Capítulo 3 Eliza e Bruno...

- Eliza! Vamos lá, você não está no ritmo certo! De novo! - A coreógrafa gritou. - Cinco, seis, sete, oito.

Eliza começou a dançar os passos da coreografia que ela sabia de cor, mas por algum motivo, não conseguia acompanhar os passos da coreógrafa. Ao se atrasar novamente em relação aos outros dançarinos, a mulher alta e esguia parou, se voltando para Eliza.

- Bonitinha, isso não está dando certo, não sei aonde sua cabeça está hoje. - Patrícia, a coreógrafa, disse. - Vamos tirar cinco minutos de intervalo.

Eliza somente concordou com a cabeça, sentindo-se incapaz de dizer qualquer palavra. Sabia que já deveria estar dançando com perfeição, afinal, a gravação de seu novo clipe seria no dia seguinte. Mas desde que tinha saído do hospital, no dia anterior, a cabeça de Eliza parecia estar em qualquer outro lugar, menos ali.

A garota foi até a mesa buscar um pouco de água, mas antes mesmo de conseguir colocar a mão em uma das garrafas, ouviu sua mãe chamar seu nome.

- Eliza, querida. - Jessica falou, entrando correndo, a pegando pelo braço e a puxando para o lado de fora da sala de ensaio. - É o seu pai, quer falar com você, diz ser urgente.

- Oi, papai. - Eliza disse, ao pegar o celular da mão da mãe. - O que houve?

- O que houve? Seu álbum vai ser lançado semana que vem, querida, um dia depois do álbum da Taylor.

- Sim, eu sei, pai.

- Acontece que a Taylor decidiu colocar mais uma música no álbum, um dueto com o Justin.

- Aonde você quer chegar?

- Que o seu álbum vai ser ofuscado pelo lançamento do dela, então eu precisei tomar certas providências. Estou adiantando o lançamento de seu álbum para um dia antes do dela, e quero que você escreva duas músicas, sendo uma delas um dueto. Preciso delas prontas em três dias. Já estou procurando os maiores nomes da música para ver quem está disponível para cantar com você e...

- Papai, eu já lhe disse milhares de vezes, eu não estou conseguindo compor. - Eliza falou, massageando suas têmporas. - Além do mais, mesmo se eu conseguisse, tenho que terminar de ensaiar e logo depois ir para o desfile, então tenho aquele evento de caridade que mamãe arrumou para mim. Amanhã eu tenho encontro com a impressa, entrevista, gravação do clipe e um show, isso sem contar todas as outras coisas que fazem parte da minha rotina. Eu simplesmente não tenho tempo.

- Ah querida, é para isso que existem as madrugadas, dizem que é nelas que nossas ideias se afloram. - Paulo falou, parecendo nem prestar atenção nos protestos da filha. - Lembre-se, duas músicas, três dias.

- Mas, pai... - Eliza suspirou ao perceber que ele já tinha desligado a ligação.

- O que ele queria? - Jessica perguntou.

- Que eu fizesse mais duas músicas para daqui a três dias. Aparentemente Taylor colocou mais uma música no álbum dela, com a participação de Justin.

- Ah, seu pai é um gênio, como sempre. Agora Taylor nem irá ter como competir contra você.

- Mas eu não quero competir contra ela, eu não tenho tempo para compor essas músicas.

- Besteira, você já pode ir pensando na letra durante o ensaio. - Jessica disse, fazendo um gesto para que sua filha voltasse para dentro da sala. - Vá logo, estão te esperando.

Eliza não disse nada, simplesmente voltou para a sala, vendo que todos já estavam reunidos e em seus lugares, somente esperando Eliza.

- Ande, Eliza, vamos voltar ao ensaio. - Patrícia falou em um tom autoritário.

- Claro, eu só queria beber uma água e...

- É para isso que existe os intervalos, querida. - Jessica falou, interrompendo sua filha. - Não vamos atrasar o ensaio! Ande! Ande!

- Vamos lá. Cinco, seis, sete, oito.

Eliza novamente voltou a coreografia, que dessa vez conseguiu sair pior do que antes. Mas agora tinha um motivo, Eliza não sabia como iria compor aquelas novas músicas, não sabia nem por onde começar, e aquilo parecia corroê-la por dentro. Mas ela nada disse. Aquilo era pela sua carreira, ela sabia disso. Sabia que seus pais queriam fazer o melhor pela carreira dela.

Depois do que pareceram horas, finalmente o ensaio terminou, e Eliza entrou em um carro acompanhada de sua mãe, que não hesitou em entregá-la um caderno e uma caneta. A menina olhou para os objetos, sem pega-lós.

- O que é isso? - Eliza perguntou.

- Para você começar a ter ideias da música. - Jessica disse, abrindo um amplo sorriso. - Essa ideia de você lançar mais duas músicas, foi a melhor que seu pai já teve em muito tempo.

- Não funciona assim, eu não vou conseguir compor nada desse jeito. - Eliza murmurou. - Além do mais, nem tenho o meu violão.

- Eliza, querida, na minha época de cantora eu compunha toda vez que tinha um papel e caneta na mão, em qualquer lugar. Não seja tão limitada.

Eliza pensou em rebater que era exatamente por isso que ela nunca fez sucesso. Porém preferiu não trazer a ira de sua mãe, simplesmente pegou o bloco e a caneta, fingindo ter ideias durante o caminho. Somente assim sua mãe não a perturbava.

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Bruno chegou da escola no dia seguinte, com uma grande surpresa. Theo o esperava na entrada, com um olhar rígido e braços cruzados. Os outros meninos que chegavam na mesma hora perceberam, então pararam para ver o que ia acontecer.

- Senhor Ribeiro. - Theo falou, encarando Bruno com chamas no olhar. - Por favor, me acompanhe.

Bruno acompanhou Theo até o escritório dele em completo silencio, ouvindo os sussurros dos colegas que haviam sido deixados para trás.

- Me diga como é a sensação de faltar aula? - Theo perguntou, ao Bruno fechar a porta atrás dele.

- Muito boa, para ser sincero. - Bruno retrucou.

- Você se acha muito engraçadinho, não?

- Não era para ser engraçado, estava sendo sincero. - Bruno falou, dando de ombros.

- Bruno, sinceramente, o que você espera de sua vida? Para aonde você vai se continuar desse jeito? Como espera conseguir um futuro decente?!

- Não sei. Como o senhor conseguiu o seu?

- Já chega! - Theo gritou, ficando vermelho de raiva. - Você perdeu todos os seus privilégios da semana! Irá trabalhar na cozinha, e na limpeza do orfanato. Talvez assim aprenda a respeitar os mais velhos.

- Respeitarei quando eles merecerem o meu respeito. - Bruno respondeu. - Posso ir embora, agora? Ou o senhor vai querer usar a vara em mim, como fazia antigamente?

- Se eu já fiz tal coisa é porque você precisava aprender uma lição. Uma que inclusive você ainda precisa aprender!

Tudo aconteceu rápido demais, Bruno mal conseguiu ver quando Theo levantou a vara em sua direção e o atingindo em seu rosto. O lugar aonde a vara acertou, ardeu como se tivesse em brasas, mas Bruno não demonstrou nenhum sinal de dor, não queria dar o gosto de satisfação ao Theo.

Ele simplesmente ergueu o rosto em superioridade.

- Eu poderia denunciá-lo por isso. - Bruno disse, olhando com raiva para Theo.

- E em quem você acha que eles vão acreditar? Em mim, o diretor de um orfanato, ou em você, um delinquente órfão?

Bruno não respondeu nada, porque sabia que ele estava certo. Mesmo que Bruno denunciasse, com a ficha que ele tem, se Theo alegasse que ele conseguiu aquele machucado em uma briga de rua, ninguém iria contesta-lo. O jovem simplesmente o encarou, sem conseguir disfarçar a raiva em seu olhar.

- Retire a camisa. Vou lhe acertar cinco vezes, quero que você conte enquanto o faço. Depois, levante em silêncio e vá trabalhar na cozinha.

O garoto abriu a mão e fechou, segurando seus impulsos que gritavam para que ele desse uma surra no Theo. Afinal, ele era mais forte que o diretor, conseguiria derruba-lo facilmente. Porém aquilo só o traria mais problemas.

- Você vai me marcar. - Bruno falou em voz baixa, tentando controlar seu ódio. - Quer que eu tire a camisa para que ninguém veja.

- Quero que você lembre de não cometer o mesmo erro. - Theo simplesmente respondeu. - Agora retire a camisa, e vire de costas.

Bruno fechou os olhos, pensando em como era só mais duas semanas. Só mais duas semanas nesse inferno, e ele estaria livre.

Se levantando, ele retirou sua camisa, ajoelhou no chão, de costas para o Theo e aceitou seu castigo. O tempo todo pensando em como tudo aquilo era culpa exclusivamente dele.

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Eliza chegou em casa naquela noite e foi direto para o estúdio que tinham na mansão. Ela sentou-se no piano e começou a tocar notas, tentando achar alguma inspiração, em vão.

Não importava quantas notas tocassem, quantas palavras escrevesse em um papel, tudo parecia desconectado, como se não fizesse sentido.

As horas se arrastaram, e nada saia da cabeça de Eliza. Até o momento que ela viu que estava de madrugada, e decidiu desistir por aquela noite, já que teria que acordar às 5h da manhã no dia seguinte. Assim como ela fazia todos os dias, na realidade.

Ao passar pela sala, viu sua mãe dormindo, e tentou andar o mais silenciosamente possível. Porém ela esbarrou em uma das mesinhas, derrubando a decoração no chão e causando um grande estrondo.

Jessica se levantou instantemente, olhando para os dois lados, até encontrar sua filha, que pegava o objeto rapidamente e colocava em cima da mesa.

- Eliza? O que está fazendo? - Jessica perguntou, levemente confusa.

- Indo dormir, mamãe.

- Já terminou as músicas?

- Não, mãe, mas estou trabalhando a horas e...

- Querida, como você pretende compor duas músicas em três dias, se no primeiro sinal de dificuldade desiste?

- Talvez seja melhor vocês contratem um compositor. - Eliza respondeu secamente.

- Seus fãs não querem ouvir músicas feitas por um compositor, e sim por você. - Jessica retrucou, se levantando e indo até sua filha. - Volte ao estúdio querida, você vai querer estar lá quando a inspiração finalmente vir, acredite em mim.

Eliza concordou com a cabeça, talvez sua mãe estivesse certa, talvez ela simplesmente não tenha tentado o suficiente. Indo até o estúdio, Eliza sentou-se ao piano novamente, e dessa vez só saiu quando o dia finalmente raiou, mesmo que ainda não houvesse nada escrito em seus papéis.

                         

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