Capítulo 5 O anjo e o demônio

Havia algo de estranho naquele homem encantador, seus olhos de uma azul penetrante eram mais frios que uma pedra de gelo, mesmo assim, Amanda tomou coragem e parou próximo a ele.

- Sr Harris, a que devo a honra?

- Nada em particular, apenas fiquei curioso em saber que ramo de entretenimento se tratava esse luxuoso espaço.

- Curiosidade, isso trouxe o senhor aqui? Nada além de curiosidade?

- Por quem me tomas Sra...

- Srta, pode me chamar de senhorita...

- Senhorita....

- Amanda, pode me chamar assim.

Era óbvio que o homem parado a sua frente sabia exatamente quem era ela, no entanto, Amanda queria saber aonde está conversa chegaria.

- Bem, que tal então me acompanhar em uma bebida srta Amanda, agora que já nos apresentamos, podemos nos conhecer melhor.

Bastante astuto, Wiliam sabia que ali não era um bom lugar para estar, ainda mais um homem como ele.

Neste momento, uma gargalhada alta foi ouvida ao longe, vindo do outro lado da rua. Já a par de toda a situação, Vicenzo Scaldato, apenas observava a conversa ao longe, parado dentro de seu Lamborguini azul, o homem sabia muito bem que Wiliam não era um homem de encontros casuais, se estava ali, deveria estar interessado em algo mais.

William não perdia tempo com infortúnios, era sempre direto no que dizia respeito a assuntos importantes.

Aproximando-se vagarosamente, Vicenzo apenas observavaa cena.

- Senhor Harris, a que devo a honra de sua presença?

Sempre cauteloso ao que dizia respeito aos seus negócios, ele esperava paciente uma resposta de Harris.

Assim que percebeu de quem se tratava, William apenas baixou a cabeça e abriu um sorriso largo.

Vicenzo Scaldato, um dos figurões da cidade , dono dos maiores e mais rentáveis investimentos, era considerado um demônio .

O homem se parecia muito com Wilian, jovem e de aparência angelical, mas estava mais para lobo em pele de cordeiro, nos pensamentos de Amanda.

- Nada em especial Vicenzo, estava apenas curioso.

- A curiosidade matou o gatinho... por um acaso nunca lhe contaram essa história?

A raposa é tão astuta, pensava Vicenzo, Wiliam se tornou mais esperto do que se lembrara.

Assim que ambos os homens estavam parados frente a frente, faíscas eram trocadas junto com seus olhares.

- Então Sr Harris, a que mesmo devo a honra de sua visita?

- Sr Scaldato sempre indo direto ao ponto, vejo que não mudou muito desde nosso último encontro.

- Deveras... Podemos...

Com apenas um sinal de mão, Vicenzo e Wiliam se dirigiram novamente para dentro, localizada as direitas da entrada principal, havia uma sala, mais reservada, a qual dava acesso exclusivo ao escritório de Vicenzo.

Assim que adentraram ao recinto, ambos os homens, sentaram, lado-a-lado em grandes poltronas de couro pretas, realmente confortáveis.

- Diga-me Sr Harris, sem rodeios desta vez, o que o traz aqui.

- Como já havia dito antes, mera curiosidade.

- Ainda não compreendo Sr Harris... curiosidade em que? Estás a brincar?

- Não me entenda mal, talvez não tenha me expressado direito. Na verdade, como deve saber, acabei de adquirir uma empresa de construção, e no entanto, percebi, que uma de minhas funcionárias, tem algum tipo de ligação com a sua striper, apenas por curiosidade... como havia mencionado anteriormente, decidi fazer uma visita.

- Entendo, e como se chama a tal funcionária?

- Tânia.

Pela expressão nebulosa no rosto de Scaldato, não apenas Amanda a conhecia, mas também Vicenzo sabia perfeitamente de quem se tratava.

Mantendo o olhar fixo em Harris, Vicenzo apenas se recompôs em seu acento antes de proceguir com a conversa.

- Tânia.... não lembro de nenhuma Tânia.

- Sr Scaldato, por favor, posso ver em seus olhos que estás a mentir... Pelos velhos tempos em que já...

- Pois bem, aonde pretende chegar com isso Sr Harris?

- A lugar algum na verdade, gostaria que pudesse me dizer quem realmente é a Srta Tânia.

- Certo, mas isso não sairá de graça Sr Harris, no mundo dos negócios, uns ganham e outros perdem, podemos entrar em um acordo, eu lhe ajudo e você fica me devendo essa, que tal?

Como diz o ditado, mantenha os amigos perto, e os inimigos mais próximos ainda.

Scaldato nunca saia perdendo nos negócios, nem se fosse em uma simples negociação, havia sempre algo que ele levaria em vantagem.

Sabendo das intenções de Scaldato, Harris estava preparado para um acordo, só não imaginava que seria tão fácil de conseguir, isso não lhe cheirava bem.

Vinte minutos depois, uma mulher bastante incomun entrou no espaço reservado, estava um poucoapreensiva, com seus longos cabelos escuros amarados em um rabo de cavalo, ela se aproximou lentamente dos cavalheiros e parou a poucos passos de Scaldato.

- Kiara, este cavalheiro gostaria de slhe fazer algumas perguntas sobre Karen, poderia lhe ajudar?

A mulher imediatamente entendeu no tom de voz de Vicenzo suas intenções e apenas acentiu em silêncio.

Harris que não era nem um pouco ingênuo, também percebeu que Vicenzo estava jogando suas cartas, e que ele não tinha a real intenção de revelar a verdade dos fatos.

O que Harris não deixou passar desapercebido no entanto, era que Vicenzo Scaldato sabia muito bem quem era a mulher a quem ele se referia, e que o simples fato de mencionar seu nome, mexeu de alguma forma com aquele homem.

Não havia nada o que perguntar, Harris sabia o que queria, o verdadeiro nome de Tânia era Karen, o mais ele descobriria, no entanto, para não desapontar o "amigo", ele fez algumas perguntas sem sentido e logo após deixou o estabelecimento.

Parado em frente a uma grande janela vitoriana, localizada no escritório principal da boate, Vicenzo Scaldato apenas observava o belo Bentley preto se afastar.

Quem diria que, aquele reencontro, na verdade, renderia mais tarde uma grande batalha entre Scaldato e Harris, sem nem mesmo perceber, o destino havia os ligado de tal maneira, que não haviam formas de apagar um da vida do outro.

Wiliam e Vicenzo não eram muito diferentes, ambos de famílias tradicionais, foram criados parcialmente em colégios e internatos, no entanto, ao longo dos anos, tomaram rumos diferentes, William seguiu os passos do pai e consolidou sua carreira nos negócios, enquanto que Vicenzo, fora deixado de lado quando seu irmão mais novo nasceu, sendo obrigado pelo pai a seguir caminho no exército, onde permaneceu até a morte de sua irmã mais velha, seu alicerce e sua força.

Após essa fase, Vicenzo decidiu levar a vida da forma que bem lhe entendia, e aos 20 anos, tornou-se um grande empresário no ramo imobiliário, mais tarde, através de alguns investidores conheceu Marco Belmont, que o apresentou ao submundo dos negócios e fez dele seu sucessor.

Quando o Bentley passou a entrada noroeste da West Avenue, Jones percebeu que havia um carro os seguindo.

- Sr Harris, acho que estamos sendo seguidos Sr.

- Apenas siga o trajeto normal Jones, deixe que eu resolvo esse assunto.

Na segunda curva antes do portão principal da entrada da mansão Vermont, Jones percebeu que o carro que os seguia deu sinal de luz para que encostasse, Harris acentiu ao olhar de Jones que estava angustiado.

O Mercedes branco parou afastado do Bentley, e uma mulher bastante jovem apareceu, ela carregava um embrulho nos braços, e aos poucos se aproximou.

- Sr Jones, creio eu...

Disse a mulher com um ar de desconfiança.

- Sim, quem é você? O que deseja?

- Na verdade, gostaria de entregar algo ao seu patrão, Sr Harris.

- Do que se trata?

Assim que a mulher entregou o embrulho que carregava, uma moto se aproximou em alta velocidade.

Dois homens encapuzados e o brilho de uma pistola foram vistos segundos antes dos disparos, e então a mulher já sem vida veio ao solo.

Dentro do Bentley o choro abafado de uma criança chamou a atenção de William, que ao abrir o embrulho notou que se tratava de um bebê.