Katherine, embora não estivesse acostumada àquela agitação, sentiu-se encantada com a alegria ao redor - era como se todos ali compartilhassem o mesmo coração pulsando em festa.
De repente, Mateu pegou sua mão com firmeza e um brilho travesso nos olhos.
- Vem comigo.
Antes que ela pudesse reagir, ele a puxou para o meio da roda de dança. Katherine riu, meio sem jeito, tentando acompanhar os passos dele. Aos poucos, o embaraço deu lugar à leveza, e os dois se deixaram levar pela música, dançando como se o mundo ao redor tivesse parado.
Quando o ritmo diminuiu e o cansaço chegou, Katherine se sentou em um banco próximo, ofegante e sorridente. Mateu foi até uma das barracas e voltou com duas garrafas de cerveja.
Sentando-se ao lado dela, entregou uma das garrafas e abriu a sua.
- Não parece muito acostumada com esse tipo de tradição, não é? - perguntou ele, com um meio sorriso.
- Não mesmo - admitiu ela, rindo baixinho. - Mas eu adorei. As pessoas daqui são tão calorosas... muito diferentes de onde eu venho.
- É, imagino. - Ele respondeu, olhando-a com interesse.
De repente, a música ficou mais alta e um burburinho se formou entre a multidão. Um grupo começou a discutir e, em segundos, a alegria se transformou em confusão.
Mateu se levantou imediatamente, segurando a mão de Katherine.
- Vamos sair daqui.
Ela concordou sem hesitar, e os dois caminharam de mãos dadas até se afastarem da agitação. Só pararam quando chegaram perto do mar, onde o som das ondas abafava o barulho distante da festa.
Sentaram-se em um banco de madeira. A brisa salgada soprou entre eles, trazendo um breve silêncio confortável.
- Bom - disse Mateu, com um sorriso enviesado -, quase todas as pessoas daqui são calorosas.
Katherine soltou uma risada suave, mas desviou o olhar quando percebeu o quanto ele a observava.
Mateu notou a timidez dela e sorriu de canto, antes de tomar um gole da cerveja.
- Me conta um pouco sobre você. Pelo hotel em que está hospedada, dá pra imaginar que você vem de uma família bem... abastada. Tô errado?
Ela manteve o olhar no horizonte, onde o reflexo das luzes dançava sobre o mar.
- Bom... o dinheiro não é meu, é dos meus pais. Eu só... usufruo um pouco.
Mateu riu baixo, observando-a com atenção.
- Só usufrui, é? - brincou. - Então me diz, a herdeira está fugindo de quê?
Katherine arqueou uma sobrancelha, fingindo ofensa.
- Fugindo? Eu não estou fugindo de nada. - Fez uma pausa e desviou o olhar. - Talvez... só precisasse respirar um pouco longe de tudo.
Ele apoiou o braço no encosto do banco, inclinando-se levemente na direção dela.
- E encontrou o que procurava?
Ela sorriu de leve, sem olhá-lo diretamente.
- Ainda não sei... mas hoje foi um bom começo.
Um breve silêncio se formou entre eles, quebrado apenas pelo som do mar e das risadas que vinham de longe. Mateu a observava - o jeito como o vento brincava com os fios do cabelo dela, como o brilho das luzes refletia nos olhos.
- Sabe - disse ele, num tom mais suave -, às vezes é bom se perder um pouco... pra se encontrar de verdade.
Katherine voltou o olhar para ele, surpresa pela seriedade na voz.
- Você fala como alguém que já se perdeu muitas vezes.
Ele deu um meio sorriso.
- Talvez. Mas cada vez que me perco... acabo achando algo - ou alguém - que vale a pena.
Ela sentiu o coração acelerar, sem saber ao certo se era pela intensidade das palavras ou pela forma como ele a fitava.
- Você fala bonito, Mateu. - comentou, tentando disfarçar o nervosismo.
- E você... - ele respondeu, encostando o copo de cerveja no joelho - tem um jeito curioso de me deixar sem saber o que dizer.
Katherine riu, e o som leve da risada dela pareceu se misturar ao barulho das ondas. Por um instante, ficaram apenas se olhando, em silêncio.
Mateu inclinou-se um pouco mais, a voz baixa e rouca:
- Posso te contar um segredo?
- Pode.
- Quando te vi pela primeira vez, achei que você fosse daquele tipo... distante, impossível de alcançar. Mas agora... - ele sorriu de canto - vejo que você é real. E mais encantadora do que eu podia imaginar.
Ela corou, desviando o olhar, e sentiu as mãos suarem levemente.
- Cuidado, espanhol... você fala assim e a gente acredita.
- Então acredita - respondeu ele, sem desviar os olhos. - Porque é verdade.
O vento frio soprou entre eles, mas o momento parecia quente, suspenso. Katherine mordeu levemente o lábio, sentindo algo novo nascer ali - algo que nem ela, nem ele, tinham planejado.
O vento trazia o cheiro salgado do mar e agitava o cabelo de Katherine, que tentava mantê-lo longe do rosto. Mateu observava cada gesto, como se memorizasse cada detalhe dela - o jeito de cruzar as pernas, o olhar que fugia, mas voltava logo depois.
- Sabe, - ele disse, com um sorriso discreto - você fica ainda mais linda quando tenta disfarçar o nervosismo.
Ela soltou uma risada curta, mas o rubor em suas bochechas a denunciou.
- Nervosa? Eu? - fingiu naturalidade. - Você está se achando demais, senhor espanhol.
Mateu se inclinou lentamente, até que sua voz soou próxima, rouca.
- Pode até ser... mas me diga, estou errado?
O coração dela acelerou, e por um instante, esqueceu como respirar.
- Talvez um pouco - murmurou, desviando o olhar, mas sem se afastar.
O silêncio que se seguiu era denso, cheio de algo que nenhum dos dois ousava quebrar. Apenas o som das ondas e da música distante embalava aquele instante.
Mateu apoiou a mão sobre o banco, perto da dela - não a tocou, mas a distância era mínima.
- Posso te confessar mais uma coisa?
Ela o olhou de relance, hesitante, mas curiosa.
- Depende... vou querer ouvir?
- Se não quiser, é porque já sentiu o mesmo. - respondeu ele, com um sorriso provocante.
Katherine engoliu em seco.
- E o que é que eu supostamente senti?
Ele se aproximou um pouco mais, e agora o perfume dele - amadeirado, quente - misturava-se com a brisa.
- Isso. - disse ele, num sussurro, deixando a palavra no ar.
Por um instante, ela pensou em se afastar, mas não o fez. A tensão entre os dois era palpável, como se o tempo tivesse parado.
Mateu passou os dedos suavemente por uma mecha do cabelo dela, ajeitando-a atrás da orelha.
- Você tem ideia do que está fazendo comigo, Katherine?
Ela sorriu de canto, tentando esconder o arrepio que percorreu a espinha.
- Acho que estamos quites.
Os olhos dele brilharam, e um sorriso lento surgiu em seus lábios.
- Então é um empate... por enquanto.
A troca de olhares durou mais do que deveria. A poucos centímetros de distância, ele parecia prestes a atravessar a linha que separava o que era brincadeira e o que se tornaria desejo.
Mas antes que o inevitável acontecesse, uma risada alta vinda da festa ao longe os trouxe de volta à realidade. Katherine desviou o olhar, respirando fundo, tentando se recompor.
Mateu apenas sorriu, olhando o mar.
- Acho que o destino resolveu te salvar, princesa.
- Ou salvar você - respondeu ela, provocando.
Ele riu, erguendo a garrafa em um brinde informal.
- Então brindemos... ao quase.
Ela encostou a garrafa na dele, rindo também.
- Ao quase.
E ficaram ali, lado a lado, observando as luzes refletindo sobre o mar, enquanto o "quase" entre eles parecia prometer muito mais do que uma simples noite de festa.