada e agora qualquer coisa era motivo para estar pensando naquilo, sorrio em pensamento. Quando ele virou sua cadeira, senti um medo quando vi seu olhar, não sei dizer o porquê, mas me desestabilizou. Fiquei apavorada, mas conseguir manter a calma, podia ser só impressão.

- Am I good and you? (Estou bem e o senhor?) - Digo com segurança para não deixar transparecer meu medo.

- Fine thanks. (Bem. Obrigado).

- Tell me about you. (Me conte sobre você).

- I'm 21 years old, I live with my parents here in Rio. I just finished my college in Trilingual Executive Secretariat course. While I was working, I worked in a fast food. (Tenho 21 anos, moro com meus pais aqui no Rio mesmo. Acabei de terminar minha faculdade no curso de Secretariado Executivo Trilingue. Enquanto eu cursava, trabalhava em um fast food.)

- She still works in fast food? (Trabalha ainda no fast food?) - Sinto um ar de deboche.

- I can only get out of the diner when I get a job in my area. Why do I help my parents at home! (Só posso me desligar da lanchonete quando conseguir um emprego na minha área. Porque ajudo meus pais em casa!).

A entrevista durou cerca de 1 hora, totalmente em inglês, Mr. Duran, muito educado, muito atencioso, me deixou bastante tranquila, perguntou diversas coisas, como se fosse preciso eu ir para matriz em alguns dias ou passar um tempo por lá se era possível, se tinha filhos, entre outras coisas sobre o trabalho, aquele medo até passou um pouco, seu olhar se tornou terno, mais, no fundo, ainda me causava um certo horror. Disse que analisaria meu perfil com as outras entrevistadas, em 2 dias teria uma resposta se estava contratada ou não. Despedi-me e deixei a sala. Estela muito discretamente veio até mim e me conduzia ao elevador.

- Como foi? - Disse bem baixinho.

- Estou confiante, mr. Duran me deixou tranquila, me deu espaço para falar sobre o que eu achava, o deixei ciente que este seria o meu primeiro trabalho dentro da minha área.

- Não posso falar muito agora, mas entro em contato com você. - Me deu uma piscadinha.

- Tudo bem. Muito obrigada pela atenção. - Digo um pouco desconfiada.

Achei estranha sua atitude, pois nem a conhecia. Mas enfim, hora de contar a minha mãe, minhas amigas e ao boy. Ligo para minha veinha.

- Mãe? Bença!

- Deus te abençoe minha filha! Como foi a entrevista? Fiquei o tempo todo rezando pedindo a Nossa Senhora Aparecida que te iluminasse. - Disse com fervor.

- O Mãe, obrigada! Não sei o que seria de mim sem a senhora. Acredito que eu fui bem, agora tenho que aguardar 2 dias, eles vão analisar o perfil de outras candidatas.

- Tenho fé, que vai dar tudo para você minha filha.

- Tomara mãe, avise d. Letícia, por favor.

- Pode deixar, aviso sim, estava ansiosa aqui.

Me despedi de minha mãe e entrei no grupo do WhatsApp que a Céia Mara criou para que, ao mesmo tempo, nós 3 fossemos atualizadas.

Whatsapp*

- Vacas!!! Já fiz a entrevista, acredito que fui bem, agora tenho que aguardar 2 dias para resposta, vão analisar o perfil de outras candidatas. (Sara)

- Caraca vadia, tenho certeza que via dar tudo certo! Você arrasa, é inteligente!!! (Céia Mara)

- Obrigada, estou torcendo por isso! (Sara)

- Vadia, você já está dentro! Quem te entrevistou? Andei dando uma pesquisa sobre a Turner! (Simone)

- Foi Mr. Duran. (Sara)

- Coroa gato??? Apesar que o sócio majoritário é um gato também. Você já viu a foto? Pegava os dois fácil, fácil... (Simone)

- Muito gato mesmo, tive que me concentrar. Agora que já liberei a bagaceira como vocês falam, logo senti um aperto entre minhas coxas, um calor!!!

- Brincadeira, mas a voz dele é excitante. Seu olhar me deu medo. Mr. Turner não fica aqui, mas vi sua foto quando pesquisei. Parece muito moleque. Não me agradou tanto assim. (Sara)

- Olha elaaaaaaa, quem te viu, quem te vê gata. (Simone)

- Besta! Era só para avisar vocês. Até mais, vacas. (Sara)

- Até. (Céia Mara)

- Até. (Simone)

Liguei para Lucas.

- Lu, acabei a entrevista agora. Penso que me sai bem, tenho que aguardar 2 dias, porque vão analisar o perfil de outras candidatas.

- Que bom! Outras candidatas? Como assim? Tinha mais gente fazendo entrevista?

- Junto comigo não, por quê? O que você sabe? - Estranhei.

- Nada... - Senti sua voz estranha. Iria procurar saber disso pessoalmente. Talvez isso justificasse a atenção da Estela comigo. Fiquei desconfiada de tudo isso, senti no ar que estava me escondendo. Troquei de roupa e fui para a lanchonete. Tive que sair mais tarde, porque o movimento estava intenso.

Cheguei em casa quebrada de cansaço, já era 00h. Tomei banho e cai na cama, meus pais já haviam dormido porque acordam muito cedo, minha mãe linda deixou um prato de comida pronto, mais não tive nem vontade de comer, devido ao cansaço.

Acordei com um barulho de mensagem, entrei no whatsapp e número desconhecido.

Whatsapp*

- Oi Sara! Tudo bem? Estela da Turner. Passando ara te avisar que mr. Duran gostou muito de você, aligou para mr. Turner para falar sobre sua entrevista. Acredito que tudo vai dar certo e você fará parte da equipe. Boa sorte!

- Oi Estela, tudo bem e você? Fico feliz que tenha gostado e estou muito ansiosa pela resposta, quero começar na minha área logo. Obrigada pela sua atenção. Posso te perguntar por que está se importando tanto comigo?

- Sou amiga do Lucas e disse que te ajudaria aqui na empresa.

- Verdade, desculpa me esqueci! Tomara que dê tudo certo e trabalharemos juntas. Beijos.

Quando recebi a mensagem, achei estranho, li várias vezes, mas não aguentei e respondi. Fiquei sem resposta durante 10 minutos, mais desconfiada ainda e achando muito estranho. Enfim, a resposta veio. Fiquei muito puta da vida, porque ele me escondeu isso. Desde quando Estela era amiga dele? Não sou ciumenta, mais ninguém me faz de trouxa. Respirei e no momento não ia ser indelicada com ela sem necessidade. Tentei parecer a mais tranquila possível, sorte que foi digitado, se fosse áudio ia perceber na certa pelo meu tom de voz.

Caraca, contou o quê? Não era amiga dele? Que porra era essa que estava acontecendo? Mais o Lucas ia ter que explicar bem direitinho. Liguei para o Lucas.

- Bom dia, Lu!

- Oi, gata!

- Está de boa ou precisar ir para facu?

- Não, por quê?

- Vem aqui para gente conversar!

- Hummmm... Quer ficar sozinha comigo? - Disse todo malicioso. - Seus pais não estão, certo?

- Pode vir?

- To indo gata. Mais do que depressa. - Desligou o telefone sem dizer tchau, nem sabe o que espera.

Em menos 1 hora, Lucas estava batendo em minha porta. Quando abri, já chegou me beijando, me agarrando, se esfregando em mim. Soltei-me dele.

- Calma aí, rapaz!!! Te chamei para conversar e não me pegar. - Disse bem ríspida.

- Pensei que você queria... - Disse cabisbaixo e fazendo beicinho. Nem posso com isso, drama agora não.

- Pensou errado! Quem é Estela?

- Estela??? Não sei!!! - Respondeu rápido demais, aí vi que tinha coisa mesmo, fiquei louca de raiva, sem paciência já! Foi para o nível hard.

- Ah! Você sabe sim! Ela é sua "amiga"! Trabalha na Turner, secretária executiva da diretoria. Por que você está mentindo para mim? - Viu que não tinha escapatória, suspirou e decidiu contar a verdade.

- Não quero mentir mais. Ela foi minha namorada por 10 anos, nos conhecemos no intercâmbio que eu fiz, lembra que te falei disso? Desde então não nos separamos mais. Até que ela precisou ir estagiar na sede da Turner por 1 ano e eu já estava no Brasil de volta, fomos perdendo o contato, eu já dava aula na faculdade e acabei me apaixonando por você, terminamos. É isso. - Disse chateado.

- Por que não me contou antes? Sabia que eu ia ter contato com ela! Julgou que ia fazer o quê? A louca ciumenta?

- Não achei isso - deu uma risadinha sem graça. - Não achei necessário, hoje ela é minha amiga e nada mais que isso.

- Será mesmo?

- Juro!!!

- Não sei, preciso pensar. No momento você pode ir embora? Quero ficar sozinha!

- Mais, Sara...

- Não tem mais Sara, me deixa sozinha, por favor. - Faço sinal para porta.

Ele veio colocar a mão no meu ombro, encolhi para trás. Percebeu que não ia ter chance no momento. Foi embora e disse que me ligava. Pensei, desistiu fácil né... algo tem. Fui até a janela e vi que ele pegou o celular, desconfiei que estivesse ligando para Estela, peguei meu celular e liguei para o número que ela me enviou a mensagem, deu ocupado. Desgraçado, está ligando para ela, se é amiga só, por que foi ligar assim que eu cobrei explicação? Eu ia descobrir. Não falei com ele nos dias seguintes, Estela também não me mandou nenhuma mensagem mais. Enquanto eu não descobrisse o que realmente estava acontecendo, não ia sossegar. Fiquei muito puta, morrendo de raiva, na força do ódio mesmo.