Capítulo 7 Antes dos 30 - Capítulo VII

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Hannah

Que noite! Mais uma vez fico agradecida por ter saído e ter aqueles momentos com Logan.

Becca e Nanda vieram para minha casa e Vivi e Carol foram para casa de Logan. Então não passamos a noite juntos.

Acordo antes das meninas. Vou pra cozinha, preparo uma mesa cheia para o café e será para o almoço pelo visto neh?!

Pego o celular e vejo uma mensagem do Logan.

"Acordei na cama sozinho.

Queria vc aqui comigo.

Bom dia"

Junto com a mensagem uma foto dele deitado na cama com um espaço enorme ao lado e com cara de cachorro que caiu da mudança.

"Essa cama realmente é muito grande só pra vc.

Quem sabe da próxima ela esteja um pouco mais ocupada...

Agora temos que cuidar de mulheres Opalas rs

Bom dia!"

Com a imagem daquela foto na minha mente resolvo ligar o som e colocar uma playlist "Blues & roots rock" para relaxar durante o resto do domingo.

As meninas levantam, tomamos café, não demora muito chega o meu casal favorito e passamos o dia inteiro batendo papo, comendo besteiras e curtindo. Minha vida tá tão corrida que não sei quando vou ter um momento desses novamente com meu clubinho.

Também não sei como vai ser essa situação com o Logan. Eu realmente queria ter mais tempo com ele. Meu corpo reage só em pensar. E aquele beijo. Que beijo....

Já são 22hrs. Tenho que dormir. Amanhã acordo cedo.

***

Um mês que eu estou saindo com Logan. Ainda não me permiti por completo. Acho que Vivi falou que tenho minhas merdas porque ele é super atencioso comigo. Passei o fim de semana na casa dele mas domingo é dia de dormir em casa. Afinal de contas trabalhamos.

Acordo com um pulo. Tive um pesadelo que puta merda.

Eu ainda estava casada, ouvia ele me xingando, me chamando de inútil, burra, imbecil. Estava amuada abraçada aos meus joelhos no canto do quarto aos prantos. Ele sai batendo a porta e me deixa ali.

Quando dou por mim, além da respiração totalmente desregular estou com os olhos molhados. Ao que tudo indica chorei durante o pesadelo. Lembrança na verdade. Aquilo realmente havia acontecido. Meu casamento foi o verdadeiro pesadelo. Essas lembranças ainda me atormentam de vez em quando. Mas não tenho tempo para auto piedade.

Vou para o chuveiro, tomo um banho com a água fria para despertar, sento no chão deixando a água escorrer junto com novas lágrimas. Depois de algum tempo saio, preparo o café ainda enrolada na toalha.

Já alimentada coloco uma calça social preta, uma blusa dourada básica, blazer preto e scarpin. Hoje tenho uma reunião importante e tenho que estar preparada. Com um rabo de cavalo alto e pouca maquiagem termino de compor meu visual e vou para a garagem do prédio. Tem séculos que não dirijo, mas como hoje terei que ir a vários locais diferentes prefiro ir de carro.

Estaciono na garagem vizinha a boutique. Quando caminho em direção a loja vejo aquele pedaço de mal caminho encostado no carro com uma roupa casual e óculos escuros. Ele abre um sorriso de lado, meio safado ao me ver. Tirou os óculos e veio em minha direção.

- Depois dessa visão já posso morrer em paz.

- Cruzes garoto. Que horror. Vai ficar falando merda ou vai vir me dar um beijo?

- Você que manda!

E em segundos a boca dele já está na minha.

Acho que posso me acostumar com isso. Infelizmente tenho um dia cheio e não posso prolongar. Então pergunto.

- A que devo o prazer de sua visita logo cedo?

- Bom, sei que vai parecer bem clichê, mas estava com saudade e vim te avisar que infelizmente preciso de você pra resolver esse problema. Então acho que necessito urgentemente de outro beijo.

Sorri e o beijei novamente. Nossas línguas dançantes já se reconhecem e aquele beijo calmo e apaixonado flui. Me afasto um pouco.

- Essa semana vai ser complicada pra mim. Tô lotada de trabalho e não posso abandonar meu cronograma.

Percebi uma expressão de indagação e expliquei.

- Sim, parece palhaçada mas tenho um cronograma rígido pra poder caber todas as minhas atividades.

Ele ri e pergunta que tantas atividades são essas.

- Tem a Puissance que é minha primeira casa, porque fico muito mais aqui do que na minha casa propriamente dita. Tenho o Krav Maga, o Muay Thai, as aulas de dança, a academia e especialmente essa semana ainda tenho que dedicar alguns minutos pra minha mãe e irmã.

- Como que você consegue isso tudo mulher?

- Simples, cronograma!

Rimos, demos mais um beijo, prometemos trocar mensagens mesmo com pouco tempo já que não iriamos nos ver durante a semana e nos despedimos.

Na recepção da Puissance Luna está com a mão na boca e olhando pra minha cara se divertindo da situação.

- As calotas polares estão derretendo minha gente! Kkkk

- Palhaça! Vai ver se eu tô na esquina vai!

- Claro que não, te vi pegando um gostoso bem aqui na porta ainda agora.

- Você não tem o que fazer não é?!

E nessa onda de brincadeiras vamos para o escritório.

Vou para minha reunião. Não sei bem sobre o que é, mas sei que é com uma mulher importante que tem vários negócios. Principalmente imobiliários. Marcamos um almoço em um restaurante no Leblon. Cheguei em cima da hora.

- Olá Hannah. Prazer em finalmente te encontrar. Sou Bianca, creio que já tenha me visto, mas de onde eu conheço você e o motivo de estar aqui hoje é que você não sabe.

Por algum motivo senti um calafrio naquele momento. Nos sentamos, ela pediu um vinho, fazemos nosso pedido e ela resolve esclarecer tudo e dizer o porquê de convocar essa reunião.

- A 5 anos atrás você me conheceu como Ana. Nos encontramos na recepção da clínica Farrah. Você estava com uma blusa do Metallica grande demais pra você. Balançava a perna constantemente. Como eu estava esperando encaixe no horário da doutora Wilma acompanhei do momento que chegou até ir embora. Você não vai me reconhecer porque naquele dia e em muitos outros que me encontrou ou conversamos eu estava com o olho roxo, com hematomas por todo o corpo, magra e extremamente mal vestida.

Eu ouvia em choque! Lembrava da Ana e com toda certeza não era essa mulher maravilhosa da minha frente. Foi logo assim que me separei e comecei a frequentar a psicóloga. Não! Não! Não quero voltar aquelas lembranças! Não quero voltar aquele tempo! Mas continuo a ouvir.

- Vou resumir o que aconteceu depois daquela época. A Dra. fez um trabalho magnifico comigo, e pelo que vejo com você também. Fui abençoada com a morte do meu marido, espero que aquele desgraçado esteja até agora queimando no inferno. Tomei a frente dos negócios dele e depois que vi suas entrevistas resolvi que quero não só apoiar a sua causa, que também é minha, como também patrocinar e criar novos projetos com você. Vou ser sua investidora número um.

Continuo em choque! Não sei o que falar ou fazer. Não consigo me mexer. Até que ela parece entender o que aconteceu e fala.

- Ei! Eu sei que você nunca contou sua verdadeira história e tá tudo bem. Eu vou esperar seu tempo pros novos projetos, mas os investimentos já são seus. Acho que está na hora de você colocar em prática o que tanto prega neh?! Tira essa geleira ao seu redor! Você, assim como eu, não precisa mais. Estamos livres!

Meus olhos descem até as mãos dela que seguravam as minhas por cima da mesa. Vejo as cicatrizes de 5 anos atrás em sua mão direita.

Ela chegou na clínica com a mão enfaixada e como já tinha confiança em mim, contou que o marido tinha jogado óleo fervendo na sua mão porque as batatas não tinham sido fritas por igual. Com uma lágrima solitária descendo pelo canto do olho esquerdo ela completa.

- Vamos acabar com esse momento triste. Temos que pensar agora no quanto evoluímos! Um brinde a quem nos tornamos!

E assim voltamos aos negócios.

Depois do expediente de trabalho. Fui pra área do studio de dança da Puissance. Quando estava mal descarregava na dança ou na luta.

Ligo o som e "Lovely" da Billie Eilish começa a ecoar pelo estúdio vazio e mal iluminado

Meu corpo entende o momento e lentamente começa a se mover. Deslizo minhas mãos pelo corpo como em proteção, abro os braços em libertação e as lágrimas me salvam com as notas e a voz suave da música.

Ouço o início de Snuff do Slipknot.

Essa fazia meu corpo deslizar pelo chão. Levanto como se estivesse prestes a fugir, giro minha cabeça lentamente me curvando, me abraço, abaixo a cabeça e vou levantando devagar. Os cabelos grudam em meu rosto molhado de lágrimas.

As músicas no repeat. Devo estar aqui umas 2 horas. Minhas pernas doem, mas me recuso a parar.